SIRLEI KINUE KURACHI FERRINI PREVENÇÃO DO CÂNCER DO COLO DO ÚTERO: PROJETO DE INTERVENÇÃO, JUNTO ÀS MULHERES QUE NUNCA REALIZARAM OU NÃO REALIZAM O EXAME PAPANICOLAU HÁ MAIS DE DOIS ANOS Brasilândia-MS 2011 SIRLEI KINUE KURACHI FERRINI PREVENÇÃO DO CÂNCER DO COLO DO ÚTERO: PROJETO DE INTERVENÇÃO, JUNTO ÀS MULHERES QUE NUNCA REALIZARAM OU NÃO REALIZAM O EXAME PAPANICOLAU HÁ MAIS DE DOIS ANOS Projeto de Intervenção apresentado à Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, como requisito para conclusão do curso de Pós Graduação à nível de especialização em Atenção Básica em Saúde da Família. Orientador (a): Prof. Doutora Adriane Pires Batiston. Brasilândia – MS 2011 RESUMO A visita domiciliária como projeto de intervenção na busca ativa de mulheres na idade de 25 a 59 anos, que não realizam periodicamente o exame citopatológico (Papanicolaou), também conhecido como preventivo, para prevenir o câncer do colo do útero. Este estudo objetiva refletir processo/resultado de trabalho entendido como um enfoque que pode contribuir para a atualização das concepções que orientam as práticas da equipe saúde da família e revisam os principais métodos a ser utilizado nesse processo, fundamentar a necessidade de se utilizar uma estratégia de planejamento que permita apreender a complexidade dos processos sociais e que, ao mesmo tempo, forneça ferramentas operacionais para a construção de projetos e planos de ação para o enfrentamento de problemas estratégicos que resultem num impacto positivo na qualidade de vida da população. Os sujeitos do estudo foram quarenta e cinco mulheres cadastradas na Estratégia Saúde da Família II, do município de Brasilândia no estado do Mato Grosso do Sul, que nunca realizaram ou não realizam o exame papanicolaou há dois anos. Foram visitadas e orientadas da importância do exame Papanicolaou na prevenção do câncer do colo uterino, no mês de junho e julho do ano de 2011 e os resultados avaliados no período de quatro meses: julho, agosto, setembro e outubro do ano de 2011. As visitas foram realizadas pela Enfermeira da equipe, na qual orientava as clientes sobre o câncer e sua etiologia, e a importância da prevenção. Foi planejado datas e horários. Preparo da unidade buscando acessibilidade e privacidade. Destas, obtivemos resultados positivos em 15%. A descrença da possibilidade da doença, a vergonha conforme foi descrito por várias das mulheres, foram os fatores desmotivadores para a procura do procedimento. Nas considerações finais: o exame Papanicolaou é considerado um procedimento constrangedor para a maioria das mulheres visitadas e apesar da visita domiciliária não atingir cem por cento de resultado, porém atingiu uma parcela, evitando um diagnóstico tardio com tratamento mais invasivo ou que essas mulheres possam morrer vítimas do câncer do colo do útero. Palavras chave: Prevenção do câncer do colo do útero, exame citopatológico (Papanicolaou), visita domiciliária. INTRODUÇÃO O câncer é resultante de alterações que determinam um crescimento celular desordenado, não controlado pelo organismo e que compromete tecidos e órgãos. No caso do câncer do colo do útero, o órgão acometido é o útero, em uma parte específica – o colo, que fica em contato com a vagina (Brasil, 2002). Classicamente, a história natural do câncer do colo do útero é descrita como uma afecção iniciada com transformações intra-epiteliais progressivas que podem evoluir para uma lesão cancerosa invasora, num prazo de 10 a 20 anos (Brasil, 2002). O câncer do colo uterino é o segundo tipo de câncer mais freqüente entre as mulheres. Com ocorrência aproximada de 500 mil casos por ano no mundo, segundo estimativa realizada em 2010 pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA). Sendo responsável pelo óbito de, aproximadamente, 230 mil mulheres por ano (Brasil, 2010). No Brasil foi esperado para o ano de 2010, o número de 18.430 casos novos de câncer