Revista FACUNICAMPS Ciência Área de concentração: Saúde EFEITO DA MANOBRA DE EMPILHAMENTO DE AR COM AUXÍLIO DO AMBU SOBRE A MECÂNICA RESPIRATÓRIA DE UMA PACIENTE VÍTIMA DE ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO EFFECT OF AIR STACKING MANEUVER WITH THE AID OF AMBU ON RESPIRATORY MECHANICS OF A PATIENT VICTIM OF STROKE Adriana Ferreira Campos1 ; Giulliano Gardenghi2 RESUMO Objetivo: Avaliar a efetividade do empilhamento de ar com auxílio do AMBU, sobre a mecânica respiratória de uma paciente vítima de acidente vascular encefálico (AVE), intubada e sob ventilação mecânica, internada em uma unidade de terapia intensiva (UTI). Método: Estudo de caso de uma paciente com diagnóstico clínico de AVE, 71 anos de idade. Foi submetida à aplicação da técnica de empilhamento de ar com auxílio do ressuscitador manual (AMBU). A seguir, avaliou-se a mecânica respiratória em quatro momentos distintos através do cálculo da complacência estática (CEST) e resistência do sistema respiratório (RAW). Resultados: Houve melhora da função respiratória em relação à resistência das vias aéreas, caracterizada pela sua diminuição, de 9.09 para 4.54. A complacência não se alterou de maneira significante, uma vez que seu valor passou de 88.33 para 66.25 (ainda se manteve dentro dos limites da normalidade). Conclusão: O empilhamento de ar com auxílio do AMBU melhorou a função respiratória da paciente estudada em relação à resistência das vias aéreas, sendo considerado um método positivo de terapia de higiene brônquica aplicada a indivíduos vítimas de AVE e intubados. Em relação à complacência estática pulmonar, houve um pequeno decréscimo no valor final encontrado, que pode ser explicado pelo fato da paciente ter sido desconectada da ventilação mecânica no momento da realização da técnica. Faltam ainda evidências científicas quanto à efetividade da técnica proposta, fazendo-se necessário a realização de mais estudos na área, com número maior de casos. Palavras-chave: Acidente Cerebral Vascular, Reabilitação, Tosse, Insuflação, Pico do Fluxo Expiratório. 1 - Fisioterapeuta. Especialista em Fisioterapia Hospitalar pela PUC-Goiás. 2 - Fisioterapeuta. Doutor em Ciências pela FMUSP. Professor da FACUNICAMPS; Coordenador Científico do Serviço de Fisioterapia do Hospital ENCORE; Coordenador Científico do CEAFI Pós-graduação; Fisiologista do Hospital do Coração Anis Rassi. 70 Volume 5, Agosto de 2013 Revista FACUNICAMPS Ciência Área de concentração: Saúde Introdução O Acidente Vascular Encefálico (AVE) é uma doença crônico-degenerativa causada por uma diminuição ou interrupção do fluxo sanguíneo em uma determinada região encefálica, com duração dos sintomas maior que 24 horas e/ou presença de lesão cerebral pelos exames de imagem. As características clínicas são determinadas pela localização e extensão do prejuízo cerebral (VALENTE et al., 2006; VELOSO et al., 2007). O AVE é classificado de dois tipos: AVE isquêmico (83%) e hemorrágico (17%). Os principais mecanismos do AVE isquêmico são as lesões trombóticas (31%), as embólicas (32%) e as lacunares (20%). O AVE trombótico decorre, na grande maioria dos casos, da presença de lesões ateromatosas. O AVE embólico tem origem vascular ou cardíaca e o lacunar ocorre devido ao comprometimento de pequenas artérias ou arteríolas cerebrovasculares, determinando lesões de pequeno tamanho. Já o AVE hemorrágico pode se apresentar como uma hemorragia intraparenquimatosa (10%) ou uma hemorragia subaracnóide (7%). As principais causas do sangramento são por aneurismas, má formação artério-venosa (MAV), distúrbios de coagulação, uso de drogas ou traumatismos. (CITIN AMIB, 2006). O AVE é a maior causa de morbidade em grande parte dos países ocidentais (MENEGHETTI et al., 2010). É um dos eventos mais temidos na área médica, sendo a principal causa de incapacitação e a terceira causa mais frequente de mortalidade nos EUA, onde ocorrem mais de 700.000 casos/ano (TARBINE et al., 2005). O número