Efésios 4:1-16 Andando em Unidade Introdução e Panorama Depois da grande doxologia com que Paulo terminou sua exposição da posição do crente nos capítulos 1-3, ele revela as implicações práticas na vida diária do cristão. Os capítulos 4-6 revelam o dever que segue a doutrina da nossa identidade em Cristo. Posição------Prática Doutrina-----Dever Condição----Conduta Exposição---Exortação Indicativo---Imperativo Se a frase chave dos caps. 1-3 foi "em Cristo", a palavra chave da segunda metade do livro é "andar". O termo se repete não menos de cinco vezes, dando-nos a base da nossa divisão destes capítulos no nosso esboço. 4:1----andeis de modo digno da vocação . . . 4:17--não mais andeis como também andam os gentios . . . 5:2---andai em amor . . . 5:8---andai como filhos da luz . . . 5:15--vede prudentemente como andais, não como néscios, e, sim, como sábios Para Paulo não era suficiente ter conhecimento doutrinário sem mudança de vida (mas também procurar transformação de vida sem um alicerce em doutrina leva para legalismo ou superficialidade). Ao mesmo tempo, não deve haver unidade a custo da verdade (veja como II e III João desenvolvem os conceitos de "amor" e "verdade" lado a lado). Baseado na verdade dos caps. 1-3, Paulo apela por unidade na prática entre os efésios. Para pensar: Onde devemos traçar a linha entre unidade e sã doutrina? Que doutrinas são essenciais? Quando seria melhor separar-nos do que preservar uma unidade meramente superficial (externa)? Está certa ou errada a divisão da igreja em denominações? A igreja local deve ser heterogênea, ou homogênea? Contexto: Nesta primeira unidade de pensamento Paulo faz a transição de posição para prática. A implicação principal da nossa identidade em Cristo é um andar em unidade. Não podia esperar menos, depois que Paulo abordou as implicações corporais do novo homem, da igreja como união de judeus e gentios em um Corpo, e de crentes como habitação de Deus no Espírito. Se somos unidos em posição, cabe a nós sermos unidos na prática. Propósito Crentes devem preservar a unidade criada pelo Espírito Santo usando os dons espirituais para a edificação do Corpo. Estrutura 1-3 - O Pedido por Unidade (baseado na posição de indivíduos e da igreja "em Cristo") 4-6 - A Possibilidade para Unidade (baseada em doutrinas fundamentais e na Trindade e unidade em diversidade) 7-12 - A Provisão para Unidade: Dons Espirituais 13-16 - O Propósito da Unidade (e dos dons espirituais) I. O Pedido por Unidade (1-3) O versículo 1 é o versículo chave do livro. Num estilo tipicamente paulino, o autor resume as duas metades do livro neste texto "dobradiça". "Pois" olha para o conteúdo de caps. 1-3, especificamente o "chamado" (a posição) de todo cristão "em Cristo". Baseado em tantas bênçãos que recebemos, e na alta posição "nas regiões celestiais", temos um dever. Privilégios implicam em responsabilidades, certamente não para ganhar a salvação, mas como fruto de amor e gratidão por tudo que Deus tem feito por nós. Encontramos a mesma lógica em Rm 12:1-2 e Cl 3:1,2. A. O Mandamento (1): Viver Digno da Nossa Posição em Cristo Παρακαλῶ οὖν ὑμᾶς ἐγὼ ὁ δέσμιος ἐν κυρίῳ ἀξίως περιπατῆσαι τῆς κλήσεως ἧς ἐκλήθητε "Rogo-vos" (Παρακαλῶ ) é uma forma suave de dar uma ordem apostólica. Ele apela por um andar (figurativo para "viver" continuamente, em todos os contextos e em todos os momentos) digno, i.e., compatível com sua alta posição em Cristo. Ao mesmo tempo Paulo nos lembra do custo que este viver pode significar - ele mesmo era "o prisioneiro no Senhor" (veja 3:1). Não foi somente o Senhor Jesus que pagou um "alto preço" para nós desfrutarmos dos privilégios do evangelho. A frase "de modo digno" (ἀξίως ) reflete uma palavra só no original. O termo traz a ideia de equilíbrio, de algo compatível, de duas coisas que "batem" ou "combinam". A vida do cristão deve ser coerente ou correspondente com sua alta posição em Cristo. Este é um conceito repetido muitas vezes em Paulo: aqui, Cl 1:10, Fp 1:27, 1Ts 2:12. 