281 DOENÇA DIVERTICULAR DO CÓLON Dr. Luiz Alberto Costa Sob a denominação de doença diverticular dos cólons (DDC) são incluídas todas as manifestações clínicas decorrentes da presença de divertículos no intestino grosso. Assim, tradicionalmente, define-se que: DIVERTICULOSE: é a presença de divertículos assintomáticos nos cólons. DIVERTICULITE: é a manifestação clínica decorrente da presença de inflamação nos divertículos, que pode ser simples ou complicada ETIOLOGIA/FISIOPATOLOGIA Os divertículos colônicos são formações saculares que contêm apenas as camadas mucosa e serosa. Ocorrem nos pontos de passagem da “vasa recta” pela camada muscular circular do intestino grosso e são decorrentes do aumento da pressão intraluminar e da degeneração do colágeno estrutural da parede. INCIDÊNCIA e PREVALÊNCIA (EUA) Menos que 5% dos indivíduos são acometidos aos 40 anos de idade. A prevalência aumenta com a idade. Aos 60 anos, por volta de 30% dos indivíduos serão portadores de DDC e aos 80 anos, 85% da população será portadora dessa afecção. A moléstia diverticular é rara na Ásia e África. É uma afecção mais comum na população ocidental. O sexo feminino é mais acometido que o masculino na proporção de 3:2. e parece estar relacionada ao baixo consumo de fibras. Na população ocidental, é mais freqüente a ocorrência de divertículos no cólon direito. FORMAS DE DDC Hipertônica: os divertículos estão localizados no sigmóide, é observado um espessamento da camada muscular e os óstios diverticulares são estreitos. 282 Hipotônica: os divertículos aparecem em todo o cólon, a musculatura não está hipertônica e os óstios diverticulares são largos. É mais freqüente nos idosos. QUADRO CLÍNICO A grande maioria é assintomática. O diagnóstico ocorre acidentalmente na ocasião da realização de um radiograma com enema baritado ou endoscopia. Queixas intermitentes: cólica abdominal, empachamento, flatulência, evacuação irregular, alternância complicações de constipação/diarréia (diverticulite e sangramento). e O sintomas exame decorrentes físico pode das revelar hipersensibilidade discreta no quadrante inferior esquerdo; o cólon esquerdo pode ser palpado na forma de estrutura tubular firme; febre e leucocitose estão ausentes no paciente com dor, mas sem inflamação. EXAMES COMPLEMENTARES Enema opaco: contra-indicado na suspeita de diverticulite. Pelo grau de deformidade de um segmento, pode não diagnosticar lesões concomitantes, p.ex. pólipos e câncer. Colonoscopia: Contra-indicado na suspeita de diverticulite. Tomografia Computadorizada (TC): Estudo de complicações associadas, tais como espessamentos da parede e coleções periviscerais. CONDUTA DO SERVIÇO Aumento da ingestão de fibras alimentares, pois aumentam o peso das fezes, diminuem a pressão intraluminar do cólon, aumentam a velocidade de transito intestinal e previnem o espessamento muscular. Antiespasmódicos devem ser associados no início do tratamento e deve ser analisada a necessidade de uso de ansiolíticos. COMPLICAÇÕES DIVERTICULITE: resulta de perfuração micro ou macroscópica de um divertículo. Uma pequena perfuração pode ser tamponada pela gordura peri-cólica 283 ou contida pelo mesentério, o que pode resultar em um abscesso ou ainda em uma fístula interna. Um tamponamento inadequado resulta em peritonite. Queixa de dor no quadrante inferior esquerdo ocorre em 70% dos pacientes. Aproximadamente metade dos pacientes já apresentou episódios semelhantes anteriormente. Outros sintomas incluem náusea e vômito, constipação, diarréia e sintomas urinários (disúria, urgência, polaciúria). A defesa à palpação abdominal, localizada no quadrante inferior esquerdo é característica. Em 20% dos pacientes é possivel a palpação de um plastrão. A febre é baixa e leucocitose discreta é comum, porém em 45% dos pacientes não há febre ou leucocitose. DIAGNÓSTICO: em geral o diagnóstico é feito pela história e exame físico. O exame radiológico pode caracterizar um abdômen agudo perfurativo, inflamatório ou obstrutivo. O enema opaco é contra-indicado na diverticulite aguda pelo risco de destamponamento e perfuração. A tomografia computadorizada (TC) é o método ideal para diagnóstico, podendo ser também terapêutico, pois possibilita a realização de punções. A TC avalia a inflamação transmural do segmento intestinal. As alterações podem ser o aumento da