CAPÍTULO DOIS COMO DEUS OPERA POR INTERMEDIO DOS SERES HUMANOS Deus me curou. Eu não estava me sentindo bem, então fui ao médico. A enfermeira fez alguns testes e os exames de laboratório identificaram o problema. Depois, o médico me receitou um remédio, fui à farmácia e rapidamente fiquei muito melhor. Mas mesmo assim foi Deus quem me curou. Ele o fez por intermédio da vocação dos médicos. Deus falou comigo. O pastor estava lendo a Palavra de Deus. No sermão, extraído da lei de Deus, percebi como era pecador, mas depois ele anunciou o evangelho, mostrando como Cristo fez tudo o que era preciso para a minha salvação e como eu fui perdoado por ele. Compreendi como Deus chegou até a mim por intermédio da vocação do pastor, Deus me alimentou, não com o maná, mas com o que ojovem atendente da rede de lanchonetes me ofereceu. Deus me vestiu e me abrigou, com a ajuda do meu empregador. Deus me protegeu, embora eu tivesse preferido que o policial rodoviário não tivesse me parado na estrada. Deus me proporcionou momentos de lazer, graças aos talentos que ele concedeu aos músicos que estou ouvindo no meu novo CD. Tudo isso deve ser pensado em termos de vocação. PROVIDÊNCIA Esse tipo de conversa parece estranho hoje em dia. Pensamos em Deus sob o ponto de vista místico, com um poder mágico sobrenatural, e não como em alguém que está perto de nós. Cremos que Deus opera de maneiras misteriosas, e não de modo comum. Se ele vai nos curar, esperamos algo espetacular - alguém se levanta de uma cadeira de rodas ou do leito do hospital, algo que os médicos não conseguem explicar. Isso acontece algumas vezes, mas a maneira mais usual que ele usa para nos curar é mais banal, embora não seja menos maravilhosa. Se ele vai falar conosco, queremos ouvir pelo menos uma voz interior, ou até mesmo ter uma visão mística. Que ele use um livro - apenas tinta no papel - ou até mesmo um pregador, que sabemos que não é diferente de nós, pode nos deixar desapontados. A visão usual que temos de Deus é de que ele não faz parte do nosso mundo exterior. Ou ele está "muito acima" do mundo cotidiano ou então está "dentro de nós". Achamos que o mundo funciona por si mesmo. A verdade é que Deus realmente transcende a sua criação, mas ele também a governa. O apóstolo Paulo diz: "ele mesmo é quem a todos dá vida, respiração e tudo mais". "Não está longe de cada um de nós; pois nele vivemos, e nos movemos, e existimos" (At 17.25,27,28). Os cristãos do passado aceitavam como verdade absoluta a noção da "providência" de Deus. Proveniente da mesma raiz que a palavra "prover", o termo não se refere apenas ao controle de Deus sob o ponto de vista determinista, mas também ao cuidado que Deus ministra sobre tudo o que existe. Uma das conseqüências da "modemidade", essa disposição de mente secularizada que dominou a cultura desde o Iluminísmo até o século passado, foi a remoção de qualquer traço de Deus - até mesmo qualquer traço de significado - do mundo objetivo. Tem-se ensinado que a ciência tem explicação para tudo na natureza e na sociedade. As leis racionais, porém impessoais, da natureza explicam tudo o que existe. A religião é boa, se alguém precisar dela, mas isso é um assunto totalmente particular, um conjunto íntimo, místico e experimental de sentimentos, que pode fazer com que uma pessoa se sinta melhor, mas não tem nenhuma influência sobre "o mundo real". Os existencialistas do final da era moderna construíram a base para o pós-modernismo e foram mais além. Segundo eles, o mundo exterior, literalmente falando, é sem sentido. Sim, ele segue leis naturais, mas estas são apenas repetições absurdas, sem sentido, para usar uma descrição existencíalista, como um lunático que repete as mesmas palavras indefinidamente. O sentido é uma criação puramente humana. Embora vivamos num universo sem sentido, os seres humanos podem criar significados para si mesmos - valores, compromissos, até mesmo religiões - que lhes permitam sobreviver com dignidade num mundo sem sentido. Disso segue-se que, naturalmente, o sentido é particular e que essas "verdades" construídas são relativas. 