A presença das redes sociais nos cursos de graduação da modalidade a distância Adriana Barroso de Azevedo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Metodista de São Paulo Eixo 5: Pesquisa em Pós-Graduação em Educação, Linguagem e Mídias Categoria: Comunicação Introdução A tecnologia não ensina os alunos; os professores eficientes, sim. (Whitesesl apud PALOFF, 2002, p. 87) Ferrés (1998, p. 129) nos provoca ao afirmar que “uma palestra pode ser tão ou mais aborrecida se assistida pela pequena tela do que se escutada diretamente. A máquina não contribui em nada para a sedução dos discursos”. Tomando como base este princípio, pode-se observar que o mais importante não é produzir um material e sim atentar-se a como ele é produzido, seus atributos, seus detalhes, qualidades e a aliança entre elementos técnicos e pedagógicos tornando o objeto atraente, estimulante e contextual. Existe uma lamentável confusão entre o emprego das tecnologias da informação e da comunicação, como um conjunto de ferramentas da educação a distância, e a prática da educação a distância em si. O acesso à informação não é equivalente ao acesso ao conhecimento e às oportunidades de educação. Devemos abordar as novas formas de comunicação como oportunidades estimulantes para o uso da linguagem com a finalidade de pensar conjuntamente e como novos meios de montagem de andaimes dos processos de construção do conhecimento dos estudantes no uso da linguagem como instrumento do pensamento ( MERCER; ESTEPA, 2001, p.33). Surgem novas práticas de ensino, com novos enfoques e metodologias através da tecnologia. Tecnologia esta que, inclusive, não deve ser tomada como ponto único e central da questão, já que a tecnologia por si só não garante o aprendizado e faz-se necessário o trabalho em conjunto entre professores e equipes especializadas em produção de conteúdos e materiais didáticos de forma a aliar aspectos como técnica e didática, uma vez que estes devem utilizar de características como interatividade e dinamismo que, quando bem utilizados, facilitam o aprendizado. Nesse sentido, o espaço educativo é uma rede social e podemos afirmar que as redes sociais sempre existiram e não são invenção da contemporaneidade, porém, a disseminação e uso ampliado das tecnologias digitais de informação e comunicação (TDIC) veio a tornar possível relações virtuais. Educação a distância: contexto e possibilidades formativas As incertezas inerentes ao processo de construção da modalidade não têm impedido o grande crescimento da EAD no Brasil e as possibilidades abertas a partir de seu desenvolvimento. A evolução da educação à distância - EAD, como prática de qualidade no contexto educacional brasileiro tem colocado em pauta a necessidade de uma reflexão sobre vários conceitos que envolvem o processo de ensino e aprendizagem. Há que se fazer adaptações profundas, não apenas no formato, mas, sobretudo, na forma de ver a educação e os processos de interação. Evidentemente, inserir-se no mundo tecnológico, no âmbito da EAD, não é uma questão facilmente assimilada, mas cabe, principalmente ao professor, o papel de auxiliar aquele aluno que no cotidiano de um curso superior a distância ainda não possui ferramentas para que possa fazer as articulações necessárias para o processo de construção do seu conhecimento. MASETTO (2000 p. 133) aborda o assunto dizendo que o professor não é preparado e treinado a aperfeiçoar sua prática pedagógica ao afirmar: Nos próprios cursos de formação de professores (cursos de licenciatura e pedagogia), percebe-se por parte dos alunos a valorização do domínio de conteúdo nas áreas específicas em detrimento das disciplinas pedagógicas. Alunos e, por vezes, professores dos cursos de história, geografia, matemática, física, ciências, biologia, sociologia e outros afirmam, sem constrangimento, que o importante para se formar professor é o domínio dos conteúdos dos respectivos cursos. Nota-se, portanto, a necessidade do professor deixar de ser ponto central do processo de ensino e aprendizagem e destaca-se a necessidade de um trabalho em conjunto entre docentes, alunos e demais agentes envolvidos na EAD. Nesse sentido, há uma multiplicidade de agentes que intervêm na EAD desde o desenho do curso até a avaliação de aprendizagem dos alunos. Diferentemente do que ocorre com um professor de ensino convencional, que normalmente trabalha de forma individual, na