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INTRODUÇÂO
O termo mania é considerado um hábito que uma pessoa ou grupo de
pessoas possui com relação a determinada coisa, costume ou comportamento.
As manias são hábitos que podem ter teor não nocivo (mania de colecionar
quadrinhos; mania de assistir ao televisor até tarde) ou mesmo nocivo (alcoolomania)
para quem as pratica ou mesmo para a sociedade.
A tricofagia, ou seja, a mania de ingerir fragmentos de cabelos, é uma mania
nociva ao ser humano, visto que suas conseqüências vão desde a episódios de vômitos
até a um câncer gástrico.
Paciente portadores de tricobezoar é relativamente raro, sendo mais freqüente em
pessoas do sexo feminino e em idade entre 10 e 19 anos. O primeiro caso de
tricobezoar humano autêntico foi descrito por Baudamant em 1779.
Este estudo é de grande relevância para os enfermeiros, visto que mesmo sendo
considerado uma doença rara, os portadores de tricobezoar necessitam de cuidados de
enfermagem, para com isso restabelecer a sua saúde.
Abordaremos o histórico, o diagnóstico e a prescrição de enfermagem e o
referencial teórico da patologia em questão.
METODOLOGIA
O estudo em questão foi realizado em um hospital de grande porte de Belém- Pará, no
período de 15 a 26 de Setembro de 2006. A coleta de dados foi realizada através de uma
entrevista semi-estruturada (modelo de Gordon), da qual fez parte a anamnese, o exame
físico, a consulta no prontuário da paciente, e observação direta da paciente.
OBJETIVOS
Geral: Sistematizar a assistência de enfermagem ao portador de tricobezoar através de
um estudo de caso.
Específicos:
- Socializar o conhecimento obtido sobre as características da patologia tricobezoar;
- Relatar o histórico de enfermagem obtido da paciente em estudo, e sua
evolução clínica;
- Discutir os diagnósticos e as prescrições de enfermagem, mostrando o
plano de cuidado traçado;
SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM AO PACIENTE
PORTADOR DE TRICOBEZOAR: UM ESTUDO DE CASO
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HISTÓRICO DE ENFERMAGEM
01. Identificação:
Nome: J.A.S. F
Idade: 15 anos
Sexo: feminino
Hospital: HUJBB
Enfermaria: 213
Leito: 03
Matrícula: 221644
Data de internação: 11/09/2006
02. História da doença: segundo do pai da paciente, ela ingere fragmentos de cabelos há
mais ou menos um ano e meio. Após algumas crises de dor abdominal e obstipação intestinal,
geralmente tratada em casa (automedicação) a família da paciente resolveu levá-la ao médico.
E em 24/01/2006 a paciente submeteu-se a uma esofagogastroduodenoscopia na qual se
observou: estômago apresenta lago mucoso com volumoso tricobezoar medindo 64,5 x 68,5
mm.
04. Queixa principal: dor abdominal em região do epigástrio irradiando para hipocôndrio
esquerdo, vômito em grande quantidade e obstipação intestinal há cinco dias.
05. Escolaridade: cursa o 1º ano do ensino médio, relata que já se encontra inscrita na
primeira fase do Prise, porém não decidiu que curso irá escolher.
06. Moradia: reside em casa de alvenaria com 05 compartimentos (sala, dois quartos, cozinha
e banheiro), o banheiro encontra-se no interior da residência, fossa séptica, a coleta do lixo é
feita regularmente três vezes na semana.
Obs: a paciente é filha única, morando com os pais.
07. Antecedentes mórbidos:
- Pessoais: doenças da quadra infantil (varicela, etc.).
* Ginecológico: teve a menarca no mês de Setembro deste ano, não lembrando exatamente o
dia e período menstrual durou sete dias.
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- Familiares: nega diabetes, cardiopatia, tuberculose.
08. Exame físico: A paciente encontrava-se em repouso no leito, orientada no tempo e no
espaço, agitada (querendo sentar e deitar ao mesmo tempo), questionando quando irá se
alimentar normalmente. Sinais vitais: P.A 110/70mmhg; T: 35,4°C; P: 92 bpm e R: 30 irpm.
