DISFUNÇÃO HORMONAL NA SEPSE Hormone Dysfunction in S

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DISFUNÇÃO HORMONAL NA SEPSE
Hormone Dysfunction in Sepsis
Graça Maria Ferreira de Souza1; Geraldo Alberto Sebben2
Trabalho apresentado para obtenção de título de Mestre Profissionalizante em
Terapia Intensiva à Sociedade Brasileira de Terapia Intensiva
1.Médica especialista em Terapia Intensiva;
2.Mestre em Clínica Cirúrgica, titular do Colégio Brasileiro de Cirurgiões,
especialista em Terapia Intensiva e professor da Pontifícia Universidade Católica
do Paraná.
RESUMO
Contexto: Sepse, reconhecida como uma resposta inflamatória sistêmica
secundária a um quadro infeccioso tornou-se um problema de saúde pública,
sendo a principal causa de óbito nas unidades de terapia intensiva. A glândula
hipofisária é o órgão pivô na homeostasia, tornando-se a junção do sistema
nervoso autônomo e os tecidos endócrinos periféricos. Significativa disfunção
neuroendócrina no eixo hipotálamo-hipofisário ocorre em adultos com doenças
graves.
Objetivos: Este estudo tem como objetivo revisar os fatores envolvidos nas
alterações da sepse, destacando principalmente o avanço no entendimento dos
processos que culminam com a disfunção do eixo hipotálamo-hipofisário.
Metodologia: Trata-se de uma investigação teórica, e de uma pesquisa descritiva
e segundo o modelo conceitual de uma pesquisa documental. Foi utilizado como
método de abordagem o método hipotético-dedutivo e como método de
procedimento empregou-se o método comparativo.
Desenvolvimento: Os fatores que mais explicam a resposta da hipófise frente à
sepse incluem os danos anatômicos, a inflamação aguda e a disfunção celular,
resultando em diminuição da síntese dos hormônios hipofisários induzida pelos
danos no hipotálamo ou na hipófise, geralmente dos hormônios glicocorticóides,
tireoidianos, do crescimento e da vasopressina. Níveis baixos de ACTH e de
vasopressina são as principais conseqüências da resposta anormal da hipófise. A
fase aguda da sepse é caracterizada pelos altos níveis de GH com perda na
atividade de pulso e baixos níveis de IGF-1. Níveis de T3 estão diminuídos e os
níveis de T3 inativos (rT3) estão aumentados, os níveis séricos de T4 diminuem em
24 a 48h, enquanto os níveis de TSH permanecem inalterados. O grau da
supressão do eixo gonadotrófico se mostra paralelamente à severidade da sepse.
A medida dos hormônios tireoidianos é um preditor de resultados quando
combinado com índices de prognósticos (APACHE II). Tratamento com hormônios
tireoidianos tem sido tentado através da reposição.
Conclusões: As taxas de mortalidade ainda permanecem altas restando muito a
ser feito para que avancem os nossos conhecimentos e o tratamento deste
problema. A manipulação da função hipofisária durante a sepsis é a maior
mudança para a próxima década.
Descritores: Sepse; Hormônios; Hipófise; Hipotálamo.
ABSTRACT
Context: Sepsis recognized as a systemic inflammatory response secondary to
an infection has become a public health problem; it is the leading cause of death in
intensive care units. The significant neuroendocrine dysfunction in the
hypothalamic-pituitary occurs in adults with serious diseases. The pituitary gland is
the pivot body homeostasis, becoming the junction of the autonomic nervous
system and peripheral endocrine tissues.
Objective: This study aims to review the factors involved in the alterations in
sepsis, particularly focusing on the advancement in understanding the processes
that lead to the dysfunction of the hypothalamic-pituitary.
Methodology: This is a theoretical investigation. It is a descriptive and conceptual
model according to a research document. The theory utilizes the hypotheticaldeductive method as a means of approach and the comparative method as a
procedural guideline.