2Ts 1:11. Os próximos três capítulos abordarão muitos dos aspectos de uma vida digna de Cristo. Serão exemplos práticos da manifestação de Cristo na vida diária. Mas qual a "vocação" para que fomos chamados? O texto literalmente diz, "do chamado com que fostes chamados" (τῆς κλήσεως ἧς ἐκλήθητε). Nos caps. 1-3 o chamado de Deus em Cristo Jesus foi para salvação, que resultou numa posição de unidade e santidade. São justamente estes os conceitos que serão desenvolvidos de forma prática nos últimos três capítulos. Mas neste contexto, conforme os vv. 2 e 3, parece que Paulo tem a ideia de "unidade" em mente. Aplicações: 1) Nunca sacrificamos a verdade em nome da unidade, mas devemos avaliar muito bem as verdades pelas quais vamos nos separar de outros irmãos. 2) A divisão de uma igreja é algo muito sério aos olhos de Deus (1Co 3:17) 3) Somente quando entendo quem "eu" sou e o que tenho em Cristo é que serei capaz de viver uma vida realmente digna de Cristo. B. A Maneira de Andar Digno (2,3): Viver seguro, procurando o bem-estar do outro antes do meu Depois do mandamento, Paulo usa uma série de preposições "com" e particípios modais para explicar exatamente como podemos manter unidade no Corpo de Cristo tão diversificado. Ele alista não menos de cinco características que devem marcar a vida de alguém vivendo de forma coerente com sua posição em Cristo. Pelo fato de ele estar seguro na sua verdadeira identidade, esta pessoa fica livre para amar outras pessoas, abrir mão de seus próprios direitos, e preservar uma unidade criada pelo próprio Espírito de Deus. Se existe algo em comum nesta lista, talvez seja o fato de que cada item exalta o outro acima de si mesmo. Somente uma pessoa segura, capacitada pelo Espírito Santo, seria capaz destas atitudes. São frutos do poder de Deus na vida do cristão. 1. Humildade (μετὰ πάσης ταπεινοφροσύνης): Em termos gerais, humildade não foi considerada uma virtude pelos gregos, mas um sinal de fraqueza. Mas o padrão cristão é outro (Fp 2:3-8). Humildade significa colocar os interesses do outro acima dos meus. Implica numa auto-avaliação cuidadosa (Rm 12:3) que leva em conta tudo que sou em Cristo, e tudo que sou em mim mesmo (cf. Jo 15:5). Esta avaliação nos motiva a viver humildes, sempre pensando no outro primeiro. Humildade é absolutamente essencial para unidade, pois se todos estão se preocupando primeiramente com o próximo, desunião seria impossível. 2. Mansidão (πραΰτητος): Muitos definem mansidão como "força sob controle". É a prontidão de sacrificar meus "direitos" no interesse dos outros. Jesus era manso (cf. Mt 11:29) pois nunca defendeu a si mesmo, mas sim, aqueles ao seu redor. Moisés foi considerado o homem mais "manso" na face da terra, talvez pelo fato de que nunca defendeu a si mesmo quando criticado pelo povo de Israel (cf. Nm 12:3) Era tão seguro que podia sofrer o dano em vez de danificar (cf. 1Co 6:7). 