Efésios 4:1-16 Andando em Unidade

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Efésios 4:1-16 Andando em Unidade
Introdução e Panorama
Depois da grande doxologia com que Paulo terminou sua exposição da posição do crente nos
capítulos 1-3, ele revela as implicações práticas na vida diária do cristão. Os capítulos 4-6 revelam o
dever que segue a doutrina da nossa identidade em Cristo.
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Posição------Prática
Doutrina-----Dever
Condição----Conduta
Exposição---Exortação
Indicativo---Imperativo
Se a frase chave dos caps. 1-3 foi "em Cristo", a palavra chave da segunda metade do livro é "andar".
O termo se repete não menos de cinco vezes, dando-nos a base da nossa divisão destes capítulos no
nosso esboço.
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4:1----andeis de modo digno da vocação . . .
4:17--não mais andeis como também andam os gentios . . .
5:2---andai em amor . . .
5:8---andai como filhos da luz . . .
5:15--vede prudentemente como andais, não como néscios, e, sim, como sábios
Para Paulo não era suficiente ter conhecimento doutrinário sem mudança de vida (mas também
procurar transformação de vida sem um alicerce em doutrina leva para legalismo ou
superficialidade).
Ao mesmo tempo, não deve haver unidade a custo da verdade (veja como II e III João desenvolvem
os conceitos de "amor" e "verdade" lado a lado). Baseado na verdade dos caps. 1-3, Paulo apela por
unidade na prática entre os efésios.
Para pensar: Onde devemos traçar a linha entre unidade e sã doutrina? Que doutrinas são
essenciais? Quando seria melhor separar-nos do que preservar uma unidade meramente superficial
(externa)? Está certa ou errada a divisão da igreja em denominações? A igreja local deve ser
heterogênea, ou homogênea?
Contexto:
Nesta primeira unidade de pensamento Paulo faz a transição de posição para prática. A implicação
principal da nossa identidade em Cristo é um andar em unidade. Não podia esperar menos, depois
que Paulo abordou as implicações corporais do novo homem, da igreja como união de judeus e
gentios em um Corpo, e de crentes como habitação de Deus no Espírito. Se somos unidos em
posição, cabe a nós sermos unidos na prática.
Propósito
Crentes devem preservar a unidade criada pelo Espírito Santo usando os dons espirituais para a
edificação do Corpo.
Estrutura
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1-3 - O Pedido por Unidade (baseado na posição de indivíduos e da igreja "em Cristo")
4-6 - A Possibilidade para Unidade (baseada em doutrinas fundamentais e na Trindade e
unidade em diversidade)
7-12 - A Provisão para Unidade: Dons Espirituais
13-16 - O Propósito da Unidade (e dos dons espirituais)
I. O Pedido por Unidade (1-3)
O versículo 1 é o versículo chave do livro. Num estilo tipicamente paulino, o autor resume as duas
metades do livro neste texto "dobradiça". "Pois" olha para o conteúdo de caps. 1-3, especificamente o
"chamado" (a posição) de todo cristão "em Cristo". Baseado em tantas bênçãos que recebemos, e na
alta posição "nas regiões celestiais", temos um dever. Privilégios implicam em responsabilidades,
certamente não para ganhar a salvação, mas como fruto de amor e gratidão por tudo que Deus tem
feito por nós. Encontramos a mesma lógica em Rm 12:1-2 e Cl 3:1,2.
A. O Mandamento (1): Viver Digno da Nossa Posição em Cristo
Παρακαλῶ οὖν ὑμᾶς ἐγὼ ὁ δέσμιος ἐν κυρίῳ ἀξίως περιπατῆσαι τῆς κλήσεως ἧς ἐκλήθητε
"Rogo-vos" (Παρακαλῶ ) é uma forma suave de dar uma ordem apostólica. Ele apela por um andar
(figurativo para "viver" continuamente, em todos os contextos e em todos os momentos) digno, i.e.,
compatível com sua alta posição em Cristo. Ao mesmo tempo Paulo nos lembra do custo que este viver
pode significar - ele mesmo era "o prisioneiro no Senhor" (veja 3:1). Não foi somente o Senhor Jesus
que pagou um "alto preço" para nós desfrutarmos dos privilégios do evangelho.