docência a distância são necessárias equipes de especialistas nos diferentes campos, como os planejadores, especialistas em conteúdos, tecnólogos da educação, especialistas na produção de materiais, responsáveis por guiar a aprendizagem, tutores e avaliadores (ARETIO, 2002, p.116). Nesta formação, temas como modelos pedagógicos mais construtivistas e participativos, necessidade da mediação tecnológica e adequação aos novos meios, devem ser amplamente abordados com a finalidade de acolher o docente nesta modalidade de educação e não tornar esta experiência traumática. A formação e preparo dos docentes para atuarem na modalidade deve apresentar as novas possibilidades e desafios que a educação a distância oferece à sua prática profissional. Outras formações mais técnicas também devem ser abrangidas como por exemplo: capacitação para ministrar aulas em estúdio, linguagem para tv, técnicas de fala, respiração e dicção, usabilidade de ambientes virtuais, etc. No exemplo da Universidade Metodista de São Paulo, oficinas de capacitação docente são abertas a cada início de semestre de forma a acolher os novos docentes. Dentre as oficinas, destacam-se o CAPDOC TV (curso de capacitação para ministrar aulas em estúdio, linguagem televisiva, gestual, corporal e facial), bem como oficinas para capacitação técnica para o uso de diversos softwares (pacote Office, utilização do AVA1 – Ambiente Virtual de Aprendizagem, entre outros) e curso de Elaboração de aulas EAD nos quais são explicitados os fundamentos da modalidade, o modelo pedagógico adotado pela Instituição, os elementos estruturantes da prática pedagógica e as possibilidades metodológicas. Uma vez que o docente compreende cada um dos pontos citados na formação, seu papel e responsabilidade ficam nítidos, auxiliando sua participação durante todo o processo de preparo e construção de aulas, minimizando algumas resistências que possam surgir devido à preconceitos ou falta de informação. Para Ferrés (1998, p. 130): Um trabalho de comunicação audiovisual é deficiente se não houver linguagem de síntese. Quando não há interação entre os elementos, mas simples justaposição, quando não há síntese, mas dissociação, não se produz no receptor uma experiência unificada: as idéias vão por um lado, veiculadas pelo texto verbal, e as emoções por outro, provocadas pelas imagens e músicas. Resultado: as emoções não somente não são portadoras dos significados, mas os anulam, bloqueiam a sua compreensão. Percebe-se, desta forma, que é preciso atentar-se a diversas questões como vocabulário, didática, dinamismo, entre diversos outros fatores influenciadores para que o docente possa contribuir no processo de construção de conhecimento dos seus alunos. O contexto das redes sociais veiculadas na Web 2.0 demanda novos saberes docentes para atuar nos ambientes de rede, como advertem Gatti & Barreto (2009), em menção ao papel expandido do professor na EAD. Saberes que se erguem em meio à seguinte tríade: a) saber específico à área do 1 A Universidade Metodista de São Paulo utiliza nos cursos da modalidade a distância a plataforma Moodle. conhecimento que professa; b) competência didática; c) fluência tecnológica. Se o processo de ensino-aprendizagem é interativo e complexo, a saída pode se apresentar no trabalho integrado. Portanto, se necessário, o professor que atua nos ambientes de rede poderá trabalhar em parceria com uma equipe multidisciplinar de educadores, comunicólogos e profissionais da área de Tecnologia da Informação (PESCE. 2010, p. 268). Nesse sentido, o trabalho em conjunto é estritamente necessário na modalidade a distância, apenas da aliança entre pessoas especializadas na técnica e os professores em contribuírem com o conteúdo e a didática, é possível construir materiais eficazes. Masetto (2000, p. 155) reforça a necessidade da integração de várias técnicas no processo de ensino-aprendizagem: Não se pode pensar no uso de uma tecnologia sozinha ou isolada. Seja na educação presencial, seja na virtual, o planejamento do processo de aprendizagem precisa ser feito em sua totalidade e em cada uma de suas unidades, Requer-se um planejamento detalhado, de tal forma que as várias atividades sejam bem realizadas e a aprendizagem aconteça. Uma técnica se liga a outra, e a integração das várias técnicas é que dará consistência ao processo de educação a distância. Não acreditamos em uma aprendizagem ou mesmo