2. Energia Cinética e Trabalho “Energia é uma grandeza escalar associada ao estado (ou condição) de um ou mais objetos.” 2.1 Energia Cinética A energia cinética K associada ao movimento de uma partícula de massa m e velocidade de módulo v , em que v está bem abaixo da velocidade da luz, é K 1 2 mv . 2 (11) A energia cinética está associada ao estado de movimento de um objeto. Quanto mais rápido o objeto se move, maior será sua energia cinética. Quando um objeto está em repouso, sua energia cinética é nula. A unidade do SI da energia cinética, e de todas as demais formas de energia, é o joule (J), dado em termos das unidades de massa e velocidade como: 1 joule = 1 J = 1 kg.m2/s2. Exemplo: Em 1896, em Waco, Texas, William Crush posicionou duas locomotivas nas extremidades opostas de uma longa ferrovia de 6,4 km, deu partida nas mesmas com os aceleradores amarrados e permitiu a colisão frontal na velocidade máxima, diante de 30.000 espectadores. Centenas de pessoas foram feridas por destroços que voaram; várias foram mortas. Supondo que cada locomotiva pesava 1,2 x 10 6 N e tinha uma aceleração constante de 0,26m/s 2, qual era a energia cinética das duas locomotivas imediatamente antes da colisão? 2.2 Trabalho O trabalho W é a energia transferida para um objeto ou de um objeto através de uma força que atua sobre o mesmo. Energia transferida para o objeto correspondente a um trabalho positivo, e energia transferida de objeto correspondente a um trabalho negativo. Trabalho, então, é energia transferida; “realizar” trabalho é o ato de transferir a energia. O trabalho tem a mesma unidade da energia e é uma grandeza escalar. O trabalho realizado sobre uma partícula por uma força constante F em um deslocamento d é W F d cos F d na qual é o ângulo constante entre os sentidos de F e d . (12) Para calcular o trabalho que uma força realiza sobre um objeto quando o mesmo se move através de um certo deslocamento, usamos apenas a componente da força ao longo do deslocamento do objeto. A componente da força perpendicular ao deslocamento não realiza trabalho. Uma força realiza trabalho positivo quando ela tem uma componente vetorial no mesmo sentido que o deslocamento, e realiza trabalho negativo quando tem uma componente vetorial no sentido contrário que o deslocamento. Ela realiza um trabalho nulo quando não tiver componente vetorial na direção do deslocamento. Quando duas ou mais forças atuam sobre um objeto, o trabalho resultante é a soma dos trabalhos individuais realizado sobre o objeto pela força resultante Fres dessas forças. 12 2.3 Teorema trabalho-energia cinética Podemos relacionar uma variação K na energia cinética de uma partícula ao trabalho resultante W realizado sobre a partícula com K K f K i W variação na energia trabalho resultante realizado sobre a partícula cinética de uma partícula (13) Na qual K i é a energia cinética inicial da partícula e K f é a energia cinética da partícula após o trabalho ter sido realizado. Também podemos escrever: K f Ki W (14) energia cinética após o trabalho energia cinética antes do o trabalho resultante resultante ser realizado realizado trabalho resultante Exemplo: A figura abaixo mostra dois espiões empurrando um cofre de 225kg a partir do repouso através d de um deslocamento de módulo 8,5m, diretamente em direção a um caminhão. A intensidade do empurrão F1 do espião 1 é 12,0N, dirigida segundo um ângulo de 30 0 para baixo em relação à horizontal; o puxão F2 do espião 2 tem módulo de 10N e está direcionado a 400 para cima em relação à horizontal. Os módulos e os sentidos dessas forças não variam ao longo do deslocamento do cofre. O atrito entre o cofre e o piso é desprezível. (a) Qual é o trabalho resultante realizado pelas forças F1 e F2 sobre o cofre neste deslocamento d ? (b) Neste mesmo deslocamento, qual é o trabalho Wg realizado sobre o cofre pela força gravitacional Fg e qual é o trabalho WN realizado sobre o cofre pela força normal FN do piso? (c) O cofre está inicialmente em repouso. Qual é sua velocidade ao final do deslocamento de 8,5m? 2.4 Trabalho realizado pela Força Gravitacional O trabalho W g realizado pela força gravitacional Fg sobre um objeto de massa m que se comporta como uma partícula que se move através de um deslocamento d é dado por Wg mgd cos , (15) na qual é o ângulo entre F e d . 