0 sentido de uma pessoa não é válido para ninguém mais. Não se pode determinar o status da verdade objetiva. Os existencialistas poderiam até aceitar o Cristianismo, contanto que fosse um Cristianismo que não se impusesse sobre ninguém nem insistisse em afirmações de verdade sobre o universo objetivo, A religião poderia ser permitida contanto que permanecesse na mente da pessoa. Um Deus objetivo era rejeitado, embora uma divindade subjetiva, aproximadamente equivalente a um ego subjetivo, seja socialmente aceitável. De modo notável, os cristãos concordaram com essa visão de mundo. Mesmo enquanto muitos deles rejeitavam o ateísmo da modernidade, ajudavam a esconder Deus. A fé se reduziu a uma experiência subjetiva, e a moralidade cristã se tomou apenas uma questão de comportamento pessoal, em vez de uma necessidade social. O Cristianismo se tomou, como disse Francis Schaeffer, uma experiência "num plano elevado" isolada da vida cotidiana. 0 Cristianismo ficou cada vez mais afastado do mundo, assim como os cristãos, que geralmente prosseguiam com suas atividades seculares, mas não as consideravam relacionadas à comoção transcendental que buscavam na sua fé. Até mesmo a Igreja, sendo uma instituição fisica, perdeu a aprovaçao de tantas pessoas religiosas que ponderaram que se a vida espiritual era puramente interior, não haveria necessidade de instituições exteriores. Nas palavras do cantor de música country, Tom T. Hall, tudo o que é necessário é "eu e Jesus", e mesmo Jesus vive dentro da minha mente. Como isso aconteceu? Por que o mundo exterior deixou de ser considerado como uma área para Deus e para a realidade espiritual? Certamente as reivindicações da modemidade eram fracas. Corno uma lei natural poderia ser tanto racional como impessoal? A razão não é uma evidência da mente, de uma personalidade por trás do que vemos? E o que significa dizer que a vida é sem sentido? Não há ordem, projeto e objetivo em cada estágio da vida, desde a concepção até a morte? Em vez disso, não seria subjetiva a experiência da falta de sentido, vindo do coração angustiado de uma alma perdida? Creio que uma razão para que os cristãos tenham se rendido comple~ tamente à nova visão do universo em que Deus é posto de lado é que, bem antes da modernidade, eles tenham perdido a compreensão de que Deus age por intermédio de instrumentos. Antes, acreditava-se que Deus era o responsável pela chuva. Então, os cientistas do Iluminismo apresentaram dados sobre a pressão do ar, a umidade relativa e as frentes frias. Eles disseram que era isso que causava a chuva; não precisamos de Deus para explicar isso. Mas o conhecimento dos processos químicos e meteorológicos relacionados não diminui o fato de que ainda é Deus que faz chover. Foi ele quem planejou, criou e sustenta todo o processo natural. Ele age por intermédio de meios. Os cristãos da Reforma compreenderam isso muito bem. Lutero acreditava que Deus governa dois mundos: o reino espiritual, em que os pecadores chegam a uma vida de fé, no qual ele controla o coração deles e os prepara para a vida eterna; e o reino terreno, no qual ele governa tudo o que criou (ou seja, tudo mesmo). O reino espiritual de Deus se toma efetivo mediante o que Lutero e Calvino chamaram de os meios da graça. Deus não só leva as pessoas à fé. Em vez disso, ele usa certos meios para converter o perdido e sustentar o seu povo. A Palavra de Deus é o principal instrumento da graça, a revelação de Deus na linguagem humana - vibrações no ar, marcas no papel - na qual o Espírito Santo é eficaz, chamando as pessoas à fé e lhes fornecendo alimento para o crescimento na vida cristã (Hb 4.12; Rin 10. 