presencial utilizando as novas tecnologias, porém, de modo esparso, de quando em quando, e sempre da mesma maneira. De nada adianta um material que não seja adequado ao tripé pedagógico: técnica, didática e conteúdo. Um material que tenha somente técnica e didática será transmitido, porém não fará sentido ou não acrescentará nada ao aluno. Um material que possua somente didática e conteúdo, não será disponibilizado de forma satisfatória, comprometendo a recepção da mensagem e assimilação da informação. Por fim, um material que tenha somente técnica e conteúdo pode não ser interpretado pelos alunos apesar de ser disponibilizado satisfatoriamente. A reflexão colocada por Paulo Freire parece ser bastante atual quando discutimos assunto tão importante e relativamente novo no cenário nacional como a Educação a Distância. Ninguém sabe tudo, assim como ninguém ignora tudo. O saber começa com a consciência do saber pouco (enquanto alguém atua). É sabendo que sabe pouco que uma pessoa se prepara para saber mais. [...] O homem, como um ser histórico, inserido num permanente movimento de procura, faz e refaz constantemente o seu saber. E é por isso, que todo saber novo se gera num saber que passou a ser velho, o qual, anteriormente, gerando-se num outro saber que também se tornara velho, se havia instalado como saber novo. Há, portanto, uma sucessão constante do saber, de tal forma que todo novo saber, ao instalar-se, aponta para o que virá substituí-lo (FREIRE, 1981, p.47). Há uma tendência ou a defendermos idéias revolucionárias que desprezam por completo o já existente e construído, ou repetirmos as idéias clássicas, já postuladas, que permanecem sem oferecer soluções aos problemas educacionais. A educação a distância não é apenas aprender de longe; supõe a permanência do indivíduo em seu meio para convertê-lo assim em um fator de educação (CIRIGLIANO, apud ARETIO, 2002, p. 78). Neste sentido, educar é preparar para a liberdade, transformar o aluno em um ser livre por saber escolher e atuar socialmente. No processo educativo mediado pela tecnologia é preciso acompanhar a rotina diária dos alunos, conviver com seus dilemas, dúvidas e ansiedades, partilhar de seus sucessos, estimular a diversidade, torcer para que os alunos tenham suas próprias idéias e que tenham a coragem de defendê-las e fundamentá-las. A EAD pode fomentar o ganho de independência de critério, capacidade para pensar, trabalhar e decidir por si mesmo e de satisfação pelo esforço pessoal (ARETIO, 2002, p. 78). As ações desenvolvidas no âmbito dos cursos a distância possibilitam repensar a organização do espaço da ação educativa e devem ter por objetivo assegurar a promoção do ser humano, minimizando os efeitos marginalizadores, excludentes, seletivos e impessoais do sistema educacional tradicional. A mudança na forma de aprender e de ensinar e as novas relações que se estabelecem, intermediadas pela tecnologia na EAD podem desencadear ações interativas de aproximação social ou de diminuição das lacunas entre os homens. A instituição educacional assume relevante papel na transformação da sociedade nesse contexto, pois é o espaço privilegiado do aprender, do ensinar, do pensar, de aprender a reflexão como prática social, oportunizando apoios e estímulos múltiplos, diminuindo as distâncias, auxiliando o aluno a ser e a ter uma vida mais satisfatória e cheia de sentido. Belloni (2010) afirma que, do ponto de vista teórico, precisam ser atualizadas as dimensões pedagógica, tecnológica e didática para uma adequada formação de professores, tanto para EaD como para o ensino presencial sintonizado com o presente ou futuro. As redes sociais no cenário da EAD – apresentando a pesquisa “Redes podem ser sociais, de significado, de aprendizagem, comerciais, etc. Todas indicam conexões, links que integram, ligam temas, assuntos, olhares, idéias, conceitos, políticas – enfim, grupos de pessoas que possuem algo em comum. São comunidades que buscam algo parecido” (BRUNO, 2010, p.177). Há um número crescente de acessos aos vídeos do Youtube, ao Twitter, Facebook, Ning, etc. Essas redes se alimentam de novas informações, contatos, trocas, compartilhamento, socialização e também conhecimento produzido e consumido, armazena o não tão novo, o novo e o super novo. Para Marinho (2010, p.200:201) A Web 2.0 é aquela de leitura e escrita, da autoria, quando o internauta pode se tornar, além de (co)autor ou (co)produtor, distribuidor de conteúdos, compartilhando a sua produção com os demais indivíduos imersos em uma cibercultura. “Ele deixa de ser apenas um leitor isolado do texto de terceiros, pode não permanecer como tão somente um coletor de informações. Agora o internauta tem a possibilidade de colaborar na criação de grandes repositórios de informações, tornando-se também semeador, contribuindo para que toda uma riqueza cognitiva se estabeleça e se expanda” (MARINHO. 