13 2.4.1 Trabalho realizado no levantamento e no abaixamento de um objeto O trabalho Wa realizado por uma força aplicada quando um objeto que se comporta como uma partícula é levantado ou abaixado está relacionado com o trabalho W g realizado pela força gravitacional e a variação K na energia cinética do objeto por K K f K i Wa Wg . reduz a (16) Se a energia cinética no início e no fim de um levantamento são iguais, então a equação anterior se Wa Wg , (17) a qual nos diz que a força aplicada transfere tanta energia para o objeto quanto a força gravitacional transfere do objeto. Exemplo: Na década 1950, Paul Anderson tornou-se legendário por levantar cargas tremendamente pesadas. Um de seus levantamentos permanece um recorde: Anderson posicionou-se abaixo de uma plataforma de madeira reforçada, colocou suas mãos em um apoio e então empurrou a plataforma para cima com suas costas, levantando-a por uma distância de aproximadamente 1,0cm. Sobre a plataforma ainda estavam peças automotivas e um cofre com peças de chumbo, com um peso total de 27900N. (a) Neste levantamento realizado por Anderson, que trabalho foi realizado sobre a carga pela força gravitacional Fg ? (b) Que trabalho foi realizado pela força que Anderson aplicou para fazer o levantamento? 2.5 Força Elástica – Lei de Hooke A força Fm de uma mola é Fm kd , (18) em que d é o deslocamento da extremidade livre da mola a partir de sua posição quando a mola está em seu estado relaxado (nem comprimida nem alongada) e k é a constante elástica (uma medida da rigidez da mola). Se um eixo x é traçado ao longo do comprimento da mola, com sua origem na posição da extremidade livre da mola quando ela está em seus estado relaxado, a equação anterior pode ser escrita como Fx kx . (19) Uma força elástica é, portanto, uma força variável: ela varia com o deslocamento da extremidade livre da mola. 2.6 Trabalho realizado por uma Força Elástica Se um objeto está preso à extremidade livre da mola, o trabalho W m realizado sobre o objeto pela força elástica quando o objeto se desloca de uma posição inicial x i para uma posição final x f é Wm 1 k xi2 x 2f . 2 (20) 14 Exemplo: Um bloco está sobre um piso sem atrito, preso à extremidade livre de uma mola como no esquema da figura abaixo. Uma força aplicada para a direita de módulo Fa 4,9 N seria necessária para segurar o bloco em x1 12 mm. (a) Que trabalho é realizado sobre o bloco pela força elástica se o mesmo for puxado para a direita de x 0 0 até x 2 17 mm? (b) Em seguida, o bloco é deslocado para a esquerda até x3 12 mm. Que trabalho a força elástica realiza sobre o bloco neste deslocamento? 2.7 Potência A potência devida a uma força é a taxa com a qual a força realiza trabalho sobre um objeto. Se a força realiza um trabalho W em um intervalo de tempo t , a potência média devida à força neste intervalo de tempo é Pmed W . t (21) A potência instantânea é a taxa instantânea com que o trabalho está sendo realizado: P dW . dt (22) Se o sentido de uma força F está em um ângulo em relação à velocidade do objeto, a potência instantânea é P F v cos F v , (23) em que v é a velocidade instantânea do objeto. A unidade do SI para potência é o joule por segundo. Essa unidade é usada tão freqüentemente que tem um nome especial, o watt (W). Exemplo: A figura abaixo mostra as forças constantes F1 e F2 atuando sobre uma caixa quando esta escorrega para a direita sobre um piso sem atrito. A força F1 é horizontal, com módulo 2,0N; a força F2 está inclinada para cima de um ângulo de 600 em relação ao piso e tem um módulo de 4,0N. O módulo da velocidade v da caixa em um certo instante é 3m/s. (a) Qual é a potência associada a cada força que atua sobre a caixa nesse instante, e qual é a potência resultante? A potência resultante está variando nesse instante? (b) Se o módulo F2 for 6,0 N, qual é a potência resultante? Ela muda? 15 Exercícios 20. Se um foguete Saturno V e uma espaçonave Apollo acoplada a ele tinham uma massa combinada de 2,9x105kg, qual era a energia cinética quando atingiram uma velocidade de 11,2km/s? 21. Em uma corrida, um pai tem metade da energia cinética do filho, que tem metade da massa do pai. Aumentando sua velocidade em 1,0m/s, o pai passa a ter a mesma energia cinética do filho. Quais são os módulos das velocidades iniciais (a) do pai; e (b) do filho? 