REVOLUÇÃO FRANCESA

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Caros alunos,
O presente texto é um resumo dos principais acontecimentos que antecederam a Revolução
Francesa (1789-1799). Espero que ele os ajude a entender melhor a situação da França e as razões
que levaram a tão importante acontecimento para a História do Mundo Ocidental.
REVOLUÇÃO FRANCESA: para compreender melhor
* Luís XIV (1661 a 1715): levou a extremo o absolutismo de direito divino e a idéia de identificação
entre soberano e Estado, tanto que teria afirmado: L’Etat c’est moi = “O Estado sou eu”
- concentrou todo o poder (bem como “todos os poderes”) nas mãos;
- submeteu completamente a nobreza (mantendo-a sob seu controle em Versalhes) e a
burguesia (através de práticas mercantilistas);
- reduziu os ministros (todos indicados por ele) à condição de meros funcionários do Estado;
- fiscalizava pessoalmente todos os negócios do Estado francês, controlava pessoalmente
todos os setores da administração, bem como a “ação” de seus ministros;
- adotou uma política externa agressiva, envolvendo-se em várias guerras, tanto na Europa
quanto na América, com o objetivo de preservar a supremacia da França na Europa
continental;
- sua administração foi marcada por gastos astronômicos com a corte de Versalhes (cerca de
15 mil pessoas, entre nobres e seus criados pessoais, artesão, soldados, lacaios, etc)
OBS.: os grandes gastos do governo francês, principalmente com as guerras e com a corte de
Versalhes, não serão exclusividade do governo de Luís XIV, mas irão continuar nos governos de
Luís XV e Luís XVI, sendo que neste último assumiu proporções catastróficas
A FRANÇA ÀS VÉSPERAS DA REVOLUÇÃO
1. Estrutura social do Antigo Regime: a sociedade francesa era estamental e hierarquizada,
dividida em três ordens, estados ou estamentos (podemos identificá-los a castas, pois quase não
havia mobilidade social)
 PRIMEIRO ESTADO: clero
- Alto clero: elementos provenientes da nobreza (possuía inúmeros privilégios)
- Baixo clero: padrão de vida igual aos das camadas populares, com quem se identificava
OBS.: havia entre o clero uma divisão interna, divergência e choque de interesses.
 SEGUNDO ESTADO: nobreza
- Nobreza palaciana: cerca de 4 mil nobres que viviam em Versalhes (dispendiosa para o
Estado)
- Nobreza provincial: vivia dos privilégios feudais
- Nobreza togada: burgueses que ganhavam ou compravam títulos de nobreza (dedicavamse aos negócios administrativos e judiciários)
OBS.: ordem dividida com interesses divergentes
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(*) privilégios: exclusivos do clero e da nobreza como, isenção de impostos, recebimento de
pensões e doações do rei/Estado, possuíam tribunais próprios, monopolizavam os postos de
oficiais do exército, da marinha e da burocracia estatal
 TERCEIRO ESTADO: restante da população
- camponeses: livres e servos
- burgueses: pequena, média e alta, incluía mestres artesãos, comerciantes, donos de
manufaturas e banqueiros
- sans-culottes: camadas populares das cidades, como artesãos, assalariados, marginalizados,
etc.
OBS.: grupos sem nada em comum, a não ser a ausência de privilégios, de participação política
e a obrigação de pagar impostos
A BURGUESIA: partilhava e defendia as idéias iluministas (anti-absolutista e anti-mercantilista)
- crescia em número, em poder econômico, em cultura e, principalmente, em consciência de
si mesma como classe social
- acreditava no progresso e em mudanças sociais e econômicas, que eram “barradas” pela
estrutura política e econômica do Antigo Regime vigente na França (Feudalismo,
Absolutismo, Liberalismo e Mercantilismo, Capitalismo)
- controlava as finanças, o comércio e a indústria, mas, para ocorrer o pleno desenvolvimento
do capitalismo na França, era preciso destruir as estruturas do Antigo Regime (servidão,
monopólios, corporações de ofícios, etc.)
O ANTIGO REGIME: expressão que designa as sociedades da Idade Moderna durante a
transição do feudalismo para o capitalismo. Características:
- setor político: Absolutismo
- setor social: sociedade dividida em estamentos (privilégios de nascimento)
- setor econômico: relações feudais, mercantilistas e capitalistas: convivência e conflito
- setor cultural: intolerância religiosa e filosófica
OBS.: para a burguesia crescer e o capitalismo se consolidar como única força econômica, era
preciso derrubar o Antigo Regime: liberar a produção agrícola para o mercado, o servo para
vender sua força de trabalho (FT), ao mesmo tempo que se tornava um consumidor, as
exportações e importações, afastar a influência, participação e interferência do Estado nas
decisões econômicas
* A solução para tantos impasses e “problemas” viria pela própria inabilidade da monarquia em
resolver a crise econômica do Estado francês
2. A crise econômica: teve início ainda no governo de Luís XIV e se agravou nas monarquias
seguintes. Fatores:
- três guerras desastrosas: a de sucessão austríaca contra a Dinastia Habsburgo (grande rival
da coroa francesa); a dos Sete Anos (1756 a 1763), contra a Prússia e a Inglaterra, onde
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perdeu o Canadá francês e portos franceses na Índia; a da Independência das 13 colônias
(1779 a 1781)
gastos com a nobreza cortesã e “parasitária”, com pensões, com isenções de impostos, com
a má administração de reis que foram preparados para reinar e não administrar. Resultado:
DÉFICIT FINANCEIRO
Luís XVI assumiu em 1774, nomeou Turgot para sanear as finanças. Turgot sugeriu que o
déficit público poderia ser solucionado se nobres e clérigos passassem a pagar impostos. A
monarquia e a nobreza se opuseram a essa “solução”, Turgot se demitiu em 1776 e a crise
continuou se agravando.
em 1781, o déficit atingiu níveis estratosféricos e, ao tornar público os cálculos do tesouro
francês para aquele ano, Necker provocou um escândalo, que lhe valeu a demissão (1783),
sendo substituído pelo conde de Calonne.