2010, p. 201). Um dos argumentos mais utilizados na defesa do uso das redes sociais em processos formativos é que o trabalho em rede favorece a colaboração, a cooperação, tirando o aluno de um processo solitário, como que o trazendo para ações mais solidárias, ajudando os outros enquanto ele mesmo aprende (MARINHO, 2010, p.203). Na educação a distância a Internet é o principal recurso para acesso às informações e pesquisa. Por meio do site das instituição de ensino, os alunos têm acesso à plataformas de aprendizagem onde podem consultar materiais e participar de discussões dos temas de seu curso. Na Universidade Metodista de São Paulo, além destes recursos, no sistema SIGA a universidade disponibiliza um software de interação entre docentes e discentes: ELLUMINATE, que pode ser utilizado para apresentação e discussão de trabalhos acadêmicos. Por fim, também são utilizados outros recursos tecnológicos gratuitos, tais como: Skype, Google, Messanger e Youtube nas práticas pedagógicas cotidianas dos cursos. O contemporâneo ressignifica a compreensão de redes, e as relações humanas se constituem em redes sociais. Desvelar os limites e possibilidades do uso das redes sociais no processo formativo realizado em um curso a distância é o desafio dessa pesquisa em andamento intitulada Formação docente na modalidade a distância – desafios e possibilidades. Objetiva-se com desenvolvimento desta pesquisa aprofundar as discussões sobre a formação superior na modalidade a distância e analisar o que indicam os estudantes sobre seu próprio curso de formação na modalidade. A pesquisa A pergunta que se coloca nessa pesquisa aos estudantes da modalidade a distância busca entender como esses laços sociais digitais, relações no ciberespaço, são compreendidas e utilizadas ou vislumbradas como possibilidades por esses alunos. Busca-se entender como o conceito de coprodução, co-autoria, compartilhamento e colaboração é vislumbrado pelos estudantes a partir do uso das TDICs. Nesse sentido, o corpus da pesquisa foi definido a partir da respondência voluntária dos alunos ao questionário proposto e posterior análise dos dados da pesquisa aplicada aos alunos dos cursos de licenciatura em Ciências Sociais, Pedagogia, Filosofia, Letras, Administração, Teologia e os cursos superiores de tecnologia em Gestão Ambiental, Recursos Humanos, Marketing, Processos Gerenciais, Gestão Pública e Financeira na modalidade a distância, oferecidos pela Universidade Metodista de São Paulo. A pesquisa que ocorreu no mês de dezembro de 2010 partiu de uma questão aberta: Como o conteúdo do seu curso na modalidade a distância pode promover relações de qualidade a partir das redes sociais (orkut, grupos de discussão, etc)? A questão foi respondida por 1.200 alunos e os resultados abrem caminhos para diversas reflexões sobre os limites e possibilidades do uso das redes sociais no ambiente formativo dos alunos da modalidade a distância. Metodologia A pesquisa buscará classificar, quantificar e qualificar as respostas, bem como, demonstrar as possíveis causalidades existentes. Para possibilitar essa análise optou-se por uma pesquisa quantitativa descritiva e qualitativa. Vale ressaltar que os dados quantitativos só se mostram pertinentes no presente estudo quando fornecem elementos para uma avaliação qualitativa do objeto. Instrumento utilizado A coleta de dados consistiu de aplicação de um questionário. A análise dos dados será feita utilizando a técnica de análise de conteúdo, visando à descrição sistemática, objetiva e quantitativa dos levantamentos alcançados. Por meio de análise de conteúdo do material selecionado, definir-se-á os temas pautados e palavraschaves. As frases definidoras das respostas serão avaliadas qualitativamente de acordo com a categoria a que se referirem. Delimitação do corpus e tratamento dos dados A coleta de dados que ocorreu no mês de dezembro de 2010 partiu de uma questão aberta: Como o conteúdo do seu curso na modalidade a distância pode promover relações de qualidade a partir das redes sociais (orkut, grupos de discussão, etc)? A questão foi respondida por 1.200 alunos, dos 13.000 matriculados na modalidade na Universidade Metodista de São Paulo e os resultados abrem caminhos para diversas reflexões sobre os limites e possibilidades do uso das redes sociais no ambiente formativo dos alunos da modalidade a distância. O tratamento dos dados compreende a fase atual da pesquisa aqui apresentada, fase de pré-análise, onde estão sendo organizados os materiais a serem estudados; seleção dos documentos; formulação das hipóteses; preparação do material e análise. Justificativa metodológica Buscando aclarar as opções de metodologias propostas para esta pesquisa, encontramos nas teorias consolidadas das Ciências Sociais uma explicação clara e objetiva. Trata-se, portanto de um trabalho qualitativo na medida em que buscará analisar os conteúdos das respostas dos alunos da modalidade a distância sobre o uso das redes sociais em seu processo formativo. Podemos definir também como quantitativo, pois foi através da quantificação de informações que chegaremos aos primeiros dados que nortearão a análise de conteúdo. A análise de conteúdo, que pode ser aplicada tanto na investigação quantitativa como na qualitativa, encontramos as justificativas necessárias que consolidaram a pesquisa. Foi por Bardin, em sua obra L’analyse de contenu, publicada em Paris, em 1977, que o método foi detalhadamente configurado (Triviños, 1992: 159). Para Bardin (1977, p. 21): (...) este método se presta para o estudo das motivações, atitudes, valores, crenças, tendências e, para o desvendar nas ideologias que podem existir nos dispositivos legais, princípios e diretrizes, que à simples vista, não se apresentam com a devida clareza. A análise de conteúdo é um conjunto de técnicas de análise das comunicações, visando, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, obter indicadores quantitativos ou não, que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção das mensagens . Para Trivinho (1992, p.160) “a análise de conteúdo é um meio para estudar as comunicações entre os homens, colocando ênfase no conteúdo das mensagens”. Com esta argumentação torna-se possível verificar que este tipo de análise privilegia as comunicações escritas, motivo pelo qual foi de grande utilidade nesta pesquisa, uma vez que o objeto é a apreciação do conteúdo das respostas dos alunos da EAD da Universidade Metodista de São Paulo. Sistematização de idéias iniciais Tratar do tema proposto nesta pesquisa exige pensar em transformação, em mudança de paradigma, de conceitos. Exige certa ousadia e flexibilidade, uma vez que será necessária a introdução de novos olhares no decorrer das análises. Nessa primeira fase da pesquisa houve a escolha dos documentos a serem submetidos a análise, formulação de hipóteses e objetivos e elaboração de indicadores que buscam fundamentar a interpretação final. Houve um momento de leitura flutuante que consistiu em estabelecer contato com os documentos analisados e no conhecimento do texto, deixando-me invadir por impressões e orientação (Bardin, 1977, p.96). Surgiram, desta forma, as hipóteses emergentes sobre o material. A escolha dos documentos, etapa posterior partiu de todo material coletado da análise das respostas de todos os alunos à questão proposta. Em decorrência das primeiras leituras surge a hipótese, de que será verdade que o aluno em formação, na modalidade a distância, sendo usuário cotidiano da tecnologia, seria um usuário potencial das redes sociais em seu processo formativo e aproveitaria desse potencial em suas futuras ações profissionais. Uma primeira análise do corpus foi quantitativa, centrada nessa primeira etapa da pesquisa, fundando-se “na freqüência de aparição de certos elementos da mensagem”(Bardin, 1977, p.114). No conjunto dos dados obtidos para esta primeira etapa da pesquisa, destaca-se para esta análise de conteúdo a categoria interação como principal, com 286 ocorrências no universo de 1.200 respostas. As tecnologias digitais de informação e comunicação (TDIC) vêm evidenciando, na educação à distância, o que deveria ser o cerne de qualquer processo de educação: a interação e a interlocução entre todos os agentes envolvidos nesse processo. Nessa primeira etapa da pesquisa percebeu-se através das