3. Longanimidade (μετὰ μακροθυμίας): Mais uma vez, a saúde do Corpo toma precedência sobre interesses particulares. Para o bem do Corpo, e pelo fato de que confiamos na soberania e justiça de Deus, podemos aguentar males, atritos, irritações e frustrações por amor a Cristo. O termo aqui já deixa claro que "preservar a unidade" não será fácil. Paulo era realista, e reconhecia as dificuldades existentes quando "dois ou três se reúnem em nome de Cristo - lá existem duas ou três opiniões diferentes sobre a cor das cortinas na cozinha da igreja! "Longanimidade" é aquela virtude que não se vinga, continua firme e paciente no sofrimento. Foi usado para Deus no seu relacionamento com o homem (Rm 2:4). Representa alguém "devagar" para ficar irritado, relutante para construir barreiras com outras pessoas, mas pronto para sofrer o mal antes de prejudicar o outro. 4. Suportando-vos uns aos outros em amor (ἀνεχόμενοι ἀλλήλων ἐν ἀγάπῃ): Outra vez, Paulo usa uma frase que deixa claro que haverá atritos no Corpo. A palavra "suportando" pode trazer a ideia de "aguentar". O amor consegue reconhecer que eu também sou pecador como os outros, e por isso devo tratá-los com a mesma graça e paciência que me alcançou. Todos nós somos falhos e fracos, carentes da graça de Deus e uns dos outros. 5. Esforçando-vos por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz (σπουδάζοντες τηρεῖν τὴν ἑνότητα τοῦ πνεύματος ἐν τῷ συνδέσμῳ τῆς εἰρήνης): Pela terceira vez em seguida, Paulo usa uma frase que indica a dificuldade de preservar unidade. "Esforçando" é um termo forte, que significa não poupar esforço algum, fazer tudo no seu poder para evitar divisão. É importante ressaltar que o cristão não "cria" unidade, mas "preserva" ou "guarda" a unidade já estabelecida pelo Espírito Santo (genitivo de fonte ou origem, "que vem do Espírito"). Quando o Espírito Santo nos selou (Ef 1:13), quando fomos "batizados no Espírito" no momento da nossa conversão (1Co 12:13), fomos feitos participantes do Corpo de Cristo. Como Corpo, somos unidos, membros uns dos outros (cf. 1Co 12). Esta é a unidade posicional que deve ser preservada a qualquer custo de forma prática. Paulo termina o v.3 enfatizando este princípio pela repetição do termo "paz", tema já desenvolvido em 2:11-22 com respeito ao Corpo de Cristo composto de judeus e gentios. Aplicações: 1) Será que estou tão seguro na minha posição em Cristo que posso abrir mão de direitos e privilégios por amor ao Corpo de Cristo e ao meu irmão? 2) Sou uma pessoa que pensa nos outros antes de mim mesmo, que não me defendo, e que trata outras pessoas com a mesma paciência e graça com que Ele me trata? 3) Estou me esforçando para manter relacionamentos sadios com outros membros do Corpo, sem barreiras ou obstáculos entre nós? 4) Reconheço como o Espírito Santo fica entristecido por divisões no Corpo, quando Ele é o Autor da unidade? (Cf. 4:30, que fala da tristeza do Espírito num contexto de "palavras torpes" entre irmãos). II. A Possibilidade de Unidade (4:4-6) A ligação entre os vv.4-6 e 1-3 tem confundido muito intérpretes. O estilo é abrupto - não há nenhum verbo principal nestes três versículos (a palavra "há" foi inserida pelos tradutores). Isso serve para enfatizar ainda mais a palavra-chave: "um". Numa série de sete palavras "um" Paulo destaca a base da unidade que pediu nos vv. 1-3. Em outras palavras, ele revela a possibilidade de unidade baseada na Santa Trindade e Suas obras na vida da igreja. (N.B. a presença da Trindade mais uma vez neste livro. Será que a "unidade em diversidade" que caracteriza a Trindade está na mente de Paulo?) Nestes versículos encontramos sete doutrinas fundamentais que unem o Corpo de Cristo, dando-lhe a mesma direção, tirando a competição, focalizando no mesmo Alvo. Estes são os "denominadores comuns" entre todos os verdadeiros cristãos. Sem harmonia nestas doutrinas, não há unidade verdadeira. As doutrinas parecem estar agrupadas em blocos de três, três, e um item começando com o Espírito e terminando com Deus Pai: A. Há um Espírito