Design: The factors that explain the response of the pituitary front of sepsis
include: the anatomical damage, acute inflammation and cellular dysfunction,
which result in decreased synthesis of pituitary hormones inducing irreversible
damage to the hypothalamus or pituitary gland, usually of glucocorticoid
hormones, thyroid, the growth and vasopressin. Low levels of ACTH and
vasopressin are the major consequences of the abnormal response of the
pituitary. The acute phase of sepsis is characterized by high levels of GH activity
with loss of pulse and low levels of IGF-1. T3 levels decrease and the levels of
inactive T3 (rT3) increase. Serum levels of T4 decrease in 24 to 48 hours, while
TSH levels remain unaltered. The degree of suppression of the gonadotropic axis
is shown in parallel with the severity of sepsis. The measurement of thyroid
hormones is a predictor of outcome when combined with prognostic indices
(APACHE II). The treatment with thyroid hormones has been tried by resetting.
Conclusions: The mortality rates remain high leaving much to be done to
advance our knowledge and treatment of this problem. The manipulation of
pituitary function during sepsis is the biggest change for the next decade.
Key words: Sepsis; Hormones; Pituitary gland; Hypothalamus.
INTRODUÇÃO
Sepse, atualmente reconhecida como uma resposta inflamatória sistêmica
secundária a um quadro infeccioso, iniciada através dos efeitos de um ou mais
componentes de um microorganismo invasor, tornou-se um problema de saúde
pública.
Apesar do avanço médico em todos os campos as taxas de mortalidade
continuam praticamente inalteradas e inaceitavelmente altas, sendo a principal
causa de morte em unidades de terapia intensiva; sendo que 10% dos leitos
dessas unidades estão ocupados por pacientes sépticos. No Brasil, cerca de 20%
dos leitos são ocupados por pacientes com sepse grave e a taxa de mortalidade é
de 60%, ao passo que a média mundial é de 40%.
Como sepse representa uma resposta inflamatória descontrolada e, se este
processo persistir, surgirá inexoravelmente disfunção de múltiplos órgãos, cabe
aos pesquisadores entender os processos fisiopatológicos, procurando atenuar os
efeitos deletérios da inflamação sistêmica o que, em última análise, pode diminuir
o número de óbitos.
O grande alvo deste processo inflamatório é o endotélio. Desta forma, os
fenômenos microcirculatórios devem ser melhores entendidos, uma vez que eles
são responsáveis, em grande parte, pela hipoperfusão tecidual observada nestes
pacientes. Hipoperfusão esta que, se persistente, levará à disfunção de múltiplos
órgãos.
Jean Louis Vincent e colaboradores(4) sugeriram que alterações na
microcirculação estão presentes em pacientes com sepse e estão presentes
naqueles pacientes com pior prognóstico.
Sabe-se que o sistema endócrino e o nervoso autônomo controlam a
homeostasia(7). O stress causado pelo quadro da sepse atuando de maneira
perturbadora nos sistemas biológicos depende da integridade da resposta
neuroendócrina. A glândula hipofisária é o órgão pivô na homeostasia, tornandose a junção do sistema nervoso autônomo e os tecidos endócrinos periféricos (7).
A repercussão da sepse é avassaladora, causando depleção de
vasopressina na neurohipófise e diferentes disfunções neuroendócrinas em
adultos e crianças.
O proposto deste estudo é revisar os fatores envolvidos nas alterações da
sepse ou do choque séptico, destacando principalmente o avanço no
entendimento dos processos que culminam com a disfunção do eixo hipotálamohipofisário.
METODOLOGIA
Sistematicamente procuramos os artigos relevantes no Medline nos sete
anos retrospectivos. Trata-se de uma pesquisa descritiva de acordo com os
objetivos, conforme ALVES(1) e conforme LAKATOS(10) e, segundo o modelo
conceitual, de uma pesquisa documental. Foi utilizado como método de
abordagem o método hipotético-dedutivo e como método de procedimento
empregou-se o método comparativo.
