servos dos servos

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SERVOS DOS SERVOS
Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também. João
13:15
No cenáculo de uma morada de Jerusalém, achava-Se Cristo à mesa com os
discípulos. Tinham-se reunido para celebrar a páscoa. O Salvador desejava
celebrar essa festa a sós com os doze. Sabia que era chegada a Sua hora; Ele
próprio era o Cordeiro pascoal, e no dia em que se celebrava a páscoa, devia ser
sacrificado.
As ceias pascoais haviam sido cenas de especial interesse; mas nessa ocasião Jesus
estava perturbado. Tinha o coração oprimido, e havia uma sombra a toldar-Lhe o
semblante. DTN 642
Enquanto se achavam reunidos ao redor da mesa, disse Ele em tom de tocante
tristeza: "Desejei muito comer convosco esta páscoa, antes que padeça; porque vos
digo que não a comerei mais até que ela se cumpra no reino de Deus." Luc. 22:15 e
16.
 Porque da tristeza de Jesus: O pensamento do que Ele próprio deveria
sofrer estava sempre relacionado com os discípulos em Seu espírito. Não
pensava em Si mesmo. O cuidado por eles era o que predominava em Sua
mente.
Havia "entre eles contenda, sobre qual deles parecia ser o maior". Essa rivalidade,
manifestada na presença de Cristo, O entristeceu e magoou. Apegavam-se os
discípulos a sua idéia favorita de que Cristo firmaria Seu poder, e tomaria Seu
posto no trono de Davi. E no coração cada um continuava a anelar a posição mais
elevada no reino.
Quando os discípulos entraram na sala da ceia, tinham o coração cheio de
ressentimentos. Judas apressou-se a tomar lugar junto de Cristo, à esquerda; João
estava à direita. Se houvesse lugar mais elevado, Judas estava decidido a ocupá-lo,
e esse lugar, julgava-se, era junto de Cristo. E Judas era um traidor.

Outra causa de dissensão:
Numa festa, era costume que um servo
lavasse os pés aos hóspedes, e nessa ocasião se fizeram preparativos para
esse serviço. O jarro, a bacia e a toalha ali estavam, prontos para a lavagem
dos pés; não havia nenhum servo presente, porém, e cabia aos discípulos
fazer isso. Mas cada um deles, cedendo ao orgulho ferido, resolveu não
desempenhar a parte de servo. Todos manifestaram total desinteresse,
parecendo inconscientes de haver qualquer coisa para fazerem. Por seu
silêncio, recusavam-se a humilhar-se.
Com o espírito que então os animava, nenhum deles estava preparado para a
comunhão com Cristo. Enquanto não fossem levados a um estado de humildade e
amor, não estavam preparados para participar na ceia pascoal, ou tomar parte na
cerimônia comemorativa que Cristo estava para instituir.

O exemplo de Jesus:
Como haveria Ele de acender amor no coração
deles, e habilitá-los a compreender aquilo que lhes ansiava dizer?
Então Ele, o divino Mestre, Se ergueu da mesa. Pondo de lado a veste exterior, que
Lhe poderia estorvar os movimentos, tomou uma toalha e cingiu-Se. Com
surpreendido interesse olhavam os discípulos, esperando em silêncio ver o que se ia
seguir. "Depois deitou água numa bacia, e começou a lavar os pés aos discípulos, e
a enxugar-lhos com a toalha com que estava cingido." João 13:5.
Ao lavar os pés aos discípulos, Cristo deu nova prova de que estaria disposto a
fazer qualquer serviço, por mais humilde que fosse, que os tornasse co-herdeiros
Seus da fortuna eterna do tesouro celeste. Seus discípulos, ao realizarem o mesmo
rito, penhoram-se a si mesmos para servir de igual maneira aos seus irmãos.
Sempre que essa ordenança é devidamente celebrada, os filhos de Deus são levados
a uma santa relação uns para com os outros, para se ajudar e beneficiar
mutuamente. Comprometem-se a dar a vida a um desinteressado ministério. DTN
651
Esta ação abriu os olhos deles. Profunda vergonha e humilhação os possuiu.
Entenderam a muda repreensão, e viram-se a si mesmos sob um aspecto
inteiramente novo.
Assim exprimiu Cristo Seu amor pelos discípulos. O espírito egoísta que os
animava, encheu-O de pesar, mas não entrou em discussão com eles a respeito do
caso. Deu-lhes em vez disso um exemplo que nunca esqueceriam.
 Judas resiste à voz do Espírito Santo:
Quando as mãos do
Salvador estavam lavando aqueles empoeirados pés, e enxugando-os com a
toalha, o coração de Judas comoveu-se intensamente com o impulso de
confessar no mesmo instante e ali mesmo o seu pecado. Mas não se queria
humilhar. Endureceu o coração contra o arrependimento, e os velhos
impulsos, no momento postos de lado, dominaram-no novamente.
Foi possuído por um demônio, e resolveu completar a obra que concordara em
fazer, entregando seu Senhor.
Escolhendo sua posição à mesa, Judas procurara colocar-se em primeiro lugar, e
Cristo, como servo, servira-o primeiro. João, para com quem Judas sentira tão
grande amargura, foi deixado para o fim. Mas João não tomou isso como
repreensão ou menosprezo.