Sono e repouso alterados devido sentir dor na ferida operatória.
Funções fisiológicas: diurese espontânea e normal (sic), evacuação alterada (fezes
diarréicas) devido nutrição parenteral.
Couro cabeludo apresentando discreta alopecia, mucosa ocular hipocoradas, pavilhão
auditivo íntegro e limpo, nariz com sonda nasogástrica, cavidade bucal com dentição
completa, aparentemente limpa e mucosa rosada com língua sabugosa, lábios extremamente
ressecados. Pescoço íntegro, sem rigidez de nuca e gânglios indolor à palpação. Recebendo
nutrição parenteral total (NPP: 15 gts/min) por cateter de duplo lúmen veia jugular direita. Na
ausculta pulmonar: murmúrios vesiculares audíveis e presença de estertores crepitantes, na
ausculta cardíaca: batimentos cardíacos normofonéticos e sem sopros.
Tecido cutâneo hipocorado, ressecado e com turgor diminuído com sudorese. Mamas
simétricas e íntegras com mamilos semiprotusos.
Membros superiores simétricos recebendo soro glicosado em membro superior
esquerdo.
Abdômen distendido, apresentando ferida operatória aberta em região do epigástrio no
sentido longitudinal, com curativo oclusivo, a qual observa-se presença de exsudato
purulento.
A paciente faz uso de calça descartável, a qual se encontrava suja, com urina.
Membros inferiores simétrico com tecido cutâneo ressecado.
DIAGNÓSTICO DE ENFERMAGEM, segundo NANDA.
✔ Risco para infecção relacionado ao acesso direto do cateter à corrente sanguínea;
✔ Risco para integridade da pele prejudicada relacionada à irritação constante da
superfície da pele secundária ao cateter e ao adesivo;
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✔ Risco para a mucosa oral prejudicada relacionada à incapacidade de ingerir
alimentos e líquidos;
✔ Diarréia relacionada à nutrição parenteral total;
✔ Mobilidade física prejudicada relacionada à nutrição parenteral total e a relativa
perda excessiva de peso;
✔ Mucosa oral alterada relacionada à desidratação e desnutrição evidenciadas por
língua sabugosa;
✔ Nutrição alterada: ingestão menor que as necessidades corporais relacionado à
incapacidade de ingerir evidenciado por emagrecimento;
✔ Risco para trauma no meato urinário relacionado a retirada brusca da sonda vesical
de demora;
✔ Risco para infecção relacionada ao local de invasão do organismo secundário à
cirurgia;
✔ Padrão de sono e repouso perturbado relacionado à dor na ferida operatória;
✔ Risco para fissura labial relacionado à desidratação ocasionada pelo déficit do
volume de liquido;
✔ Déficit de volume de líquido relacionado à dieta zero evidenciado pelo turgor da
pele diminuído;
✔ Dor aguda relacionada à incisão cirúrgica evidenciada por relato verbais;
✔ Déficit no auto cuidado (banho, higiene oral, vestir-se, usar vaso sanitário)
relacionado à debilitação ocasionada pela patologia;
PRESCRIÇÃO DE ENFERMAGEM
✔ Explicar o processo doença/ fatores causadores e o prognóstico de maneira adequada
promovendo questionamento;
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✔ Orientar à paciente quanto à terapêutica e os procedimentos necessários para o
restabelecimento da sua saúde (necessidade de usar a SNG, punção venosa, etc);
✔ Encaminhar ou solicitar o serviço de psicologia para fazer o acompanhamento da
paciente;
✔ Orientar a família e equipe de enfermagem para não deixar a paciente sozinha,
prevenindo possíveis complicações (como a retirada brusca do cateter de nutrição
parenteral);
✔ Administrar medicamentos prescritos no horário, observando e anotando os possíveis
efeitos adversos da medicação;
✔ Verificar e registrar sinais vitais (T, P, R e P.A.) manhã, tarde e noite;
✔ Estabelecer mudança de decúbito a cada duas horas para prevenir possíveis úlceras de
pressão, mesmo com a utilização do colchão piramidal;
✔ Aplicar/monitorar o uso de equipamentos limitantes quando necessário (camisa de
força, estrutura articulada, etc.), ou seja, conter a paciente no leito;
✔ Administrar soro glicofisiológico EV (0,9% 40 gts/min) para minimizar a
desidratação;
Assistência pré-operatória
Segundo SMELTZER (2005), a enfermagem durante esse período fará uma
avaliação do paciente antes do dia da cirurgia, através de uma entrevista incluindo anamnese,
exame físico, avaliação emocional, história anestésica, identificação de alergias ou problemas
genéticos que possam influenciar no resultado da cirurgia.