de mortes vem diminuindo nas últimas décadas, devido a um melhor controle da hipertensão e devido a um tratamento rápido e especializado. Dos que sobrevivem, até 30% tornam-se dependentes e improdutivos. A grande incidência e as extensas sequelas produzidas determinam um alto custo desses pacientes para a sociedade (CITIN – AMIB, 2006). O paciente portador de lesão neurológica grave requer um tratamento minuncioso. O resultado positivo depende de uma série de detalhes. Os cuidados básicos com o paciente neurológico constituem parte fundamental do tratamento. A equipe de atendimento deve estar preparada para receber o paciente. Os cuidados básicos começam na sala de emergência com a adoção das diretrizes e recomendações do ATLS, ACLS e FCCS. Merecem destaque especial a manutenção das vias aéreas, a ventilação e oxigenação, e o acesso venoso e controle de sangramentos (CITIN - AMIB, 2006). 71 Volume 5, Agosto de 2013 Revista FACUNICAMPS Ciência Área de concentração: Saúde A internação hospitalar deve ser indicada nos casos de AVE transitório ou permanente, com menos de 72 horas do início dos sintomas. Os critérios para admissão na UTI são a alteração do nível de consciência (Glasgow < 9), sinais de hipertensão intracraniana, íctus em evolução, episódios embólicos múltiplos, êmbolos sépticos, emergência hipertensiva, uso de trombolítico e condições clínicas com indicação de tratamento intensivo (CITIN – AMIB, 2006). A ventilação mecânica é sempre indicada na presença de insuficiência respiratória (PaO₂ < 60 mmHg ou PaCO₂ > 50 mmHg) ou risco evidente de aspiração, independente de um valor específico de escore da Escala de Coma de Glasgow, e faz parte dos cuidados básicos ao paciente neurológico na emergência (CITIN – AMIB, 2006). O manuseio imediato das vias aéreas ocorre através da intubação orotraqueal (IOT). Apesar da ventilação mecânica ser uma alternativa comumente empregada nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), sua utilização predispõe riscos aos pacientes. A ventilação mecânica após AVE está associada com alta mortalidade por complicações pulmonares, porém estas são frequentemente tratáveis (RABINSTEIN et al., 2004; TOUFEN Jr. et al., 2007). As complicações relacionadas ao uso da ventilação mecânica incluem lesão traqueal, barotrauma e/ou volutrauma, diminuição do débito cardíaco e toxicidade pelo uso do oxigênio (ROSA et al., 2007). Além disso, a presença de via aérea artificial, o efeito de agentes paralisantes, as lesões da mucosa traqueobrônquica induzidas pela aspiração traqueal e a umidificação inadequada parecem ser os principais determinantes das alterações da função muco-ciliar em pacientes ventilados mecanicamente. Pacientes em ventilação mecânica tendem a acumular secreções respiratórias devido à tosse ineficaz, em detrimento do não fechamento da glote e prejuízo no transporte do muco pela presença do tubo traqueal. A produção excessiva de muco predispõe a infecção pulmonar, ou pneumonia associada ao ventilador, e desenvolvimento de atelectasia por obstrução. A atelectasia é complicação comum em pacientes intubados, podendo levar à hipoxemia e fibrose, caso não seja solucionada, além de redução progressiva da complacência pulmonar (ROSA et al., 2007). Segundo Egan, a complacência pulmonar está relacionada ao tecido pulmonar e sua capacidade ventilatória, e seu valor normal varia de 60 a 100 ml/cmH2O, sendo que os principais fatores que podem alterá-la são as doenças relacionadas ao parênquima pulmonar, como a pneumonia, o edema pulmonar e qualquer doença crônica que cause fibrose. As 72 Volume 5, Agosto de 2013 Revista FACUNICAMPS Ciência Área de concentração: Saúde alterações agudas, como a atelectasia ou a compressão pulmonar causada por pneumotórax, causam queda rápida da complacência. A resistência das vias aéreas é determinada pela razão entre a variação de pressão (máxima e mínina) e seu correspondente fluxo, desde que constante. O seu valor normal varia de