17). A graça de Deus, a mensagem do seu amor e o perdão por intermédio de Cristo chegam ao povo também mediante os sacramentos, que são manifestações tangíveis do evangelho (a união com a morte e ressurreição de Cristo no batismo, o oferecimento de Cristo do próprio corpo e sangue para o perdão dos nossos pecados na Ceia do Senhor). O reino espiritual de Deus encontra sua expressão tangível na Igreja, na qual o seu povo redimido se reúne em torno de sua palavra e de seus sacramentos. Deus usa essa instituição para cuidar espiritualmente dos seus filhos e levar sua mensagem salvadora a outros. Isso inclui a vocação do pastor, que foi "chamado" ao ministério. Quando o pastor ensina a Palavra de Deus, proclama o evangelho, batiza e preside a Santa Ceia, há um sentido em que é o próprio Cristo que está ensinando, evangelizando, batizando e presidindo, agindo por intermédio de "vasos de barro", dos ministros que ele chamou. Os reformadores também pensavam que, assim como Deus age por intermédio de instrumentos no seu reino terreno, ele também age por intermédio dos seus instrumentos no reino material. Deus age por meio de leis naturais que ele estabeleceu na criação. Ele governa as nações, inclusive aquelas que não o conhecem, graças à sua lei moral. E ele age no chamado mundo secular por meio da vocação. Ou seja, ele institui famílias, trabalho e sociedades organizadas, dando aos seres humanos papéis específicos para desempenhar no seu vasto sistema. A VOCAÇÃO NA BÍBLIA A Bíblia nos oferece uma discussão particularmente direta sobre como Deus age por meio da ação das vocações humanas, como podemos constatar no que Paulo diz sobre as autoridades terrenas: “Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas. De modo que aquele que se opõe à autoridade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos condenação. Porque os magistrados não são para temor, quando se faz o bem, e sim quando se faz o mal. Queres tu não temer a autoridade? Faze o bem e terás louvor dela, visto que a autoridade é ministro de Deus para teu bem. Entretanto, se fizeres o mal, teme; porque não é sem motivo que ela traz a espada; pois é ministro de Deus, vingador, para castigar o que pratica o mal. É necessário que lhe estejais sujeitos, não somente por causa do temor da punição, mas também por dever de consciência. Por esse motivo, também pagais tributos, porque são ministros de Deus, atendendo, constantemente, a este serviço.” Romanos 13.1-6. Toda a questão a respeito da vocação dos govemantes ─ o que os cidadãos" lhes devem e quais os limites de sua autoridade - será discutida no capítulo sobre a vocação do cidadão. Por ora, vamos nos ater ao modo como as Escrituras dizem que Deus age na vocação do homem, mesmo daquelas autoridades que não o conhecem. Primeiramente, "não há autoridade" que Deus não tenha "instituído". Isso deve incluir outras autoridades não-políticas e não-judiciais também a dos pais e empregadores (o que a Bíblia chama de "senhores”) e outras vocações que incluem algumas pessoas que supervisionam outras, como os professores, os líderes da igreja e outros com funções semelhantes. As autoridades "que existem foram por ele instituídas". Especificamente falando, Deus é a única autoridade verdadeira, o único que possui uma autoridade intrínseca, o único que tem o direito de comandar. Os chamados a serem juízes, magistrados e outras autoridades civis exercem uma autoridade que lhes foi concedida, que não lhes pertence, mas sim a Deus. Como uma dessas autoridades civis, o centurião que foi até Jesus, disse: "também eu sou homem sujeito à autoridade, tenho soldados às minhas ordens" (Mt 8.9). As autoridades civis também estão sujeitas à autoridade ─ no final a do próprio Deus ─ por isso, se abusarem de sua autoridade ou transgredirem a autoridade de Deus, estão atuando fora da área de sua vocação (Como veremos, a doutrina da vocação não é uma fórmula para santificar o status quo; ao contrário, é um modelo criterioso que submete o status quo à Palavra de Deus.). De qualquer modo, o padrão está estabelecido: a autoridade de Deus encontra expressão na autoridade contida em certas vocações do homem. A passagem de Romanos 13 vai mais além: os govemantes não são apenas servos de Deus (novamente, eles são colocados sob a autoridade maior de Deus) ─ eles são instrumentos de Deus. Segundo tradução da NVI, elas são "agente[s] da justiça para punir quem pratica o mal". Ou seja, Deus pune os assassinos, os estupradores e outros criminosos por meio das vocações humanas: oficiais de polícia, juizes, jurados, carcereiros