Capitulo 3 Sinapse Curso de Ciências Biológicas 2007 Disciplina de Fisiologia Comparada Ciclo de Neurofisiologia Cap 3 Departamento de Fisiologia, IB Unesp-Botucatu Profa. Silvia M. Nishida 37 Todos os animais possuem células nervosas (com a exceção dos poriferos) o que possibilita reações rápidas aos estímulos do meio ambiente. O sistema nervoso é um tecido composto de neurônios e gliócitos. Os neurônios surgiram pela primeira vez com os cnidários nos quais podemos reconhecer os três tipos funcionais de neurônios: sensorial, associativo e um neurônio motor. Os neurônios funcionalmente relacionados estabelecem conexões entre formando circuitos ou rede neurais. Esses circuitos são de diferentes tipos e exercem funções variadas: recebem informações sensoriais e as integram ou então geram padrões espontâneos de atividade, funcionando como marcapasso, ou associa informações e motoras e controla as células efetuadoras, ou reverbera um determinado sinal, etc. A conexão funcional entre neurônios é denominada sinapse nervosa e entre neurônios e as células musculares, de junção neuromuscular. Quanto maior o número de neurônios em um circuito neural, maior será a capacidade de processamento da informação. A tendência evolutiva, tanto de invertebrados como de vertebrados foi a de aumento do sistema nervoso, ou seja, da quantidade de neurônios. Curso de Ciências Biológicas 2007 Disciplina de Fisiologia Comparada Ciclo de Neurofisiologia Cap 3 Departamento de Fisiologia, IB Unesp-Botucatu Profa. Silvia M. Nishida 38 As sinapses nervosas podem ser químicas ou elétricas Sinapse química. Os neurônios comunicam-se uns com os outros neurônios ou com as células efetuadoras (células musculares ou glandulares) por meio de mediadores químicos denominados neurotransmissores (NT). Os NT são sintetizados pelos próprios neurônios e armazenados dentro de vesículas. Essas vesículas concentram-se no terminal axônico. Quando os impulsos nervosos chegam aos terminais os NT são liberados por meio de exocitose. A membrana do terminal que libera os NT denomina-se membrana pré-sináptica e a imediatamente vizinha, membrana pós-sinaptica. Entre elas há um espaço em torno de 100-500A chamado fenda sináptica. A interação dos NT com a membrana pós-sinaptica é realizada por meio de receptores protéicos altamente específicos. Ao interagir com esses receptores, os NTs causam alterações no potencial elétrico pós-sinaptico. Além de NT, os neurônios sintetizam outros mediadores (neuromoduladores) cujo efeito é o modular (controlar, regular) a transmissão sináptica. Sinapse elétrica. Comunicação nervosa que dispensa mediadores químicos; a neurotranmissão é estabelecida através da passagem direta de íons por meio das junções abertas ou comunicantes (gap junctions) onde os canais iônicos ficam acoplados. A transmissão da informação é muito rápida, mas Sinapse elétrica Sinapse elétrica não oferece versatilidade quanto à possibilidade de modulação da neurotransmissão. São particularmente úteis nas vias reflexas rápidas e nas respostas sincrônicas de alguns neurônios do SNC. Durante a fase de desenvolvimento ontogenético do SN humano os neurônios possuem ambos os tipos de sinapses, mas depois predominam as neurotransmissões químicas. As conexões sinapticas mais comuns são do tipo: axo-somática ou axo-dendrítica. Há, porém, mais raramente, a ocorrência de sinapses axo-axônicas, dendro-dendríticas, somatosomáticas, somato-dendríticas e somato-axônicas. Curso de Ciências Biológicas 2007 Disciplina de Fisiologia Comparada Ciclo de Neurofisiologia Cap 3 Departamento de Fisiologia, IB Unesp-Botucatu Profa. Silvia M. Nishida 39 MECANISMO DA NEUROTRANSMISSÃO QUÍMICA Liberação dos NT Acompanhe as etapas da neurotransmissão através da figura. Com a chegada do PA no terminal (1), os canais de Ca++ voltagem dependentes abrem-se e ocorre a difusão de Ca++ para o interior do terminal (2). O aumento de Ca++ intracelular estimula a exocitose dos NT para a fenda sináptica (3, 4). Os NT ligamse a receptores da membrana pós-sinaptica (5) e causam mudanças de permeabilidade iônica. O fluxo resultante de íons muda, transitoriamente, o potencial de membrana póssinaptico. Depois os NT são inativados por enzimas específicas (6) ou recaptados pela membrana pré-sinaptica e reciclados. Os NT causam alterações no potencial de membrana Os NT que são liberados para a fenda difundem-se até a membrana pós-sináptica e ligam-se, reversivelmente, às moléculas receptoras. Essas moléculas são de natureza protéica e se ligam, especificamente, ao seu mediador químico promovendo eventos elétricos. Conforme o tipo de NT, a interação causa uma mudança na condutância iônica da membrana pós-sináptica e um fluxo resultante de íons que pode levar à uma despolarização (entrada de cátions) ou hiperpolarizaçâo (saída de cátions ou entrada de anions). Essas respostas elétricas da membrana pós-sináptica são chamadas de potenciais pós-sinápticos e propagam-se passivamente a distâncias bem curtas. O intervalo de tempo que corresponde à liberação do NT até o inicio do potencial sináptico (em torno de 0,5ms) chama-se retardo sináptico. Esse retardo pode variar conforme o tipo de receptor sináptico ativado. A freqüência dos impulsos nervosos determina a quantidade de NT liberados Curso de Ciências Biológicas 2007 Disciplina de Fisiologia Comparada Ciclo de Neurofisiologia Cap 3 Departamento de Fisiologia, IB Unesp-Botucatu Profa. Silvia M. Nishida 40 Em cada vesícula sináptica há centenas de moléculas de NT. Quando o impulso de um único PA chegar ao terminal, uma determinada quantidade de vesículas será esvaziada. Se a freqüência dos PA (número de eventos na unidade de tempo) aumentar, mais vesículas serão liberadas proporcionalmente, pois o aumento da atividade nervosa no terminal manterá os canais de Ca++ abertos por mais tempo. Por outro lado, se a freqüência dos PA se mantiver alta por muito tempo, poderá ocorrer falta de vesículas e a neurotransmissâo poderá falhar até que o estoque de NT seja reposto. A neurotranmissão química é quântica A unidade elementar da neurotransmissão química é o efeito causado pelos NT contidos em uma única vesícula. Como cada vesícula contém a mesma quantidade de NT, a resposta póssinaptica é quântica, ou seja, a amplitude do potencial pós-sinaptico será sempre o múltiplo da resposta causada por uma única vesícula. Como desativar a neurotransmissão? Os NT (ou os neuromoduladores) exocitados não podem permanecer ligados aos receptores permanentemente. O sistema de recepção precisa voltar rapidamente ao seu estado de repouso, prontificando-se para receber novas mensagens. Há três maneiras de inativar os mediadores químicos: a) difusão lateral; b) degradação enzimática e c) recaptação pela membrana pré-sináptica via proteínas especificas de transporte (com consumo de ATP) e assistida pelos astrócitos. A acetilcolina é o único NT que não sofre recaptação. Os neurônios possuem dois tipos de NT Se o NT causar despolarização na membrana pós-sináptica, o NT e a sinapse são chamados de excitatórios. Mas, se causarem hiperpolarização são chamados de inibitórios. Há vários tipos de NT excitatórios e inibitórios. O Curso de Ciências Biológicas 2007 Disciplina de Fisiologia Comparada Ciclo de Neurofisiologia Cap 3 Departamento de Fisiologia, IB Unesp-Botucatu Profa. Silvia M. Nishida 41 potencial pós-sináptico despolarizante é denominado potencial pós-sináptico excitatório (PEPS) e o hiperpolarizante, potencial pós-sináptico inibitório (PIPS). Os PEPS e PIPS são, portanto, alterações localizadas no potencial de membrana causadas por aberturas de canais iônicos dependentes de NT. A figura ilustra o efeito do NT excitatório causando uma corrente de despolarização na membrana pós-sináptica (influxo de Na+) e de NT inibitórios, causando uma corrente de hiperpolarização (influxo de Cl-). Os PEPs e os PIPs são respostas elétricas de baixa voltagem e as respectivas amplitudes dependem da quantidade de NT. Os potenciais pós-sinápticos são eventos elétricos causados pela abertura de canais iônicos NT dependentes