Este período compreende desde a tomada de decisão da intervenção cirúrgica até o
paciente ser transferido para a mesa da sala de cirurgia.
1- Verificar a compreensão das prescrições específicas do cirurgião: preparo
intestinal, banho de chuveiro, preparo da pele;
2- Avaliar risco de complicações intra e pós-operatório;
3- Verificar a assinatura do consentimento;
4- Responder dúvidas da paciente e da família;
5- Avaliar estado geral da paciente, estado nutricional (jejum);
6- Administrar medicamentos, quando prescritos;
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7- Fornecer apoio psicológico;
8- Empreender as medidas para garantir o conforto da paciente;
9- Remover próteses, objetos do corpos (jóias);
10- Incentivar eliminação urinária antes de ir para a sala de cirurgia;
11- Fazer registro pré-operatório.
Assistência pós-operatória
Esta fase inicia com a admissão do paciente na unidade de recuperação pósanestésica e termina com uma avaliação de acompanhamento no ambiente clínico.
1- Observar e registrar presença de sondas, cateter, curativo e demais
procedimentos;
2- Manutenção da via aérea;
3- Avaliação dos efeitos anestésicos;
4- Verificar sinais vitais (8, 10, 12, 14, 16, 18, 20, 22, 24, 02, 04, 06 horas);
5- Fornecer conforto e minimizar a dor através de medicação analgésica;
6- Observar e testar nível de consciência
7- Administrar/manter hidratação venosa;
8- Avaliar aptidão do paciente para transferi-la para a unidade de internação
hospitalar;
Minimizar a ocorrência de diarréia:
✔ Observar e registrar a freqüência, característica, quantidade e horário da ocorrência de
diarréia;
✔ Auscultar o abdômen na busca da presença, da localização e das características dos
sons intestinais;
✔ Administrar medicamentos anti-diarréicos conforme indicação, para reduzir a
motilidade intestinal e minimizar perdas de líquidos;
Manter a Integridade da pele:
✔ Examinar a pele diariamente, descrevendo às lesões e as mudanças observadas;
✔ Manter a área limpa e seca para auxiliar no processo natural de recuperação do
organismo;
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✔ Limitar/evitar o uso de material plástico (por ex. lençol, forro de cama plástico);
✔ Retirar roupa de cama molhada ou enrugada rapidamente;
Prevenir infecção:
✔ Observar fatores de risco para a ocorrência de infecção (integridade da pele, exposição
ambiental);
✔ Observar sinais localizados de infecção (eritema, edema, presença de secreção
purulenta) em locais de inserção de sondas invasivas, suturas, incisão cirúrgica;
✔ Observar e registrar sinais e sintomas de septicemia: febre, calafrios, nível de
consciência alterado;
✔ Monitorar visitas e pessoas que prestam cuidados a paciente, de modo a protegê-la;
✔ Inspecionar a ferida operatória no momento do curativo, relatar e registrar no
prontuário: aspecto, odor e volume da secreção;
Manter higiene corporal:
✔ Propiciar higiene oral freqüente, visando prevenir fissuras labiais;
✔ Realizar banho no leito, pela manhã, proporcionando bem-estar à paciente;
✔ Após o banho no leito, orientar a acompanhante a passar hidrante corporal, para com
isso manter a integridade da pele;
✔ Observar o aspecto da evacuação, a coloração da urina e medir o volume urinário para
avaliar o grau de déficit de líquido perdido;
Avaliar a ocorrência de dor
✔ Fazer avaliação abrangente da dor (localização, característica, duração e freqüência)
cada vez que ela ocorrer, observando e investigando mudanças em relação a relatos
anteriores;
✔ Observar indícios não-verbais (p.ex. expressões faciais);
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✔ Administrar analgésicos conforme prescrição;
EVOLUÇÂO
11/09/06 ,10:45 h
Admitida no 2° oeste procedente da triagem. Paciente encontrava-se internada no
HPSM-Guamá com história de vômito, dor abdominal e obstipação intestinal. Encontra-se
com intracath salinizado em veia jugular direita. Nega antecedente mórbido pessoal e alergias.