Resposta Anormal da Hipófise Frente à Sepse:
A resposta neuroendócrina é variada e complexa em pacientes críticos
mostrando uma significativa disfunção neuroendócrina no eixo hipotálamohipofisário nestes pacientes.
Os fatores que mais explicam a resposta da hipófise frente à sepse incluem
os danos anatômicos, a inflamação aguda e a disfunção celular, resultando em
diminuição da síntese dos hormônios hipofisários induzida pelos danos no
hipotálamo
ou
na
hipófise,
geralmente
dos
hormônios
glicocorticóides,
tireoidianos, do crescimento e da vasopressina.
Durante a sepse, a hipófise é estimulada pelas citocinas pró-inflamatórias
através da barreira hematoencefálica e também através de uma complexa
interação entre o sistema nervoso autônomo e as células imunológicas. Estes
mediadores
inflamatórios
chegam
aos
capilares
hipofisários,
na
parte
intermediária, através da artéria hipofisária anterior.
Em humanos, a sepse induz a manifestação hipotalâmica através do fator
de necrose tumoral e da interleucina-1β sem os núcleos parvocelulares e
supraóticos. Alternadamente, os neurônios das parvocélulas e dos núcleos
arqueados deverão ser projetados para a parte intermediária e os receptores
lipossacarídeos na sua superfície devem ser estimulados.
As citocinas, via ativação do ácido µ aminobutírico induzem a liberação
plasmática do ACTH, FSH, GH e da prolactina, mas inibem a liberação dos
hormônios luteinizantes e do TSH. Agem, também, diretamente na hipófise
anterior, particularmente na síntese e na liberação do ACTH.
Níveis baixos de ACTH e de vasopressina são as principais consequências
da resposta anormal da hipófise. Isto se deve ao fato de contribuírem para o
choque e a progressão da inflamação, levando à falência múltipla dos órgãos e
óbito.
O óxido nítrico (NO) é a chave para mediar a ativação do eixo hipotálamohipofisário e seu excesso é o principal fator para a resposta hipofisária anormal.
A hipófise, por não ser protegida pela barreira hematoencefálica, fica
exposta a toxicidade dos mediadores pró-inflamatórios circulantes. A exposição
aos lipossacarideos induz a manifestação das citocinas pro-inflamatórias pelas
células hipofisárias. Estas citocinas, IL-1 e o fator de necrose tumoral estão
associados com uma exagerada síntese de NO através do aumento da atividade
do iNO. O excesso de NO dispara o desequilíbrio hormonal, diminuindo a síntese
dos hormônios hipofisários
A regulação da ação do NO é mediada pela combinação da ativação da
granulociclase, ciclooxigenase e da lipooxigenase.
A necrose e a hemorragia hipofisária são uma complicação bem conhecida
do colapso cardiovascular, também relatados em casos de sepse, sendo
correlacionada com a duração da hipotensão ou da severidade dos distúrbios de
coagulação.
Hormônios adenocorticotróficos: as glândulas adrenais produzem três
hormônios esteróides utilizando o colesterol como substrato: glucocorticóide
(cortisol), minerolocorticóide (aldosterona) e androgênios (diidroepiandosterona).
A atividade estimulante do ACTH é regulada pelo CRH e em menor grau pela
arginina. Ambos agem sinergeticamente.
A sepse está associada com um aumento imediato da amplitude do pulso
dos hormônios hipotalâmicos, principalmente do CRH e da vasopressina,
resultando na perda do ritmo cardíaco.
A resposta anormal na sepse é caracterizada pelos níveis altos de ACTH e
cortisol circulante, o qual permanece no patamar até a recuperação do quadro
séptico.
Infelizmente, as conseqüências clínicas da insuficiência de glicocorticóides
e mineralocorticoides não são bem compreendidas no contexto da sepse
resultando na vasopressina como o principal indicador da insuficiência da adrenal.