Santo que criou um Corpo pelo chamado para uma única esperança de salvação (ἓν σῶμα καὶ ἓν πνεῦμα, καθὼς καὶ ἐκλήθητε ἐν μιᾷ ἐλπίδι τῆς κλήσεως ὑμῶν). As doutrinas destacadas aqui são: Pneumatologia Eclesiologia Soteriologia B. Há um Senhor Jesus por quem, quando cremos, fomos batizados no Corpo (εἷς κύριος, μία πίστις, ἓν βάπτισμα). As doutrinas destacadas são: Cristologia Soteriologia [Eclesiologia/Pneumatologia] C. Há um só Deus e Pai soberano (εἷς θεὸς καὶ πατὴρ πάντων, ὁ ἐπὶ πάντων καὶ διὰ πάντων καὶ ἐν πᾶσιν.). A doutrina destacada aqui é: Teologia (própria) Aplicação: 1) Não existe unidade verdadeira e profunda separada da verdade. Precisamos verificar se estamos de acordo com outros "irmãos" nestas doutrinas essenciais da fé cristã. 2) Por causa da obra da Santa Trindade há possibilidade de unidade entre as pessoas mais diferentes! Somente em Cristo isso é possível. 3) A igreja "invisível" (a verdadeira igreja, na mente de Deus, é tão indivisível como o próprio Deus que a criou! III. A Provisão para Unidade (Ef. 4:7-12) Mais uma vez cabe ao intérprete perguntar sobre a função dos vv. 7-12 no argumento do texto. Tendo feito o pedido por unidade baseado na obra de Cristo, e depois de esclarecer a possibilidade de unidade baseada em 7 doutrinas essenciais, Paulo revela uma provisão que Deus fez para realizar esta obra tão difícil e sobrenatural. Ele deu um presente para a Igreja justamente para facilitar a harmonia no Corpo. O presente foi homens (e mulheres) divinamente capacitados com dons espirituais para a unidade e edificação do Corpo de Cristo. Ao mesmo tempo, entendemos que unidade não significa uniformidade! (cf. 1Co 12:4-11). De fato, diversidade no Corpo (como na Trindade) aumenta sua beleza e a profundidade da unidade. Estes versículos começam com uma palavra grega que pode ser traduzida "mas" ou "e", mostrando uma ligação lógica com os vv. 4-6 e provavelmente 1-6. Até aqui a ênfase tem sido corporal. Agora parece ser mais individual. Mas mesmo este fato não diminui a força do apelo por unidade, pois a capacitação de indivíduos ("cada um") visa o fortalecimento de unidade no Corpo. A. A Distribuição de Dons Espirituais (7-10) O versículo 7 nos ensina muito sobre a natureza de dons espirituais, aqui chamados "a graça": 1. Quem recebe? ( Ἑνὶ δὲ ἑκάστῳ ἡμῶν ) "Cada um" (nenhum crente pode reclamar que não recebeu; ao mesmo tempo, "cada um" também significa que não há necessidade de procurar uma "segunda obra" da graça de Deus para receber um ou outro dom. Observe que Paulo faz uma transição de "todos" (repetido várias vezes no v.6) para "cada um". 2. Quando recebemos? "Cada um" implica no fato de que todo crente já tem seu dom. Ninguém “cai fora” . . . não há cristãos "de segunda classe". (Cf. 1Co 12:7) 3. Como recebemos? Conforme a vontade de Deus, segundo a proporção do dom de Cristo. (Por isso ninguém deve reclamar porque tem este e não outro dom; ao mesmo tempo, não deve ficar tão insatisfeito que procure outros dons mais "atraentes". 4. De quem recebemos? Junto com Ef 4:7, 1Co 12:4-7 indica que toda a Trindade está envolvida na distribuição dos dons espirituais. 5. Para que? Para uso no Corpo, para unidade e edificação (veja vv. 8-16). 