A frase "de modo digno" (ἀξίως ) reflete uma palavra só no original. O termo traz a ideia de
equilíbrio, de algo compatível, de duas coisas que "batem" ou "combinam". A vida do cristão deve
ser coerente ou correspondente com sua alta posição em Cristo. Este é um conceito repetido muitas
vezes em Paulo: aqui, Cl 1:10, Fp 1:27, 1Ts 2:12. 2Ts 1:11.
Os próximos três capítulos abordarão muitos dos aspectos de uma vida digna de Cristo. Serão
exemplos práticos da manifestação de Cristo na vida diária.
Mas qual a "vocação" para que fomos chamados? O texto literalmente diz, "do chamado com que
fostes chamados" (τῆς κλήσεως ἧς ἐκλήθητε). Nos caps. 1-3 o chamado de Deus em Cristo Jesus foi
para salvação, que resultou numa posição de unidade e santidade. São justamente estes os conceitos
que serão desenvolvidos de forma prática nos últimos três capítulos. Mas neste contexto, conforme
os vv. 2 e 3, parece que Paulo tem a ideia de "unidade" em mente.
Aplicações:
1) Nunca sacrificamos a verdade em nome da unidade, mas devemos avaliar muito bem as
verdades pelas quais vamos nos separar de outros irmãos.
2) A divisão de uma igreja é algo muito sério aos olhos de Deus (1Co 3:17)
3) Somente quando entendo quem "eu" sou e o que tenho em Cristo é que serei capaz de viver
uma vida realmente digna de Cristo.
B. A Maneira de Andar Digno (2,3): Viver seguro, procurando o bem-estar do outro antes do meu
Depois do mandamento, Paulo usa uma série de preposições "com" e particípios modais para
explicar exatamente como podemos manter unidade no Corpo de Cristo tão diversificado. Ele alista
não menos de cinco características que devem marcar a vida de alguém vivendo de forma coerente
com sua posição em Cristo. Pelo fato de ele estar seguro na sua verdadeira identidade, esta pessoa
fica livre para amar outras pessoas, abrir mão de seus próprios direitos, e preservar uma unidade
criada pelo próprio Espírito de Deus.
Se existe algo em comum nesta lista, talvez seja o fato de que cada item exalta o outro acima de si
mesmo. Somente uma pessoa segura, capacitada pelo Espírito Santo, seria capaz destas atitudes. São
frutos do poder de Deus na vida do cristão.
1. Humildade (μετὰ πάσης ταπεινοφροσύνης): Em termos gerais, humildade não foi considerada
uma virtude pelos gregos, mas um sinal de fraqueza. Mas o padrão cristão é outro (Fp 2:3-8).
Humildade significa colocar os interesses do outro acima dos meus. Implica numa auto-avaliação
cuidadosa (Rm 12:3) que leva em conta tudo que sou em Cristo, e tudo que sou em mim mesmo (cf.
Jo 15:5). Esta avaliação nos motiva a viver humildes, sempre pensando no outro primeiro.
Humildade é absolutamente essencial para unidade, pois se todos estão se preocupando
primeiramente com o próximo, desunião seria impossível.
2. Mansidão (πραΰτητος): Muitos definem mansidão como "força sob controle". É a prontidão de
sacrificar meus "direitos" no interesse dos outros. Jesus era manso (cf. Mt 11:29) pois nunca
defendeu a si mesmo, mas sim, aqueles ao seu redor. Moisés foi considerado o homem mais "manso"
na face da terra, talvez pelo fato de que nunca defendeu a si mesmo quando criticado pelo povo de
Israel (cf. Nm 12:3) Era tão seguro que podia sofrer o dano em vez de danificar (cf. 1Co 6:7).
3. Longanimidade (μετὰ μακροθυμίας): Mais uma vez, a saúde do Corpo toma precedência sobre
interesses particulares. Para o bem do Corpo, e pelo fato de que confiamos na soberania e justiça de
Deus, podemos aguentar males, atritos, irritações e frustrações por amor a Cristo. O termo aqui já
deixa claro que "preservar a unidade" não será fácil. Paulo era realista, e reconhecia as dificuldades
existentes quando "dois ou três se reúnem em nome de Cristo - lá existem duas ou três opiniões
diferentes sobre a cor das cortinas na cozinha da igreja! "Longanimidade" é aquela virtude que não
se vinga, continua firme e paciente no sofrimento. Foi usado para Deus no seu relacionamento com o
homem (Rm 2:4). Representa alguém "devagar" para ficar irritado, relutante para construir barreiras
com outras pessoas, mas pronto para sofrer o mal antes de prejudicar o outro.