do colo do útero, com um risco estimado para 18 casos a cada 100 mil mulheres. A incidência desse tipo de câncer é cerca de duas vezes maiores nos países em desenvolvimento quando comparados aos países desenvolvidos. A conseqüência é que no Brasil são milhares de novas vítimas a cada ano (Brasil, 2008). Em 2010, a população feminina entre 25 e 59 anos residente em Brasilândia era de 2.816 mulheres, destas apenas 27,5% realizaram o exame Papanicolaou (SES-MS, 2010) e 3% tiveram laudos alterados (SISCOLO, 2010) que necessitam serem seguidas através de exames complementares, tratamentos, até que apresentem dois laudos negativos novamente. As alterações das células podem ser descobertas facilmente e precocemente no exame citopatologico (também conhecido como teste de Papanicolaou ou preventivo). A faixa etária na qual mais ocorrem casos positivos de câncer do colo do útero é entre 25 a 59 anos de idade. Sabe-se que o diagnóstico precoce possibilitaria que as mulheres acometidas pelo câncer do colo uterino retomem sua atividades e tenham uma vida normal. Por isso, o Ministério da Saúde continua trabalhando para assegurar, ao maior número dessas mulheres, acesso às unidades de saúde e ao exame citopatológico de Papanicolaou (BRASIL, 2002). .Evidencia-se na faixa etária de 20 a 29 anos que o risco aumenta rapidamente até atingir o seu pico, geralmente na faixa etária de 45 a 49 anos. Ao mesmo tempo, com exceção do câncer de pele, o câncer do colo uterino é o que apresenta maior potencial de prevenção e cura quando diagnosticado precocemente. Também é objeto de um programa nacional estruturado para seu controle (Brasil, 2008). No ano de 1995, o governo brasileiro participou da VI conferência mundial sobre a mulher, na China e assumiu o compromisso de desenvolver um programa de âmbito nacional visando o controle do câncer do colo do útero no país. Implanta-se o Viva Mulher – Programa Nacional de Controle do câncer do colo o útero e de mama, objetivando a reduzir a mortalidade e as repercussões físicas, psíquicas e sociais desses cânceres na mulher brasileira, por meio de ofertas de serviços para prevenção e detecção em estágios iniciais, tratamento e reabilitação. Em termos de prevenção primária o enfoque do programa concentra-se no controle das doenças sexualmente transmissíveis, importante fator de risco para o câncer do colo do útero. Em termos de prevenção secundária, concentra-se na realização periódica do exame citopatológico (Papanicolaou) sob a responsabilidade direta do “Viva Mulher”. Para o tratamento específico, propõe-se a formação de uma rede nacional integrada, com base em número geopolítico gerencial sediado nos municípios, a fim de assegurar acessibidade ao sistema (Brasil, 2002) A Organização Mundial de Saúde (OMS) reconhece o exame citopatológico de Papanicolaou como uma estratégia segura e eficiente para a prevenção e detecção precoce do câncer do colo do útero na população feminina e tem modificado efetivamente as taxas de incidência e mortalidade por este câncer. Bottari, Vasconcellos e Mendonça (2008) referiram que as ações preventivas de educação em saúde, detecção por meio de colpocitologia e encaminhamento para tratamento são responsabilidades da Atenção Básica. Nesse sentido a Estratégia Saúde da Família (ESF), realiza entre outros, o atendimento às mulheres da área adscrita com ênfase nas ações de prevenção dessa patologia. A ESF prioriza as ações de promoção, proteção e recuperação da saúde dos indivíduos e da família de forma integral e contínua. Perante a magnitude da doença, políticas públicas englobando medidas preventivas foram criadas para reduzir à incidência de casos no Brasil. A realização do exame citopatológico do colo do útero foi adotado na década de 50 com a finalidade de rastrear as mulheres a partir da identificação de lesões precursoras da doença em estágios iniciais, antes mesmo do aparecimento dos sintomas (Brasil, 2002). A visita domiciliária é um dos instrumentos mais indicados à prestação de assistência à saúde do indivíduo, família e comunidade. Apesar de antiga, a visita domiciliária traz resultados inovadores, uma vez que possibilita conhecer a realidade do cliente e sua família in loco e fortalece os vínculos cliente-terapêutica-profissional. Também deve ser considerada no contexto de educação em saúde por contribuir para a mudança de padrões de comportamento e, consequentemente, promover a qualidade de vida através da prevenção de doenças e promoção da saúde. No Brasil, a Estratégia Saúde da Família (ESF), implantado no país pelo Ministério da Saúde em 1994 preconiza como uma de suas importantes atividades a visita domiciliária (Souza, Lopes, Barbosa, 2004). Ainda hoje, o exame Papanicolaou é o mais utilizado para se prevenir a doença, porém, muitas mulheres não se submetem ao exame ginecológico anualmente conforme estruturação de funcionamento dos programas de prevenção e não consideram o exame como um procedimento rotineiro. Esta procura deveria ser voluntária. É importante lembrar que a maioria delas é gente muito simples, sem acesso à informação e que não faz prevenção por medo ou vergonha e aquelas em idade de realizar o exame têm pouca clareza do significado da prevenção (Brasil, 2002). Diante do exposto o objetivo deste projeto de intervenção foi uma tentativa de buscar essas mulheres que não realizam o exame espontaneamente, através de intervenções como visita no domicílio para convidá-las, orientando-as sobre o exame, e suas possibilidades na prevenção do câncer do colo do útero. METODOLÓGIA O estudo é um projeto de intervenção que incluiu mulheres de 25 a 59 anos que nunca realizaram ou não realizam há dois anos o exame Papanicolaou. Para realização deste projeto de intervenção, contou com as seguintes etapas: - Levantamento do quantitativo de mulheres na faixa etária estipulada que não realizaram o Papanicolaou, este levantamento foi realizado pelas Agentes Comunitárias de Saúde da Estratégia Saúde da Família II de Brasilândia-MS. -Identificação das mulheres que não realizam há mais de dois anos, preferencialmente aquelas que estavam com atraso bem acima deste período. -Escolhas aleatórias de 50 mulheres, que receberam a visita da Enfermeira, destas 5 não foram encontradas no domicílio por trabalharem no mesmo período que a profissional realizou as visitas. - As visitas foram realizadas no período de junho e julho de 2011. Nas visitas a Enfermeira explicava o que é o câncer no colo do útero, os riscos da doença e como prevenir, depois orientava o procedimento (exame Papanicolaou) procurando transmitir segurança e confiabilidade. - Foi planejado em conjunto, dias e horários para coleta do exame, buscando acessibilidade e privacidade para as clientes. Após a nossa conversa elas diziam que iriam procurar a Unidade para realizar o exame - Quando a cliente procurava a unidade para realizar o exame eram acolhidas imediatamente mesmo quando a Enfermeira não estava presente. As Técnicas de Enfermagem eram avisadas da importância de acolher essas mulheres. - No mês de outubro aconteceu a campanha de prevenção do câncer do colo do útero, onde a unidade ficou aberta das 7 às 18 horas sem interrupção para atender as mulheres que trabalham fora de casa. -Os resultados da intervenção foram avaliados por um período de quatro meses: julho, agosto, setembro e outubro de 2011, através do comparecimento das mulheres visitadas na Unidade Saúde da Família II para coletar o exame Papanicolaou. IMPACTOS Das quarenta e cinco mulheres visitadas, sete realizaram o exame Papanicolaou. Concluindo que as visitas domiciliárias foram eficazes em 18% dessas mulheres visitadas. Desta porcentagem atingida, 10% são mulheres que não realizavam o exame há mais de dois anos e 8% são as que nunca realizaram. Passado os meses de avaliação, investigamos as causas