aproximadamente 0,5 a 2,5 cmH2O/l/seg. Em um indivíduo adulto, sem doença pulmonar prévia, intubado com um tubo de 8,0 mm, espera-se uma resistência de 4 a 6 cmH2O, em decorrência da resistência adicional imposta pelo tubo. Outras situações que causam aumento de resistência são o broncoespasmo, presença de secreção e edema de mucosa (SCANLAN et al., 2000). Neste contexto, os procedimentos de fisioterapia respiratória são realizados rotineiramente no tratamento de pacientes em ventilação mecânica internados nas unidades de terapia intensiva, objetivando diminuir a retenção de secreção pulmonar, prevenir complicações pulmonares, melhorar a oxigenação e promover a expansão de atelectasias (JERRE et al., 2007). Acredita-se que a higiene brônquica proporciona melhora na mecânica respiratória através do aumento da complacência pulmonar (CEST) e diminuição da resistência do sistema respiratório (RAW) (ROSA et al., 2007). Recentemente, John R. Bach descreveu técnicas de suporte respiratório e de prevenção de acúmulo de secreções, cuja eficiência tem demonstrado em muitas publicações. Segundo Bach, para que ocorra uma limpeza eficaz das vias aéreas é necessário que ocorra a tosse. E para que a tosse ocorra, os músculos inspiratórios devem promover uma insuflação pulmonar de até 85-90% da capacidade pulmonar total. Então, acontece a seguir uma contração da musculatura expiratória (músculos intercostais e abdominais), gerando pressões intrapleurais de até 140 mmHg. Segue-se a abertura súbita da glote gerando picos de fluxo de tosse de (PFT) de 360 a 1.200 L/min (PASCHOAL, 2009). O volume expirado durante a tosse é de 2,3 ± 0,5 L. Um volume corrente de pelo menos 1,5 L deve ter sido inspirado previamente para que se produza uma tosse minimamente efetiva. É crucial para a geração de um pico de fluxo de tosse (PFT) adequado, em pacientes com capacidade vital forçada (CVF) baixa, a realização de uma insuflação profunda com o ventilador em uso ou então que se proceda à manobra do empilhamento de ar (do inglês air stacking) com auxílio do ressuscitador manual (AMBU) (PASCHOAL, 2009). A manobra de empilhamento de ar permite o acúmulo de volume suficiente dentro dos pulmões para gerar um pico de fluxo de tosse aceitável. Ela começa com a tomada de uma inspiração profunda (espontânea ou auxiliada por ventilador ou por ressuscitador manual). Em 73 Volume 5, Agosto de 2013 Revista FACUNICAMPS Ciência Área de concentração: Saúde seguida, o paciente recebe volumes repetidos do ventilador ou do ressuscitador manual, abrindo a glote para receber o novo volume e fechando-a logo a seguir (PASCHOAL, 2009). O objetivo do empilhamento de ar é atingir a capacidade máxima de insuflação, ou seja, o volume de ar que pode ser inflado ativamente nos pulmões. A capacidade máxima de insuflação é um indicador indireto da complacência pulmonar. As técnicas para atingir a capacidade máxima de insuflação levam a um aumento do volume pulmonar, redução das microatelectasias, aumento da complacência pulmonar e melhora da efetividade da tosse (BRITO et al., 2009). Desta forma, o objetivo do estudo foi avaliar a efetividade da técnica de empilhamento de ar com auxílio do AMBU sobre a mecânica respiratória de uma paciente vítima de AVE, intubada e sob ventilação mecânica. Tendo em vista que pacientes vítimas de AVE apresentam grande incidência de complicações pulmonares após a intubação e instituição da ventilação mecânica, a fisioterapia atua no intuito de manter ou melhorar a capacidade ventilatória dessa população no ambiente de terapia intensiva. Método Relato de caso Tratou-se de um estudo de caso que obteve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade São Judas Tadeu, sob o parecer número 13/10. Participou do estudo a paciente A.M.S., sexo feminino, 71 anos de idade, Glasgow 6, admitida na UTI do Instituto de Neurologia de Goiânia (ING) em decorrência de AVE, internada há 33 dias, em ventilação mecânica invasiva por tubo orotraqueal (TOT – número 8,0), através do ventilador SERVO VENTILATOR 300 (SIEMENS). O exame de imagem (TC crânio) evidenciou uma hemorragia talâmica à esquerda com extensão lateral e efeito de massa, e inundação de ventrículos. Antes de iniciar os procedimentos, os familiares ou responsáveis pela paciente assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). O estudo foi realizado na UTI do ING, tendo sido aprovado pelo diretor técnico da instituição, mediante carta assinada. Primeiramente, foi realizada a coleta de dados pessoais e medidas terapêuticas. As variáveis estudadas consistiram em dados da mecânica pulmonar e cardiorrespiratórios, sendo eles: volume corrente (VT), frequência respiratória (FR), frequência cardíaca (FC), pressão arterial (PA) e saturação periférica de oxigênio (SpO₂). Os dados cardiorrespiratórios foram 74 Volume 5, Agosto de 2013 Revista FACUNICAMPS Ciência Área de concentração: Saúde mensurados antes e após a realização das manobras, sendo que as variáveis foram aferidas através do monitor conectado ao paciente e os dados de VT através do ventilador mecânico Servo Ventilator 300. As variáveis estudadas foram registradas em quatro momentos distintos: antes da aplicação da técnica (10 minutos após a aspiração), imediatamente após a técnica (no primeiro minuto), 5 e 30 minutos após. A mecânica pulmonar foi avaliada mediante o cálculo da complacência estática (CEST) e da resistência do sistema respiratório (RAW). Para realizar o cálculo da CEST e da RAW a paciente estava no modo ventilatório volume-controlado (VCV), em VT ideal de 265 ml e fluxo 40 l/min (0.66 l/s) Para o cálculo do volume corrente (VT) ideal deve-se primeiro achar o peso ideal do paciente através da fórmula que se segue: Peso ideal = altura (cm) - 100 (-10%) Homens (-15%) Mulheres Ao achar o peso ideal deve-se multiplicá-lo pelo volume corrente desejado, instituído de seis (6) (ml/kg), sendo então encontrado o VT ideal do paciente. VT ideal = Peso ideal (kg) x 6 ml/kg Para realizar o cálculo da complacência (CEST) e da resistência pulmonar (RAW) foram utilizadas as fórmulas que se seguem: CEST = VT ideal (ml) Pplatô-PEEP (mmHg) RAW = Ppico – Pplatô (mmHg) fluxo (l/s) 75 Volume 5, Agosto de 2013 Revista FACUNICAMPS Ciência Área de concentração: Saúde Se o paciente apresentar drive ventilatório no momento do cálculo da mecânica pode ser realizado o “over drive”, que consiste em promover uma hiperventilação momentânea, para que o drive ventilatório seja inibido e então possa ser realizado o cálculo desejado. Isso ocorre porque o centro respiratório deixa de ser temporariamente estimulado, devido a baixas concentrações de PaCO₂. O “over drive” pode ser feito seguindo três procedimentos: primeiro aumenta-se a freqüência respiratória (FR), depois o fluxo e por último o volume corrente (VT). O procedimento é encerrado quando o paciente deixa de ter drive momentaneamente. Se o paciente não se entrega à ventilação controlada após o aumento do VT (último passo) não é possível realizar o cálculo da mecânica. Descrição da Técnica Após a coleta inicial dos dados foram realizados os procedimentos terapêuticos, obedecendo uma sequência, como mostra a Tabela 1. Primeiramente, foi realizado um procedimento de aspiração, conforme descrito na tabela, sendo que após 10 minutos foi realizado o primeiro momento do cálculo da mecânica (CEST e RAW). Logo a seguir foi aplicada a técnica de empilhamento de ar com auxílio do AMBU (ver tabela 1), sendo que no 1, 5 e 30 minutos após foi novamente realizado o cálculo da mecânica, mediante obtenção dos valores referentes à Pressão de Pico (Ppico) (mmHg), Pressão Platô (Pplatô) (mmHg), PEEP (cmH₂O), VT ideal (ml) e Fluxo (l/s). Tabela 1. Descrição e seqüência das técnicas realizadas com a paciente. Técnica Aspiração Momento Descrição Imediatamente no Foi instituída uma FiO₂ de 100% por um (1) minuto início, antes da antes do início da aspiração. Foram realizadas de 3 a aplicação da 5 aspirações