texto Choque de civilizações2016

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Origem, contexto geopolítico de surgimento e o significado da
expressão “choque de civilizações”
Geografia – 2º Bimestre – Prof. Ronaldo
Origem
1964 – Bernard Lewis, um professor universitário britânico pouco conhecido, lançou a
expressão “choque de civilizações” que ficaria famosa. A visão de um “choque de
civilizações”, contrapondo duas entidades claramente definidas, o “Islã” e o “Ocidente”
(ou a “civilização judeu-cristã”), está no centro do pensamento de Lewis.
1993- Samuel P. Huntington, economista estadunidense retomou a fórmula do “choque
de civilizações” em um célebre artigo que escreveu para uma importante revista científica
americana (Foreign Affairs). O texto fez tanto sucesso e despertou tanta polêmica que
levou o seu autor a ampliá-lo e, em 1996, Huntington publicou o livro O choque de
civilizações e a recomposição da ordem mundial
O contexto geopolítico em que surgiu e seu significado
O postulado (princípio ou fato reconhecido, mas não demonstrado) de Huntington
constitui um esforço de compreensão do mundo e do novo quadro das relações
internacionais emergentes da implosão soviética, depois que as tensões políticas da Velha
Ordem Bipolar deixaram de subordinar um ou outro bloco ideológico. Para Huntington
são as várias identidades culturais do mundo que modelam as coesões, as desintegrações
e os conflitos em uma Nova Ordem Mundial pós-Guerra Fria, em que, inclusive, Estados
se aliam, ou não, em função dos sentimentos de pertencimento civilizacional. Ele defende
que o futuro da humanidade poderá ser determinado pelo confronto entre diferentes
civilizações (mapa p.44 do caderno do aluno), com a adesão a religiões e características
culturais comuns.
Afirma Huntington:
"Minha tese é de que a fonte fundamental de conflito nesse novo mundo não será essencialmente
ideológica nem econômica. As grandes divisões na humanidade e a fonte predominante de
conflito serão de ordem cultural. As nações-Estado continuarão a ser os agentes mais poderosos
nos acontecimentos globais, mas os principais conflitos ocorrerão entre nações e grupos de
diferentes civilizações. O choque de civilizações dominará a política global. As linhas de cisão
entre as civilizações serão as linhas de batalha do futuro." Samuel P. Huntington.
A expressão “choque de civilizações” adquiriu grande repercussão no contexto de
incertezas da Nova Ordem Mundial, logo após a Guerra Fria, quando o mundo se deparou
com a eclosão de conflitos isolados, motivados por rivalidades étnico-religiosas e
culturais contidos em sua maioria por regimes totalitários, como na ex-URSS e na antiga
Iugoslávia.
Problematização e reflexão crítica
Desde o fim da Guerra Fria, a maioria das guerras ocorre entre povos de civilizações
diferentes (por exemplo, o conflito Israel-Palestina, as Guerras do Golfo, a desintegração
da antiga Iugoslávia, a instabilidade na Caxemira, a luta pela independência da
Chechênia, a atual presença anglo-americana no Iraque).
Para o crítico literário e ativista da causa palestina, Edward Said (na sua obra:
Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente), Huntington falha por tratar a
cultura como algo monolítico (rígido/petrificado), imutável e homogêneo, isto é, por não
considerar as inquietações existentes sempre dentro de cada cultural. Para Said, a tese do
“choque de civilizações” fundamenta-se na perspectiva de uma separação rigorosa entre
diferentes culturas, desconsiderando os diversos fluxos que caracterizam o mundo de
hoje, o que torna impossível a qualquer cultura se manter completamente isolada das
outras (por exemplo, as migrações, as misturas e o intercâmbio de culturas). Said
demonstra que o Oriente é uma construção imaginada por autores ocidentais e reúne povos
tão distintos que não faz sentido usar o Oriente como uma unidade de análise ou
denominador comum. O autor ainda completa: “ a ideia de choque de civilizações tem um
aspecto caricatural muito nocivo, como se enormes entidades chamadas "Ocidente" e
"Islã" estivessem num ringue, lutando para ver qual é a melhor. Essa imagem das
civilizações exibindo seus músculos uma para a outra como Brutus e Popeye no desenho
animado é de uma infantilidade atroz”.
Em vez de compreender os conflitos conhecendo as fronteiras intercivilizacionais
do mundo, como propõe Huntington, muitos outros estudiosos analisam as tensões
político-militares entre Estados, atores, grupos e nações tomando por base o
conhecimento da geografia dos recursos vitais (como nos trabalhos de Noam Chomsky).
Para exemplificar: Colinas de Golã (região assegurada pelos israelitas para garantir o
fornecimento de água); o território do Iraque, onde os estadunidenses procuram
maximizar o controle sobre o petróleo.
Explicar a conflitualidade por intermédio do critério civilizacional ou religioso
representa, muitas vezes, colocar em segundo plano os interesses mais ou menos
legítimos dos atores internacionais, correndo-se o risco de certo reducionismo no
entendimento da geografia do mundo atual em virtude de se desconsiderar fatores
geopolíticos, históricos, disputas econômicas, etc.
Na opinião de muitos estudiosos (Chomsky, Said, etc.) os conflitos atuais estão
vinculados à imposição de um modelo geopolítico e econômico controlado pelos países
ricos e suas corporações (disputa por recursos vitais, como o petróleo). A visão de mundo
baseada na teoria do “choque de civilizações” de Huntington favorece ainda a
disseminação de uma imagem deturpada do islamismo, associando-o, de maneira
equivocada e simplista, ao fundamentalismo religioso, além de desconsiderar as
mudanças a que estão expostas as diferentes culturas diante dos fluxos de informação e
de pessoas o contexto da globalização.
Questões para reflexão:
Será que podemos considerar a obra de Huntington como sendo bastante atual? (ver
imagens p.39 e 40 do caderno do aluno)
O que não é considerado na obra do autor, em termos de motivações para os atuais
conflitos verificados no mundo? (Rever imagens p.39 e 40 do caderno do aluno)
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