cuja amplitude é baixa mas variável. Já os PA são eventos elétricos do tipo tudo-ou-nada (amplitude e duração constantes) causados pela abertura de canais iônicos (Na e K) voltagem dependentes. OS NT agem sobre dois tipos de receptores pós-sinápticos Receptores ionotrópicos: possuem sítios de recepção para os NT localizados em um canal iônico com comporta. Quando o NT se liga ao sítio receptor ocorre uma mudança de conformação espacial resultando na abertura (ou fechamento) de poro iônico. Receptores metabotrópicos: são moléculas que possuem sítios para os NT, mas que não são canais iônicos. A formação do complexo NT-receptor inicia reações bioquímicas que culmina com a abertura indireta dos canais iônicos. Nesse caso, o receptor pós-sinaptico ativará uma proteína reguladora chamada proteína G, que por sua vez, acionará uma outra proteína chamada efetuadora que efetivamente, poderá mudar a conformação de um canal iônico ou então, ativar uma enzima-chave que modificará o metabolismo do neurônio pós-sinaptico. Esses tipos de receptores ativam uma reação em cascata e usam um segundo mensageiro (o primeiro é NT). Assim, nas sinapses em que os NT agem diretamente sobre receptores ionotrópicos, a neurotranmissão é bastante rápida e nas sinapses mediadas por receptores metabotrópicos a comunicação é mais demorada. São duas alternativas que torna possível regular a duração do evento do evento elétrico. Curso de Ciências Biológicas 2007 Disciplina de Fisiologia Comparada Ciclo de Neurofisiologia Cap 3 Departamento de Fisiologia, IB Unesp-Botucatu Profa. Silvia M. Nishida 42 À esquerda, receptor ionotrópico. Á direita, receptor metabotrópico, mostrando dois sistema da proteína G: ação direta e via 2o mensageiro A proteína G é uma molécula que fica ancorada na membrana citoplasmática e possui três subunidades (, e ). Quando ela está em repouso, a unidade está ligada a uma molécula de GDP. Quando o NT se liga ao receptor, a proteína G troca a molécula de GDP pelo GTP e a subunidade desliza-se pela membrana até encontrar uma molécula efetora. Por exemplo, quando a acetilcolina é liberada pelos terminais nervosos liga-se ao seu receptor nas fibras musculares cardíacas, a subunidade age abrindo os canais de K e a sua saída e causa PIPS. A hiperpolarização torna a fibra cardíaca menos excitável e como conseqüência, ocorre redução na freqüência de batimento do coração. Outro NT, o GABA possui receptores metabotrópicos no SNC que agem de maneira semelhante, causando PIPS também pela abertura de canais de K. Que vantagens há em usar 2º mensageiros? A vantagem é que intracelularmente são produzidos muitos mediadores, isto é, ocorre a amplificação do sinal inicial: os receptores ionotrópicos possuem uma relação de 1 NT: 1 canal iônico. No sistema acoplado à proteína G a relação é de 1NT: muitos canais. Além disso, possui um efeito mais prolongado e os 2º mensageiros podem enviar sinais para dentro da célula. O fato de os receptores metabotrópicos demorarem mais tempo para modificar a excitabilidade do neurônio ou, então, por causarem conseqüências no Curso de Ciências Biológicas 2007 Disciplina de Fisiologia Comparada Ciclo de Neurofisiologia Cap 3 Departamento de Fisiologia, IB Unesp-Botucatu Profa. Silvia M. Nishida 43 interior da célula (regulando o metabolismo celular ou a expressão gênica) esse tipo de neurotransmissão tem função moduladora. MECANISMOS DE INTEGRAÇÃO ELEMENTAR DOS SINAIS NEURAIS Os PEPS e PIPS são computados algebricamente na membrana pós-sinaptica por somação Os potenciais pós-sinápticos gerados com a chegada dos NT propagam-se passivamente até a zona de gatilho. Se o PA será gerado ou não, isso dependerá do evento elétrico: a) se a despolarização atingir um valor crítico (ou limiar) será gerado um PA b) se a despolarização ultrapassar o potencial critico então mais de um PA será gerado c) se a despolarização atingir valores menores do que o crítico ou se houver hiperpolarização, não haverá qualquer PA Somação espacial e temporal Na superfície da membrana dos