4. Suportando-vos uns aos outros em amor (ἀνεχόμενοι ἀλλήλων ἐν ἀγάπῃ): Outra vez, Paulo usa
uma frase que deixa claro que haverá atritos no Corpo. A palavra "suportando" pode trazer a ideia de
"aguentar". O amor consegue reconhecer que eu também sou pecador como os outros, e por isso
devo tratá-los com a mesma graça e paciência que me alcançou. Todos nós somos falhos e fracos,
carentes da graça de Deus e uns dos outros.
5. Esforçando-vos por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz (σπουδάζοντες τηρεῖν
τὴν ἑνότητα τοῦ πνεύματος ἐν τῷ συνδέσμῳ τῆς εἰρήνης): Pela terceira vez em seguida, Paulo usa
uma frase que indica a dificuldade de preservar unidade. "Esforçando" é um termo forte, que
significa não poupar esforço algum, fazer tudo no seu poder para evitar divisão.
É importante ressaltar que o cristão não "cria" unidade, mas "preserva" ou "guarda" a unidade já
estabelecida pelo Espírito Santo (genitivo de fonte ou origem, "que vem do Espírito"). Quando o
Espírito Santo nos selou (Ef 1:13), quando fomos "batizados no Espírito" no momento da nossa
conversão (1Co 12:13), fomos feitos participantes do Corpo de Cristo. Como Corpo, somos unidos,
membros uns dos outros (cf. 1Co 12). Esta é a unidade posicional que deve ser preservada a qualquer
custo de forma prática. Paulo termina o v.3 enfatizando este princípio pela repetição do termo "paz",
tema já desenvolvido em 2:11-22 com respeito ao Corpo de Cristo composto de judeus e gentios.
Aplicações:
1) Será que estou tão seguro na minha posição em Cristo que posso abrir mão de direitos e
privilégios por amor ao Corpo de Cristo e ao meu irmão?
2) Sou uma pessoa que pensa nos outros antes de mim mesmo, que não me defendo, e que trata
outras pessoas com a mesma paciência e graça com que Ele me trata?
3) Estou me esforçando para manter relacionamentos sadios com outros membros do Corpo,
sem barreiras ou obstáculos entre nós?
4) Reconheço como o Espírito Santo fica entristecido por divisões no Corpo, quando Ele é o
Autor da unidade? (Cf. 4:30, que fala da tristeza do Espírito num contexto de "palavras
torpes" entre irmãos).
II. A Possibilidade de Unidade (4:4-6)
A ligação entre os vv.4-6 e 1-3 tem confundido muito intérpretes. O estilo é abrupto - não há nenhum
verbo principal nestes três versículos (a palavra "há" foi inserida pelos tradutores). Isso serve para
enfatizar ainda mais a palavra-chave: "um". Numa série de sete palavras "um" Paulo destaca a base da
unidade que pediu nos vv. 1-3. Em outras palavras, ele revela a possibilidade de unidade baseada na
Santa Trindade e Suas obras na vida da igreja. (N.B. a presença da Trindade mais uma vez neste livro.
Será que a "unidade em diversidade" que caracteriza a Trindade está na mente de Paulo?)
Nestes versículos encontramos sete doutrinas fundamentais que unem o Corpo de Cristo, dando-lhe a
mesma direção, tirando a competição, focalizando no mesmo Alvo. Estes são os "denominadores
comuns" entre todos os verdadeiros cristãos. Sem harmonia nestas doutrinas, não há unidade
verdadeira.
As doutrinas parecem estar agrupadas em blocos de três, três, e um item começando com o Espírito e
terminando com Deus Pai:
A. Há um Espírito Santo que criou um Corpo pelo chamado para uma única esperança de salvação (ἓν
σῶμα καὶ ἓν πνεῦμα, καθὼς καὶ ἐκλήθητε ἐν μιᾷ ἐλπίδι τῆς κλήσεως ὑμῶν). As doutrinas destacadas
aqui são:
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Pneumatologia
Eclesiologia
Soteriologia
B. Há um Senhor Jesus por quem, quando cremos, fomos batizados no Corpo (εἷς κύριος, μία πίστις,
ἓν βάπτισμα). As doutrinas destacadas são:
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Cristologia
Soteriologia
[Eclesiologia/Pneumatologia]
C. Há um só Deus e Pai soberano (εἷς θεὸς καὶ πατὴρ πάντων, ὁ ἐπὶ πάντων καὶ διὰ πάντων καὶ ἐν
πᾶσιν.). A doutrina destacada aqui é:
Teologia (própria)
Aplicação:
1) Não existe unidade verdadeira e profunda separada da verdade. Precisamos verificar se estamos de
acordo com outros "irmãos" nestas doutrinas essenciais da fé cristã.
