Texto de Miécimo Ribeiro

Propaganda
Atividade a ser cumprida para o NEPE-Filosofia Medieval
Discente: Miécimo Ribeiro Moreira Júnior
Matrícula: 201030034-1
Professor: Markus Klemz Guerreiro
ATIVIDADE PROPOSTA:
“A primeira atividade que proponho é a redação de um texto de cerca de 3 páginas
(em times new roman fonte 12, espaço duplo e margem 3,5) sobre as dificuldades
e peculiaridades envolvidas no estudo da filosofia medieval. Indico como base
bibliográfica algumas introduções de manuais de filosofia medieval que estão
arquivadas no quiosque. Peço que vocês utilizem pelo menos mais um texto, à
escolha de cada um, que deve estar indicado nas referências bibliográficas de seus
trabalhos.”
Pensar nas dificuldades envolvidas no estudo da filosofia medieval trás em
destaque o problema que é pensar a Idade Média. O movimento do pensar
humano nunca é independente de determinadas circunstâncias, e obviamente,
muitos dos preconceitos que este período carrega são reações de seus sucessores,
e é possível que seja esta a fonte do preconceito com a Idade Média, pois seu
retrato pintado posteriormente foi o de uma noite de mil anos findada na luz do
renascimento. É de se esperar que a distância cronológica já nos possibilite uma
visão menos afetada do que se passou nos treze primeiros séculos do milênio
passado, mas também é necessária a manutenção de um ceticismo acerca do
desaparecimento repentino de velhos preconceitos.
Não se deve ignorar o fato de que o Cristianismo foi uma enorme força
repressora em diversas áreas do conhecimento, mas é difícil fundamentar a noção
de que esse foi um momento “à parte” da história da humanidade. A
insensibilidade é um dos principais alimentos da ignorância, e desta forma o
preconceito recíproco não nos torna menos ignorantes. Segundo o pesquisador
Luis Alberto de Boni, o Renascimento, a Reforma e o Iluminismo voltaram-se
conscientemente contra a Idade Média, e foi fundado nesse pensamento que o
curso de Filosofia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP
foi fundado, na década de 30. Segundo o pesquisador, passava-se de Proclo
(séc.V) a Descartes (séc.XVII) com naturalidade.
O que foi posto até aqui pode aparentar ser uma defesa da Idade Média,
mas não foi exatamente essa a pretensão. Ao pensar as dificuldades encontradas
no estudo da filosofia medieval, é passível de ser colocado como passo
fundamental o decreto da pertinência deste estudo, para que num segundo
momento possa ser posto claramente o que pode vir a prejudicar diretamente o
estudo deste período da filosofia.
É primordial se pensar o lugar da filosofia medieval em meio à cultura da
Idade Média. Responder o que é filosofia medieval em contraponto à cultura
europeia na Idade Média é já definir, em certa medida, o que é a filosofia. Como
esta não é, no momento, uma questão a ser tratada, tomaremos de forma pouco
problematizada uma ideia norteadora, pensando a filosofia como um sintoma
cultural, que emerge e converge partindo de diversas teorias propostas
distintamente, mas descritas em um panorama histórico, social, cultural, etc..
Uma tarefa extremamente complicada é perceber as nuances do
pensamento medieval. Estando aberto a compreender esta importante etapa de
formação cultural que foi a filosofia medieval, é possível notar que dentro de mais
de um milênio, vários problemas, escolas e pensamentos eclodiram em lugares
diversos e com suas consideráveis peculiaridades, mesmo quando reduzimos o
objeto de investigação à cultura cristã ocidental, que é apenas uma parte do
complexo panorama daquela época. É evidente que a sociedade feudal é a imagem
principal do período, mas não se deve negar a importância da cultura árabe para a
formação do pensamento cristão.
Ao analisarmos os deslocamentos dos centros de estudo em filosofia é
possível observar o contato com diversas culturas, e nelas ganhou novas línguas,
pensadores, tradutores, comentadores e problemas. No trajeto de Atenas à
Cambridge, a filosofia passou, antes, por Bagdá. Os historiadores da filosofia
utilizam a expressão Translatio Studiorum para designar este evento.
A filosofia, grega em sua origem, passou a ser
romana e depois cristã. Os sírios transmitiram-na aos
árabes e estes em boa medida aos judeus. Os cristãos
novamente a recuperaram, assimilando teses árabes
e judaicas, e buscando mais uma vez as fontes
gregas. (STORCK, 2003).
O pensamento judaico e o pensamento árabe são tão importantes para a
filosofia que forçam o rompimento da imagem popularizada de que neste período
só existia a filosofia subordinada ao cristianismo. Um bom exemplo disso é a
influência do judeu Moisés Maimônides e do árabe Averróis na filosofia do
pensador moderno Bento Espinosa. No livro ‘Espinosa’, de Roger Scruton,
encontramos a seguinte declaração: “É fácil ver Espinosa como um dos últimos
grandes representantes do pensamento medieval, que tentou reconciliar uma
teologia aristotélica com as descobertas da ciência moderna [...]”. Além disso,
pode-se observar, segundo Scruton, resquícios do argumento ontológico de Santo
Ancelmo em racionalistas modernos como Descartes, Espinosa e Leibniz.
Porém, mesmo tendo sido a filosofia objeto de discussão, muitos
pensadores da Idade Média não se denominavam filósofos, por uma série de
motivos, dentre os quais estava à tentativa de fundar a teologia como ciência. A
complicação que isso resulta é, que mesmo sentindo a necessidade de se resgatar e
dar um lugar ao pensamento filosófico medieval, existe a noção de que alguns de
seus principais representantes não valorizavam a aceitação de seus textos com o
status de filosofia, e buscavam instaurar, aos moldes da ciência árabe, a teologia
como a grande ciência.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
STORCK, Alfredo. Filosofia Medieval. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.
ALAIN, Libera De. A Filosofia Medieval. São Paulo: Loyola, 1993.
KENNY, Anthony. Uma Nova História da Filosofia Ocidental. Vol. II. São
Paulo: Loyola, 2008.
GILSON, Éthienne. A Filosofia na Idade Média. Trad. Eduardo Brandão. São
Paulo: Martins Fontes, 2007.
DE BONI, Luis Alberto. Filosofia Medieval. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2000.
SCRUTON, Roger. Espinosa. 2ª ed. São Paulo: Loyola, 2005.
Download