1 TEXTO 1: AMPLITUDE E APLICAÇÃO DA PSICOLOGIA Psicologia é uma palavra que tem, para o leigo, um significado bem pouco definido. Ela pode sugerir muitas coisas para uma mesma pessoa e também coisas diferentes para pessoas diferentes. Um levantamento breve das expectativas comuns de quem vai iniciar seus estudos em Psicologia indica bem essa diversidade de concepções: alguns acreditam que vão estudar as causas e características dos diversos tipos de desequilíbrio mental; outros esperam aprender a lidar com crianças em suas várias etapas de desenvolvimento; outros pretendem alcançar as regras do bom relacionamento interpessoal; a maioria deseja, de uma forma mais vaga, “compreender o ser humano”. Esta lista de expectativas indica a necessidade de algumas palavras de advertência sobre a Psicologia: É preciso questionar aquela crença generalizada de que todos nós somos “um pouco psicólogos”, comprovada pela nossa quase infalível capacidade de “julgar” as pessoas. Essa crença errônea de que todos são conhecedores natos da “natureza humana”, faz as pessoas esquecerem que seus julgamentos, na maioria das vezes, podem estar sendo embasados em dados não científicos. Ou seja, é preciso deixar claro que a Psicologia vem se desenvolvendo a base de esforços sérios, de métodos que exigem observação e experimentação, cuidadosamente controladas. Não se trata, pois, de uma coleção de “palpites” sobre o ser humano, sua conduta e seus processos mentais. O tarô, a astrologia, a quiromancia, a numerologia, entre outras, são práticas adivinhatórias que não são aceitas e nem fazem parte da Psicologia. Algumas pessoas procuram tais práticas por que buscam soluções rápidas para seus problemas. Da mesma forma, a auto-ajuda, a neurolingüistica ou as terapias alternativas (cromoterapia, aromaterapia, florais de Bach etc.) são terapias que não têm nenhum vínculo com a Psicologia. O uso desses métodos como acompanhamento psicológico, fere o Código de Ética dos profissionais de Psicologia. A Psicologia é uma ciência. Sendo assim, o estudante deve adotar uma postura científica, rejeitando toda concepção que não tiver sido submetida a estudos e comprovação rigorosos e desconfiando sempre de “conhecimentos naturais” sobre as pessoas. Outro problema se acrescenta: muitos pseudopsicólogos escrevem livros, dão conferências, atuam em “clínicas”, montam “testes” em revistas populares e, assim, tristemente contribuem para fornecer uma falsa imagem da Psicologia, podendo ser altamente prejudiciais, tanto por iludirem os incautos como por desmoralizarem a ciência. Novamente aqui é necessário o pensamento crítico. Os estudantes devem perguntar-se qual a formação de tais pessoas, de onde provem seus “conhecimentos”, quais os fundamentos dos “testes” e dos procedimentos “clínicos”. Uma outra advertência se refere ao uso do vocabulário psicológico. Palavras como “inteligência”, “personalidade”, “criatividade” e muitas outras são usadas pelo público leigo com sentido diverso (e bastante indefinido) daquele que têm no vocabulário científico. Este fato causa dificuldades para o estudante, que precisa aprender a significação que tais termos recebem em Psicologia. Terminadas as advertências, voltemos ao nosso foco: Afinal, o que estuda a Psicologia? O que se entende por Psicologia? Esta não é uma pergunta fácil de ser respondida, mas nossa expectativa é que uma resposta satisfatória possa ser alcançada ao término desse curso introdutório, depois de termos examinado, ao menos de forma rápida, a história da Psicologia, seus métodos de pesquisa e suas principais abordagens atuais. PSICOLOGIA: 2 No decorrer da história da humanidade, o homem tem demonstrado interesse em conhecer suas origens. Podemos observar, por exemplo, nos símbolos deixados pelos egípcios, há milênios, sua preocupação com o ser humano. Encontramos desenhos/símbolos retratando seus sentimentos de