e até mesmo os executores da pena de morte (aqueles que "trazem a espada"). Toda essa passagem se refere àquelas autoridades que levam os que praticam o mal à justiça, e não aos líderes políticos. Num mundo pecaminoso, o mal deve ser forçosamente restringido, do contrário nos destruiríamos uns aos outros, tomando impossível a vida na terra, assim como qualquer tipo de ordem social. Embora no nosso coração sejamos todos pecadores e maus, Deus restringe o mal que cometemos por meio da vocação. Essa passagem ensina outra questão importante sobre vocação. No texto imediatamente anterior, o apóstolo Paulo diz para os cristãos não se vingarem: “Não tomeis a ninguém mal por mal; esforçai-vos por fazer o bem perante todos os homens; se possível, quanto depender de vós, tende paz com todos os homens; não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira; porque está escrito: A mim me pertence a vingança; eu é que retribuirei, diz o Senhor. Pelo contrário, se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas de fogo sobre a sua cabeça. Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem.” - Romanos 12.17-21 Depois, a frase seguinte é "Todo homem esteja sujeita às autoridades superiores", conforme foi citado acima. Primeiramente há a ética madura do Sermão do Monte que nos ensina o perdão radical e o amor mesmo para com nossos próprios inimigos e aqueles que praticam o mal. Depois, vemos o texto aparentemente mais severo no qual os que praticam o mal, no final das contas serão punidos. Aqui está o princípio (que será discutido mais adiante nos capítulos posteriores): o que é permitido numa vocação não é necessariamente permitido em outra. Em Romanos 12 é dito aos cristãos que eles não devem punir os malfeitores. Mas isso não significa que os que praticam o mal ficarão livres do castigo. Deus irá puni-los. A palavra nos diz que "não vos vingueis a vós mesmos"; "A mim me pertence a vingança; eu é que retribuirei, diz o Senhor". Não cabe a nós pagar o mal com o mal, ao contrário, devemos "dar lugar à ira" de Deus. Portanto, a passagem seguinte desenvolve a idéia de que o magistrado civil é o "ministro de Deus, um vingador, para castigar o que pratica o mal". Quando somos ofendidos, o nosso papel é perdoar, vencer o mal com o bem e retribuir a injustiça com a bondade. O papel de Deus é punir os nossos inimigos, uma vez que só a sua ira pode ser completamente justa. Isso pode acontecer apenas no Juízo Final. Ou, no caso do mal evidente que destrói a paz social e fere fisicamente o povo, Deus também retribuirá a injustiça no plano terreno, derramando a sua ira contra o mal por intermédio da vocação do magistrado civil que "executa a ira de Deus". Assim, quando alguém quebra o nosso carro e rouba o nosso rádio, não devemos perseguir e prender o criminoso e matá-lo. Não temos essa autoridade. Não fomos chamados para fazer isso. Ao contrário, devemos chamar a polícia, Eles possuem a autoridade e a vocação de levar os criminosos à justiça, e os juízes e carcereiros tem a vocação de puni-los (Veja mais sobre este assunto nos capítulos posteriores.). Outras passagens na Bíblia sustentam a idéia de que Deus age por intermédio dos seres humanos - na verdade, que ele está escondido nas vocações humanas. A paternidade de Deus se manifesta nos pais terrenos, a relação do casamento é um reflexo da relação entre Cristo e a Igreja, e servir a um só senhor é servir a Cristo - isso será discutido posteriormente nos capítulos oportunos. Muitos cristãos não percebem o sentido exato desses textos quando o reduzem a "quem deve obedecer a quem", Embora as passagens lidem com questões de autoridade e poder, o seu tema é a vocação no contexto da providência de Deus, o que, por sua vez, não significa tanto controle como cuidado, sobre como ele provê as nossas necessidades. Deus usa os magistrados para nos proteger. Ele usa os pais para cuidar de nós, e os cônjuges para nos abençoar. Como veremos, cada vocação, mesmo as mais autoritárias, também envolvem responsabilidades para com o bem-estar e o cuidado daqueles que estão sob o encargo dela. Deve-se ressaltar