com duração de 10 segundos, e técnica intervalo de 1 minuto entre elas, onde a paciente era voltada ao ventilador durante o intervalo Cálculo da complacência (CEST) e resistência 10 minutos após a A paciente foi colocada no modo VCV para aspiração; 1, 5 e 30 obtenção dos valores referentes à Pressão de Pico minutos após a (Ppico) (mmHg) e Pressão Platô (Pplatô) (mmHg). aplicação da Sendo que a PEEP (6 cmH₂O), o VT ideal (265 ml) 76 Volume 5, Agosto de 2013 Revista FACUNICAMPS Ciência pulmonar (RAW) Área de concentração: Saúde técnica e o Fluxo (0,66 l/s) eram valores fixos A paciente foi desconectada da VM e imediatamente Empilhamento de ar após era conectada ao AMBU, onde eram realizadas com AMBU 3 insuflações manuais, ocluindo a válvula exalatória. Essa técnica era realizada de 3 a 5 vezes, com intervalo de 1 minuto entre elas Resultados Houve melhora da mecânica respiratória da paciente após a aplicação da técnica de empilhamento de ar com auxílio do AMBU em relação à resistência das vias aéreas, caracterizada pela sua diminuição, de 9.09 para 4.54. Espera-se que o valor da resistência seja de 4 a 6 cm H2O, em decorrência da resistência adicional imposta pelo tubo. Porém a complacência não melhorou, uma vez que diminuiu de 88.33 para 66.25, mas ainda se manteve dentro dos limites da normalidade (60 a 100 ml/cmH2O) (ver Tabela 2). Tabela 2. Variáveis cardiorrespiratórias estudadas em quatro momentos distintos: antes da aplicação da técnica (10 minutos após a aspiração), imediatamente após a técnica (no primeiro minuto, 5 e 30 minutos após). Momentos FC VT PA SpO2 Ppico Pplato CEST RAW 1º momento 10 min 67 313 149x96 98 15 9 88.33 9.09 2º momento 1 min 67 268 156x96 98 15 10 66.25 7.57 3º momento 5 min 65 269 145x94 98 15 10 66.25 7.57 4º momento 30 min 63 319 138x98 98 13 10 66.25 4.54 Obs.: Valores fixos para cálculo de mecânica: Modo (VCV); VT i (265 ml); PEEP (6 cm H2O) Discussão Nesse estudo foram utilizados os dados da mecânica respiratória (CEST e RAW), obtidos mediante cálculo, para avaliar a função respiratória após a aplicação da técnica de empilhamento de ar. Este é um procedimento corrente na UTI do Instituto de Neurologia de 77 Volume 5, Agosto de 2013 Revista FACUNICAMPS Ciência Área de concentração: Saúde Goiânia, realizado pela equipe de fisioterapia, sendo esta habilitada para tal procedimento. Os cálculos são relativamente simples e de fácil aplicação, além de não necessitar de nenhum equipamento extra. De maneira geral, observou-se nos itens avaliados (FC, VT, PA, SpO2, Ppico, Pplato) que não houveram mudanças significativas após aplicação da técnica de empilhamento de ar. Ou seja, a técnica não impõe riscos à função cardiorrespiratória. Na avaliação da mecânica respiratória (CEST e RAW), observou-se que a CEST diminuiu de 88.33 para 66.25 (ver Tabela 2). Isso sugere que a técnica seja feita com cautela, pois a desconexão do ventilador mecânico pode levar ao desrrecrutamento alveolar pela ausência da PEEP, diminuindo o valor da complacência pulmonar. Já o valor da Raw diminuiu de 9.09 para 4.54, logo a técnica foi eficaz para a higiene brônquica, e se mostra como uma boa opção terapêutica. Em estudo realizado em 2008 por J. Bach e colaboradores, com pacientes portadores de doença neuromuscular, foi visto que a insuflação pode distender os pulmões. Neste estudo, pelo contrário, após a técnica a complacência diminuiu um pouco, sendo que o volume corrente manteve-se constante. Talvez pelo fato do empilhamento ter sido feito com dispositivo externo, o AMBU, sendo necessário desconectar o paciente do ventilador mecânico. A técnica de empilhamento de ar com auxílio do ressuscitador manual (AMBU), também conhecida por air stcaking, é uma técnica de higiene brônquica que aumenta a efetividade da tosse por aumentar o volume corrente e o pico de fluxo de tosse, e apresenta como vantagens o baixo custo e a fácil aplicabilidade. Diversos autores a defendem, principalmente nos pacientes