Vasopressina: vasopressina é o ácido 9-aminopeptídico sintetizado a partir
de um precursor contendo neurofisio II, produzida pelos neurônios do núcleo
supraóptico e periventricular, na hipófise posterior.
Regula a osmolaridade plasmática e a volemia via receptores da
vasopressina 2 a nível do rim, e do tônus da musculatura vascular a nível dos
receptores 1a arterial.
A resposta inicial da sepsis é uma tremenda liberação de vasopressina na
circulação sistêmica através das vesículas hipofisárias posteriores.
Hormônio do crescimento: a síntese do GH diminui com a idade e é inibida
pela somatostatina e estimulada pelo hormônio de liberação do GH. O TRH, a
dopamina e a hipoglicemia também modulam a síntese do GH.
A fase aguda da sepse é caracterizada pelos altos níveis de GH com perda
na atividade de pulso e baixos níveis de IGF-1.
O último estágio da sepse é caracterizado pela redução da fração de pulso
do GH com alta freqüência e elevação da fração não pulsátil. Entretanto, contrário
à fase aguda da sepse, a liberação reduzida da IGF-1 tem origem hipotalâmica.
Hormônio Estimulante da Tireóide: a síntese do hormônio estimulante da
tireóide (TSH) é relativamente estável e controlada pelos hormônios tireoidianos,
pelos neuropeptídios e pelos neurotransmissores.
TRH é o principal fator estimulante da síntese do TSH e seus efeitos são
aprimorados pelas catecolaminas. Somatostatina e dopamina também são os
principais inibidores do TSH. Hormônios tireoidianos periféricos, como tireoxina,
T3 e T4 são os hormônios biologicamente ativos.
Na fase inicial da sepse, os níveis de T 3 estão diminuídos e os níveis de T3
inativos (rT3) estão aumentados. Os níveis séricos de T 4 diminuem em 24 a 48h,
enquanto os níveis de TSH permanecem inalterados, exceto pela perda do ritmo
circadiano. Os mecanismos para que isto ocorra são: diminuição da conversão do
T4 e T3 nos tecidos extra-tireoidianos através da enzima 5’monodeiodase
hepática; prevenção da fixação do T 4 em proteínas através da inibição das
proteínas de transporte; disfunção do feedback negativo no eixo hipotálamohipofisário; inibição da atividade do centro tireotrófico e/ou inibição da
manifestação dos receptores nucleares dos hormônios tireoidianos pelas citocinas
e inibição direta do TSH pela dopamina.
A última fase da sepse está associada com a indução central do
hipotireoidismo pela restauração do pulso de T 3 e T4 através da infusão exógena
do TRH.
Hormônios Folículo Estimulante e Hormônio Luteinizante: o hormônio de
liberação da gonadotrofina hipotalâmica é o principal fator de estimulação do FSH
e do hormônio luteinizante.
O grau da supressão do eixo gonadotrófico se mostra paralelamente à
severidade da sepse.
Em resposta à sepse temos um aumento do ACTH plasmático e da
prolactina logo após o insulto inicial, e uma rápida inibição do hormônio
luteinizante e do TSH. Ocorre, também, estimulação da secreção do hormônio do
crescimento, mas não da secreção do FSH.
Sepse e Hormônio Estimulante da Tireóide:
Alterações pronunciadas no eixo tireóide-hipófise-hipotálamo ocorrem sem
que ocorra nenhuma evidência de doença tireoideana prévia durante o processo
da sepse.
A produção local de citocinas exerce um importante feedback negativo na
regulação da liberação do TRH pela tireotrofina na hipófise. Citocinas próinflamatórias produzidas perifericamente por pacientes com sepse, trauma e
doenças autoimunes devem agir diretamente na tirotrofina hipofisária para
aumentar a liberação do TSH. A IL-6 apresenta particularmente potente
supressão do TSH no plasma.