T: 35 °C; P:104 bpm; R:24 irpm e P.A.: 110/70 mmhg
Em pós-operatório imediato de laparotomia exploradora, sonolenta, consciente,
orientada, porém contida no leito. Recebe aporte calórico por acesso periférico. SNG aberta
sem débito. Curativo oclusivo em ferida operatória, no momento limpo. Diurese por cateter
vesical de demora. Segue em observação.
14/09/2006; 22:00h
Consciente, orientado, em 2° dia de pós-operatório de laparotomia exploradora.
Gemente, referindo dor intensa. Foi medicada, SNG fixa e aberta com débito amarelo claro,
diurese preservada e espontânea. Orientada e estimulada a deambulação, foi conduzida ao
pátio pela técnica de enfermagem.
16/09/2006;16:00h
Realizado curativo compressivo em F.O abdominal, drenando bastante exsudato de
aspecto purulento e odor fecalóide.
Paciente com débito elevado pela F.O. de odor e aspecto fecalóide, foi reavaliada
pelo R2 transferida para 213/leito1. Instalado O2 úmido por cateter nasal. Acionado
laboratório para colheita de exames de emergência. Passado cateter venoso central de duplo
lumem pelo R2. Realizado RX de rotina para abdome agudo segue em dieta zero rigorosa.
Aguarda preparo de nutrição parenteral.
17/09/2006; 11h30minh
Em POI de laparotomia + gastrostomia + enterectomia. Sonolenta, consciente,
orientada, respiração espontânea. Monitorizada em multiparâmetro (FC: 103bpm; SPO2: 98%
). SNG fixa aberta no momento sem débito, recebe aporte calórico + NPP (15gotas/minuto)
por cateter duplo lumem Veia Jugular Direita. Curativo oclusivo em região abdominal no
momento limpo. Diurese por cateter vesical de demora. Apresentando palidez cutâneomucosa. Segue em observação.
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Realizado curativo na FO aberta na região abdominal com presença de bolsa de
bogotá. Compressas sujas de drenagem hemática. Eupnéica, hipotérmica (T: 35°C),
taquicárdica (FC: 113bpm), normotensa (P.A. 120/80mmHg), acianótica, pcp satisfatória. Em
multiparâmetro, saturação O2 98%. Realizado os cuidados de enfermagem. Recebe
hidratação venosa por cateter de duplo lúmen em veia jugular direita. Segue bob vigilância.
25/09/2006; 11h30minh
Paciente retirou Sonda Nasogástrica. Foi comunicado ao R4, o qual suspendeu
verbalmente a nova fixação da sonda. Segue mantendo-se estável, segundo familiar, o médico
relatou que iria fazer lavagem de cavidade a tarde, porém nada marcado.
Realizado curativo da inserção intracath, oligo, CDL, não foi colocado curativo
impermeável, ferida operatória aberta com tela de profane, presença de exudato purulento em
grande quantidade.
26/09/2006; 15h20min
Em pós-operatório imediato de relaparotomia exploradora + lavagem de cavidade.
Paciente contida no leito, consciente, apresentando distúrbio de comportamento em
monitorização (SPO2 96%), dispnéica, afebril, taquicárdica, hipertensão (140/70mmhg).
Sonda Nasogástrica aberta com débito bilioso, hidratação venosa + NPP por cateter em VJE
curativo oclusivo, externamente limpo em região abdominal. Passado SVF numero 12,
diurese presente, apresenta hiperemia em região perineal.
As 15h40min a paciente puxou SVF com os pés, examinada região vaginal para
trauma, classifico-a como leve, pois apresenta hiperemia em meato uretral. Não repasso a
sonda devido o risco de piora do quadro e novo episódio.