2) Por causa da obra da Santa Trindade há possibilidade de unidade entre as pessoas mais diferentes!
Somente em Cristo isso é possível.
3) A igreja "invisível" (a verdadeira igreja, na mente de Deus, é tão indivisível como o próprio Deus
que a criou!
III. A Provisão para Unidade (Ef. 4:7-12)
Mais uma vez cabe ao intérprete perguntar sobre a função dos vv. 7-12 no argumento do texto. Tendo
feito o pedido por unidade baseado na obra de Cristo, e depois de esclarecer a possibilidade de unidade
baseada em 7 doutrinas essenciais, Paulo revela uma provisão que Deus fez para realizar esta obra tão
difícil e sobrenatural. Ele deu um presente para a Igreja justamente para facilitar a harmonia no Corpo.
O presente foi homens (e mulheres) divinamente capacitados com dons espirituais para a unidade e
edificação do Corpo de Cristo.
Ao mesmo tempo, entendemos que unidade não significa uniformidade! (cf. 1Co 12:4-11). De fato,
diversidade no Corpo (como na Trindade) aumenta sua beleza e a profundidade da unidade. Estes
versículos começam com uma palavra grega que pode ser traduzida "mas" ou "e", mostrando uma
ligação lógica com os vv. 4-6 e provavelmente 1-6. Até aqui a ênfase tem sido corporal. Agora parece
ser mais individual. Mas mesmo este fato não diminui a força do apelo por unidade, pois a capacitação
de indivíduos ("cada um") visa o fortalecimento de unidade no Corpo.
A. A Distribuição de Dons Espirituais (7-10)
O versículo 7 nos ensina muito sobre a natureza de dons espirituais, aqui chamados "a graça":
1. Quem recebe? ( Ἑνὶ δὲ ἑκάστῳ ἡμῶν ) "Cada um" (nenhum crente pode reclamar que não recebeu;
ao mesmo tempo, "cada um" também significa que não há necessidade de procurar uma "segunda obra"
da graça de Deus para receber um ou outro dom. Observe que Paulo faz uma transição de "todos"
(repetido várias vezes no v.6) para "cada um".
2. Quando recebemos? "Cada um" implica no fato de que todo crente já tem seu dom. Ninguém “cai
fora” . . . não há cristãos "de segunda classe". (Cf. 1Co 12:7)
3. Como recebemos? Conforme a vontade de Deus, segundo a proporção do dom de Cristo. (Por isso
ninguém deve reclamar porque tem este e não outro dom; ao mesmo tempo, não deve ficar tão
insatisfeito que procure outros dons mais "atraentes".
4. De quem recebemos? Junto com Ef 4:7, 1Co 12:4-7 indica que toda a Trindade está envolvida na
distribuição dos dons espirituais.
5. Para que? Para uso no Corpo, para unidade e edificação (veja vv. 8-16).
6. O que são? São produtos da graça de Deus, não de esforço humano, capacidades sobrenaturais para
realizar a obra de Deus no poder de Deus para a glória de Deus.
7. Quanto recebemos? Depende da vontade de Deus que distribui os dons sob a medida prédeterminada por Ele.
Os versículos 8-11 fazem uma citação e exposição de Sl 68:19 para defender o precedente de
distribuição de presentes (dons) por um "Conquistador".
διὸ λέγει,
Ἀναβὰς εἰς ὕψος ᾐχμαλώτευσεν αἰχμαλωσίαν,
ἔδωκεν δόματα τοῖς ἀνθρώποις.