dendritos e dos corpos celulares há receptores seja para NT excitatórios ou inibitórios. Isso quer dizer que o neurônio pós-sinaptico gera PEPS e PIPS conforme a sinapse que está em atividade. Então, como o neurônio realiza a análise dos sinais aferentes? Ele realiza uma análise combinatória de potenciais pós-sinápticos denominada somação que pode ser de duas maneiras: Somação Espacial: somação de potenciais pós-sinápticos causados por diferentes neurônios pré-sinapticos. Somação Temporal: somação de potenciais pós-sinápticos em rápida sucessão deflagrados pelo mesmo neurônio pré-sináptico. Os potenciais pós-sinápticos têm a propriedade de se somarem algebricamente modificando a sua intensidade. Assim, a somação de três PEPS causados por neurônios distintos ou pelo mesmo neurônio aumenta as chances do potencial de membrana pós-sinaptico atingir o valor limiar. Enquanto os potenciais pós-sinapticos gerados nos dendritos e corpo celular são graduáveis em termos de intensidade, os PA, ao contrário, possuem duração e Curso de Ciências Biológicas 2007 Disciplina de Fisiologia Comparada Ciclo de Neurofisiologia Cap 3 Departamento de Fisiologia, IB Unesp-Botucatu Profa. Silvia M. Nishida 44 amplitude fixas. Isso que dizer que nos axônios, a decodificação de intensidade é feita pela modulação na freqüência dos PA. Esses comportamentos elétricos mediante os tipos de NT deixam bem claro que as sinapses químicas funcionam como processadores binários de sinais (despolarização/hipoepolarizaçao) e que na freqüência dos PA está codificada na mensagem resultante da análise. Por isso, ao receber os sinais de vários neurônios distintos um neurônio pode integrá-los por meio de somação e gerar (ou não) uma determinada freqüência de PA como resposta. Potenciais de placa das junções neuro-musculares Os motoneurônios são os elementos eferentes do SN que enviam para as células efetudaoras (fibras musculares ou glândulas) os comandos finais para a execução da atividade. Esses comandos, na forma de freqüência dos PA, estão os códigos sobre a duração e a intensidade da contração muscular ou da secreção glandular. Nos vertebrados, os axônios dos motoneurônios são mielinizados e conduzem os impulsos nervosos em alta velocidade (até 120 m/s). Nas fibras musculares esqueléticas, os terminais axônicos fazem sinapse com uma região especializada do sarcolema chamada placa motora. A acetilcolina (Ach) é o NT responsável pela estimulação das fibras musculares e a sua liberação para a fenda sináptica ocorre como nas sinapses nervosas. A Ach causa um potencial pós-sináptico excitatório chamado potencial de placa. Como fora da placa motora há canais de Na e K voltagem dependentes, o potencial de placa causará PA ao longo do sarcolema que por sua vez causará a contração da fibra muscular (veja detalhes no capitulo 6). Os potenciais pós-sinapticos das sinapses nervosas e das junções neuro-musculares operam com níveis diferentes de segurança Nas junções neuromusculares, os potenciais de placa são excitatórios e devem ser à prova de falhas: a cada PA do motoneurônio, o terminal axônico deve liberar uma quantidade suficiente de vesículas (em torno de 200) capaz de produzir um potencial de placa que garanta a contração das fibras musculares. Já nas sinapses nervosas a neurotransmissâo opera de maneira diferente: a quantidade de NT liberada pelas vesículas devido a um único PA nunca causará um PA no neurônio póssináptico: será necessária uma somação espacial e/ou temporal de vários PEPS. Dessa forma, as sinapses nervosas estão sempre em condições de processar previamente os sinais nervosos antes de produzir os sinais (PA) em seus axônios. Curso de Ciências Biológicas 2007 Disciplina de Fisiologia Comparada Ciclo de Neurofisiologia Cap 3 Departamento de Fisiologia, IB Unesp-Botucatu Profa. Silvia M. Nishida 45 Um neurônio pode regular a excitabilidade de outro neurônio por meio de neurônios inibitórios Os PIPS causam redução na excitabilidade da membrana pós-sinaptica, pois o potencial de membrana afasta-se do