Síndrome de Doenças Não-Tireoidianas (NTIS) é comumente usada para
descrever as mudanças típicas na concentração da liberação de hormônios
tireoidianos em doenças agudas ou graves que não causam uma anormalidade
intrínseca da função tireoidiana.
Essas mudanças incluem modificações no eixo hipotálamo-hipofisário,
alteração
nos hormônios
tireoidianos circulantes aderidos
às proteínas,
modificação na captação tecidual, e metabolismo dos hormônios tireoidianos e
nos receptores tireoidianos.
Durante a sepse e o trauma existe um aumento da desiodase tipo II (D 2),
na célula glial, responsável pelo processo ascendente hipotalâmico, a qual
termina o comando do aumento do T3 para T4.
Em pacientes graves, a diminuição de T 4 e de T3 está inversamente
relacionada com a freqüência de óbitos. Estas variáveis nos níveis séricos dos
hormônios tireoidianos também resultam nas mudanças das concentrações
teciduais livres e na diminuição da bioatividade do hormônio tireoidiano.
Existe a controvérsia se a redução do T 3 sérico é uma adaptação benéfica
resultando em uma proteção contra o catabolismo ou se a má-adaptação contribui
para a piora da adaptação. É incerto se os hormônios tireoidianos estão
diminuídos e metabolizados nos tecidos quando os pacientes são tratados com T 4
e/ou T3.
Enquanto a glândula tireóide estabelece somente a origem do T 4 para os
tecidos periféricos, a fina regulação dos hormônios tireoidianos no meio tecidual
extrapiramidal é possível pela expressão tecidual diferenciada da iodotironina
desiodase. Estas enzimas são responsáveis pela metabolização do T 4 para forma
biologicamente ativa do T3 ou bio-inativa (rT3) e T2. É claro que a expressão
destas desiodases é modificada por doenças graves e cada modificação pode ter
uma manifestação altamente orgânica específica resultando em modificações
teciduais específicas para status tireoidiano.
Concentrações de iodotironina no fígado estão substancialmente altas
quando comparadas com o músculo esquelético. A relação entre a concentração
dos hormônios tireoidianos séricos e tissular está enfraquecida para T 4 hepático
comparada com iodotironina no fígado e músculo esquelético.
A diminuição nos níveis séricos de T3 e o aumento nos níveis de rT3
podem, particularmente, serem explicados pela ativação reduzida do T 4 pelo tipo I
desiodase (D1) ou tipo II desiodase (D2), mas também por um aumento na
inativação do tipo III desiodase (D3).
Em pacientes críticos a manifestação do D3 ocorre nos músculos estriados
e no fígado, tecidos os quais geralmente não expressam a desiodase no adulto. A
manifestação de D3 está relacionada positivamente com rT3 sérico e
negativamente com o T3 sérico. Se D3 manifestar-se no fígado e no tecido celular
haverá uma importante contribuição para a diminuição do T 3 em NTIS crônico em
humanos.
O T3 tem um importante feedback de ação inibitória na produção do TRH,
mas os neurônios do TRH carecem a habilidade de produzir T3 do T4.
O T3 plasmático está diminuído e rT3 plasmático está aumentado durante
doenças gravemente críticas, sendo que a magnitude destas variações está
relacionada com a severidade da doença.
O declínio no T3 e no T4 sérico em modelos de doenças agudas precede a
falência no D1 hepático, sugerindo que muito da falência inicial destes hormônios
deve ser atribuída à resposta da fase aguda, causando a redução dos hormônios
tireoidianos ligados na capacidade plasmática.
Processos infecciosos induzem ao mesmo tempo uma liberação de
procalcitonina (PTC) dos tecidos parenquimatosos, sendo considerados como
indicador de prognóstico da sepse e demonstrado que níveis de PTC plasmáticos
podem provir informações na avaliação da resposta ao tratamento.
A vantagem de ter as medidas do PTC como marcadores de infecção é
que são relativamente específicos para infecções bacterianas e fúngicas e
minimamente influenciados por trauma cirúrgico.