A lição que Cristo desejava transmitir:
Cristo queria que Seus
discípulos entendessem que, se bem que Ele lhes houvesse lavado os pés, isto
em nada Lhe diminuía a dignidade. "Vós Me chamais Mestre e Senhor, e
dizeis bem, porque Eu sou." João 13:13. Ninguém tão exaltado como Cristo,
e todavia abaixou-Se até ao mais humilde dever.
Em Sua vida e ensinos, Cristo deu um perfeito exemplo do abnegado ministério
que tem sua origem em Deus. Deus não vive para Si.
O orgulho e o interesse egoísta criaram dissensão e ódio, mas tudo isso lavou Cristo
ao lavar-lhes os pés. Operou-se uma mudança de sentimentos. Olhando para eles,
Jesus podia dizer: "Vós estais limpos." João 13:10. Agora havia união de coração,
amor de um para com o outro. Tornaram-se humildes e dóceis. Com exceção de
Judas, cada um estava disposto a conceder ao outro o mais alto lugar. Então, com
coração submisso e grato, estavam aptos a receber as palavras de Cristo.

O princípio do reino de Cristo:
Repetidamente procurara Jesus
estabelecer este princípio entre os discípulos. Quando Tiago e João pediram
para ser postos em destaque, disse: "Todo aquele que quiser entre vós
fazer-se grande seja vosso serviçal." Mat. 20:26. Em Meu reino não tem
lugar o princípio de preferência ou supremacia. A grandeza única é a
grandeza da humildade. A única distinção baseia-se na dedicação ao serviço
dos outros. Uma ordenança consagrada: Cristo estava aí
instituindo um culto. Pelo ato de nosso Senhor, esta cerimônia humilhante
tornou-se uma ordenança consagrada. Devia ser observada pelos discípulos,
a fim de poderem conservar sempre em mente Suas lições de humildade e
serviço.
Esta ordenança é o preparo designado por Cristo para o serviço sacramental.
Enquanto o orgulho, desinteligência e luta por superioridade forem nutridos, o
coração não pode entrar em associação com Cristo. Não estamos preparados para
receber a comunhão de Seu corpo e de Seu sangue. Por isso Jesus indicou que se
observasse primeiramente a comemoração de Sua humilhação.
Existe no homem a disposição de se estimar em mais alta conta do que a seu irmão,
de trabalhar para si mesmo, de procurar o mais alto lugar; e muitas vezes isso dá
em resultado ruins suspeitas e amargura de espírito. A ordenança que precede à
ceia do Senhor, deve remover esses desentendimentos, tirar o homem de seu
egoísmo, fazê-lo baixar de seus tacões de exaltação própria à humildade de coração
que o levará a servir a seu irmão.
Deus se faz presente na cerimônia do lava pés: o
santo Vigia do
Céu acha-Se presente nesses períodos para torná-los uma ocasião de exame de
consciência, de convicção de pecado, e de bendita segurança de pecados perdoados.
Quando os crentes se reúnem para celebrar as ordenanças, acham-se presentes
mensageiros invisíveis aos olhos humanos. ... Anjos celestes... ali se encontram.
Esses invisíveis visitantes se acham presentes em toda ocasião como essa. ...
Aquele que lavou os pés de Judas, anseia lavar todo coração da mancha do pecado.
... Todos quantos ali chegam com a fé baseada nEle, serão grandemente
abençoados. Dá teu coração a Jesus. Hino 341
Pr. Clovis P. Salgado
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