Olá Rafael, tudo bem? Seguem as perguntas para o texto da imprensa. Será q vc poderia tentar dizer de uma forma menos acadêmica lembrando que é um texto de divulgação científica para a imprensa. 1) qual o objetivo do seu trabalho? O principal objetivo do trabalho foi o de compreender quais áreas do estado de São Paulo não possuíam casos de dengue, ou que possuíam casos e taxas muito abaixo da média. Essa compreensão está inserida dentro do movimento que a doença fez dentro do estado (processo de difusão), em que a doença primeiramente ocupou as áreas mais propicias do interior, se espalhando para as menos favoráveis, como as com maior população rural, as mais altas e mais frias. Analisar o movimento da doença com a intensidade permite que tenhamos mais pistas das áreas mais ou menos favoráveis para que ela ocorra. 2) Como foi feito o mapeamento da doença? O mapeamento dos casos de dengue foi feito com base nos registros de casos, oriundos dos centros de saúde por meio de notificação compulsória, e que são consolidados nos municípios e estados. Toda vez que alguém é diagnosticado com dengue gera-se uma notificação e um acompanhamento que vai ver se confirmar como dengue ou não. Utilizamos os dados da Secretaria de Estado de Saúde de São Paulo, que disponibiliza os dados de residentes por ano. Mapeamos o número de casos por município, desde o primeiro registro, e posteriormente analisando a taxa de incidência por cem mil habitantes. Para o mapeamento do Aedes aegypti utilizamos dados municipais da Superintendência de Controle de Endemias – SUCEN, também mapeando desde o primeiro registro. Para os mapas temporais algumas técnicas mais avançadas foram utilizadas, como a coleção de mapas, mapeamento de síntese, análise de superfície de tendência e Krigagem, que nos possibilita entender a direção, velocidade e o processo de difusão, mostrando de onde veio e o caminho que tomou. Os mapas sínteses possibilitam ainda o cruzamento com mais variáveis, como clima, densidade demográfica, proximidade de rodovias, população urbana, entre outras, e que nos permite visualizar padrões espaciais e possíveis respostas no tocante a intensidade e difusão. 3) caso vc ainda não tenha falado, gostaria que vc comentasse como o mosquito começou no Estado de SP, qual foi o caminho da doença e como ela começou a se espalhar? A difusão do vetor se dá passivamente, com o transporte de ovos e adultos por meio de transporte humano. O dengue é uma doença reemergente no país e no estado de SP. Ou seja, existia no começo do século XX mas desapareceu devido o combate ao Aedes aegypti, para o controle da febre amarela urbana. O controle da febre amarela urbana eliminou o vetor durante muito tempo, contudo ele foi reintroduzido no final da década de 1970 e chegou em São Paulo em meados da década de 1980. Primeiramente com focos isolados, que permitiam o controle, depois com uma maior abrangência e maior penetração nos municípios. Em 1985 a SUCEN fez um inquérito percorrendo os municípios e encontrou 9 com ampla disseminação de Aedes, todos na porção oeste, como Araçatuba, São José do Rio Preto, Barretos, Votuporanga, Presidente Prudente. Desses municípios, e de outras incursões posteriores, o vetor se expande primeiramente pelo oeste do estado, ocupando todo o Planalto Ocidental. Após a ocupação do Planalto Ocidental ele foi seguindo o eixo de maior densidade, seguindo as principais rodovias, como a Bandeirantes, Anhanguera e a Washington Luís, seguindo em direção a região de Campinas e posteriormente São Paulo. Ao mesmo tempo uma segunda grande área de presença do vetor surgiu em Santos, seguindo pelo Litoral nas direções norte e sul. Posteriormente o Vale do Paraíba, áreas ao sul e altas foram ocupadas. A doença surge no estado, de maneira autóctone, em 1987, com uma epidemia em Guararapes e Araçatuba, no oeste do estado. Contudo, essa epidemia foi esporádica, não tendo mais desdobramentos. Em 1990 outra epidemia se inicia em Ribeirão Preto e municípios vizinhos, essa epidemia inaugura uma fase em que o dengue se torna endêmico no