com doença neuromuscular, como por exemplo Gaulg L.M. (2009), Ishikawa et al. (2008), Geiseler J. e Karg O. (2008), Homnick D. N. (2007), Perrin C. (2006), Kang S.W. e Bach J.R. (2000). Estes destacaram a melhora do pico de fluxo de tosse após a aplicação da técnica. No estudo de Bach e colaboradores (2007), com pacientes que apresentavam Distrofia Muscular de Duchenne, o empilhamento de ar com reanimador manual (AMBU) foi eficaz em aumentar os volumes pulmonares e, consequentemente, o pico de fluxo de tosse. Logo, concluíram que, ele pode ser usado em muitos casos e favorece a diminuição do uso de ventiladores durante o dia. Recentemente, o ‘The Journal of Spinal Cord Medicine’ publicou um estudo de Crew et al. (2010) sobre a prescrição do dispositivo de insuflação-desinsuflação mecânica, ou seja, 78 Volume 5, Agosto de 2013 Revista FACUNICAMPS Ciência Área de concentração: Saúde do AMBU, para pacientes tetraplégicos com a finalidade melhorar a efetividade da tosse e reduzir o risco de pneumonia e as internações hospitalares. Eles concluíram que o uso do dispositivo pode reduzir as internações hospitalares, e se mostrou uma boa opção terapêutica para a mobilização de secreção, podendo ser usada em pacientes sem tosse eficaz. Estudos apontam que a prática constante de técnicas que melhorem a desobstrução brônquica, dentre elas o empilhamento de ar, podem melhorar o prognóstico de pacientes com doença neuromuscular, por diminuir o risco de complicações pulmonares (Schmidt, 2008). O estudo de Geiseler e Karg (2008) revela que, embora não haja elevado grau de evidência, acredita-se que a morbidade e a mortalidade possivelmente podem ser afetados de forma positiva. Conclusão Neste estudo a técnica de empilhamento de ar com AMBU, aplicada como terapia de higiene brônquica, se mostrou eficaz quanto à melhora da resistência (RAW), podendo ser uma boa opção terapêutica para pacientes vítimas de AVE, intubados e sob ventilação mecânica. Não houve melhora da complacência (CEST), uma vez que seus valores se mantiveram dentro dos limites da normalidade. Não foram encontrados na literatura estudos sobre a aplicação desta técnica em pacientes comatosos, intubados e sob ventilação mecânica, fazendo-se necessária a realização de mais estudos na área, para validação do método. Referências 1. Bach J. R. et al. Lung inflation by glossopharyngeal breathing and "air stacking" in Duchenne muscular dystrophy. Am J Phys Med Rehabil; V. 86; edição 4; p. 295-300; 2007. 2. Bach J. R. et al. Lung insufflation capacity in neuromuscular disease. Am J Phys Med Rehabil; V. 87; edição 9; p. 720-5; 2008. 3. Brito M. F. et al. Empilhamento de Ar e Compressão Torácica aumentam o pico de fluxo da tosse em pacientes com Distrofia Muscular de Duchenne. J Bras Pneumol; 35(10):973979; 2009. 4. CITIN – AMIB. Curso de Imersão em Terapia Intensiva Neurológica. Diretoria Executiva da AMIB Biênio – 2006/2007. 79 Volume 5, Agosto de 2013 Revista FACUNICAMPS Ciência Área de concentração: Saúde 5. Crew J. D. et al. Mechanical insufflation-exsufflation device prescription for outpatients with tetraplegia. J Spinal Cord Med; V. 33; edição 2; p. 128-34; 2010. 6. Gauld L. M. Airway clearance in neuromuscular weakness. Dev Med Child Neurol (Developmental medicine and child neurology); V. 51; edição 5; p. 350-5; 2009. 7. Geiseler J., Karg O. Management of secretion in patients with neuromuscular diseases. Pneumologie (Stuttgart, Germany). V. 62; Suppl 1; p. S43-8; 2008. 8. Homnick D. N. Mechanical insufflation-exsufflation for airway mucus clearance. Respir Care. V. 52; edição 10; p. 1296-305; 2007. 9. Ishikawa Y. et al. Cough augmentation in Duchenne muscular dystrophy. Am J Phys Med Rehabil (American journal of physical medicine rehabilitation / Association of Academic Physiatrists). V. 87; edição 9; p. 726-30; 2008. 10. Jerre G., Silva T. J., Beraldo M. A., Gastaldi A. et al. Fisioterapia no paciente sob ventilação mecânica. J. bras. Pneumol. V.33, suppl.2, São Paulo, 2007. 