angústia, ansiedade, alegria, tristeza e sua própria história. Na Grécia antiga, os filósofos, preocupados com o saber, se voltaram para todas as áreas do conhecimento, especulando sobre os mais diversos aspectos da Psicologia. No entanto, é curioso observarmos que as primeiras ciências que se desenvolveram foram justamente as que tratam do que está mais distante do homem, como por exemplo, a Astronomia. Às que se referem ao que lhe está mais próximo, ou as que a ela se referem diretamente a ele, como a Psicologia, são as que tiveram desenvolvimento mais tardio. Sem buscar as causas de tal fenômeno, verifica-se que, realmente, a Psicologia é uma das ciências mais jovens. Mas, mesmo antes que existisse uma ciência a respeito, o homem procurou explicar a si mesmo. As primeiras explicações sobre o ser humano e sua conduta foram de natureza sobrenatural, tal como as explicações para todos os eventos. Assim como a tempestade era um indício da cólera dos deuses, e a boa colheita do seu favoritismo, o homem primitivo acreditava que um comportamento estranho e insólito era causado por “maus espíritos” que habitavam o corpo da pessoa. O termo "Psicologia" é de origem grega, , formado pelas palavras psique - que significa alma (e alma era defendida pelos gregos como a fonte da vida, o que animava ou dava vida ao corpo) - e logos que significa estudo. Portanto, etimologicamente1 Psicologia significa o estudo da alma. A palavra "alma" foi adquirindo inúmeras conotações e passou a ser inadequada para o contexto da Psicologia. A Psicologia, por ser uma ciência recente, apresenta uma diversidade de objetos de estudos, como comportamento, consciência, personalidade, inconsciente, entre outros. PSICOLOGIA COMO CIÊNCIA: A Psicologia, enquanto preocupação humana vinculada à Filosofia, já tem dois milênios de história. Seu aparecimento se deu entre os gregos, no período anterior à era cristã. No entanto, enquanto ciência independente a Psicologia é jovem, tendo pouco mais de cem anos. Foi somente em 1879, na Universidade de Leipzig, Alemanha, que Wilhelm Wundt fundou o primeiro Laboratório de Psicologia Experimental. A partir deste fato, a Psicologia se desvinculou das especulações filosóficas e passou para o campo da ciência, por meio da utilização do método científico. Com o status de ciência, a Psicologia passa a cumprir as exigências da comunidade científica. Assim, como toda ciência, a Psicologia passa a usar métodos científicos rigorosos, além de procurar entender, predizer e controlar os fenômenos que estuda. OBJETO DE ESTUDO: É muito comum ouvirmos que a Psicologia estuda o Homem. Porém, sabemos que o Homem é estudado por todas as ciências humanas: Antropologia, Política, Economia etc. Dada à complexidade que é o ser humano, cada ciência humana ocupa-se de uma de suas partes, caracterizando esta parte como o seu objeto de estudo. Na Psicologia, o objeto é o comportamento e a matéria prima é o ser humano. Tudo o que a Psicologia criar, pensar ou disser será sobre a vida dos seres humanos. Considera-se comportamento 1 A etimologia se preocupa com o estudo das palavras, de sua história, e das possíveis mudanças de seu significado. 3 toda e qualquer ação: pensar, brincar, andar, odiar, falar, escrever, correr, cantar, aprender, esquecer, amar, trabalhar, sonhar, gritar, estudar, etc. Um dos aspectos que a Psicologia busca compreender é porque uma pessoa comporta-se de uma maneira e não de outra. Apenas os comportamentos do homem (ou seja, o que ele faz) pode ser medido objetivamente, mas isso não significa que sentimentos, pensamentos e outros fenômenos deixem de ser estudados por não serem observáveis. Eles são inferidos através do comportamento. A partir da conduta das pessoas é que se inferem manifestações físicas como dores, cansaço, malestares, indisposições (para comer, sexo, trabalhar, etc.); manifestações sociais como a necessidade de