Gestão e Qualidade de Projetos Estruturais

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PECE – Escola Politécnica da USP
Curso de Especialização em Gestão de Projetos de Sistemas
Estruturais
ES-23 – Gestão e Qualidade de Projetos Estruturais
Prof. Dr. José Antonio Lerosa de Siqueira, PEF – EPUSP
Textos referentes à aula 06, realizada em 26 de novembro de 2001. Uma parte foi
extraída e adaptada do livro Modelos de Qualidade de Software, de M. L. Côrtes e T. C.
dos Santos Chiossi.
A dimensão gerencial e o modelo PSP adaptado ao projeto
estrutural
Como foi apresentado na discussão do modelo de maturidade (CMM), existem duas
dimensões ao longo das quais o processo de projeto se desenvolve:
Dimensão técnica e artística – o produto do trabalho (o projeto) é gradualmente
elaborado por processos técnicos e artísticos. Idealmente, os processos técnicos seguem
procedimentos técnicos e os processos artísticos estão corretamente identificados.
Dimensão gerencial – os recursos (principalmente humanos) empregados na elaboração
do projeto são planejados, medidos e controlados por processos gerenciais. Os
procedimentos técnicos existem e são homogêneos. Os processos artísticos têm as
entradas e saídas perfeitamente definidas, pelo menos quanto a expectativas.
Para as atividades para as quais já existem procedimentos padronizados, é possível
efetuar o controle do processo, que consiste em acompanhar a realização do processo
quanto a recursos consumidos, incluindo o tempo, e produtos gerados.
Entretanto, estas atividades gerenciais correspondem a uma parte muito pequena do
trabalho de gestão como um todo. Todas as KPAs (Key Process Areas) definidas para o
modelo CMM precisam ser reconhecidas. Elas estão apresentadas a seguir.
No nível preparatório (1 ½):
PPE – planejamento do projeto estrutural
No nível repetível (2):
GR – gestão dos requisitos de projeto
GS – gestão de subcontratos
GFP – gestão de ferramentas de projeto
ASP – acompanhamento e supervisão do projeto
GQP – garantia de qualidade do projeto
No nivel definido (3):
Procedimentos para revisão de projeto
Procedimentos para coordenação intergrupos (outros parceiros)
Procedimentos de registro de concepção e dimensionamento
Procedimentos de detalhamento
Procedimentos de disseminação de ferramentas e treinamento
Procedimentos de adaptação dos procedimentos existentes a casos específicos
No nivel gerenciado (4):
Gestão da qualidade do projeto
Processo de quantificação e mensuração dos processos
No nivel em otimização (5):
Gestão de mudanças de processos
Gestão de mudanças tecnológicas
Prevenção de defeitos
Uma vez tendo sido aceitas as KPAs indicadas como as que representam os
subdomínios de capacitação dentro do ambiente de produção de projetos estruturais, em
continuação será necessário elaborar o detalhamento das práticas-base correspondentes
a cada uma delas.
As práticas-base são agrupadas por afinidades:
 atos de comprometimento da direção: determinam que responsabilidades e
obrigações sejam definidas
 efetiva disponibilização de recursos humanos e materiais para que uma capacitação
possa ser atingida
 modo como as atividades devem ser exercidas
 modo como as atividades devem ser medidas
 modo como as atividades devem ser verificadas.
Para aplicação de modelos de gestão em pequenas equipes de desenvolvimento ou, mais
ainda, a nível individual, Watts Humphrey desenvolveu o PSP, o Personal Software
Process.
O objetivo do PSP, como formulado por Humphrey, é ajudar as pessoas a serem
melhores engenheiros. Na realidade, os conceitos básicos do PSP podem ser usados
como ferramenta de uso geral para gerenciar as atividades pessoais, sejam elas
particulares ou profissionais. Visa estabelecer um mecanismo para melhorar, no nível
pessoal, a capacidade de planejamento, acompanhamento e qualidade dos resultados. O
primeiro benefício a ser esperado é a melhoria da produtividade, por intermédio de
conhecimentos e controles dos mecanismos e tempos de produção. O segundo é a
melhoria do perfil da qualidade dos produtos como resultado do conhecimento das
causas dos erros e do seu controle estatístico.
A proposta do PSP é que ele se integre às práticas organizacionais do CMM. Por
exemplo, permitindo que os calculistas, a base da estrutura da organização, que em
última análise são os que executam a atividade-fim, tenham melhor desempenho
pessoal. Para isso, os processos usados no nível pessoal também têm que ser
conhecidos, controlados e melhorados. Na realidade, o PSP pode ser usado por pessoas
em empresas que estão no nível 1. Uma série de benefícios mútuos não aparecerá mas o
profissional poderá perceber melhorias no nível pessoal.