11. Kang S.W., Bach J. R. Maximum insufflation capacity. Chest; V. 118; edição 1; p. 61-5; 2000. 12. Meneguetti C. H. Z., Silva J. A., Guedes C. A. V. Terapia de restrição e indução ao movimento no paciente com AVC: relato de caso. Rev Neurocienc; vol. 18; n. 1; p. 18-23; 2010. 13. Paschoal I. A. Mais do que bons pulmões. J Bras Pneumol; 35(10):947-948; 2009. 14. Perrin C. Techniques favoring airway clearance in patients with amyotrophic lateral sclerosis. Rev Neurol (Paris); V. 162; n. 2; p. 4S256-4S260; 2006. 15. Rabinstein A. A. et al. Outcome of Survivors of Acute Stroke Who Require Prolonged Ventilatory Assistance and Tracheostomy. Cerebrovascular Diseases; 18: 325-331; 2004. 16. Rosa F. K. et al. Comportamento da Mecânica Pulmonar após aplicação de Protocolo de Fisioterapia Respiratória e Aspiração Traqueal em Pacientes com Ventilação Mecânica Invasiva. Rev. Bras. De Terapia Intensiva; V. 19; n. 2; abril-junho; 2007. 80 Volume 5, Agosto de 2013 Revista FACUNICAMPS Ciência Área de concentração: Saúde 17. Scanlan C. L., Wilkins R. L., Stoller J. K. Fundamentos da Terapia Respiratória de Egan. 7ª edição; Editora Manole; Barueri – SP; 2000. 18. Schmidt I. Assisted cough-physiotherapy to improve expectoration of mucus. Pneumologie (Pneumologie (Stuttgart, Germany). V. 62; Suppl 1; p. S23-7; 2008. 19. Tarbine S. G. et al. Intervenção em Artérias Carótidas: Terapia Endovascular ou Cirúrgica. Revista Brasileira de Cardiologia Invasiva, v. 13, n. 4 – Out / Nov / Dez de 2005. 20. Toufen Jr. C. et al. Pneumonia Aspirativa Associada a Alterações da Deglutição. Relato de Caso. Revista Brasileira de Terapia Intensiva; Vol. 19 Nº 1, Janeiro – Março, 2007. 21. Valente S. C. F. et al. Resultados da Fisioterapia Hospitalar na função do membro superior comprometido após acidente vascular encefálico. Revista neurociências, v. 14, n. 3, p. 122-126, JUL/SET, 2006. 22. Veloso F., Reis L. A., Azoube R. et al. Um olhar sobre a assistência fisioterapêutica a portadores de acidente vascular encefálico no município de Jequié – BA. Rev Saúde Com., v. 3, n. 1, p. 55 – 63. 2007. ABSTRACT Objective: To evaluate the effectiveness of the air stacking with the aid of an AMBU bag on the respiratory mechanics of a patient victim of stroke, intubated and on mechanical ventilation, admitted to an intensive care unit. Method: Case study of a patient with clinical diagnosis of stroke, 71 years old. The patient was submitted to the application of the technique of air stacking with the aid of manual resuscitator (AMBU bag). Next, we evaluated the respiratory mechanics in four different moments by calculating static compliance (CEST) and respiratory system resistance (RAW). Results. There was improvement in the respiratory function in relation to airway resistance, characterized by a decrease, from 9.09 to 4.54. Complacency has not improved since its value has chamged from 88.33 to 66.25 (still remained within normal limits). Conclusion: The air stacking with the aid of AMBU improved respiratory function of patients studied in relation to airway resistance, and is considered a positive method of bronchial hygiene therapy applied to individual victims of strokes and intubated. For the static lung compliance, there was a small decrease in the final value found, which can be explained by the fact that the patient was disconnected from mechanical ventilation at the time of the technique. Therefore, it lacks of scientific evidence regarding the effectiveness of the proposed technique still remains, making it necessary further studies in the area, with more cases. Keywords: Stroke, Rehabilitation, Cough, Insufflation, Peak Expiratory Flow Rate 81 Volume 5, Agosto de 2013 Revista FACUNICAMPS Ciência Área de concentração: Saúde Endereço para correspondência Giulliano Gardenghi Rua 05, número 432, apto: 602, Setor Oeste – Goiânia – GO CEP: 74115-060 - endereço eletrônico: [email protected] 82 Volume 5, Agosto de 2013