densidade da gordura pericólica, presença de divertículos no cólon, o espessamento da parede intestinal e flegmão ou abscesso. O Ultra-som de alta resolução, que é um procedimento de qualidade operador-dependente, pode eventualmente demonstrar alterações estruturais como as demonstradas pela CT. A colonoscopia é contra-indicada na diverticulite aguda, pelo risco de perfuração. - HEMORRAGIA DIGESTIVA BAIXA: o sangramento ocorre em 15% a 40% dos pacientes com DDC-forma hipotônica e pode ser volumoso em 5% destes pacientes. É a causa mais freqüente de hemorragia digestiva baixa nos adultos. A maioria das HDB se origina no cólon direito. Isto presumivelmente ocorre porque a parede co cólon direito é mais fina do que a do cólon esquerdo. O sangramento do divertículo decorre da lesão da artéria “da vasa recta”. A inflamação diverticular não está presente. O risco de re-sangramento em DDC atinge 30% após o primeiro episódio e até 50% após o segundo. 284 TRATAMENTO O tratamento clínico é suficiente em 75% dos casos. Diverticulite não complicada, com ausência de sintomas sistêmicos e quadro abdominal bloqueado, deve ser tratado com dieta sem resíduo e antibióticos orais (metronidazol ou quinolonas). O tratamento clínico em regime hospitalar é indicado quando há aumento da dor abdominal, sinais de peritonite localizada e sem sinais de perfuração. A terapia inclui jejum, sondagem nasogástrica em casos com obstrução ou distensão de delgado, hidratação intravenosa, antibióticos para cobertura de germes anaeróbios e gram -negativos. A eficiência dessa terapia pode ser observada em 48h, com melhora do quadro clínico e do exame físico. A persistência dos sintomas pode ser sugestiva de diagnóstico incorreto ou de complicação por formação de flegmão ou abscesso. Uma CT deve ser realizada. Um abscesso pode ser drenado por punção percutânea. Com o sucesso da terapia pode-se iniciar alimentação sem resíduo e começar o estudo por uma colonoscopia em seis semanas. INDICAÇÃO DE CIRURGIA EMERGÊNCIA: Na evidência de peritonite difusa. Utilizar a antibioticoterapia padronizada e proceder a laparotomia exploradora. Paciente em tratamento clínico que têm evolução desfavorável, considerar a possibilidade de ser portador de um abscesso (CT) que poderia ser puncionado e a cirurgia ser realizada de maneira eletiva. ELETIVA: 1. Episódio anterior de diverticulite complicada (abscesso, obstrução ou fístula) que respondeu ao tratamento clínico. 2. Aqueles que apresentaram dois quadros confirmados de diverticulite severas o bastante para requerer internação para tratamento clínico, segundo o enunciado acima. 285 TRATAMENTO CIRÚRGICO Cirurgia de EMERGÊNCIA: Conduta: Controlar a sépsis, ressecar o tecido doente e reconstruir o trânsito num segundo tempo. Procedimentos recomendados: 1) Procedimento de Hartmann; 2) Ressecar o segmento, proceder à anastomose e realizar ostomia proximal de proteção; 3) Ressecar o segmento doente, limpeza do cólon “on table” e anastomose primária. Cirurgia Eletiva: realizar 6 a 8 semanas após o episódio de diverticulite. Operar com preparo de cólon mecânico e antibioticoterapia profilática. Margens cirúrgicas: Proximal: cólon normal, sem espessamentos ou sinais de complicações, podendo conter divertículos. Distal: no reto, onde acabam os apêndices epiplóicos e as tênias. Sempre mobilizar a flexura esplênica. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Young-Fadok TM, et al. Colonic Diverticular Disease. Curr Probl Surg, 2000; 37:457 2. Miura S, et al. Recent trends in diverticulosis of the right colon in Japan: retrospective review in a regional hospital. Dis Colon Rectum, 2000; 43: 1383 3. Gooszen AW, et al. Operative treatment of acute complications of diverticular disease: primary or secondary anastomosis after sigmoid resection. Eur J Surg 2001; 167: 35 4. Baevsky R, et al. Acute Divertculitis. N Engl J Med 1998; 339: 1082 286 RESUMO ESQUEMÁTICO DE CONDUTA = Admissão de paciente; avaliar sinais e sintomas Solicitar: Rx simples abdome Hemograma, eletrólitos, função renal, enzimas específicas Urina I Suspeita de DDC DDC complicada Afastar diagnósticos diferenciais DDC não complicada Solicitar TC de abdome Enema opaco Tratar adequadamente Colonoscopia 2 Episódios anteriores de DDC complicada Sinais de peritonite difusa Tratamento cirúrgico Suporte clínico adequado