falas descritas abaixo, quanto à interação, a troca, a cooperação e colaboração estão presentes na fala e no cotidiano do aluno da modalidade a distância. Apenas para ilustrar a riqueza do material coletado nessa primeira fase da pesquisa, seguem algumas respostas dadas pelos alunos à questão: Como o conteúdo do seu curso na modalidade a distância pode promover relações de qualidade a partir das redes sociais (orkut, grupos de discussão, etc)? As respostas aqui apresentadas ainda não estão categorizadas ou organizadas para a análise de conteúdo, mas a priori indicam a importância das redes sociais para a troca de experiências, idéias, informação, interação, comunicação e discussão. A análise de conteúdo, que ocorrerá nas próximas etapas desta pesquisa poderá nos ajudar a compreender melhor a dimensão desse processo na perspectiva dos alunos da modalidade a distância. 1- “Por meio dessas redes sociais podemos trocar experiências. O conteúdo do curso pode promover relações de qualidade a partir das redes sociais (orkut, grupos de discussão e outros), pois podemos através desses sites e/ou reuniões estudarmos e trocarmos idéias sobre determinado assunto específico do curso.” 2- “Quando trocamos idéias com outros colegas apesar de não conhecê-los pessoalmente, isso é muito bom para o nosso desenvolvimento no curso. Considero que o conteúdo do curso promove relações de qualidade pois incentiva o uso da internet para comunicação e troca de experiências.” 3 - “Grupos de discussões , blogs, são interessantes para trocar informações, trocar ideias sobre o processo pedagógico. Muitas vezes você está sem saber o que fazer com determinada sala de aula e um fórum pode das uma "clareada" na mente.” 4 - “A interação e a troca de conhecimentos podem ser realizadas através desses meios comunicativos de docentes e discentes. Compartilhando arquivos. Varias outras redes sociais abrem seus espaços para arquivar e compartilhar arquivos acadêmico, tonando isso uma prática de trocas de experiencias entre as pessoas interressadas num mesmo curso”. 5 - “O meio onde trabalho que lida somente com educação estabelece laços de afetividade e abre a porta para conhecimentos tanto nas relações pessoais quanto sociais. Nós, os professores, temos uma visão diferenciada do mundo, pois lidamos com a base do futuro das crianças que estão intimamente ligadas à nós e as trocas de informação são constantes, as conversas que acabam sempre gerando discussões em grande maioria sobre filhos, família e convívio social nos levam constantemente a reflexões e fortalecimento nas relações pessoais.” 6 - “Com a interação de pessoas com o mesmo objetivo, esse tipo de relação se torna agradável, pois a troca de experiências ajuda na formação de um bom profissional. Em busca do conhecimento podemos nos relacionar nesses grupos sim, mas com objetivos de aprender, trocar experiências profissionais.” 7 -“Tenho certeza de que as redes sociais podem ter um papel forte na promoção de relações entre os envolvidos. No primeiro ano (2009) criamos um e-mail e uma comunidade no orkut, com ajuda do monitor, para nossa sala. Acontece que com a mudança de alunos de sala, de monitor e entrada de novos não conseguimos manter a interação e esse trabalho acabou se perdendo. Também fizemos alguns lanches comunitários onde nos apresentávamos e conversávamos sobre nossas expectativas/dificuldades e era muito bom, mas com as alterações isso não ocorreu mais nesse ano”. 8 - “Na interação de membros e em grupos de discussões sobre temas propostos. O mais importante é isso, essa interação que o curso propõem, o virtual nos traz a responsabilidade de sermos mais interagidos nos ambientes telecomunicativos” 9- “A interação de pessoas com os mesmos objetivos e também o auxílio que um oferece ao outro nas dúvidas que ocorrerem. Apenas para a interação necessária relativos ao curso, para a comunicação informativa!” 10 - “A interação entre os póprios alunos, através dos fóruns, foi muito boa mesmo, especialmente quando algum professor temático conseguia responder, interagir.” “Pelo fato de poder através destes meios expor pontos de vista, adquirindo outras opiniões, e também como forma de interação entre os grupos. Por meio de sites que possibilitam uma interação para debater sobre os assuntos voltados à educação, pedagogia, tecnologia e outros. Não considero o orkut uma ferramneta essencial para esse tipo de debate. Promovendo a interação com as pessoas e sua cultura”. 