estado. O dengue começa inicialmente na porção norte-nordeste (em torno de Ribeirão Preto, Araçatuba e São José do Rio Preto), essa área aumenta com pulsos a cada pico de epidemia estadual, como as de 1990-1991, 1995-1996, 1998-1999, 2001-2003, 2006-2007 e 2010-2011. A cada pico epidêmico, na escala do estado, a área endêmica, ou de atuação esporádica da doença aumentava. Primeiramente pela porção oeste, e posteriormente em direção de Campinas e toda a Depressão Periférica, chegando a metrópole paulistana. A partir de Santos uma segunda grande onda segue pelo litoral. Por fim, a difusão atinge o Vale do Paraíba, a porção sul e áreas altas da Mantiqueira, planaltos elevados na fronteira de Minas. Diferentemente do vetor, a doença se difunde por saltos, em que a hierarquia urbana associada com as características ambientais (temperatura e altitude) modulam a difusão. Desta forma, cidades de porte maior do interior do estado, e em áreas com temperatura e altitude favorável, recebem a doença antes de sua região de entorno e a espalham na sua rede mais próxima. 4) Quais são as regiões mais atingidas pela dengue? e quais as menos atingidas? (vc poderia citar pelo menos algumas ou as principais) No estado a porção oeste, o triangulo entre Araçatuba, Ribeirão Preto e São José do Rio Preto tem uma alta incidência e permanência da doença, assim como a Região Metropolitana de Campinas e da Baixada Santista, assim como todo o litoral. As cidade de Bauru, Marília O Vale do Paraíba, apesar da recente difusão do dengue, apresenta uma alta incidência. A região metropolitana de São Paulo possui um grande número de casos, contudo, devido a sua população não apresenta uma taxa muito alta. A que possuem menos casos é a porção sul do estado (entre Botucatu, Itapetininga e o vale do Ribeira), áreas mais altas como a de Bragança Paulista, Atibaia, Campos do Jordão e as da Serra do Mar nas proximidades do Vale do Paraíba. 5) qual são as regiões q ainda não apresentam o vetor (vc poderia citar pelo menos algumas ou as principais)? Até 2012, ano em que a pesquisa se baseia, alguns poucos municípios não possuíam o vetor. A maioria deles na porção sul do estado e na Serra do Mar/Bocaina. Na porção oeste temos o município de Torre de Pedra. Muitos municípios com vetor não possuem a doença, devido as condições menos propicias. 6) Quais são as características de uma região q apresenta o mosquito da dengue? O vetor se encontra em quase todo o estado, os municípios com menor altitude, com temperaturas mais altas e maior densidade demográfica apresentam mais casos e permanência da doença. A junção desses fatores que criam as condições mais favoráveis. 7) Que tipo de barreira existe para q elas não apresentem o vetor do mosquito? Ou seja, pq elas não tem dengue? As principais barreiras do estado são as climáticas. Temperaturas mais frias, com maior entrada de frentes frias associadas com menor densidade demográfica e altitudes mais elevadas restringem a doença, ou limitam a sua intensidade. Essas são barreiras estruturais. Associadas a essas barreiras existem as conjunturais, das quais entram a questão do controle vetorial e o próprio movimento da doença no estado. Essas modulam a incidência. 8) Qual o diferencial do seu trabalho? Pensar o movimento da doença associando os fatores determinantes dentro de um sistema explicativo próprio da geografia, que são os complexos patogênicos. Esses complexos mostram a relação entre a doença e o espaço geográfico, de uma maneira integrada, associando geografia física e humana. A parte da cartografia também é diferenciada, ressaltando os mapas como ferramentas importantes para o pensamento geográfico e identificação das distribuições das doenças no espaço. 9) como eu te credito? Rafael Catão Caso ache necessário acrescentar alguma informação, fique à vontade. Me mande o mapa, tá? Abraços! Maristela. Tipologia do dengue no estado de São Paulo, periodo de 1990-2012. Região de Influência das cidades e a intensidade do dengue Difusão do dengue Difusao do Aedes Casos de dengue por ano, 1992 - 20012