prestígio, valorização, reconhecimento, status, introversão etc. e manifestações de estados emocionais como medo, ansiedade, agressividade, etc. Apesar do comportamento humano ser o principal interesse da Psicologia, esta também estuda o comportamento animal, com o objetivo de, através dele e consideradas as devidas diferenças, melhor compreender algumas dimensões análogas do comportamento humano. Dentre os seres vivos, é sem dúvida o homem que apresenta o repertório comportamental mais complexo. Por isso o objetivo de estudar o comportamento humano não é nada fácil de ser alcançado. Os psicólogos admitem que ainda não conhecem todas as respostas dos problemas relacionados ao comportamento humano, mas desejam não apenas compreender, como também predizer tais fenômenos. Isso porque, no momento em que ficassem estabelecidas às condições diante das quais um determinado evento ocorre, seria possível antecipar sua ocorrência se tais condições estivessem presentes. Quando uma ciência atinge esse nível de desenvolvimento em relação a um tópico qualquer, ela também pode tornar possível o controle de um determinado fenômeno, eliminando as condições favorecedoras do fenômeno se ele for indesejável. Em ciências como a Física, por exemplo, as etapas de predizer e controlar fenômenos já estão em níveis bastante adiantados em vários tópicos. APLICAÇÃO DA PSICOLOGIA: A distinção que se costuma fazer entre ciência “pura” e “aplicada” é dizer que a primeira busca o conhecimento desinteressado, ao passo que a segunda investiga a aplicação prática dos temas em alguma área de atividade humana. Tal distinção é, na verdade, apenas acadêmica, estabelecida para fins didáticos, já que ambas estão intimamente relacionadas. Muitos cientistas que se dizem “aplicados” fizeram grandes contribuições para o conhecimento básico e, inversamente, outros, aparentemente “puros”, descobriram fatos que foram quase imediatamente aplicados a problemas práticos. 4 Subcampos da Psicologia “básica” ou "pura” Subcampos da Psicologia Aplicada Psicologia Geral: busca determinar o objeto, os Clínica: a área clínica é mais conhecida pelas métodos, os princípios gerais e as ramificações terapias, que podem ser individuais ou em grupo, da ciência; e tem como objetivo levar o indivíduo a se conhecer melhor, trabalhar seus mecanismos de defesa, controlar suas angústias, ansiedades, Psicologia Fisiológica: procura investigar o medos e fazer uso adequado de seus potenciais, papel que eventos e estruturas fisiológicas visando aproveitá-lo ao máximo. Ajuda na desempenham no comportamento; maneira de trabalhar o isolamento em internações prolongadas; busca compreender e tratar doenças físicas causadas pelas emoções. Psicologia do Desenvolvimento: estuda as mudanças que ocorrem no ciclo vital de um Educação: estudam-se todas as fases do desenvolvimento humano e de aprendizagem. O indivíduo; que o indivíduo aprende, como e o que faz com este conhecimento em que momento do desenvolvimento ele acontece. A Psicologia Psicologia Animal ou Comparada: tenta Educacional tem evoluído tanto no estudar o comportamento animal com o objetivo aproveitamento do potencial humano e na de, comparando com o comportamento humano, facilitação da aprendizagem de indivíduos melhor compreende-lo. Também tem por normais como na elaboração de programas objetivo estudar o comportamento animal por si. específicos para indivíduos excepcionais. Suas pesquisas auxiliam também na construção de treinamentos adequados dentro das Psicologia Social: investiga todas as situações, e organizações. suas variáveis, em que a conduta humana é influenciada e influencia outras pessoas e Organizacional: nome genérico que se dá a um grupos; conjunto de aplicações de dados da Psicologia que possibilitam desde promover melhor planejamento dos instrumentos de trabalho do Psicopatologia: ramo da Psicologia interessado homem até