11 - “A aquisição e a construção do conhecimento sempre pode contribuir para uma relação social de melhor qualidade, em qualquer meio de comunicação (orkut, grupos de discussão, televisão, jornais, etc). Considero que o conteúdo do curso promove relações de qualidade pois incentiva o uso da internet para comunicação e troca de experiências”. 12 - “Sempre que puder ter uma comunicação com o aluno através das redes sociais como, Orkut, Grupos de discussão, etc., é sempre bom e muito proveitoso.” 13 - “Em comunicação com pessoas que de alguma forma estão inseridas neste contexto, é importante saber, ter algo a acrescentar, trocar idéias e conhecimentos. Participar de discussões através desses meios de comunicação permite-me trocar idéias com pessoas de outros locais. A comunicação fica mais rápida e fácil e podemos falar com muitas pessoas. A comunicação é boa pois através desses recursos podemos tirar duvidas sobre o conteudo que está sendo estudado.’ 14 - “O conteúdo do curso pode promover relações de qualidade a partir das redes sociais (orkut, grupos de discussão e outro)s, pois podemos através desses sites e/ou reuniões estudarmos e trocarmos idéia sobre determinado assunto específico do curso. Nos fóruns de discussão da semana, no moodle , o professor do módulo apresentado no período deveria propor alguma questão pertinente para reflexão dos alunos, estimulando assim a discussão em grupo. Criar uma comunidade no orkut também é uma proposta interessante”. 15 - “Sempre que puder ter uma comunicação com o aluno através das redes sociais como, Orkut, Grupos de discussão, etc., é sempre bom e muito proveitoso. O uso de novas técnologias sempre são interessantes para atingir a mais pessoas, assim contribuindo para uma discussão maior sobre o temas estudados. Quando ocorre um bom apoveitamento do aluno/professor, os temas sempre são atuais e podem ser motivos de discussão’. 16 - “Foi através do curso que começei o meu estágio e nele conheci várias outras pessoas que como eu amam trabalhar com crianças. Adicionei várias professoras nos meus contatos do orkut e tenho que ter conhecimento para conversarmos, pois estudante de pedagogia só fala da aula passada, seu aprendizado e somos apenas 3 que EAD. E tenho conseguido provar que vale a pena sim, e que não é um curso inferior. E nos grupos de discussão se não é estudado o planejamento semanal logo sabe-se que a pessoa não o fez. Pois a maioria está colocando o seu ponto de vista sobre a matéria e sem estudo a pessoa não tem argumentos para a discussão.” 17 - “Em Guaianases, o curso possibilitou a formaçao de um grupo de estudos por iniciativa do colega Paulo Escobar Gonzalez, que realiza uma espécie de discussão itinerante com adolescentes e jovens quem tenham afinidade com matérias ligadas às ciências sociais.” Considerações Finais No caso dos cursos a distância, a interação é importante, pois é difícil pensar que a construção possa acontecer com o aluno isolado, tendo apenas o material de apoio ou uma tela de computador. Se não estivermos lidando com autodidatas, há todo um trabalho, fruto da interação entre o aprendiz e o professor e entre os próprios aprendizes, que deve ser realizado para que esta construção aconteça e o uso das redes sociais pode contribuir nesse processo de socialização, cooperação, colaboração e aprendizagem. Lucia Santaella (2004) salienta que a interação insere-se na medula dos processos cognitivos, nos ambientes de rede. Amparada em Bakhtin e Peirce, a pesquisadora destaca que o dialogismo traz nova luz para se compreender a interatividade e seu papel no desenvolvimento do peril cognitivo do leitor imersivo. Nesse intertexto declara: “... assim como as operações realizadas no ciberespaço externalizam as operações da mente, as interatividades nas redes externalizam a essência mais profunda do dialogismo (SANTAELLA apud, PESCE, 2010, p.260). Referências Bibliográficas ARETIO, Lorenzo García. La educación a distancia. 2ªed. Barcelona: Ariel, 2002. BELLONI, M. L. Mídia Educação e Educação a distância na formação de professores. In: MILL, D.; PIMENTEL, N. Educação a distância: desafios contemporâneos. São Carlos: EdUFSCar, 2010. MASETTO, M.T. Competência pedagógica do professor universitário. São Paulo: Summus, 2003. ALAVA, Seraphin & colaboradores. 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