PROPOSTAS DA ARQUIDIOCESE DE VITÓRIA PARA O PROGRAMA DE GOVERNO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO 2010 -2014 “A opção preferencial pelos pobres nos impulsiona, como discípulos e missionários de Jesus, a procurar caminhos criativos a fim de responder aos efeitos da pobreza” (DA 409) APRESENTAÇÃO A Arquidiocese de Vitória convida a todos os cristãos batizados a se posicionarem a favor da vida plena desde a sua concepção até o término natural e a reafirmarem a opção preferencial pelos pobres conforme exortam os Bispos da América Latina no documento de Puebla, recentemente enfatizada pelo I Sínodo da Arquidiocese de Vitória-ES. Isto implica em um compromisso ético e político. Por esta razão, o Conselho Pastoral da Arquidiocese de Vitória reuniu-se no dia 17 de julho de 2010 e definiu algumas propostas inspiradas pela Palavra de Deus e pela Doutrina Social da Igreja que se expressam neste documento. As diversas Encíclicas e Exortações Pontifícias e outros Documentos das Congregações da Santa Sé e CNBB, retomadas em 2008 pelo CELAM no Documento de Aparecida, apontam como dever da Igreja a elaboração de “ações concretas que tenham incidência nos Estados para a aprovação de políticas sociais e econômicas que atendam às várias necessidades da população e que conduzam para um desenvolvimento sustentável” (DA 403). Esta responsabilidade se faz necessária e urgente porque a globalização fez emergir em nosso país novos rostos pobres, novos excluídos e marginalizados da sociedade: os migrantes; as vítimas da violência; os refugiados; os sequestrados; as pessoas portadoras do vírus HIV; os tóxicodependentes; os idosos; os meninos e meninas vítimas da prostituição, entre outros. Apesar dos enormes recursos econômicos e tecnológicos, persiste a concentração dos bens, a insensibilidade ética e a falta de vontade política para resolver estas situações, pela transformação das próprias estruturas sociais e econômicas que reproduzem os processos de exclusão e opressão dos mais fracos. Daí o empenho da Igreja por uma “globalização da solidariedade e da fraternidade” (Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil – 2008-2010, 83). O Documento da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil lançado em 2010, intitulado “Por uma Reforma do Estado com Participação Democrática”, analisa com criticidade a atual conjuntura e as transformações políticas, sociais, históricas e econômicas ocorridas, destacando a reconfiguração do Estado neste cenário, mostrando-nos que é imprescindível, a transformação do Estado democrático representativo em um Estado democrático participativo, para que 1 alguns sinais de esperança voltem a potencializar a vida humana a favor do bem comum. Para isso “urge caminhar, criando espaços e estruturas que, num primeiro momento, apresentem a prática do novo, e, num segundo momento, criem a consciência de que fazer acontecer este novo não só é necessário, mas possível [...]. A prática construtiva do novo agir, de novas estruturas, contribui para o crescimento da consciência crítica. É um dos caminhos que levam à construção de um Estado verdadeiramente democrático, uma verdadeira res-pública” (76). Este Documento sugere algumas ações necessárias, entre as quais: rever o modelo econômico e o processo de mercantilização da vida; ampliar as oportunidades de trabalho; fortalecer exigências éticas em defesa da vida e do meio ambiente; democratizar o acesso à terra e ao solo urbano; consagrar o planeta como uma responsabilidade humana; implementar um novo modelo de segurança que reduza o índice de mortalidade, principalmente entre a juventude, instituir novas formas de economia e de consumo; democratizar a informação, e, consolidar uma reforma com participação popular. Diante das diretrizes da Igreja, a Arquidiocese de Vitória do Espírito Santo coloca-se como interlocutora da porção do Povo de Deus situada nesta circunscrição geográfica e convida os candidatos a assumirem em seus projetos de governo as propostas aqui apresentadas. . Assim sendo, queremos que as propostas aqui apresentadas, inspiradas na Palavra de Deus e expressas na Doutrina Social da Igreja sejam “luz para o agir dos cristãos no mundo da cultura, da política, da justiça, do trabalho, da saúde e da educação” ( Doc. Sinodal n. 146). _________________________ Dom Luis Mancilha Vilela, ss.cc. Arcebispo Metropolitano de Vitória do Espírito Santo 2 A. PROPOSIÇÕES GERAIS 1- GASTO SOCIAL PÚBLICO PROPORCIONAL AO GASTO PÚBLICO Os responsáveis e analistas da economia brasileira apontam perspectivas otimistas de crescimento acima de 5% no próximo período (IPEA, 2010) . Este fato inspira prognósticos positivos para a economia capixaba. Considerando que vivemos num ciclo de expansão econômica, a arrecadação continuara ampliando e isto exigirá novas definições para a distribuição dos recursos públicos estaduais. É necessário melhorar os indicadores sociais que continuam desumanos em nosso estado, apesar do crescimento econômico. Para tal, os investimos públicos feitos com recursos próprios estaduais devem equilibrar o gasto público e o gasto social distribuindo-os proporcionalmente, ou seja, o gasto social deverá ser ampliado na mesma proporção do aumento da despesa pública estadual no PPA Estadual 2011-2015. 2- DESCENTRALIZAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO Nas últimas décadas o Estado do Espírito Santo tem tido crescimento econômico acima da média nacional registrando atualmente taxa de 6% do Produto Interno Bruto (PIB). Todavia, os investimentos são concentrados, em mais de 50%, nas micro-regiões Metropolitana, Pólo Linhares e Metrópole Expandida Sul. Conforme os dados do Jornal A Gazeta de 25/07/2010, a perspectiva é ampliar, ainda mais, a concentração dos investimentos nestas três micro-regiões. Com isso, a população das referidas regiões recebe, proporcionalmente, vinte vezes mais recursos do que os habitantes do interior do estado e de outras regiões. Portanto, há um desequilíbrio na distribuição dos investimentos que precisa ser corrigido e, para isso, o Plano Plurianual do Estado (PPA) deve ser equanimente distribuído com todos os municípios e regiões. 3- IMPLANTAÇÃO DO ORÇAMENTO PARTICIPATIVO ESTADUAL O planejamento do estado deve ter uma visão gestora moderna e qualificada, ele deve ser resultado da discussão pública e participativa a fim de democratizar as decisões relativas ao desenvolvimento do Espírito Santo. Neste sentido, a Agenda ES2025 precisa ser rediscutida com as organizações da sociedade civil à luz do projeto de desenvolvimento nacional (esse é o modelo?) e dos interesses da população capixaba. 4- CRIAR O CONSELHO DE DESENVOLVIMENTO DO ESPÍRITO SANTO Não basta debater, é fundamental instituir e fortalecer os instrumentos de participação democrática e controle social, criando o Conselho de Desenvolvimento do Espírito Santo com participação das organizações da sociedade civil. 3 B. PROPOSIÇÕES ESPECÍFICAS As proposições gerais apresentadas não só favorecem, mas são fundamentais para que mudanças sociais aconteçam no estado do Espírito Santo. Nos últimos anos o investimento em questões sociais limitou-se a ações patrocinadas pelo governo federal que não foram suficientes para atender a demanda e, por isso, mantiveram e até aumentaram alguns índices como os de pobreza e violência e outras conseqüências deles derivadas. Urge, portanto que com bases nas mudanças advindas da implementação das 4 proposições gerais (Gasto social público proporcional ao gasto público, Descentralização do desenvolvimento, Orçamento participativo e Controle social) que outras ações sejam implementadas pelo próximo governo para que este quadro seja brevemente modificado. Sete eixos balizaram a definição das ações aqui propostas: I – Direito à gestão democrática e transparente e ao controle social; II – Direito ao desenvolvimento sustentável e respeito à natureza; III – Direito à justiça e segurança pública; IV – Direito à saúde e vida plena; V – Direito à educação e cultura; VI – Direito ao trabalho e formas alternativas de economia e geração de renda; VII – Direito à assistência social e promoção da vida e da cidadania. B. 1 AÇÕES EM DEFESA DE DIREITOS INALIENÁVEIS DO SER HUMANO I Rediscutir a agenda 2025 com as organizações da sociedade civil e fazer os ajustes que forem necessários para favorecer a democracia participativa e garantir condições necessárias para que os conselhos populares funcionem e mantenham independência de controle sobre as ações de governo. Implantação do orçamento participativo estadual com discussão ampla dos recursos do estado. Assegurar discussão pública e participativa dos grandes projetos de desenvolvimento para o estado. Assegurar distribuição equitativa dos recursos públicos entre os municípios do estado. Ampliar o uso dos mecanismos de consulta popular e participação direta (plebiscito e referendo) para tomada de decisões de maior impacto social e ambiental. II Incluir de maneira incisiva a preferência por opções que respeitem o meio ambiente e incentivem aquilo que já existe, como produtores de água e 4 comitês de bacias, projeto ES sem lixão, redução, monitoramento e controle de poluição industrial, ampliação do PRONAF e programas de micro-crédito, regularização dos títulos de propriedade e legalização da terra. • • • • Previsão para o transporte coletivo e implantação de ciclovias interligadas na região metropolitana. Contrapor a monocultura, o apoio, o incentivo à agricultura diversificada e familiar. Apoio às cooperativas, empreendimentos da economia solidária, incluindo as cooperativas de catadores de material reciclável. Implantação de um programa de energia alternativa. III Reestruturar ouvidorias, corregedorias, processos seletivos, departamentos da polícia técnica, policiamento comunitário, políticas preventivas e tratamento aos detentos de tal forma que a garantia à justiça e à segurança se torne uma realidade e, articular com o governo federal apoio aos municípios para atendimento à saúde e aos migrantes. Aos autores de atos infracionários praticados por adolescentes Mudanças no conceito e pedagogia do Sistema Prisional do Estado, tendo sempre a pessoa humana como centro, como sujeito de respeito e de sua re-educação para a convivência na sociedade Apoiar o sistema APAC nas regiões principais do Estado. Atendimento médico-hospitalar dentro do presídio com a criação de uma unidade hospitalar para cada um. Garantir acesso a todos os presos à escolaridade, profissionalização e ensino religioso. Criação de pequenas unidades regionalizadas, criação de centros psicosociais para as vítimas de violência e