ANÁLISE DA OBRA “CAPITÃES DA AREIA”, de JORGE AMADO

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ANÁLISE DA OBRA
“CAPITÃES DA AREIA”, de JORGE AMADO
Obra escrita em 1937 exatamente no momento que o Brasil passava pelo Estado Novo. Sua
primeira edição foi queimada em praça pública em plena ditadura getuliana. Nessa realidade o
escritor se manifesta fortemente opositor ao regime ditatorial de Vargas, foi preso, inclusive
por isso, em 36 e 37. Em 1945, vejam só, ele se elege deputado federal pelo PCB do Estado de
São Paulo, após voltar do exílio, criou diversas leis de incentivo à cultura. A trajetória da sua
obra não menosprezou estes acontecimentos, relatou a realidade e o modus vivendi do
soteropolitano, dos desfavorecidos, principalmente.
Capitães da Areia foi escrito nesta época de grande furor em sua vida, acabado de sair da
faculdade, cenário político crítico, escritores e artistas em geral, resolveram denunciar as
injustiças sociais, característica principal do Modernismo da geração de 30 (Graciliano Ramos,
Raquel de Queirós, José Lins do Rego) sem desprezar, no entanto o lirismo.
De um modo geral, o livro descreve o cotidiano, o modo de agir, de conviver em sociedade
para sobreviver de um grupo de garotos e adolescentes marginalizados que lutam por
alimentos, dinheiro e abrigo.
No começo do livro o leitor se depara com cartas e reportagens citando esses garotos como os
“Capitães da areia”, ou seja, tem caráter verídico. O narrador, numa linguagem coloquial, tece
uma crítica objetiva e detalhada, num tom lírico demonstrando como a sociedade leva as
crianças ao crime.
A primeira parte do romance intitulada “Sob a lua, num velho trapiche abandonado” revela
tanto no seu título como na primeira frase o seu tom lírico de suas descrições. São narradas
histórias independentes de alguns dos principais “capitães”, como do Gato, do Sem-Pernas,
Pedro-Bala, etc. O principal evento nesta parte está no fim com a chegada de Dora e seu irmão
mais novo, Zé Fuinha.
A segunda parte do livro, “Noite da grande paz, da grande paz dos teus olhos”, uma tensão de
triangulo amoroso entre Dora, Pedro-Bala e o Professor, que gosta dela, mas ela gosta de
Pedro-Bala. Esses vão pro Reformatório e sofrem demais. O clímax está na cena de amor e
morte de Dora, no final desta parte.
A terceira e última parte, “Canções da Bahia, Canção da Liberdade”, acontece a desintegração
do grupo. O Sem-Pernas comete o suicídio pra não ser pego pela polícia, O Professor vai para o
Rio de Janeiro sonhando ser pintor, Gato se torna um típico malandro baiano dos caberes,
Pirulito se torna frade franciscano, Volta Seca se incorpora no bando de Lampião. E Pedro Bala,
influenciado pelo pai, se torna sindicalista revolucionário e organiza uma greve.
Há basicamente duas maneiras de analisarmos a obra de Jorge Amado, bem como sua
trajetória tanto estilisticamente quanto a sua contextualização histórica. A primeira,
tradicional e mais didática:
a) Romances da Bahia: (denominação do próprio escritor), os romances têm como cenário
Salvador e seus são obras comprometidas com a denúncia social e da opressão política, não
são simplesmente panfletárias, há uma preocupação com lirismo das palavras. (Cacau, Suor,
Capitães da Areia, O país do Carnaval, Tenda dos Milagres).
b)Romances de ligados ao ciclo do cacau: as tramas acontecem no interior sul da Bahia,
apresentam denúncias ao coronelismo e as intrigas entre trabalhadores rurais e fazendeiros.
Em relação a estas obras podemos facilmente fazer um link com diversos assuntos atuais,
como por exemplo, as invasões do movimento sem terra, os conflitos entre posseiros e
fazendeiros e a recente disputa pela Raposa Serra do Sol. Livros dessa tendência: Cacau, São
Jorge de Ilhéus, Terras-do-sem-fim.
c) crônicas de costumes: marcam o final da sua carreira e demonstram um despojamento
tanto na forma de escrever quanto no cunho social. O tom denunciativo e realista da sua obra
dá lugar a uma preocupação em mostrar o popular, o corriqueiro, como um contador de
“causos”. Aqui está o tom sensual e, às vezes, até erótico. E o tom do fantástico, como Quincas
Berro D água que morre duas vezes, porém há sempre o desafio do fazer com que o irreal se
passe por real, influência do realismo fantástico dos hispano-americanos, Jorge Luís Borges e
Julio Cortazar.
A segunda maneira de analisarmos a obra de Jorge Amado é segundo Alfredo Bosi, em
“História concisa da literatura brasileira”, grande crítico literário brasileiro:“Na sua obra podem-se distinguir:
a) um primeiro momento de águas fortes da vida baiana, rural e citadina (Cacau e Suor) que
lhe deram a fórmula do “romance proletário”;
b) depoimentos líricos, isto é, sentimentais espraiados em torno de rixas e amores marinheiros
(Jubiabá, Mar Morto, Capitães da Areia);
c) um grupo de escritos de pregação partidária (O cavaleiro da esperança, O mundo da paz);
d) alguns afrescos (pintura em painéis) da região do cacau, certamente suas invenções mais
felizes, que animam de tom épico as lutas entre coronéis e exportadores (Terras-do-sem-fim,
São Jorge de Ilhéus);
e) mais recentemente, crônicas amaneiradas de costumes provincianos (Gabriela, Cravo e
Canela, Dona Flor e seus dois maridos). (...) na última fase abandonam-se os esquemas de
literatura ideológica e tudo se dissolve no pitoresco, no saboroso, no apimentado do regional.”
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