6. O que são? São produtos da graça de Deus, não de esforço humano, capacidades sobrenaturais para realizar a obra de Deus no poder de Deus para a glória de Deus. 7. Quanto recebemos? Depende da vontade de Deus que distribui os dons sob a medida prédeterminada por Ele. Os versículos 8-11 fazem uma citação e exposição de Sl 68:19 para defender o precedente de distribuição de presentes (dons) por um "Conquistador". διὸ λέγει, Ἀναβὰς εἰς ὕψος ᾐχμαλώτευσεν αἰχμαλωσίαν, ἔδωκεν δόματα τοῖς ἀνθρώποις. Há vários problemas nestes versículos, mas os dois principais são: 1) Como que Paulo cita o VT? (há pelo menos duas mudanças na sua citação do texto de Sl 68: da segunda pessoa singular para a terceira pessoa, e do verbo "concedeu" para "recebeu". Alguns afirmam que Paulo não quis fazer uma citação direta. Outros apontam para a palavra hebraica para "recebeu" que também pode trazer a ideia de "concedeu" em alguns textos. Ainda outros resolvem o problema considerando o espírito do contexto de Sl 68, em que o vencedor de uma guerra tem o direito tanto de receber quando de conceder dons. Esta última explicação parece harmonizar bem com Ef 4:8-10. Paulo está sendo coerente com a intenção do Sl 68, embora "livre" em sua citação/paráfrase do texto. 2) O que significa "descido até as regiões inferiores da terra (τὰ κατώτερα [μέρη] τῆς γῆς)? Para onde Cristo foi, e qual a implicação para o argumento deste texto? Há pelo menos três opções: *Desceu até a terra (genitivo apositivo = "partes inferiores que são a terra" ou seja, a encarnação e a humilhação de Cristo na terra (cf. Fp 2:3-8); Cristo se fez homem, fato que qualificou-o para ser nosso redentor, e, eventualmente, o Vencedor com direito de distribuir dons para seus seguidores. *Desceu até o sepulcro (genitivo comparativo = partes mais baixos que a terra, ou seja, Cristo morreu; sua morte foi o golpe mortal que matou a Morte! Por isso, como Vencedor, ele pode dar dons aos homens. *Desceu até o inferno (genitivo comparativo = partes mais baixos que a terra, ou seja, Cristo desceu para o Hades para anunciar sua vitória (cp. 1Pe 3:19). Em seguida ele demonstrou o espólio da sua vitória dando dons aos homens. Destas opções, a primeira parece ser mais provável neste texto, especialmente à luz da comparação com a "subida" de Jesus para o céu (8,9). Os versículos 9, 10 e 11 analisam a citação do v. 8, expondo o significado primeiro de "subiu" e depois de "deu" na citação. Aquele que subiu (na sua ascensão e exaltação como Vencedor) é o mesmo que desceu (na sua encarnação), e aquele que desceu é aquele que subiu para ser soberano sobre todos. Aplicação: A vitória de Cristo sobre a Morte e o Pecado deu-lhe o direito de distribuir dons. Dons espirituais são um sinal de que nosso lado já ganhou a guerra! B. A Diversidade de Dons Espirituais (11) - καὶ αὐτὸς ἔδωκεν τοὺς μὲν ἀποστόλους, τοὺς δὲ προφήτας, τοὺς δὲ εὐαγγελιστάς, τοὺς δὲ ποιμένας καὶ διδασκάλους Este versículo continua a exposição do Sl 68:18, agora destacando o significado da frase "deu". O versículo destaca a variedade que se encontra nos dons, ou melhor, nos homens capacitados dados para a igreja. Há uma transição aqui entre dons dados para homens (v.7) e homens dotados dados para a igreja. Ao mesmo tempo em que são ofícios (os dons capacitam estas pessoas a desempenharem certas funções no Corpo) também logicamente refletem certos dons espirituais. (Para outras listas de dons, veja 1Co 12 e Rm 12) 1. 2. 3. 4. Apóstolos Profetas Evangelistas Pastores-mestres (δὲ ποιμένας καὶ διδασκάλους - o uso de um artigo só com os dois termos parece juntá-los em um conceito só, em que a função principal do pastor é de ensinar/alimentar o rebanho) Há muito debate sobre a continuidade destes e outros dons espirituais. Basta dizer que, no sentido mais técnico, é de duvidar se apóstolos e profetas ainda existem hoje, especialmente pelo fato de que Paulo se refere a eles como sendo parte do fundamento da igreja (2:20; 3:6), enquanto evangelistas e pastoresmestres parecem ter um papel contínuo. C. O Dever de Homens Capacitados (12) – πρὸς