REFERENCIAL TEÓRICO
TRICOBEZOAR
I-CONCEITO
Bezoares são definidos como concreções de material ingerido persistentes na luz do
trato digestivo, geralmente no estômago, porém podendo apresentar extensão em continuidade
para o intestino delgado ou fragmentação com múltiplas massas detectáveis em qualquer
segmento intestinal. . Usualmente são observados em pacientes idosos com mastigação
deficiente por ausência de dentes ou rápida deglutição ou em pacientes com cirurgias gástricas
pregressas, distúrbios da motilidade gástrica e portadores de várias outras patologias como:
diabetes, hipotiroidismo, distrofia muscular, câncer gástrico, ou mesmo em uso crônico de
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cimetidina. (Barbosa e cols, 1998)
Tricobezoares são bezoares formados pelo acúmulo de fragmentos de cabelos
ingeridos (tricotilofagia), e sua extensão além do piloro é denominada de síndrome de
Rapunzel. São considerados raros, mas, provavelmente, a pequena soma de registros na
literatura não reflete a ocorrência real do problema.
Classificação
Fitobezoares
Tricobezoares
Tricofitobezoares
Lactobezoares
Outros
Origem
Fibras ou sementes de vegetais
Cabelos ou pêlos
Mistos
Leite, fórmulas lácteas e leite humano.
Medicamentos (carbonatos de sódio, cálcio, magnésio e
bismuto)
Goma-laca, resinas, alcatrão, parafina e asfalto.
Fibras de tapete, lã, plástico e outras.
II-EPIDEMIOLOGIA
A doença é característica de adolescentes do sexo feminino e mulheres jovens,
embora ocorra também com freqüência em crianças de idade escolar. A ocorrência em préescolares é referida raramente e existe um único caso em literatura em neonato portador de
alopecia congênita, atribuído à ingesta intra-útero de pelos eliminados em decorrência da
doença. A ocorrência no sexo masculino é excepcional, sendo referido apenas um caso
pediátrico.
A tricotilomania (ato compulsivo de extrair os cabelos) prevalece em 0,6% dos
estudantes. Tem sido mostrada incidência de 3,4% em mulheres e 1,5% em homens e a
maioria destes cabelos arrancados, são ingeridos. Muitas vezes a tricotilomania passa
despercebida. Em geral 40% dos casos não são diagnosticados, e 58% dos pacientes não são
tratados.
III-FISIOPATOLOGIA
Originados a partir da ingestão de cabelos, os tricobezoares são formados
gradativamente no interior do tubo digestivo. Após a ingestão, os cabelos ou pêlos usualmente
são retidos pelas dobras da mucosa gástrica, iniciando-se aí o processo de entrelaçamento dos
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fios. Os fluídos da dieta atravessam posteriormente a trama de fios, arrastando consigo
resíduos alimentares para o seu interior; o que aumenta progressivamente o volume da
formação originária.
Em sua gênese, o muco gástrico ainda adere-se firmemente à massa, conferindo-lhe a
consistência; a decomposição dos alimentos, por sua vez, confere-lhe o seu odor fétido
característico. Em virtude da desnaturação protéica dos cabelos pelo ácido do estômago, os
tricobezoares assumem sempre a cor negra, independentemente da cor original dos cabelos.
Quando há obstrução surgem vômitos e episódios de cólicas abdominais são os principais
sintomas.
Felizmente e, por razões não esclarecidas, nem todos os indivíduos portadores de
tricofagia desenvolvem tricobezoares, sendo possível, também, a sua resolução ou eliminação
espontânea.
III-QUADRO CLÍNICO
O quadro clínico típico consiste em dor abdominal subaguda, emagrecimento e relato
de tricotilofagia crônica ou alopecia adquirida. Anorexia e repleção pós prandial precoce são
freqüentes, vômitos podem ocorrer. O traço mais característico da doença é a presença de
massa epigástrica palpável, dura e móvel, indolor, que freqüentemente molda o estômago.