indicar o trabalhador mais adequado no comportamento anormal, como as neuroses e para cada função ou promover treinamentos que psicoses; favoreçam o desenvolvimento das potencialidades dos trabalhadores. Psicologia da Personalidade: denominação da Jurídica: a Psicologia Jurídica envolve a aplicação dos conhecimentos da Psicologia no área que busca a integração ampla e campo do Direito. Servem como exemplos as compreensiva dos dados obtidos por todos os contribuições sobre a confiabilidade do setores da investigação psicológica. depoimento feito por testemunhas, a avaliação dos efeitos da excitação emocional sobre o desempenho de delinqüentes e criminosos, o fornecimento de pareceres sobre guarda de menores em casos de separação dos cônjuges, etc. A Psicologia é uma ciência de um campo de aplicação muito amplo, o que justifica plenamente sua importância e a denominação de que tem recebido de “a ciência do século”. PROFISSIONAIS EM PSICOLOGIA A Psicologia, no Brasil, é uma profissão reconhecida por lei, ou seja, a Lei 4.119, de 1962, reconhece a existência da Psicologia como profissão. 5 São psicólogos (habilitados ao exercício profissional) aqueles que completam o curso de graduação em Psicologia e se registram no órgão profissional competente. O exercício da profissão, na forma como se apresenta na Lei 4.119, está relacionada ao uso (que é privativo dos psicólogos) de métodos e técnicas da Psicologia para fins de diagnóstico psicológico, orientação e seleção profissional e solução de problemas de ajustamento. Ao refletirmos sobre a finalidade do trabalho do psicólogo precisamos ter em mente que uma das concepções que vêm ganhando espaço é a do psicólogo como profissional de saúde, independentemente da área em que ele escolha atuar. Ou seja, um profissional que aplica conhecimentos e técnicas da Psicologia para promover a saúde. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), saúde é o “estado de bem-estar físico, mental e social, não se limitando á ausência de doença”, o que nos remete ao conceito do homem enquanto um ser biopsicossocial. Logo, ao falarmos de saúde, estamos fazendo referência a um conjunto de condições, criadas coletivamente, que permitem a continuidade da própria sociedade. Estamos falando, portanto, das condições (de alimentação, educação, lazer, participação na vida social, etc.) que permitem a um conjunto social produzir e se reproduzir de modo saudável. Nessa perspectiva, o psicólogo, como profissional de saúde, deve empregar seus conhecimentos de Psicologia na promoção de condições satisfatórias de vida, na sociedade em que vive e trabalha, isto é, em que está comprometido como cidadão e como profissional. Assim, o psicólogo tem seu trabalho relacionado às condições gerais de vida de uma sociedade, embora atue enfocando seus indivíduos. Reafirmamos que a profissão do psicólogo deve ser caracterizada pela aplicação dos conhecimentos e técnicas da Psicologia na promoção da saúde. Esse trabalho pode ser realizado nos mais diversos locais: consultórios, escolas, hospitais, creches, orfanatos, empresas, sindicatos de trabalhadores, bairros, presídios, instituições de reabilitação de deficientes físicos e mentais, ambulatórios, postos e centros de saúde e outros. Colocadas a finalidade do trabalho do psicólogo, podemos agora citar algumas das áreas e locais nos quais ele trabalha: Psicólogo Clínico: estes psicólogos estão engajados na aplicação de princípios psicológicos no diagnóstico e tratamento dos problemas emocionais e comportamentais. Psicólogo Hospitalar: o psicólogo hospitalar pode desenvolver trabalhos terapêuticos com os pacientes hospitalizados, bem como programas de apoio para familiares dos doentes e para profissionais da equipe (médicos, enfermeiras, etc.). Psicólogo Organizacional: esses psicólogos estão envolvidos com problemas tais como a seleção de pessoas mais apropriadas para