Há vários problemas nestes versículos, mas os dois principais são:
1) Como que Paulo cita o VT? (há pelo menos duas mudanças na sua citação do texto de Sl 68: da
segunda pessoa singular para a terceira pessoa, e do verbo "concedeu" para "recebeu". Alguns afirmam
que Paulo não quis fazer uma citação direta. Outros apontam para a palavra hebraica para "recebeu"
que também pode trazer a ideia de "concedeu" em alguns textos. Ainda outros resolvem o problema
considerando o espírito do contexto de Sl 68, em que o vencedor de uma guerra tem o direito tanto de
receber quando de conceder dons. Esta última explicação parece harmonizar bem com Ef 4:8-10. Paulo
está sendo coerente com a intenção do Sl 68, embora "livre" em sua citação/paráfrase do texto.
2) O que significa "descido até as regiões inferiores da terra (τὰ κατώτερα [μέρη] τῆς γῆς)? Para onde
Cristo foi, e qual a implicação para o argumento deste texto? Há pelo menos três opções:
*Desceu até a terra (genitivo apositivo = "partes inferiores que são a terra" ou seja, a encarnação e a
humilhação de Cristo na terra (cf. Fp 2:3-8); Cristo se fez homem, fato que qualificou-o para ser nosso
redentor, e, eventualmente, o Vencedor com direito de distribuir dons para seus seguidores.
*Desceu até o sepulcro (genitivo comparativo = partes mais baixos que a terra, ou seja, Cristo morreu;
sua morte foi o golpe mortal que matou a Morte! Por isso, como Vencedor, ele pode dar dons aos
homens.
*Desceu até o inferno (genitivo comparativo = partes mais baixos que a terra, ou seja, Cristo desceu
para o Hades para anunciar sua vitória (cp. 1Pe 3:19). Em seguida ele demonstrou o espólio da sua
vitória dando dons aos homens.
Destas opções, a primeira parece ser mais provável neste texto, especialmente à luz da comparação
com a "subida" de Jesus para o céu (8,9).
Os versículos 9, 10 e 11 analisam a citação do v. 8, expondo o significado primeiro de "subiu" e depois
de "deu" na citação. Aquele que subiu (na sua ascensão e exaltação como Vencedor) é o mesmo que
desceu (na sua encarnação), e aquele que desceu é aquele que subiu para ser soberano sobre todos.
Aplicação: A vitória de Cristo sobre a Morte e o Pecado deu-lhe o direito de distribuir dons. Dons
espirituais são um sinal de que nosso lado já ganhou a guerra!
B. A Diversidade de Dons Espirituais (11) - καὶ αὐτὸς ἔδωκεν τοὺς μὲν ἀποστόλους, τοὺς δὲ προφήτας,
τοὺς δὲ εὐαγγελιστάς, τοὺς δὲ ποιμένας καὶ διδασκάλους
Este versículo continua a exposição do Sl 68:18, agora destacando o significado da frase "deu". O
versículo destaca a variedade que se encontra nos dons, ou melhor, nos homens capacitados dados para
a igreja. Há uma transição aqui entre dons dados para homens (v.7) e homens dotados dados para a
igreja. Ao mesmo tempo em que são ofícios (os dons capacitam estas pessoas a desempenharem certas
funções no Corpo) também logicamente refletem certos dons espirituais. (Para outras listas de dons,
veja 1Co 12 e Rm 12)
1.
2.
3.
4.
Apóstolos
Profetas
Evangelistas
Pastores-mestres (δὲ ποιμένας καὶ διδασκάλους - o uso de um artigo só com os dois termos
parece juntá-los em um conceito só, em que a função principal do pastor é de ensinar/alimentar
o rebanho)
Há muito debate sobre a continuidade destes e outros dons espirituais. Basta dizer que, no sentido mais
técnico, é de duvidar se apóstolos e profetas ainda existem hoje, especialmente pelo fato de que Paulo
se refere a eles como sendo parte do fundamento da igreja (2:20; 3:6), enquanto evangelistas e pastoresmestres parecem ter um papel contínuo.
C. O Dever de Homens Capacitados (12) – πρὸς τὸν καταρτισμὸν τῶν ἁγίων εἰς ἔργον διακονίας, εἰς
οἰκοδομὴν τοῦ σώματος τοῦ Χριστοῦ
O versículo 12 é um texto clássico para uma descrição da filosofia de ministério de um obreiro. Há
três clausulas de propósito/resultado que podem ser interpretadas de várias maneiras, i.e., que os
homens foram dados com 3 propósitos: que eles aperfeiçoassem os santos, fizessem a obra do
ministério, e edificassem o Corpo. Mas é melhor entender os três itens como sendo uma escada em
que cada degrau leva até o próximo. Em outras palavras, homens capacitados foram dados à igreja
para:
1. o aperfeiçoamento dos santos, para que
2. eles fizessem o ministério com o resultado de que
3. o Corpo de Cristo seria edificado.