DISCUSSÃO
Foram feitos grandes avanços em termos de compreender os eventos
extras e intracelulares que contribuem para a disfunção de sistemas de órgãos.
Progresso na conduta também tem sido observado em vários estudos
demonstrando uma redução das taxas de mortalidade em decorrência de melhora
na conduta de suporte e farmacológica para pacientes em estado crítico.
A glândula hipofisária é o órgão pivô na resposta da sepse. Ativada pelas
citocinas pró-inflamatórias via hematoencefálica e através de uma complexa
interação entre o sistema nervoso autônomo e as células imunes.
A resposta à sepse, pela secreção dos hormônios tireoidianos, tem um
modelo padrão com ACTH plasmático e prolactina aumentando em poucos
minutos após o insulto, rápida inibição do hormônio luteinizante e do TSH, porém
não da secreção do FSH e estimulação do hormônio do crescimento.
O óxido nítrico é a chave mediadora na ativação do eixo hipotálamohipofisário, sendo o seu excesso o principal fator para a resposta hipofisária.
Baixos níveis de ACTH e de vasopressina, decorrentes da resposta
anormal da hipófise, são os principais responsáveis pela deterioração que
ocorrem em pacientes com quadro de sepse. Isto se deve ao fato de contribuírem
para o choque e a progressão da inflamação levando à falência de múltiplos
órgãos e conseqüentemente a morte.
Este estudo mostra a variada e complexa resposta neuroendócrina que
ocorre em pacientes críticos.
Quando o paciente se recupera das doenças graves, anormalidades na
concentração sérica do TSH e dos hormônios tireoidianos eventualmente se
revolvem.
Nos estudos prospectivos de Hamblin e colaboradores(8) em 1986,
evidenciou-se que pacientes críticos com queimaduras, sepse e falência renal
aguda mostraram que o aumento do TSH durante a recuperação precede a
elevação de T3 e T4 sugerindo que a elevação do TSH é essencial para que os
pacientes retornem a hemostasia hormonal durante a recuperação.
No nível da glândula hipofisária evidencia-se a diminuição dos níveis de T3
e T4 plasmáticos com o aumento do nível de rT3. Os níveis de T3, T4 e rT3
plasmáticos tem uma forte correlação positiva com a concentração destes
hormônios a nível hepático. Similarmente, as concentrações do iodotironina no
músculo esquelético têm correlação positiva com as concentrações de
iodotironina sérica.
Outro dado observado nos estudos de Peeters e colaboradores(15) em 2005
é que a diminuição dos níveis de T3 e T4 sérico durante doenças críticas também
resultam em diminuição do T4 e T3 no fígado e músculo esquelético.
A diminuição da expressão do D1 hepático durante os quadros de sepse
suporta que o D1 é um marcador sensitivo do estado dos hormônios tireoidianos
tecidual.
Pode-se concluir que níveis séricos de T 3 em pacientes que receberam
terapia substitutiva de hormônios tireoidianos eram acompanhados de altos níveis
de T3 no fígado e no músculo esquelético.
Chega-se a conclusão, ainda baseado nos estudos de Peeters (15), 2005,
que os níveis séricos da iodotironina estão positivamente correlacionados com os
níveis de iodotironina hepática e muscular, indicando que a diminuição do T 3 e T4
durante a sepse também resulta na diminuição dos níveis teciduais de T3 e T4.
De acordo com Ray e colaboradores(16) nas Unidades de Terapia Intensiva
a prevalência de disfunção tireoidiana é extremamente alta com mais de 70% dos
pacientes mostrando T3 total baixo e cerca de 50% tem T4 total baixo.
Observa-se que pacientes críticos com hipotireoidismo têm uma conhecida
causa de falência ventilatória dependente de ventilador.