determinados cargos, desenvolvimento de programas de treinamento para o emprego, projetos para a melhoria do relacionamento das pessoas no ambiente organizacional, aumento da produtividade e motivação. Psicólogo Escolar: estes psicólogos trabalham individualmente com crianças para avaliar problemas de aprendizagem e emocionais. Uma vez que o início de sérios problemas emocionais pode ocorrer nas séries iniciais, muitas escolas de primeiro grau empregam psicólogos, cuja qualificação combina conhecimentos em desenvolvimento infantil, educação e Psicologia Clínica. Psicólogo Educacional: esses profissionais são especialistas em aprendizagem e ensino. Eles podem trabalhar ou prestar consultoria em escolas, onde pesquisam sobre métodos de ensino e ajudam a treinar professores e psicólogos escolares. Orientador Vocacional: profissional que desenvolve um trabalho destinado a adolescentes que têm dúvidas sobre qual profissão escolher (tanto cursos universitários quanto técnicos) ou para quem iniciou um curso de graduação, mas desistiu ou está desistindo. O psicólogo enquanto 6 orientador vocacional pode oferecer elementos, por meio de instrumentos e métodos apropriados, para que essa importante escolha seja feita de maneira madura e consciente. Orientador Profissional: enquanto orientador profissional o psicólogo direciona seu trabalho para auxiliar pessoas que já têm uma profissão, porém querem buscar uma recolocação profissional (mudar de empresa ou de profissão) tanto por estarem desempregadas quanto por desejarem encarar novos desafios profissionais, além de auxiliar aposentados que procuram uma nova atividade. Nesse trabalho, o psicólogo ajuda o cliente a fazer uma retrospectiva de sua história profissional, entender o mercado de trabalho atual, estabelecer metas realistas para sua carreira e traçar estratégias para alcançá-las. Psicólogo Jurídico: atuando no âmbito da Justiça o psicólogo jurídico pode desempenhar múltiplas tarefas, colaborando, por exemplo, no planejamento e execução de políticas de cidadania, direitos humanos e prevenção da violência, e/ou centrando sua atuação na emissão de laudos para os juristas, sendo comum o parecer desse profissional, ser solicitado em questões relacionadas a guardas de crianças, adoções, concessão de liberdade condicional etc. A atuação técnica do psicólogo, nesses casos, fornece subsídios ao processo judicial. Esse profissional também pode, através de seus conhecimentos técnicos, contribuir para a formulação, revisão e interpretação das leis. Psicólogo do Esporte: o psicólogo do esporte atua como consultor, acompanhando atletas, equipes esportivas e os demais profissionais envolvidos: técnicos, preparadores físicos e fisioterapeutas. Esse profissional estuda as pessoas e seus comportamentos em contextos esportivos e de exercício, investigando os processos psicológicos e suas manifestações nas atividades esportivas, atléticas e de educação física em geral. Suas intervenções, que ocorrem na forma de aconselhamento individual e em grupo, pautam-se particularmente na resolução de problemas de adaptação do esportista, motivação, treinamento, desempenho e aspectos psicossociais do esporte. Psicólogo Pesquisador: os psicólogos que trabalham com pesquisas estão mais ligados à Ciência Psicológica enquanto corpo de conhecimentos, produzindo-os ou transmitindo-os. Os pesquisadores podem estudar várias áreas do comportamento humano ou animal, a partir da necessidade de subsidiar os demais profissionais da Psicologia com conhecimentos atualizados sobre o comportamento do homem individualmente ou em grupo. Psicólogo Psicometrista: o psicólogo que trabalha na pesquisa, elaboração e validação dos testes psicológicos. Psicólogo do Trânsito: a Psicologia do Trânsito pode ser definida como uma área da Psicologia que estuda o comportamento do homem no ambiente do trânsito. Cabe ao psicólogo do trânsito