Recorrências são citadas raramente, embora se deva reconhecer a pequena extensão do
seguimento clínico destes pacientes em literatura, atribuída talvez às más condições sócioeconômicas, que são comuns.
Complicações são proporcionalmente raras, e se alternam entre obstrução intestinal
(forma mais comum de complicação) e ulceração com hemorragia 15 e/ou perfuração
secundária.
Complicações
Obstrução gastrintestinal
Migração
Síndrome de Rapunzel
Perfuração gástrica ou intestinal
Apendicite
Intussuscepção
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Anemia megaloblástica
Anemia ferropriva
Icterícia obstrutiva
Polipose, gastroenteropatia, perda protéica e esteatorréia
Pancreatite
Gastrite crônica
Câncer gástrico
Distúrbios psiquiátricos associados é regra, embora não necessariamente óbvios
numa primeira abordagem: crianças psiquicamente normais são citadas apenas em dois relatos
conhecidos, e num destes casos havia antecedentes de escoliose grave e internações
hospitalares prolongadas, sugerindo a possibilidade de distúrbio sério de imagem corporal,
freqüente na prática clínica destes pacientes, tipicamente associados a componentes de
ansiedade.
Retardo mental, carência afetiva, introversão e distúrbios obsessivos ocorrem em
proporções variáveis. Na maioria dos casos é relativamente fácil de obter uma história
consistente de tricotilomania, embora em nossa experiência muito raramente os familiares se
refiram espontaneamente a isto, por não intuírem relação direta entre o fenômeno e o
problema atual (questionados por nós a respeito, os pais freqüentemente citam que jamais
julgaram que os cabelos poderiam não ser diretamente eliminados pelas fezes, o que os levava
a uma preocupação relativamente menor com o distúrbio alimentar de suas filhas).
Este fato, associado ao baixo índice de suspeita diagnóstica, faz com que a história
de tricotilofagia, que seria francamente direcional ao diagnóstico, seja obtida apenas de forma
retrospectiva. Em nossa opinião, qualquer caso com evolução subaguda de dor abdominal e
emagrecimento acompanhado de massa epigástrica requer anamnese direcional em busca de
transtornos alimentares/ tricofagia e a inspeção do couro cabeludo do paciente para localizar
áreas de encurtamento capilar ou alopecia, especialmente em crianças, adolescentes e
mulheres jovens.
IV-EXAMES COMPLEMENTARES
A radiografia simples do abdome nos portadores de tricobezoar tem pequena
especificidade, mostrando apenas presença de massa epigástrica com densidade de partes
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moles, podendo ser notada heterogeneidade, com presença de bolsas de ar entremeadas. O
exame contrastado de trato digestivo alto, indicado classicamente para a diferenciação
diagnóstica de massas epigástricas, é muito sensível e específico, mostrando massa gástrica
intraluminal móvel, heterogênea e aerada, com captação predominantemente periférica e
heterogênea de contraste.
Outros exames com excelente especificidade são a ultra-sonografia (de fácil
disponibilidade e excelente relação risco-benefício), que detecta os tricobezoares como
massas hiperecóicas móveis com sombra acústica, a endoscopia digestiva, capaz de visualizar
diretamente a massa capilar (especificidade e sensibilidade máximas, porém apresentando
necessidade de sedação ou anestesia geral em pacientes pediátricos e incapacidade de definir
anatomicamente a extensão da lesão) e a tomografia computadorizada, com índices
diagnósticos semelhantes aos do exame contrastado do trato digestivo alto, apresentando-se o
bezoar como massa concêntrica heterogênea aerada com captação periférica irregular de
contraste .
V-TRATAMENTO
Embora existam vários métodos propostos para o tratamento de bezoares em geral,
no caso dos tricobezoares a diluição enzimática não é possível e a remoção endoscópica é
difícil pela extensão da massa, que é de difícil fragmentação.
O tratamento endoscópico oferece riscos acessórios de perfuração gástrica e
obstrução intestinal posterior pela progressão de fragmentos através do trato digestivo. Estes
argumentos, os altos índices de segurança e a facilidade técnica tornam o tratamento cirúrgico
dominante. A metodologia aconselhável é a remoção direta da massa através de gastrotomia
anterior longitudinal, sob cobertura antibiótica considerando a microbiota gástrica deglutida
da cavidade oral.