A palavra "aperfeiçoamento" tem vários usos no NT (consertar, emendar redes; preparar, equipar,
aperfeiçoar), mas neste texto a ideia principal é de "equipar". O ministro deve ter como objetivo
principal o equipamento de outros para realizar a obra do Senhor na terra, com o resultado que a igreja
seja edificada.
Aplicação:
1) Nossa filosofia de ministério deve priorizar discipulado, equipando a igreja para fazer o ministério.
2) A igreja não é uma "pirâmide" com o pastor em cima. O pastor serve o povo equipando-os para um
"colegiado" de ministérios em que todos participam.
IV. O Propósito da Unidade (4:13-16)
Nesta última parte da discussão sobre o andar em unidade, Paulo revela três propósitos dos dons
espirituais e do ministério de homens e mulheres capacitados no Corpo:
A. Maturidade Espiritual (13): Semelhança a Cristo
μέχρι καταντήσωμεν οἱ πάντες εἰς τὴν ἑνότητα τῆς πίστεως καὶ τῆς ἐπιγνώσεως τοῦ υἱοῦ τοῦ θεοῦ, εἰς
ἄνδρα τέλειον, εἰς μέτρον ἡλικίας τοῦ πληρώματος τοῦ Χριστοῦ,
O primeiro propósito dos dons é o desenvolvimento do caráter de Cristo. Tecnicamente o versículo
fala do tempo em que os dons serão operantes ("até que . . .") mas o efeito maior é de revelar a obra
que os dons efetuam no Corpo. (Para outro texto semelhante, mas difícil sobre o tempo em que os dons
estarão funcionando, veja 1Co 13:10). Paulo alista uma série de descrições de maturidade cristã:
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*unidade da fé
*pleno conhecimento do Filho de Deus
*perfeita varonilidade
*medida da estatura da plenitude de Cristo
Embora cada item apresenta uma nuance um pouco diferente desta obra completa dos dons, a ideia é
de conformidade a imagem de Cristo, "Cristo formado em nós" (cf. Cl 1:28,29; Rm 8:29)
B. Estabilidade de Vida/Doutrina (14)
ἵνα μηκέτι ὦμεν νήπιοι, κλυδωνιζόμενοι καὶ περιφερόμενοι παντὶ ἀνέμῳ τῆς διδασκαλίας ἐν τῇ κυβείᾳ
τῶν ἀνθρώπων, ἐν πανουργίᾳ πρὸς τὴν μεθοδείαν τῆς πλάνης,
O segundo propósito dos dons é maturidade doutrinária caracterizada por estabilidade na fé. Homens
capacitados têm o dever de alicerçar seus discípulos na sã doutrina para que não sejam levados por
toda novidade no ar.
C. Identidade com Cristo (Edificação do Corpo) (15,16)
ἀληθεύοντες δὲ ἐν ἀγάπῃ αὐξήσωμεν εἰς αὐτὸν τὰ πάντα, ὅς ἐστιν ἡ κεφαλή, Χριστός, 16 ἐξ οὗ πᾶν
τὸ σῶμα συναρμολογούμενον καὶ συμβιβαζόμενον διὰ πάσης ἁφῆς τῆς ἐπιχορηγίας κατʼ ἐνέργειαν ἐν
μέτρῳ ἑνὸς ἑκάστου μέρους τὴν αὔξησιν τοῦ σώματος ποιεῖται εἰς οἰκοδομὴν ἑαυτοῦ ἐν ἀγάπῃ.
O texto termina com uma exortação que traça o terceiro propósito dos dons, e que "fecha o círculo"
aberto no v.1. Dons espirituais são a provisão de Deus para promover/preservar unidade e crescimento
no Corpo! Através da "justa cooperação de cada parte, pelo auxílio de toda junta" o Corpo cresce! Esta
é a obra maravilhosa que Cristo Jesus começou quando fomos incluídos "nele", judeus e gentios juntos,
cada um com uma capacidade sobrenatural que Deus usa para o crescimento e a unidade do Corpo.
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