colaborar na elaboração e implantação de ações de engenharia e operação de tráfego; desenvolver ações sócio-educativas com pedestres, ciclistas, condutores infratores e outros usuários da via; desenvolver ações educativas com diretores e instrutores dos Centros de Formação de Condutores, examinadores de trânsito e professores dos diferentes níveis de ensino; realizar pesquisas científicas para elaboração e implantação de programas de saúde, educação e segurança do trânsito; participar do planejamento e realização das políticas de segurança para o trânsito; analisar os acidentes de trânsito, considerando os diferentes fatores envolvidos para sugerir formas de evitar e/ou atenuar as suas incidências; desenvolver estudos sobre o fator humano para favorecer a elaboração e aplicação de medidas de segurança; desenvolver estudos de campo e em laboratório, do comportamento individual e coletivo em diferentes situações no trânsito para sugerir medidas preventivas; estudar os efeitos psicológicos do uso de drogas e outras substâncias químicas na situação de trânsito; prestar assessoria e consultoria a órgãos públicos e privados nas questões relacionadas ao trânsito e transporte; 7 Psicólogo Professor: há, ainda, a possibilidade do psicólogo se dedicar ao magistério de ensino superior, trabalhando no sentido de contribuir com a formação dos jovens, dando-lhes mais uma possibilidade de enriquecer a leitura e compreensão que têm do mundo. Fica claro, portanto, que a Psicologia possui conhecimentos importantes para a compreensão da realidade, e por isso é utilizada, pelos psicólogos ou por outros profissionais, em vários locais e frentes de trabalho. Os psicólogos também precisam dos conhecimentos de outras áreas da ciência para construir uma visão mais sistêmica do fenômeno estudado. Na Educação, por exemplo, o psicólogo tem necessidade dos conhecimentos da Pedagogia, da Sociologia e da Filosofia. RELAÇÃO DA PSICOLOGIA COM OUTRAS CIÊNCIAS De um modo geral o foco de interesse da Psicologia é o comportamento do indivíduo. Os psicólogos estudam também o comportamento de pequenos grupos, mas à medida que o número de componentes dos grupos aumenta maior é a necessidade da Psicologia buscar subsídio em outras ciências para melhor compreender os comportamentos envolvidos. Quando os grupos são tribos ou nações, por exemplo, ciências como a Antropologia e a Sociologia ajudam a Psicologia a compreender como os fatores sociais, que são numerosos, podem afetar cada indivíduo. A Psicologia, por sua vez, dá sua contribuição às ciências sociais, pois a despeito do tamanho dos grupos (mesmo que seja uma grande nação), o comportamento é realmente emitido por indivíduos, cada um dos quais sujeitos aos mesmos processos psicológicos. Considerar o ambiente em que o indivíduo está inserido, no que diz respeito à situação sócioeconômica, contexto político e histórico e até mesmo condições geográficas, é de grande importância para a Psicologia, tendo em vista que o indivíduo não vive dissociado de seu arcabouço social. Por outro lado, existe toda uma série de fatores provenientes de cada indivíduo, que influenciam suas ações, sendo que alguns deles são investigados pela Psicologia. A bagagem genética com que cada indivíduo nasce pode ser um importante determinante das respostas do indivíduo ao ambiente em que vive. Ou seja, os aspectos fisiológicos, químicos, neurológicos e glandulares do organismo humano podem afetar o comportamento do indivíduo de maneira significativa. Daí a necessidade da Psicologia relacionar-se intimamente com diversas ciências humanas e biológicas, de forma a estudar o indivíduo de maneira sistêmica, uma vez que entende o homem como um ser biopsicossocial, que não só sofre influências de sua subjetividade (psicológico) como também de sua herança biológica e do contexto social e cultural em que está inserido. O objeto de estudo da