Uma questão central em uma empresa é fazer com que compromissos assumidos pela
alta gerência da organização, muitas vezes na forma de contratos com clientes, sejam
transformados em compromissos pessoais dos calculistas. Via de regra cronogramas e
planos corporativos não são vistos pelos calculistas como compromisso pessoal. As
pessoas só assumem compromissos pessoais voluntariamente. Obrigações impostas de
cima para baixo podem ser até aceitas, porém como obrigações e não como
compromissos. O PSP auxilia nesse processo desde que a visão dos calculistas — como
será a sua contribuição no desenvolvimento como um todo — seja levada em conta. Ou
seja, desde que haja sua participação no processo de planejamento. Como as pessoas
passam a conhecer melhor as suas capacidades e seu desempenho, o planejamento
pessoal pode ser gradativamente integrado ao planejamento da empresa.
A abordagem usada na construção do PSP foi:
 Identificar os métodos e práticas usados em grandes projetos que podem ser
utilizados por indivíduos.
 Definir um subconjunto desses métodos e práticas que podem ser usados no
desenvolvimento de pequenos projetos.
 Estruturar e escalonar esses métodos e práticas de modo a possibilitar a sua
introdução gradual e disciplinada.
 Desenvolver exercícios para facilitar a introdução das práticas.
O PSP foi construído a partir do CMM e, dentro desse espírito, as seguintes KPAs
foram deixadas de lado:
Gestão de subcontratação e coordenação entre grupos: essas KPAs não podem ser
praticadas no nível individual.
Gestão de requisitos e gestão de configuração: essas KPAs poderiam ser aplicadas no
nível individual mas, apesar de importantes, devem ser consideradas apenas após a
implantação dos passos iniciais do PSP.
Garantia de qualidade e programa de treinamento: essas referem-se mais aos aspectos
organizacionais. A primeira, de como a organização verifica o atendimento aos
procedimentos estabelecidos e a segunda, de como a organização planeja e executa a
evolução da capacitação do seu pessoal.
O PSP é organizado em quatro níveis, de zero a três.
PSP0: processo referencial (baseline process)
O primeiro passo no PSP é o estabelecimento de práticas de medida e alguns formatos
de relatórios que constituirão um referencial (baseline) ou fundação sobre a qual será
implantada a melhoria contínua pessoal. Nesse nível inicial os métodos e práticas
pessoais não serão afetados, apenas serão medidos.
O PSP0.1 acrescenta sobre o PSP0 padrões de memória de cálculo, práticas de medida
de tamanho de produto de trabalho e PIP – Process Improvement Proposal (proposta de
melhoria de processo). O PIP é uma forma estruturada de registrar problemas nos
processos, experiências e propostas de melhoria.
PSP1: processo de planejamento pessoal
O PSP1 acrescenta práticas de planejamento ao PSP0. Inicialmente são introduzidos
apenas um relatório de validação e práticas de estimativa de tamanho e recursos. Em
seguida, no PSP1.1, o planejamento de tarefas e a elaboração de cronogramas são
introduzidos.
O planejamento no nível pessoal possibilita:




Compreender melhor a relação entre o tamanho das tarefas e o tempo gasto no seu
desenvolvimento;
Assumir compromissos com mais certeza de que serão cumpridos;
Organizar o trabalho;
Melhor acompanhamento do status do projeto.
Esses objetivos são importantes não só para projetos de grandes dimensões, mas
também para indivíduos que trabalham sozinhos no cálculo e detalhamento de projetos
estruturais. Se a produtividade do indivíduo é bem conhecida, ele pode planejar melhor
o seu trabalho, assumir compromissos com mais segurança e cumpri-los com maior
regularidade.
PSP2: processo de gestão pessoal da qualidade
Um dos objetivos do PSP é ajudar as pessoas a aprender desde cedo como tratar de
maneira realista e objetiva os defeitos no projeto que resultam dos seus erros. Mesmo
que todos saibam que não são infalíveis e que cometem erros, normalmente as pessoas
não se sentem à vontade com isso e não tratam os problemas de maneira objetiva. A
maior parte dos problemas provém de erros de entrada de dados, distrações ou mesmo
erros quase que idiotas, e isto faz as pessoas se sentirem piores ainda. Para melhorar a
situação não basta esforçar-se mais. É preciso enfrentar os problemas de maneira
sistemática.
