Setor Elétrico: Uma visão para o desenvolvimento O período eleitoral exige de todos os brasileiros uma reflexão madura sobre os destinos do País, seus desafios e oportunidades. Nesse contexto, o setor elétrico ganha destaque por sua força e importância. Com efeito, o setor elétrico tem grande capilaridade e um enorme potencial para contribuir com o desenvolvimento, por meio da oferta segura e competitiva de um produto capaz de dinamizar a economia, aumentar a sua produtividade e melhorar a qualidade de vida da população. Entretanto, para que seu potencial se transforme em uma realidade concreta e sustentável, é preciso assegurar o equilíbrio permanente entre os sistemas de oferta e de demanda de energia elétrica. Esta não é uma tarefa fácil, dado que o setor elétrico é marcado por uma grande complexidade, diversidade de agentes e múltiplas particularidades técnicas e comerciais da operação de seu sistema e do funcionamento de seu mercado. Nesse sentido, eventuais intervenções sobre o setor devem considerar essa realidade, e exigem uma discussão ampla antes da tomada de decisões. Para exercer esse potencial em favor do País, e mesmo para evitar que a oportunidade se transforme em ameaça, é necessário que o Poder Público mantenha permanente diálogo com os agentes setoriais e esteja atento aos papéis desempenhados por todos, inclusive pelos próprios segmentos governamentais encarregados de traçar políticas, regular, fiscalizar e atuar diretamente no setor. É neste contexto, que as instituições setoriais abaixo signatárias tomam a iniciativa de apresentar sua visão sobre o setor elétrico, a qualidade e segurança do abastecimento e seu potencial de atrair investimentos, como uma contribuição a todos os que, nos próximos meses, estarão discutindo propostas para o Brasil, em especial os Senhores Candidatos à Presidência da República. Os pontos listados a seguir representam o eixo de uma discussão que precisa ser empreendida por aqueles que desejam um Brasil moderno, uma economia eficiente, competitiva, o desenvolvimento sustentável e uma sociedade mais justa. De nossa parte, como interlocutores e representantes dos segmentos do setor, estamos prontos para participar e contribuir com o debate. I – Equilíbrio entre oferta e demanda de Energia ATRAÇÃO DE INVESTIMENTOS: o setor deve ser capaz de atrair investimentos em projetos intensivos em capital e de longa maturação, extremamente sensíveis ao ambiente regulado. Esta atração, fundamental 1 para o País, dependerá do reconhecimento da lógica privada de investimento e de uma adequada relação entre risco e retorno para o ambiente setorial. O respeito aos contratos e às regras da competição e de mercado, a estabilização do modelo e dos regulamentos, a autonomia das Agências Reguladoras e a transparência dos processos de definição das políticas e planejamento são pressupostos que devem pautar o trato das questões relacionadas com o setor elétrico. MEIO AMBIENTE: A dificuldade de obtenção de licenças ambientais compromete a oferta de projetos imprescindíveis para a expansão sustentável do sistema, especialmente no segmento de geração de energia, além de aumentar os custos da matriz de atendimento ao mercado consumidor de energia elétrica. A viabilização da expansão do setor elétrico e de uma oferta competitiva de energia é responsabilidade de todos, e o Governo deve atuar de forma a equilibrar riscos e custos ambientais. É fundamental, ao setor, a previsibilidade, de forma a possibilitar aos investidores o conhecimento prévio do real custo dos empreendimentos. Para tanto, as atribuições típicas do Poder Público não devem ser transferidas para os projetos. A política de atendimento aos diretamente atingidos requer definição explícita do Governo sobre a mitigação socioambiental, com a definição clara do seu alcance. Por fim, a compensação ambiental requer uma solução imediata, que não venha a agravar a situação já existente. PLANEJAMENTO DA EXPANSÃO: uma vez retomado o processo de planejamento de médio e longo prazo para o setor elétrico brasileiro, devese assegurar a efetiva participação de agentes setoriais e consumidores e fortalecer o seu papel para o setor no que diz respeito ao objetivo básico de oferecer alternativas e balizar decisões dos empreendedores, induzindo investimentos, dado que se trata de instrumento fundamental para viabilizar o equilíbrio entre oferta e demanda, promovendo assim o crescimento sustentado da oferta de energia. II – Modicidade de tarifas e preços PREÇOS JUSTOS: os preços da energia elétrica precisam ser justos para consumidores e agentes do setor. Isso só pode ser obtido com regras que promovam a eficiência e reduzam riscos que não possam ser gerenciados. Também é necessário reconhecer que existe um limite para a incorporação aos preços de custos de subvenções, encargos, incentivos e tributos alheios à produção, transporte e venda de energia. EFICIÊNCIA: a regulamentação setorial deve estimular a competição e induzir a eficiência do setor elétrico, promovendo a competitividade da economia como um todo. É fundamental que investidores e consumidores recebam o sinal econômico correto e possam atuar com liberdade, promovendo sinergias que gerem valor para todos. 2 TRIBUTOS E ENCARGOS: as autoridades públicas, em todos os níveis, precisam ter consciência que o setor elétrico conta com uma carga de tributos e encargos muito elevada, próxima a 50% de seu faturamento total e incompatível com a natureza e essencialidade deste serviço público. É fundamental que se examine sua redução, para não inviabilizar os investidores e consumidores. Os tributos e encargos setoriais devem ser reavaliados em seu mérito e custos, de forma a contribuir para a eficiência do setor e da economia em geral. III – Governança e Gestão ESTRUTURAÇÃO: os órgãos que definem o ambiente setorial precisam ter uma estrutura de governança que assegure transparência, acompanhamento pela sociedade e participação dos agentes e consumidores. A gestão das empresas deve seguir critérios técnicos, respeitar o interesse de investidores minoritários e sua atuação não pode distorcer o mercado ou inibir a participação de qualquer investidor. REGULAÇÃO INDEPENDENTE: a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) deve ser fortalecida em sua autonomia, contar com recursos compatíveis e não contingenciados para o exercício de sua função e, em especial, recursos humanos adequadamente capacitados, remunerados e motivados para, como órgão típico de Estado, neutro, e com visão de longo prazo, criar um ambiente favorável aos investimentos. A estabilidade regulatória não deve ser perturbada por interferência de outros órgãos de controle sobre a Aneel, no tocante a decisões de natureza técnica. ISONOMIA: os agentes não podem ser discriminados no exercício de suas atividades. O Poder Público, as instituições e regras setoriais devem tratar isonomicamente agentes de capital público ou privado, nacional ou estrangeiro, os grandes e os de pequeno porte. TRANSPARÊNCIA: as decisões que afetam o setor elétrico devem ser tomadas de forma transparente, com as motivações explícitas, considerando os impactos decorrentes nos ambientes técnico, econômicofinanceiro, de operação e comercial. As regras precisam ser não apenas claras, mas, também, simples, estáveis e previsíveis. ESTABILIDADE: o regulamento que disciplina o setor deve ser estável, de forma a proporcionar segurança ao investimento. Os aperfeiçoamentos do ambiente setorial, quando necessários, devem respeitar decisões tomadas sob cenário anteriormente vigente, prevendo regras de transição. Todas as esferas do Poder Público devem obedecer rigorosamente aos contratos assinados, independentemente da gestão em que tais documentos tenham sido oficializados. 3