O efeito da linguagem no pensamento

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O efeito da linguagem no pensamento
Para a maioria das pessoas a linguagem não passa de um instrumento que utilizamos para
transmitir nossos pensamentos. Entretanto, em 1930, o lingüista Benjamin Whorf propôs que a
linguagem era parte do próprio pensamento e que só podemos ter pensamentos sobre coisas e atos
para os quais possuímos representações na linguagem. No ano passado comentei um estudo
relacionado a esta idéia. Índios que possuem somente palavras para os números um, dois e três
não são capazes de fazer operações mentais que envolvam números maiores (“Fazendo contas
sem números” O Estado de São Paulo, 5/01/2005). Agora, mais um experimento parece
comprovar a teoria de Whorf.
Imagine que você está olhando um quadro. Sabemos que a informação proveniente da parte
esquerda do quadro é dirigida para a metade direita do seu cérebro e a da parte direita do quadro
para a metade esquerda do cérebro. Ao contrário da informação visual que é processada em
ambas as metades do cérebro, a linguagem é processada somente na metade esquerda. Esta
diferença foi usada para testar a teoria.
Os cientistas mostraram a voluntários imagens de um círculo composto por doze quadrados
verdes, como se fosse um mostrador de relógio onde cada número foi substituído por um
quadrado. Em cada imagem um dos doze quadrados do círculo era substituído por um quadrado
de outra cor e a pessoa tinha que dizer qual era o quadrado diferente. Foi medido o tempo
necessário para as pessoas responderem. No primeiro experimento o quadrado diferente também
era verde, mas de um tom mais claro. O tempo que as pessoas levavam para identificar o
quadrado verde claro foi o mesmo independente da posição no círculo em que estivesse
localizado. Numa segunda rodada, o quadrado diferente era azul. Foi aí que surgiram os
resultados inesperados. Quando o quadrado azul estava do lado direito do campo visual as
pessoas o identificavam em menos tempo do que quando estava do lado esquerdo do campo
visual.
A interpretação é a seguinte. Quando o quadrado discordante é da mesma cor que os demais, o
cérebro se baseia somente na cor da luz emitida para identificá-lo. Neste caso as duas metades do
cérebro têm a mesma dificuldade, e levam o mesmo tempo. Quando o quadrado é de cor
diferente, o cérebro pode usar a cor da luz e o nome que nossa linguagem atribui à cor. Acontece
que somente o lado esquerdo do cérebro consegue fazer o processamento do nome da cor, o lado
direito tem que usar somente a cor da luz. Por utilizar as duas informações, a cor da luz e o nome
da cor, o lado esquerdo faz a tarefa em menos tempo que o lado direito que dispõe somente da cor
da luz. Por isso, quando o quadrado azul está no lado direito da imagem, ele é identificado em
menos tempo.
Estes resultados demonstram que a linguagem está diretamente ligada ao processamento das
imagens. Agora resta aos cientistas repetirem o experimento com os índios mexicanos que falam
a língua Tarahumara. Nesta língua a palavra que descreve o azul e o verde é a mesma. É de se
esperar que neste caso o efeito desapareça. Afinal, para o lado esquerdo do cérebro destas
pessoas, os dois tons de verde são representados pela mesma palavra que o azul e o verde.
Mais informações em: Whorf hypothesis is supported in the right visual field but not the left.
Proc. Natl. Acad. Sci (USA) volume 103 página 489 2006
Fernando Reinach ([email protected])
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