τὸν καταρτισμὸν τῶν ἁγίων εἰς ἔργον διακονίας, εἰς οἰκοδομὴν τοῦ σώματος τοῦ Χριστοῦ O versículo 12 é um texto clássico para uma descrição da filosofia de ministério de um obreiro. Há três clausulas de propósito/resultado que podem ser interpretadas de várias maneiras, i.e., que os homens foram dados com 3 propósitos: que eles aperfeiçoassem os santos, fizessem a obra do ministério, e edificassem o Corpo. Mas é melhor entender os três itens como sendo uma escada em que cada degrau leva até o próximo. Em outras palavras, homens capacitados foram dados à igreja para: 1. o aperfeiçoamento dos santos, para que 2. eles fizessem o ministério com o resultado de que 3. o Corpo de Cristo seria edificado. A palavra "aperfeiçoamento" tem vários usos no NT (consertar, emendar redes; preparar, equipar, aperfeiçoar), mas neste texto a ideia principal é de "equipar". O ministro deve ter como objetivo principal o equipamento de outros para realizar a obra do Senhor na terra, com o resultado que a igreja seja edificada. Aplicação: 1) Nossa filosofia de ministério deve priorizar discipulado, equipando a igreja para fazer o ministério. 2) A igreja não é uma "pirâmide" com o pastor em cima. O pastor serve o povo equipando-os para um "colegiado" de ministérios em que todos participam. IV. O Propósito da Unidade (4:13-16) Nesta última parte da discussão sobre o andar em unidade, Paulo revela três propósitos dos dons espirituais e do ministério de homens e mulheres capacitados no Corpo: A. Maturidade Espiritual (13): Semelhança a Cristo μέχρι καταντήσωμεν οἱ πάντες εἰς τὴν ἑνότητα τῆς πίστεως καὶ τῆς ἐπιγνώσεως τοῦ υἱοῦ τοῦ θεοῦ, εἰς ἄνδρα τέλειον, εἰς μέτρον ἡλικίας τοῦ πληρώματος τοῦ Χριστοῦ, O primeiro propósito dos dons é o desenvolvimento do caráter de Cristo. Tecnicamente o versículo fala do tempo em que os dons serão operantes ("até que . . .") mas o efeito maior é de revelar a obra que os dons efetuam no Corpo. (Para outro texto semelhante, mas difícil sobre o tempo em que os dons estarão funcionando, veja 1Co 13:10). Paulo alista uma série de descrições de maturidade cristã: *unidade da fé *pleno conhecimento do Filho de Deus *perfeita varonilidade *medida da estatura da plenitude de Cristo Embora cada item apresenta uma nuance um pouco diferente desta obra completa dos dons, a ideia é de conformidade a imagem de Cristo, "Cristo formado em nós" (cf. Cl 1:28,29; Rm 8:29) B. Estabilidade de Vida/Doutrina (14) ἵνα μηκέτι ὦμεν νήπιοι, κλυδωνιζόμενοι καὶ περιφερόμενοι παντὶ ἀνέμῳ τῆς διδασκαλίας ἐν τῇ κυβείᾳ τῶν ἀνθρώπων, ἐν πανουργίᾳ πρὸς τὴν μεθοδείαν τῆς πλάνης, O segundo propósito dos dons é maturidade doutrinária caracterizada por estabilidade na fé. Homens capacitados têm o dever de alicerçar seus discípulos na sã doutrina para que não sejam levados por toda novidade no ar. C. Identidade com Cristo (Edificação do Corpo) (15,16) ἀληθεύοντες δὲ ἐν ἀγάπῃ αὐξήσωμεν εἰς αὐτὸν τὰ πάντα, ὅς ἐστιν ἡ κεφαλή, Χριστός, 16 ἐξ οὗ πᾶν τὸ σῶμα συναρμολογούμενον καὶ συμβιβαζόμενον διὰ πάσης ἁφῆς τῆς ἐπιχορηγίας κατʼ ἐνέργειαν ἐν μέτρῳ ἑνὸς ἑκάστου μέρους τὴν αὔξησιν τοῦ σώματος ποιεῖται εἰς οἰκοδομὴν ἑαυτοῦ ἐν ἀγάπῃ. O texto termina com uma exortação que traça o terceiro propósito dos dons, e que "fecha o círculo" aberto no v.1. Dons espirituais são a provisão de Deus para promover/preservar unidade e crescimento no Corpo! Através da "justa cooperação de cada parte, pelo auxílio de toda junta" o Corpo cresce! Esta é a obra maravilhosa que Cristo Jesus começou quando fomos incluídos "nele", judeus e gentios juntos, cada um com uma capacidade sobrenatural que Deus usa para o crescimento e a unidade do Corpo.