execução de programas para acompanhamento de egressos. Adoção de um projeto político-pedagógico que ajude efetivamente na recuperação dos adolescentes e implementação das medidas de cumprimento em regime aberto, substituindo o aprisionamento. IV Ampliar o conceito de saúde incluindo os saberes da medicina alternativa e fitoterápica e os trabalhos de profissionais de saúde, pastorais de diversas Igrejas que possam ajudar a minimizar o sofrimento e humanizar o tratamento aos pacientes. Construir e melhorar postos de atendimento que tenham capacidade de oferecer os primeiros atendimentos com segurança e qualidade e encaminhar os pacientes com necessidade para um atendimento especializado em hospitais facilitando o acesso aos mesmos. Formar o COMAD (Conselho Municipal Anti-Drogas) em todos os municípios do Estado, com a participação de profissionais da saúde, assistência social, área jurídica, pastorais da Igreja e segmentos da sociedade, 5 com o objetivo de oferecer atendimento aos usuários de substâncias psicoativas e a seus familiares. Humanizar o Sistema de Saúde Pública, pleiteando a construção de mais hospitais (por região), principalmente nos municípios do interior do Estado, para que as pessoas não tenham que se deslocar para os grandes centros, acarretando altos custos de deslocamento e hospedagem. Melhorar a infraestrutura (mais leitos, mais equipamentos de CTI, etc.) e ampliar a capacidade de atendimento dos hospitais. Maior investimento na capacitação dos profissionais de atendimento da Saúde Pública. Também é importante a ampliação do número de especialidades atendidas pelo Sistema Público de Saúde. Garantir ou estabelecer critérios de isenção de questões político-partidárias dentro dos Conselhos de Saúde. Criar um banco de dados (com acesso ou divulgação pública) de dados estatísticos de doenças epidêmicas ou não, internações hospitalares, óbitos ou outros parâmetros de qualidade na saúde. Utilizar dados fornecidos pelas entidades civis e Pastorais da Igreja. V Rever o processo de municipalização e competência entre Estado e Município para garantir a educação básica, adotar uma política de ações integradas com todas as secretarias estaduais que garantam acesso, permanência e educação de qualidade e democratizar a cultura como direito de todos e identidade do povo capixaba. Estabelecer uma política de turismo valorizando tanto o interior quanto o litoral. Estabelecer um projeto de valorização e formação continuada do professor. Transformar as escolas em lugar privilegiado de promoção e formação integral mediante a apropriação sistemática e crítica da cultura brasileira capixaba. Garantir uma rede adequada de cursos profissionalizantes para os alunos que concluíram o Ensino Médio. Priorizar a atenção para com as crianças educando-as em tempo integral com projetos de lazer, estudo e trabalhos manuais. Dar atenção especial aos idosos com terapia ocupacional produtiva. Estabelecer políticas de valorização e resgate da cultura local, criando espaços para o fomento de práticas culturais, como a tradição centenária das panelas de barro. 6 VI Descentralizar o desenvolvimento e incentivar financeiramente grupos que trabalham com economia solidária, cooperativas e associações, incentivando a produção rural e oferecendo condições que favoreçam a permanência no campo, e, investir em conhecimento tecnológico seja com incentivos como formação. Fomentar o desenvolvimento de tecnologias leves para atender às necessidades de pequenos e micro empresários, tais como: Selaria de Ecoporanga; Peneira de Gabriel da Palha; Materiais recicláveis; Curtume de couro de peixe; Diversificação de utilização de carne de peixe. Ampliar o ensino profissionalizante estadual. Fomentar parceria das escolas públicas profissionalizantes com grupos de economia solidária, cooperativas, associações, micro e pequenas empresas, empreendimentos no campo e na cidade, para estágio e primeiros empregos. Ampliação da assistência técnica do Estado no campo e na cidade para pequenos empreendimentos. VII Priorizar o desenvolvimento social e incluir a participação da sociedade civil e das famílias, sem que isso cause descompromisso do governo e estabelecer metas específicas para a erradicação da extrema pobreza. Os futuros políticos ocupantes do executivo e legislativo reconheçam a existência do GAL. Que o plano do governo estadual garanta efetivamente a opção preferencial pelos pobres e excluídos que se reflitam em: maior orçamento para a área de assistência social; integração de fato das políticas e programa nos três níveis de governo: federal, estadual e municipal segundo a proposta de LOAS (lei orgânica de assistência social); que o orçamento estadual amplie o porcentual obrigatório para as áreas de saúde e educação; continuidade das ações que vem atendendo as políticas de emprego e renda e superação da pobreza e miséria; priorizar ações para crianças, adolescentes, e juventude bem como a prevenção e combate a droga, fortalecendo a rede sócio assistencial de serviços especializados. Ajudar financeiramente as famílias que ainda vivem em extrema pobreza. Reconhecer as pastorais existentes na Arquidiocese e fortalecer as relações com os respectivos programas governamentais, exemplo pastoral familiar com programas família na escola, bolsa família, saúde da família. 7