DADOS FINANCEIROS DO ESTADO FRANCÊS
 CÁLCULO DO TESOURO FRANCÊS (1781)
- Receita:
503 milhões de libras-ouro
- Despesas: 629 milhões de libras-ouro
- DÉFICIT: 126 milhões de libras-ouro
Gastos:
- Investimentos em saúde e educação:
- Despesas militares:
- Despesas com a Corte de Versalhes
(bailes, banquetes, criadagem, etc.)
12 milhões de libras
165 milhões de libras
36 milhões de libras
 Preço médio, na França, dos gêneros de primeira necessidade (1782)
- salário médio diário = 18 soldos
- 1 libra de pão
- 1 pinta (0,93 litro) de leite
- 1 libra de manteiga
- 1 libra de óleo
- 1 libra de sal
- 1 dúzia de ovos
- 1 libra de queijo
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- uma libra = 450 gr (aproximadamente)
3 soldos
2 soldos
16 soldos
11 soldos
1 soldo
9 soldos
9 soldos
- 1 libra de carne (boi, vitelo, carneiro)
- 1 libra de carne de porco
- aves (frangos, patos) a peça
- 1 garrafa de vinho tinto
- 1 garrafa de vinho tinto
- cidra
7 soldos
9 soldos
22 soldos
4,5 soldos
4,5 soldos
2 soldos
em 1784, chuvas constantes prejudicaram as colheitas
em 1785, ocorreu uma das maiores secas do país (os dois últimos fatores conjugados,
aumentaram muito os preços dos produtos agrícolas, principalmente do trigo). Lembre-se
da “lei da oferta e da procura”, que é uma lei natural que independe da intervenção
humana
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em 1786, França e Inglaterra assinaram o Tratado de Éden-Rayneval (semelhante ao tratado
de Methuem): os ingleses comprariam o vinho francês e estes abririam seus portos às
manufaturas inglesas. Resultado: falência das manufaturas francesas; o preço do vinho caiu
e arruinou grande número de camponeses
em 1787, estimulados pelos preços, produziu-se trigo em grande quantidade, os preços
despencaram e os camponeses...
em 1788, os camponeses com “medo” dos preços, diminuíram a produção, principalmente
do trigo. O preço do pão subiu, os gastos com este produto consumiam boa parte do
rendimento dos assalariados, a fome se espalhou e com ela, a crise e a insatisfação.
Em 1787, o rei autorizou a livre exportação de grãos, com o objetivo de recuperar a
agricultura que havia sido prejudicada pela estabilidade dos preços internos (uma
estabilidade prejudicial aos camponeses, que não conseguiam mais acompanhar os altos
custos de vida) e uma parte importante da colheita foi vendida ao exterior. O inverno de
1788-1789, um dos mais frios e mais longos do século, não resultou em um rendimento
melhor da colheita para o verão seguinte.
OBS.: O preço dos grãos disparou repercutindo diretamente no preço do pão: os preços subiram
50% na região Nordeste, 75% no Norte e 100% no Leste. Em 1789, alguns donos de oficinas
propuseram a redução do salário para 15 soldos diários.
OS ANTECEDENTES DA REVOLUÇÃO
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Assembleia dos Notáveis (1787): seguindo sugestão de Calonne (ministro das finanças),
Luís XVI convocou nobres e clérigos para uma reunião, onde seria proposta a tributação
sobre suas fortunas. A maioria dos convocados não atendeu a convocação e nem sequer
respondeu (onde está o absolutismo monárquico?)
como a crise se tornou insustentável, Luís XVI convocou a ASSEMBLEIA DOS ESTADOS
GERAIS, uma assembléia consultiva, que o soberano poderia convocar em época de crise
para saber a opinião do povo.
a convocação dos Estados Gerais fez surgir o “Partido Patriota”, formado pela burguesia e
pelo povo, que lançou panfletos, fez reuniões e agitou o debate sobre a assembléia.
a burguesia aproveitou a oportunidade: fez campanha, críticas e elegeu a maioria dos
deputados para os Estados Gerais
surgiram os cahiers de dóleances (cadernos de lamentações), revistas antiabsolutistas, que
apresentavam, entre outras, duas reivindicações básicas: número de representantes do
Terceiro Estado igual aos dois outros somados e votação nos Estados Gerais por cabeça e
não por Estado (Luís XVI aceita dobrar o número de representantes do Terceiro Estado,
mas não o voto por cabeça)
um dos mais famosos panfletos lançados na época foi o do Abade Sièyes, membro do baixo
clero:
“O plano desse escrito é muito simples. Temos três questões a tratar:
1. O que é o Terceiro Estado? Tudo.
2. Que foi ele até o presente na ordem política? Nada.
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3. Que solicita? Tornar-se alguma coisa.”
- quando teve início a Assembleia dos Estados Gerais em maio de 1789, havia “um clima”
de revolta e expectativa no ar e foi impossível para o rei impedir o desenrolar dos
acontecimentos que levaram à Revolução Francesa e à queda do Antigo Regime.
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