que levam as mulheres mesmo visitadas e orientadas a não realizarem o exame são: -10% são mulheres com transtornos psiquiátricos. Situação percebida durante a visita. Não houve a possibilidade de conversar com elas, - Vergonha. O constrangimento da mulher com a sua genitália. A maioria diz ter muita vergonha e aquelas que não falam, mostra no olhar ou em um leve sorriso o nervosismo em relação ao exame ginecológico. - A descrença da possibilidade da doença, porque não houve a procura pelo exame. Uma barreira que poderia ser derrubada através de demonstração de casos de mulheres que tiveram ou morreram por causa de câncer do colo uterino. Acredito que há outras estratégias a serem pensadas para convencimento dessas mulheres que não compareceram para realização do exame, apesar de mostrarem cientes de que não querem passar pelo procedimento, mesmo sabendo das conseqüências da sua atitude. Este projeto de intervenção trouxe como ponto positivo, a experiência de convencer as mulheres através de visitas e poder avaliar os resultados, trazendo parâmetros para nossas ações enquanto profissionais de saúde e membro de equipe da estratégia saúde da família. DIFICULDADES ENCONTRADAS Na operacionalização do trabalho a dificuldade encontrada durante as visitas foi não encontrar as mulheres que trabalham em empresas nos mesmos horários da carga horária cumprida pela Enfermeira, sendo necessárias visitas ao anoitecer ou nos finais de semana. APLICABILIDADE AO SUS Contribuição do trabalho para a consolidação dos princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde, especificamente na Estratégia Saúde da Família. - A integralidade deve assumir ações de saúde combinadas e voltadas, ao mesmo tempo para a prevenção e cura. - Equidade: os serviços de saúde devem saber quais são as diferenças dos grupos da população e trabalhar para cada necessidade. CONSIDERAÇÕES FINAIS O exame Papanicolaou é visto como um procedimento constrangedor descrito pela maioria das mulheres visitadas. Precisamos estar pesquisando e buscando outros métodos de abordagem, além das visitas domiciliárias para convencê-las da importância deste procedimento na prevenção do câncer do colo uterino. A visita domiciliária é uma intervenção que não irá atingir cem por cento do seu objetivo de convencer e estimular a coleta do exame Papanicolaou, de acordo com os resultados atingidos neste projeto, porém, conseguirá que uma parcela das mulheres visitadas faça o exame, uma contribuição que por menor que seja, estará diminuindo o número de mulheres que deixam a doença progredir, pois sabemos que no diagnóstico tardio, o tratamento será mais invasivo ou então poderiam morrer vítimas do câncer do colo do útero. Apesar dos resultados, acredito que são valiosos os esforços e tempo empreendido nesse projeto. REFERÊNCIAS Brasil. Ministério da Saúde. Instituto Nacional do Câncer. Estimativa 2010 Incidência de câncer no Brasil. Rio de Janeiro: INCA, 2009. Carvalho, M. L.O; Furegato, A.R.F. Exame ginecológico na perspectiva das usuárias de um serviço de saúde. Revista Eletrônica de Enfermagem (online), Goiânia, v.3, n.1, jan-jun.2001. Disponível em:<http ://www.revistas.ufg.br/índex.php / fen>. Acesso em: 10 out. 2011. Brasil. Ministério da Saúde. Prevenção do câncer do colo útero. Organizando a Assistência. Brasília, 2002. Bottari, M.S.B.; Vasconcellos, M.M.; Mendonça M.H.M. Câncer cérvico-uterino como condição marcadora: uma proposta de avaliação da atenção básica. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 24 Sup 1:S111-S122, 2008. Thum, M.; Heck R.M.; Soares M.C.; Deprá A.S. Câncer de colo uterino: percepção das mulheres sobre prevenção. Cienc Cuid Saúde 2008. Out/Dez; 7(4): 509-516. Domingos, A.C.P.; Murata, I.M.; Pelloso, S.M.; Schiirmer, J. ; Carvalho, M.D.B. Câncer do colo do útero: comportamento preventivo de auto-cuidado à saúde. 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