Psicologia é o homem, objeto este que deve ser compreendido em sua amplitude, evitando-se a tentação de empregar mal a perspectiva psicológica, aplicando-a fora do contexto que lhe é peculiar, a partir de simplificações. Por exemplo, os processos biológicos são de grande importância para a compreensão do homem, no entanto, a preocupação desmedida com os mesmos pode acarretar na compreensão do ser humano apenas como um membro do reino animal, portador de algumas poucas características distintivas. Tal ponto de vista pode ser muito útil para o biólogo, mas representa uma perda da perspectiva psicológica, segundo a qual todo comportamento individual resulta de uma interação única entre forças psicológicas, biológicas e sociais. O diagrama representado na Figura 1 ilustra a reunião dessas forças e sua expressão no comportamento individual. 8 Figura 1: Relação da Psicologia com outras ciências Antropologia CIÊNCIAS HUMANAS Economia História Política Sociologia Geografia Fatores externos ou sociais INDIVÍDUO CIÊNCIAS BIOLÓGICAS BIOQUÍMICA FISIOLOGIA NEUROLOGIA NEUROFISIOLOGIA BIOLOGIA PSICÓLOGOS, PSIQUIATRAS E PSICANALISTAS Psicólogos, psiquiatras e psicanalistas pertencem a três grupos de profissões distintas. Um mesmo profissional só pode pertencer a mais de um grupo se tiver mais de uma formação (por exemplo, alguém formado em Medicina e também em Psicologia, ou um Psiquiatra que fez também a formação psicanalítica). Descreveremos abaixo algumas informações sobre as três profissões para facilitar a compreensão das características de cada uma: 9 PSIQUIATRA: Todo psiquiatra é um médico, ou seja, fez o curso de Medicina e se especializou em psiquiatria, tendo sua prática profissional fiscalizada e regulamentada pelo Conselho Federal de Medicina. De acordo com a legislação brasileira, por serem médicos, os psiquiatras podem receitar drogas para o tratamento de seus pacientes, quando estas são necessárias. Dessa forma, a psiquiatria enfoca os aspectos fisiológicos das manifestações psíquicas indesejáveis, tendo uma metodologia de tratamento essencialmente medicamentosa. PSICANALISTA: Os psicanalistas podem ter qualquer formação acadêmica, desde que sejam titulados em um curso de quatro a oito anos ministrado pela Sociedade Psicanalítica, na qual devem ser credenciados, tendo sua prática profissional vinculada a esta instituição. Apesar de poderem ter qualquer graduação, muito raramente esses profissionais têm outra que não seja Psicologia ou Psiquiatria. No entanto, diferenciam-se dos demais psicólogos e psiquiatras por basearem sua prática terapêutica em princípios exclusivamente psicanalíticos (freudianos). A Psicologia e a Psicanálise surgem no contexto em que se percebeu que as manifestações psíquicas não se devem única e exclusivamente ao aspecto biológico do ser humano. PSICÓLOGO: Os psicólogos são profissionais cuja formação universitária é realizada numa faculdade de Psicologia, na qual aprendem as mais diferentes abordagens terapêuticas. Para exercerem regularmente a sua profissão devem ser credenciados nos Conselhos Regionais de Psicologia, respondendo profissionalmente ao Conselho Federal de Psicologia. É comum o trabalho multidisciplinar, ou seja, a união de esforços entre psicólogo/psiquiatra ou psicanalista/psiquiatra, sempre visando o melhor atendimento ao paciente. Isso ocorre pois, dependendo da problemática, um único profissional não é auto-suficiente para o tratamento do indivíduo como um todo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ATKINSON, R. Introdução à Psicologia. São Paulo: Artes Médicas, 1995. BOCK, A. M. B.; FURTADO, O.; TEIXEIRA, M. L. T. Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. São Paulo: Saraiva, 1999. BRAGHIROLLI, E. M. et al. Psicologia Geral. São Paulo: Vozes, 2002. DAVIDOFF, L. L. Introdução à Psicologia. 3. ed. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 2001.