UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO GRANDE DO SUL UNIDADE EM CRUZ ALTA CURSO DE PEDAGOGIA – LICENCIATURA STEPHANI DE SOUZA COSTA RESENHA ALVES, Rubem. Conversa com quem gosta de ensinar (Polêmicas do Nosso Tempo). Cortez Editora - Editora Autores Associados, 1980. CRUZ ALTA 2015 O livro com o título “CONVERSA COM QUEM GOSTA DE ENSIAR” de autoria de Rubem Alves, bacharel em teologia pelo Seminário Presbiteriano do Sul, em Campinas, Mestre em Teologia e Doutor em Filosofia (Ph.D.) pelo Seminário Teológico de Princeton (EUA) e psicanalista. Lecionou no Instituto Presbiteriano Gammon, na cidade de Lavras, Minas Gerais, no Seminário Presbiteriano de Campinas, na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Rio Claro e na UNICAMP, onde recebeu o título de Professor Emérito e criou vários grupos de pesquisa. O livro está dividido em uma breve introdução, onde o autor confronta o leitor a guardar o livro na prateleira caso esteja buscando um discurso sério, cientifico, ressalta que a obra é dedicada àquelas pessoas que gostam realmente de ensinar, pois o discurso é dado em um intima conversa entre autor e leitor, onde nos leva a refletir diversas questões a cerca da educação, a obra possui quatro subtítulos, com o total de 91 páginas. O primeiro subtítulo intitulado “SOBRE JEQUITBÁS E EUCALIPTOS - AMAR” Rubem faz uma comparação com as diferenças entre professor e educador, onde o primeiro é encarado como profissão, ou seja, não é espontâneo, natural, mas sim um indivíduo treinado para exercer tal função. Já o segundo, é visto como vocação, fruto de uma virtude que nasce da esperança e do amor em se doar na construção da educação do outro. Assim o autor compara profissões e vocações a plantações, como de uma floresta. O professor é comparado a eucaliptos “raça sem vergonha que cresce depressa, para substituir as velhas árvores seculares que ninguém viu nascer nem plantou”, ou seja, os professores são profissionais treinados e manipulados para trabalharem conforme as leis que o sistema impõe, diferenciados dos educadores, que são pessoas que possuem uma singularidade de personalidade, uma maneira especial de compartilhar seus conhecimentos. Para Alves o mundo moderno valoriza o imediato, aquilo ou aquele que fornece resultados rápidos, prontos. Dessa forma, o educador ficou adormecido dando lugar à função de professor, como indivíduo que fica limitado a transferir conhecimento em troca de resultados e estatísticas interessantes para o sistema regente, dominado pelo Estado e pelas empresas. O autor coloca que a inversão de valores em relação ao educador é evidente; ele é tido como mau funcionário porque o mundo do educador não segue o ritmo do mundo da instituição. O sistema prefere o indivíduo que produza, mesmo que sem qualidade, a aquele que desenvolve um trabalho eficiente respeitando o ritmo do educando e priorizando sua formação como cidadão. O segundo subtítulo “SOBRE O DIZER HONESTO - ACORDAR”, como o título já nos remente a uma situação de atenção o autor coloca que ao invés de fazer crítica da ideologia do pintassilgo é hora de parar para apalpar a nossa própria ideologia, nós mostrando assim que estamos presos em correntes, e grilhões, ideologias e a dificuldades de nos desprendermos delas. O autor mostra nesse subtítulo seu desejo de falar sobre nosso lugar ideológico, seja ele qual for, compara ainda que nossos pensamentos saem de nosso ventre como o fio sai da teia, portanto coloca que cada teoria é um acessório da biografia, cada ciência um braço do interesse. Adiante Rubem questiona se cada teoria social é uma teoria pessoal, falar no impessoal, sem sujeito, não passa de uma consumada mentira, um passe de mágica que procura fazer o perplexo leitor acreditar que não foi alguém muito concreto que escreveu o texto, mas sim um sujeito universal, que comtempla a realidade de fora dela. O autor em seguida expressa uma confissão a qual não acredita na existência das pessoas, e sim acredita que aquilo que acontece com os seus corpos faz uma diferença, e que nem tudo pode ser reduzido à sua classe social. Coloca ainda que as suas palavras são extensões do seu corpo, seus membros se apoiam nelas, afirma ainda que palavras podem matar. O autor ao refletir sobre classe social adiante coloca que na verdade, a significação humana de um conceito como o de classe social e a sua possível eficácia política se derivam do fato de que uma classe social é uma forma social de se