Para poder gerenciar seus erros, um indivíduo deve conhecer os seus números. O PSP2
introduz as técnicas de inspeção e revisão para auxiliar na detecção de defeitos ainda
cedo, quando é mais barato detectá-los e corrigi-los. Isto é feito a partir da coleta e
análise de dados de defeitos encontrados em memórias de cálculo anteriores. É possível,
então, fazer listas de verificação mais ajustadas ao perfil de defeitos do calculista e fazer
avaliações da evolução do seu nível de qualidade.
O PSP2.1 trata do processo de design e, sem definir como fazê-lo, auxilia no
estabelecimento de critérios de completitude e de técnicas de verificação e consistência.
Critérios de completitude podem ser usados em qualquer fase, em requisitos, por
exemplo. São especialmente importantes para verificar se as condições para iniciar a
próxima fase de desenvolvimento estão satisfeitas.
PSP3: processo pessoal cíclico
Nos níveis de zero a dois, o PSP concentrou-se em um processo simples e linear para
elaborar pequenos projetos estruturais. Infelizmente essa abordagem não pode ser usada
facilmente para projetos de maior fôlego.
Neste ponto, somente o PSP2 não basta. Deve ser usado o princípio de abstração
contido em PSP3. A estratégia é subdividir o projeto em módulos que possam ser
tratados convenientemente com o ferramental apresentado nos níveis inferiores. A idéia
é desenvolver iterativamente o projeto de forma incremental, de módulo em módulo.
Em cada iteração, existe um ciclo completo de design, como no PSP2. Essa abordagem
pode ser aplicada para grandes estruturas com muitos detalhes.
Para essa abordagem incremental, é fundamental que cada iteração tenha sua qualidade
controlada. Assim, em cada iteração, concentra-se na verificação da qualidade daquela
iteração e assume-se que as anteriores já estão garantidas ou, pelo menos, verificadas.
Se uma iteração anterior tem baixa qualidade, os benefícios do desenvolvimento
incremental serão perdidos. Essa é uma das razões para a ênfase em revisões e
inspeções de design dos níveis inferiores de PSP.
A utilização do PSP
Existem evidências crescentes de que o PSP traz benefícios concretos, baseadas nas
seguintes observações:




os projetistas entenderão melhor o que fazem se definirem, medirem e
acompanharem o seu trabalho;
usarão uma estrutura de processos definida e critérios mensuráveis para avaliar e
aprender da sua própria experiência e da de outros;
com esse conhecimento e experiência, podem selecionar métodos e técnicas que
melhor se ajustam aos tipos de tarefas que executam e às suas habilidades;
ao utilizarem práticas bem definidas e níveis elevados da qualidade no seu trabalho,
tornar-se-ão membros mais produtivos e eficazes nas equipes de projeto.
Esses fundamentos são baseados em cinco princípios que influenciam a produtividade e
a qualidade do processo de projeto, a saber:
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um processo bem definido e estruturado pode melhorar a eficiência no trabalho;
o processo pessoal deve ser ajustado ao conhecimento e preferências de cada
indivíduo;
para que um calculista se sinta à vontade com um processo, deve participar na sua
definição;
na medida em que o conhecimento e habilidade de um profissional evoluem, o
mesmo deve acontecer com o processo utilizado;
a melhoria contínua fica facilitada com um processo de realimentação permanente.
Há um certo grau de consenso sobre o efeito positivo da definição de processo sobre a
produtividade de uma atividade quando ela é repetitiva e mecânica. Entretanto, há muita
divergência sobre o seu efeito quando a atividade tem algum conteúdo de criatividade,
como é o caso do desenvolvimento de projetos estruturais, em especial com relação à
concepção estrutural.
Exercício
Identificar para cada um dos tópicos a seguir a KPA onde é mais recomendável sua
inclusão. Propor suas práticas-base essenciais.
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dados referenciais, atas, telefonemas
análise da pré-forma
verificação da pré-forma
hipóteses de cálculo
modelos
verificação de croquis de engenharia
administração de interferências
manutenção de compatibilidade
Especificação: contato com intervenientes
concepção da solução
garantia de qualidade da decisão quanto à concepção
Projeto: processo de produção, pré-forma
Controle de interferências (interdisciplinar)
cálculo
detalhamento
desenho
Implementação: acompanhamento da execução
assessoria técnica à obra
feedback - satisfação do cliente
verificação de memória de cálculo
verificação de desenho
entrega de documentos
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