também que Deus está agindo mesmo por intermédio daqueles que não o conhecem. Em seu reino terreno, Deus age na esfera secular, mesmo entre os não-crentes. Freqüentemente tem-se dito que o texto em Romanos se refere ao sistema legal da Roma pagã, e que outras referências que o apóstolo Paulo faz ao imperador se referem ao decadente e ímpio Nero. Porém, embora pensemos geralmente em Roma em termos de estado totalitário, o sistema legal desenvolvido por essa grande civilização era bastante notável no que diz respeito àjustiça, apesar das crueldades de alguns dos seus administradores, e a lei romana é a base de grande parte do nosso sistema legal atual. Então, é evidente que Deus reina mesmo nas naçoes pagãs e age por intermédio daqueles que não o conhecem. Essa questão é tornada explícita pelo profeta Isaías, que diz como Deus usa Ciro da Pérsia como um castigo para punir seu povo: “Assim diz o SENHOR ao seu ungido, a Ciro, a quem tomo pela mão direita, para abater as nações ante a sua face, e para descingir os lombos dos reis, e para abrir diante dele as portas, que não se fecharão... Por amor do meu servo Jacó e de Israel, meu escolhido, eu te chamei pelo teu nome e te pus o sobrenome, ainda que não me conheces. Eu sou O SENHOR, e não há outro; além de mim não há Deus; eu te cingirei, ainda que não me conheces. Para que se saiba, até ao nascente do sol e até ao poente, que além de mim não há outro; eu sou o SENHOR, e não há outro. Eu formo a luz e crio as trevas; faço a paz e crio o mal; eu, 0 SENHOR, faço todas estas coisas.” Isaías 45.1,4-7. Parte do problema com os israclitas apóstatas era que eles chegaram a pensar em Deus como apenas uma outra divindade tribal, sobre quem eles tinham pleno controle. O verdadeiro Deus é bem maior do que eles pensavam, e sua soberania é tal que os maiores imperadores da terra estão sob o seu comando e chamado e, na verdade, devem a sua posição e os seus feitos ao fato de terem sido chamados por Deus: "eu te chamei pelo teu nome". Os teólogos às vezes dizem que o termo vocação deve ser reservado para os cristãos. Ser "chamado" para um determinado trabalho ou posição certamente se refere a ser "chamado" pelo evangelho para uma vida de fé. Conquanto concordemos que Deus também age por intermédio de nãocrentes, estes usam outros termos para os seus papéis: posto, posição, situação. Certamente é verdade que um cristão, que compreende a sua vida em termos de vocação de Deus, irá olhar para o trabalho colocado diante dele de um modo completamente diferente,daquele adotado por urna outra pessoa que faz o mesmo trabalho, mas está perdida em seus pecados. Concordo com essa distinção, embora para os propósitos deste livro, por causa da simplicidade e para reduzir o número de tert-nos, vou usar o termo vocação tanto para crentes como para não-crentes; entretanto, mais adiante as diferenças entre ambos serão discutidas. É importante, no entanto, perceber que o poder de Deus e o seu cuidado providencial vai além da Igreja, que ele reina na esfera secular, mesmo entre aqueles que se rebelam contra ele. Quando ele me fornece o pão de cada dia, ele usa um fazendeiro cristão? Não tenho a menor idéia. Gostaria de pensar que sim (No caso especifico do bagel que eu como diariamente, um tipo especial de pão feito pelos judeus, comprado numa padaria judaica, quem o assou e vendeu certamente não era cristão.). Isso realmente não importa quando se refere à eficácia desse pão em alimentar o meu corpo. Embora importe muito em relação ao reino espiritual de Deus, no seu reino terreno uni fazendeiro ou padeiro cristão não faz tanta diferença quanto os que não são cristãos. Os planos de Deus para o modo como a plantação cresce, seus projetos para a biologia, a química e a nutrição humana, são os mesmos para todos. "Aquele que dá semente ao que semeia e pão para alimento" (2 Co 9.10). Ele também envia a chuva tanto para fazendeiros justos quanto para os injustos (Mt 5.45). A esfera do poder e do cuidado de Deus é bem maior do que podemos imaginar, e ele está muito mais envolvido corri todas as suas criaturas do que podemos supor.