manipular o corpo. Ressalta ainda que se o perguntarem o que é que ela tem a ver com o problema da ideologia e da educação, devolveria a pergunta afirmando que não será verdade que o propósito de toda a educação é a domesticação do corpo? Coloca ainda que na verdade, das primeiras palavras e primeiros gestos, que fazem os mestres – pais, mães, irmãos, sacerdotes, padrinhos – senão ensinar a um aprendiz o uso “correto” do seu corpo, uso conforme as expectativas sociais? Assim o corpo aprende a se disciplinar nas mais diversas situações. O autor fala que para ele o corpo tem uma significação muito ligada às próprias condições de aprendizagem, também um sentido político e um sentido pedagógico, politico porque é o corpo que dispõem de um olfato sensível aos aspectos qualitativos d vida social, em oposição às funções cerebrais, tão ao gosto dos tecnocratas e dos comandantes, que trabalham sobre as abstrações quantitativas. E Alves explica ainda sobre a questão pedagógica, porque a sabedoria do corpo o impede de sentir, aprender processar, entender, resolver problemas que não estejam diretamente ligados às condições concretas. Mostra-nos ainda, as armas e artifícios usados pela ideologia dominante para a todos manter presos ao pensar e agir hegemônicos. São para lembrar Franz Hinkelammert, como que “armas ideológicas da morte” comparam o autor. Demonstra ainda a importância da educação na formação do indivíduo, refletindo sobre a formação dos nossos conceitos a partir da nossa visão de mundo, nossas experiências e cultura. Reflete sobre a “ideologia da educação”, suas perspectivas e aplicabilidade no sistema educacional vigente, através do comportamento do profissional (professor), que geralmente se limita a obedecer às regras do sistema. A leitura do terceiro subtítulo chamado de “SOBRE PALAVRAS E REDES – LIBERTAR” inicia-se relatando que o conhecimento nasce solitário com o corpo e faz com que o corpo faça o que tem que se fazer, ou seja, há liberdade para isso. O autor coloca que a educação é o processo pelo qual aprendemos uma forma de humanidade, por isso as receitas de como ser humano têm de ser ensinadas, aprendidas, e preservadas. O autor nos leva a refletir sobre o poder de influência da linguagem, e cita Wittgenstein, retomando sua fórmula “os limites da minha linguagem denotam os limites do meu mundo” principalmente o da palavra, pois ao avaliarmos o cotidiano do professor nos questionamos se este emite opiniões próprias ou apenas “vende” uma ideia já pronta, ou seja, se restringe as ideias impostas pela sociedade. O autor focaliza no decorrer do capitulo questões a cerca da linguagem, e relata que prefere deixar de lado a palavra ideologia e usar a palavra linguagem, pois acredita que a ideologia é um discurso que se opõem à verdade, tanto que a palavra ideologia é sempre usada de forma pejorativa o qual o autor afirma que seu propósito é estigmar certo discurso como ilusão, equívoco, mentira. Ressaltando ainda a cerca da linguagem Alves compara as pessoas que trabalham com as palavras como os pintores que trabalham com as tintas, o seleiro que trabalha com o couro, o pedreiro que trabalha os tijolos. Palavras são coisas. A palavra é como um tesouro nas mãos do educador, uma ferramenta eficaz que pode influenciar na formação do aluno e conscientizá-lo do seu papel de cidadão, podendo desenvolver uma visão de mundo diferenciado dos demais indivíduos escravizados por normas e conceitos ditados pela sociedade. O autor encerra este capitulo expressando sua indignação quanto a questões sobre a educação, onde expõem que não crê que nosso fracasso se deva a uma debilidade analítica, ou que falte conhecimento aos educadores, e não crê que renovadas investigações e pesquisas tenham o poder para nos devolver a vontade e a paixão pelo que fizemos. O último capítulo chamado de “SOBRE REMADORES E PROFESSORES - Agir”, Rubem inicia fazendo uma reflexão sobre o problema da pesquisa em educação, e introduz o problema do método logo de saída, porque frequentemente a ciência é definida em função do seu método. Pensase que produzir um conhecimento científico é a mesma coisa que produzir um conhecimento metodologicamente rigoroso, ignorando-se totalmente a significação ou relevância do conhecimento produzido. O autor acrescenta que o método não é uma regra autônoma, aplicável a todas e quaisquer situações indiscriminadamente. O método se subordina a uma construção teórica. Quando as construções teóricas