Controversas cercam a necessidade de terapia de reposição dos
hormônios tireoidianos na NTIS. Estudos clínicos demandam o uso de T3 e T4,
porém alguns argumentam que estas variações representam uma adaptação
fisiológica, devendo ficar atento ao restaurar os níveis dos hormônios tireoidianos
para evitarmos efeitos adversos no resultado final.
Observamos
que
em
Unidades
de
Terapia
Intensiva,
pacientes
hipertireoidianos tem paradoxalmente baixos níveis de hormônios tireoidianos
antes de se recuperarem das doenças críticas e paciente com hipotireoidismo
primário é insuficiente para aumentar o TSH.
Entretanto testes da função tireoidiana em todos os pacientes admitidos
nas Unidades de Terapia Intensiva são impraticáveis na nossa realidade. O uso
de T3, T4 e TSH sérico como um método de screening é insuficiente para definir a
natureza das várias anormalidades que ocorrem na função tireoidiana.
O controle da infecção tornou-se mais sofisticado depois que melhoraram
as técnicas de imagem e de cultura, possibilitando uma determinação mais
precisa do local da infecção, melhorando o tratamento precoce.
O benefício do tratamento durante o processo inflamatório sistêmico na
sepse é caracterizado pela rápida e substancial redução dos mediadores proinflamatórios circulantes, da adesão molecular, da ativação celular e da migração
dos fatores de inibição.
Também é claro que a administração exógena de catecolamina ou
vasopressina pode restaurar a estabilidade hemodinâmica na sepse, conforme
relatado por Maxime e colaboradores(12), nos seus estudos datados de 2007.
Ao contrário, a combinação de baixas doses de glicocorticóides e de
minerolocorticóides melhoram a sobrevida em pacientes com choque séptico que
demonstraram falência no eixo hipotálamo-hipofisário-adrenal.
A mais nova aproximação para a reposição em pacientes críticos tem sido
sugerido por Van den Berghe e colaboradores(23), em 1998. Eles usam uma
infusão contínua de TRH junto com o hormônio do crescimento secretado,
restaurando a concentração do TSH e hormônios tireoidianos melhorando os
parâmetros catabólicos.
CONCLUSÕES
A medida dos hormônios tireoidianos é um preditor de resultados em
pacientes admitidos na Unidade de Terapia Intensiva quando combinado com
índices de prognósticos (APACHE II).
Observaram-se, nos estudos pesquisados, que a mortalidade nas
Unidades de Terapia Intensiva está significativamente mais alta em pacientes
com níveis séricos baixos de T3 quando comparados com aqueles pacientes que
apresentam níveis normais do hormônio.
Hormônios tireoidianos têm efeitos significativos na função cardíaca.
Sugere-se que T3 deve ser benéfico para a estabilização e melhora da função
cardíaca em doador no transplante cardíaco. Recomenda-se que o T3 seja incluso
nos painéis dos hormônios que são o propósito da ressuscitação cardíaca,
quando a fração de ejeção é menor do que 45%.
Tratamento com hormônios tireoidianos tem sido tentado na sepse, através
da reposição hormonal, melhorando o status hemodinâmico, porém, tratamento
de pacientes críticos com hormônio do crescimento está associado com o
aumento da mortalidade. Sugere-se que a ativação combinada do GH e eixo
tireoidiano com o tratamento com peptídeo de liberação do GH, TRH e hormônio
de liberação da gonadotrofina elucidam os benefícios metabólicos em pacientes
críticos.
Em resumo podemos concluir que durante o processo da sepse, o eixo
hipotálamo-hipofisário sofre uma resposta anormal com o aumento plasmático
dos hormônios adrenocorticotrópico, da prolactina, do FSH e do GH, bem como a
diminuição do hormônio luteinizante e do TSH.
As taxas de mortalidade ainda permanecem inaceitavelmente altas e fica
evidente que ainda resta muito a ser feito para que avancem os nossos
conhecimentos e o tratamento deste problema médico importante. A manipulação
da função hipofisária durante a sepsis é a maior mudança para a próxima década.
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