22. Para empurrar um engradado de 52 kg sobre um assoalho, um trabalhador aplica uma força de 190N, inclinada de 22º para baixo da horizontal. Quando o engradado percorrer 3,3 m, quanto trabalho terá sido realizado sobre o engradado: (a) pelo trabalhador; (b) pela força da gravidade; e (c) pela força normal do assoalho sobre o engradado? 23. Uma moeda desliza sobre um plano sem atrito através de um sistema de coordenadas xy, da origem até o ponto de coordenadas (3,0m, 4,0m) enquanto uma força constante atua sobre a mesma. A força tem módulo de 2,0N e está dirigida em um ângulo de 1000 no sentido anti-horário em relação ao sentido positivo do eixo x. Qual o trabalho realizado pela força sobre a moeda nesse deslocamento? 24. A figura abaixo mostra três forças aplicadas a um baú que se move para a esquerda por 3,0m sobre um piso sem atrito. Os módulos das forças são F1 = 5,0N, F2 = 9,0N e F3 = 3,0N, e o ângulo indicado é = 600. Neste deslocamento, (a) qual é o trabalho resultante realizado sobre o baú pelas três forças? (b) a energia cinética do baú aumenta ou diminui? 25. Um caixote de 15kg carregado com queijo e inicialmente em repouso é puxado através de um cabo por uma distância d = 5,7m para cima ao longo de uma rampa sem atrito até uma altura h de 2,5m, onde ele pára (vide figura abaixo). (a) Que trabalho Wg é realizado sobre o caixote pela força gravitacional Fg neste levantamento? (b) Que trabalho WT foi realizado sobre o caixote pela força T exercida pelo cabo neste levantamento? 16 26. Uma cabine de elevador de massa m = 500kg está descendo com velocidade vi = 4,0m/s quando seu cabo de sustentação começa a escorregar, permitindo que a cabine caia com aceleração constante a g / 5 (vide figura abaixo). (a) Numa queda de uma distância d = 12m, qual é o trabalho Wg realizado sobre a cabine pela força gravitacional? (b) Na queda de 12m, qual é o trabalho WT realizado sobre a cabine pela força T , para cima, exercida pelo cabo? (c) Qual é o trabalho resultante W realizado sobre a cabine na queda em questão? (d) Qual é a energia cinética da cabine ao final da queda de 12m? 27. Na figura abaixo, um pote de massa m = 0,40kg desliza sobre uma superfície horizontal sem atrito com velocidade v = 0,5m/s. O pote então colide e comprime uma mola de constante elástica k = 750N/m. No instante em que o pote pára devido à ação da mola, de que distância d a mola está comprimida? 28. Um bloco de 100kg é puxado com velocidade constante de 5,0m/s através de um piso por uma força de 122N dirigida em um ângulo de 370 acima da horizontal. Qual é a taxa com que a força realiza trabalho sobre o bloco? 29. Uma força de 5,0N atua sobre um corpo de 15kg inicialmente em repouso. (a) Calcule o trabalho realizado pela força no primeiro, segundo e no terceiro segundos; (b) Calcule a potência instantânea da força no fim do terceiro segundo. Respostas: 20. 1,8x1013 21. (a) 2,4m/s 22. (a) 580J (b) 4,8m/s (b) -630J (c) zero 23. 4. 6,8J 24. (a) 1,5J 25. (a) -368J (b) aumenta (b) 368J 4 26. (a) 5,88x10 J (b) -4,7x104 J (c) 1,18x104 J (d) 1,58x104 J 27. 1,2x10-2m 28. 4,9x102W 29. (a) 0,83J; 2,5J; 4,2J (b) 5,0W 17 3. Energia Potencial e Conservação da Energia 3.1 Forças Conservativas Uma força é uma força conservativa se o trabalho que ela realiza sobre uma partícula que se move ao longo de qualquer percurso fechado, partindo de um ponto inicial e depois retornando a esse mesmo ponto, for nulo. Equivalentemente, uma força é conservativa se o trabalho resultante que ela realiza sobre uma partícula que se move entre dois pontos não depende do caminho seguido pela partícula. A força gravitacional e a força elástica são forças conservativas; a força de atrito cinético é uma força nãoconservativa. 