dominantes entram em colapso, a permanência do método que lhes era próprio, não importa o rigor com que seja usado, só conduz a equívocos cada vez maiores, coloca Rubem. O autor coloca ainda que a ciência não pode nos dizer se o mais importante é a análise das funções sócio-políticas da educação ou a análise dos métodos educacionais mais adequados para a rápida aprendizagem de alunos com QI acima de 200, em outras palavras o autor diz que não considera que a ciência pela ciência seja um valor que mereça ser perseguido. Em relação a pesquisa o autor enfatiza ainda que ela é um ato político. O conhecimento que é produzido será usado por alguém num projeto específico de controle e manipulação. Na medida em que o pesquisador se engana a si esmo, pretendendo estar produzindo conhecimento puro, ele se presta a ser manipulado mais dócil e ingênuo. Fala ainda que a manipulação se tornará tanto mais difícil quanto mais consciente ele estiver de sua condição de cientista passível de ser manipulado, Rubens assim relata que estas reflexões apontam para a difícil situação que se encontra o educador-pesquisador. Alves coloca que da sociologia ele aprende que a função social da educação é produzir um comportamento funcional ajustado, pois a vida social só é possível na medida em que os seus futuros membros são iniciados no conhecimento de suas regras. Mais adiante reflete que aceitar como paradigmático o jogo da educação para a integração social significa aceitar como um valor positivo a sociedade à qual o educando deverá se ajustar, neste caso o autor fala que aceitamos que a ordem social vai muito bem. Mais adiante no decorrer da leitura o texto divide-se em dois níveis, o primeiro chamado Nível filosófico, e o segundo chamado Nível cientifico onde nesta etapa da leitura o autor expõe seu ponto de vista em relação ao conhecimento científico e metodológico. Faz uma crítica sobre a escolha dos temas a serem estudados nas defesas de mestrado e doutorado, que na maioria das vezes não são relevantes. Trata do rigor metodológico com uma forma arriscada de pensar a educação, pois o que deve ser levado em conta é a significação ou relevância do conhecimento produzido, assim como sua aplicabilidade. Ao produzirmos uma pesquisa devemos levar em conta que estamos produzindo poder, ou seja, conhecimento que poderá ser compartilhado por alguém. Atualmente prioriza-se “qualidade total” em diversos segmentos da sociedade e não poderia de ser diferente na área da educação que é a base para o sucesso do indivíduo. Este encerramento aborda a “QUALIDADE TOTAL EM EDUCAÇÃO”, tema este utilizado como lema do sistema educacional que deve executar suas atribuições com cuidado para que cada etapa seja realizada com carinho e perfeição. Constatamos, que hoje em dia, embora tenhamos muito mais utensílios e ferramentas à disposição para formação do educador, não conseguimos alcançar ainda esse padrão de excelência de qualidade na educação, haja vista que falta o primordial: a sapiência. “Sobra-nos poder. Falta sabedoria”. Precisamos exercer a função de professor com prazer e boa vontade para que assim também suscite em nossos alunos o prazer em aprender. O grande desafio é aproximar o conteúdo a vivência dos alunos, fazendo com que estes tenham prazer em construir seu próprio conhecimento. Baseados neste contexto, convém refletirmos sobre a prática diária do professor e a forma pela qual lidera, influencia comportamentos e mentalidades. O primeiro passo para mudança desse processo inicia-se com a reflexão do professor sobre sua real vocação e conscientização da complexidade que envolve o processo educativo. A interação entre o desempenho de um trabalho empenhado e dedicado com aprendizado e prazer resultará na excelência educacional tão desejada por nós. Concluímos que é preciso despertar “o educador” que existe em nós professores. A grande dificuldade do processo educativo é o desânimo dos profissionais da educação, que parecem adormecidos, desestimulados e pouco participativos como também a falta de apoio por parte os pais e da comunidade na vida escolar dos filhos. Vale ressaltar que o comportamento do professor também é reflexo da falta de incentivo e valorização por parte das autoridades, principalmente a questão salarial, que em nosso país é precária. Todos nós precisamos lutar pelos mesmos objetivos, em prol da educação, assumindo nossas responsabilidades e contribuindo de maneira prática para a melhoria da educação.