potencial limiar. A função do neurônio inibitório é justamente tornar o neurônio pós-sinaptico incapaz de deflagar um PA ou então reduzir a freqüência dos PA. Na figura observamos que o neurônio possui dois tipos de sinapses: um excitatório e outro inibitório. Suponha que apenas o neurônio excitatório esteja em atividade (figura de cima). O eletrodo colocado no dendrito acusa um PEPS e no soma observamos a propagação eletrotônica da despolarização. Já na figura de baixo, entra em ação a sinapse inibitória. Repare que o soma já não manifesta qualquer resposta excitatória, indicando a total incapacidade de gerar PA. A grande maioria dos canais iônicos dependentes de NT inibitórios é permeável aos íons Cl-. No SNC o principal NT inibitório é o GABA. Neurônio Excitatório Neurônio Inibitório Dendritos e Corpo Celular: local de integração dos potenciais pós sinápticos de baixa voltagem e graduados PEPS Zona de Gatilho do PA PIPS PEPS Zona de Gatilho: conforme o resultado da somação algébrica dos potenciais pós-sinapticos haverá ou não geração dos PA. A freqüência dos PA será determinada pela amplitude do PEPS. Curso de Ciências Biológicas 2007 Disciplina de Fisiologia Comparada Ciclo de Neurofisiologia Cap 3 Departamento de Fisiologia, IB Unesp-Botucatu Profa. Silvia M. Nishida 46 CIRCUITOS NEURAIS: UM SISTEMA LÓGICO DE PROCESSAMENTO DE SINAIS ELÉTRICOS O circuito neural mais simples é constituído de um neurônio sensorial, um neurônio motor e o órgão efetuador. Aqui temos um arco reflexo monossinaptico em que o estimulo na célula sensorial causa uma resposta reflexa na fibra muscular. Se o motoneurônio receber outras conexões aferentes, por exemplo, de neurônios associativos excitatórios e inibitórios poderá processar as informações, antes de enviar comando final para o órgão efetuador. Ou seja, quanto maior o numero de sinapses, maior a capacidade de modular a resposta efetuadora. No caso de um arco reflexo simples, a resposta será sempre estereotipada. Assim, o mais comum é encontrar circuitos polissinápticos, com a participação de não só um único interneurônio, mas vários que ficam interpostos entre os neurônios sensoriais e os motoneurônios. Veja as diferentes possibilidades funcionais quando consideradas a arquitetura da rede neuronal e os neurônios excitatórios e inibitórios participantes do circuito. Circuito divergente Circuito de reverberação Circuito Convergente Circuito paralelo de pós-decarga Zona de descarga: neurônio gera PA Zonas de facilitação: reduzir o limiar Curso de Ciências Biológicas 2007 Disciplina de Fisiologia Comparada Ciclo de Neurofisiologia Cap 3 Departamento de Fisiologia, IB Unesp-Botucatu Profa. Silvia M. Nishida 47 Em vários circuitos, os contatos sinápticos são estáveis e precisos com alto grau de reconhecimento celular, mas em outros, ocorrem rearranjos dramáticos e não raro, são eliminados. Ao longo do desenvolvimento, os circuitos são passiveis de serem modificados com o uso. NEUROTRANSMISSORES E NEUROMODULADORES A relação dos NT excitatórios e inibitórios com suas respectivas famílias de receptores sugerem uma ampla flexibilidade no processo de análise e processamento da informação nervosa. Um NT tem como características típicas: 1. ser sintetizado pelos neurônios pré-sinápticos; 2. ser armazenado dentro de vesículas e armazenados nos terminais axonicos; 3. ser exocitado para a fenda sináptica com a chegada do PA; 4. possuir receptores pós-sinápticos cuja ativação causa potenciais pós-sináptico (excitatórios ou inibitórios); 5. uma vez purificado, mimetizar os mesmos efeitos fisiológicos. Geralmente, um neurônio produz apenas um tipo de NT, excitatório ou inibitório. Não raro, entretanto, ele pode sintetizar e secretar dois tipos de mediadores químicos: um NT e outro neuromodulador. Esse último tem a função de regular o nível de excitabilidade da membrana pós-sinaptica. Os NTs são sintetizados no próprio terminal, mas os neuromoduladores peptídicos são fabricados no corpo celular e armazenados em grânulos secretores que são transportados