3.2 Energia Potencial Uma energia potencial é a energia que está associada com a configuração de um sistema no qual atua uma força conservativa. Quando a força conservativa realiza trabalho W sobre uma partícula dentro do sistema, a variação U na energia potencial do sistema é U W . (24) Se a partícula se move do ponto x i para o ponto x f , a variação na energia potencial do sistema é U xf xi F x dx . (25) 3.3 Energia Potencial Gravitacional A energia potencial associada com um sistema formado pela Terra e por uma partícula próxima é a energia potencial gravitacional. Se a partícula se move da altura y i para a altura y f , a variação na energia potencial gravitacional do sistema partícula-Terra é U mg y f yi mg y . (26) Se o ponto de referência da partícula é escolhido como y i 0 e a energia potencial correspondente do sistema é escolhida como U i 0 , então a energia potencial gravitacional U quando a partícula está em qualquer altura y é U y m g y . (27) 3.4 Energia Potencial Elástica A energia potencial elástica é a energia associada com o estado de compressão ou alongamento de um objeto estático. Para uma mola que exerce uma força elástica F kx quando sua extremidade se desloca de x, a energia potencial elástica é U x 1 2 kx . 2 (28) A configuração de referência corresponde à mola na sua posição não deformada, na qual x = 0 e U = 0. Energia Potencial Mecânica A energia mecânica E mec de um sistema é a soma de sua energia cinética K com sua energia potencial U: E mec K U . (29) Um sistema isolado é um sistema no qual nenhuma força externa causa variações de energia. Se apenas forças conservativas realizam trabalho dentro de um sistema isolado, então a energia mecânica do sistema não pode variar. Este princípio de conservação da energia mecânica do sistema é escrito como K 2 U 2 K1 U 1 , (30) 18 na qual o subscrito se refere a diferentes instantes durante um processo de transferência de energia. Este princípio de conservação pode também ser escrito como E mec K U , (31) Exemplo: Uma preguiça de 2,0kg está pendurada a 5,0m acima do solo (figura abaixo). (a) Qual é a energia potencial gravitacional U do sistema preguiça-Terra se tomarmos o ponto de referência y = 0 como estando (1) no nível do solo, (2) no piso de uma varanda que está a 3,0m acima do solo, (3) no galho e (4) 1,0m acima do galho? Considere a energia potencial nula em y = 0. (b) A preguiça cai da árvore. Para cada escolha do ponto de referência, qual é a variação U na energia potencial do sistema preguiça-Terra devida à queda? Exemplo: Na figura abaixo, uma criança de massa m parte do repouso no topo de um toboágua, a uma altura h = 8,5m acima de sua base. Supondo que o atrito é desprezível devido a presença da água, encontre a velocidade da criança na base do toboágua. Exercícios 30. Num ponto A, um corpo armazena uma energia potencial de 20J. Passando para o ponto B, sua energia potencial passa a valer 52J. (a) O trabalho das forças conservativas teve que valor? (b) O movimento do corpo foi espontâneo ou forçado? (c) Se o corpo tivesse seguido outra trajetória até B, o trabalho das forças conservativas teria sido diferente? Por quê? 19 31. Um corpo de massa igual a 40kg parte do repouso e cai de uma altura igual a 100m em relação ao solo. Qual o trabalho do peso, desde o instante em que cai até atingir o solo? 32. Numa mola atua uma força elástica onde k = 150N/m. O comprimento da mola passa então de 2,5cm para 2,0cm. Por efeito dessa deformação, qual é o aumento de energia potencial acumulada na mola? 33. Na figura dada, um carro de montanha-russa de massa m = 825kg atinge o topo da primeira elevação com uma velocidade v0 = 17m/s a uma altura h = 42m. O atrito é desprezível. Qual é o trabalho realizado sobre o carro pela força gravitacional desse ponto para (a) o ponto A? (b) o ponto B? (c) o ponto C? Se a energia potencial gravitacional do sistema carro-Terra for tomada como nula em C, qual será seu valor quando o carro estiver (d) em B? (e) em A? 34. Se a massa do carro do exercício anterior fosse dobrada, a variação da energia potencial do sistema entre os pontos A e B aumentaria, diminuiria ou permaneceria a mesma? 35. Considerando ainda o problema 14, calcule a velocidade do carro: (a) no ponto A; (b) no ponto B; (c) no ponto C. (d) Que altura o carro alcançará na última elevação, que é alta demais para ele cruzar? 36. Se substituíssemos o carro no exercício 14 por um segundo carro com o dobro da massa, quais seriam então as respostas correspondentes aos itens (a) a (d) do exercício anterior (ex. 16)? Respostas: 30. (a) -32J (b) Forçado 4 31. 3,9x10 J 32. 1,875x10-3J 33. (a) 0 (b) 170KJ (c) 340KJ (d) 170KJ (e) 340KJ 34. aumentaria 35. (a) 17m/s (b) 26,5m/s (c) 33,4m/s (d) 56,7m 36. todas as mesmas 20