É fundamental a inspeção de todo o trato digestivo, para eliminar a possibilidade de
massas obstrutivas fragmentadas a partir da massa principal. Estas, se encontradas, devem ser
preferencialmente ordenhadas até o intestino grosso, a fim de serem eliminadas com as fezes.
Embora recentemente tenha sido descrito o acesso laparoscópico para a remoção de bezoares,
seu uso provavelmente é pouco vantajoso, pelo risco de complicações infecciosas provocado
pelo contato intracavitário do bezoar e pelas dificuldades técnicas quanto à remoção da peça
através da parede abdominal, eventualmente necessitando de incisões específicas para este
fim.
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Recentemente foi proposta a associação de laparoscopia para fragmentação da lesão
associada à remoção endoscópica da mesma. A consulta e seguimento psiquiátrico são
fundamentais, especialmente considerando a necessidade de evitar recidivas do quadro ou a
substituição da tricotilomania por outros distúrbios compulsivos substitutivos, mesmo em
pacientes em que problemas comportamentais não são óbvios. A forma de terapia necessária
será individualizada, de acordo com a psicodinâmica de cada paciente, e freqüentemente serão
necessários apoios terapêuticos familiares e pelos serviços de assistência social.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
No estudo de caso apresentado podemos observar que se trata de uma patologia
incomum, de sintomatologia inespecífica, insidiosa e gradual. No entanto, as
complicações associadas à presença de tricobezoares (acúmulo de fragmentos de cabelos
no trato gastrintestinal) causaram diversas conseqüências na paciente como a perda de
peso, desconforto abdominal após as refeições, entre outras, finalizando com a obstrução
gastrintestinal que a levou ao tratamento cirúrgico.
O diagnóstico precoce (exames ultrassonográficos, radiografia e observação
dos sintomas) é de fundamental importância, valorizando toda e qualquer evidência de
comportamentos fora dos habituais, principalmente em crianças e adolescentes para evitar
a necessidade de uma intervenção cirúrgica.
O tratamento cirúrgico está reservado, todavia, aos casos de bezoares
volumosos, como o aqui apresentado e a cirurgia de escolha tem sido a gastrotomia
anterior com remoção do bezoar, associada à laparoenterotomia exploradora para o
diagnóstico.
O objetivo final do tratamento para a equipe de saúde (médicos, nutricionistas,
neuropsicologistas, etc.) deve ser a abordagem da tricofagia junto a paciente e a família
para prevenção da recorrência. Contudo, durante o tratamento é a equipe de enfermagem,
através do plano de cuidados, que tem fundamental importância no restabelecimento da
saúde da paciente.
Como acadêmicas de enfermagem, o estudo de caso trouxe conhecimento
relevante para a nossa formação profissional, em virtude do aprendizado da rara patologia
e dos cuidados planejados na sistematização de enfermagem.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Diagnósticos de enfermagem da NANDA: definições e classificações-2001-2002Porto Alegre: Artmed, 2002.
DOENGES, Marilyn E. Diagnóstico e intervenção em enfermagem - 5ed - Porto
Alegre: Artmed, 1999.
SILVA, Ana G.I. da. Ensinando e cuidando com o processo diagnóstico em
Enfermagem. Belém: Smith Produções Gráficas, 2001;
SMELTZER, Suzanne C & BARE, Brenda G. Brunner & Suddarth, tratado de
enfermagem médico-cirúrgica - Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005
BARBOSA e cols. Tricobezoar gástrico: revisão da literatura. DISPONÍVEL em:
http://test.scielo.br/scielo.php. Acessado em 15/10/2006
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ANEXO
Endoscopia digestiva
alta: evidencia corpo
estranho
(www.scielo.br)
Gatrotomia: O tricobezoar ocupa
toda a cavidade gástrica.
(sisbib.unmsm.edu.pe/.../images/)
(sisbib.unmsm.edu.pe/.../images/pag73_fig1b.jpg
)
Espécime de tricobezoar
em forma de J.
(sisbib.unmsm.edu.pe)
19
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