até o terminal. A ação dos neuromoduladores não é tipicamente a de causar potenciais de ação, mas de controlar ou regular o grau de excitabilidade da membrana pós-sinaptica, facilitando ou dificultando a deflagração dos PA nas zonas de gatilho. Curso de Ciências Biológicas 2007 Disciplina de Fisiologia Comparada Ciclo de Neurofisiologia Cap 3 Departamento de Fisiologia, IB Unesp-Botucatu Profa. Silvia M. Nishida 48 Veja a família de alguns neurotransmissores NT de ação rápida (moléculas pequenas) Classe I Acetilcolina Classe II AMINAS Adrenalina (epinefrina) Noradrenalina (norepinefrina) Dopamina Serotonina Histamina Classe III AMINOÁCIDOS GABA Glutamato Aspartato Classe IV Oxido Nitrico NT de ação lenta (neuropeptideos e fatores de crescimento) Hormônios liberadores hipotalâmicos Hormônio liberador de LH Hormônio liberador de tirotrofina Somatostatina (inibe o GH) Peptídeos hipofisários: ACTH, b-endoefina, a-MSH, Prolactina LH, TSH, GH, ADH e vasopressina Peptídeos que agem no TGI e no cérebro Encefalinaleucina, encefalinametionina, Sub P, gastrina, CCK, VIP, Fator de crescimento neural,. Fator neurotrófico liberado do cérebro, neurotensina, insulina, glucagin Peptídeos de outros tecidos Angio II, Bradicina, Pepetideo do sono, calcitocina Características especiais da transmissão sináptica Fadiga da transmissão sinaptica: após uma repetitiva descarga excitatória no neurônio pós-sinaptico, ocorre esgotamento de NT e, como conseqüência, falhas na neurotransmissão. Trata-se de um mecanismo importante de proteção. Após as descargas elétricas excitatórias intensas de uma crise epiléptica a crise passa espontaneamente por conta da fadiga. Alem disso, as sinapses são sensíveis a vários fatores - pH: a alcalose (metabólica) aumenta a excitabilidade; a acidose, deprime - hipoxia: a falta de oxigênio causa depressão do SN - drogas: substâncias contidas no café e chá (cafeína, teofilina) facilitam a excitabilidade neuronal, reduzindo o limiar. Uma maneira de aumentar a excitabilidade dos neurônios é removendo as ações inibitórias de certas sinapses: é o que a estricnina faz na medula promovendo espasmos musculares intensos. Princípios de Neurofarmacologia Nosso organismo está exposto a várias substâncias tóxicas: venenos e toxinas várias origens: animal (cascavel, sapo, baiacu, etc.), vegetal (digitalico, hera, maconha, cocaina, etc.), fungico (certos cogulelos), bacteriano (toxina botulinica). Há ainda os metais pesados (mercúrio, chumbo e cromo) e a um monte de drogas sintéticas (fármacos). Curso de Ciências Biológicas 2007 Disciplina de Fisiologia Comparada Ciclo de Neurofisiologia Cap 3 Departamento de Fisiologia, IB Unesp-Botucatu Profa. Silvia M. Nishida 49 O conhecimento básico de alguns princípios de neurofarmacologia nos serão muito úteis. As substâncias exógenas que se ligam especificamente a um determinado receptor mimetizando fielmente os efeitos do NT natural são conhecidos como agonistas. Quando o contrário acontece, isto é quando o efeito natural é bloqueado, chamamos essas drogas de antagonistas. Já vimos que um mesmo NT pode ter muitos subtipos de receptores pós-sinapticos. Por exemplo, a ACh possui dois subtipos: os receptores nicotínicos e os muscarínicos. Os receptores nicotínicos são ionotrópicos, são estimulados somente pela nicotina e estão presentes somente nas placas motoras das fibras musculares esqueléticas; já os receptores muscarínicos são metabotrópicos, são estimulados exclusivamente pela muscarina e estão restritos às fibras musculares lisas e cardíacas. Além da ação das drogas agonistas, esses receptores possuem também antagonistas específicos: o curare bloqueia apenas os receptores nicotínicos e a atropina, os receptores muscarinicos. Isso significa que há dois grupos de receptores colinérgicos distintos. É por isso que o medicamento que age no coração não age nas fibras musculares esqueléticas. A existência de múltiplos receptores ocorre para outros neurotransmissores, ou seja, torna o processo de neurotransmissão muito mais complexo.