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Capítulo II - Gênero e Agricultura Familiar
2.1- O Conceito de Gênero
O termo sexo faz referência às diferenças anatômicas e fisiológicas existentes
entre masculino e feminino, e o gênero diz respeito às diferenças culturais, psicológicas
e socialmente construídas entre homens e mulheres, atribuindo diferentes identidades e
papéis sociais a cada um dos sexos. (GIDDENS, 2005)
Gênero é um conceito relacional, significando que os papéis masculinos e
femininos não existem isolados, são construídos um em relação ao outro. E por serem
socialmente e historicamente construídos, e não determinados pela natureza, podem ser
modificados. (DESER, 1996:12)
Giddens (2005) utiliza três abordagens opostas para explicar diferentes
interpretações sociológicas sobre a questão das disparidades entre sexo e gênero.
A primeira diz respeito às diferenças biológicas, que definem comportamentos
entre homens e mulheres. Ele diz que, para alguns pesquisadores, seriam as diferenças
biológicas que explicariam, por exemplo, por que na maioria das culturas são os homens
os responsáveis pela caça e em participar das guerras, como se tal propensão estivesse
diretamente ligada a fatores biológicos, sem levar em conta os fatores sociais que
determinam as desigualdades de gênero.
A segunda abordagem fala sobre a “socialização do gênero”, e a influência da
família e da mídia na construção dos papéis sociais de homens e mulheres. Giddens diz
que essa linha faz uma distinção entre sexo biológico e gênero social, explicando que as
crianças nascem com o primeiro e desenvolvem o segundo. Através do contato que as
crianças têm com vários organismos sociais, elas internalizam gradualmente normas e
expectativas que a sociedade possui em relação ao seu sexo. Ele acrescenta que segundo
esta abordagem, as diferenças de gênero são construídas culturalmente, e não
determinadas biologicamente, sendo que as desigualdades de gênero existem por que os
indivíduos são socializados em papéis diferentes.
“As teorias de socialização do gênero têm sido favorecidas por funcionalistas
que vêem meninos e meninas como aprendizes de papéis sexuais e das identidades
masculina e feminina - masculinidade e feminilidade - que os acompanham”.
(GIDDENS, 2005:105) Contudo, Giddens diz que essa forma de interpretação da
socialização e dos papéis sexuais foi muito criticada, já que alguns desses organismos
de socialização, como a família, as escolas, ou outros grupos possam estar em
divergência, criando um processo conflitante. Ele acrescenta que “as teorias de
socialização ignoram a capacidade dos indivíduos de rejeitar ou modificar as
expectativas sociais acerca dos papéis sexuais”.
A terceira perspectiva, não considera que haja base biológica para as
diferenças, acreditando que sexo e gênero são produtos socialmente construídos. De
acordo com essa linha, não apenas o gênero é de criação social, mas o sexo também,
pois os corpos estão sujeitos a intervenções dos indivíduos, onde homens e mulheres
podem transformar seus corpos, dando-lhes novos significados, o que pode não condizer
com o que à sociedade percebe como “natural” (“naturalmente masculino” ou
“naturalmente feminino”). Os teóricos que seguem essa linha de argumentação rejeitam
qualquer base biológica para explicar as diferenças de gênero. “As identidades de
gênero surgem, alegam, em relação às diferenças sexuais percebidas na sociedade,
ajudando a moldar, por sua vez, essas diferenças”. (GIDDENS, 2005:106)
Segundo Giddens, as diferenças de gênero raramente são neutras, sendo em
muitas sociedades uma forma de estratificação social.
“O gênero é um fator crucial na estruturação dos tipos de oportunidades e de
chances de vida enfrentadas pelos indivíduos e por grupos, influenciando fortemente os
papéis que eles desempenham dentro das instituições sociais desde os serviços
domésticos até o Estado. Embora os papéis dos homens e das mulheres variem de
cultura para cultura, não há nenhuma instância conhecida de uma sociedade em que as
mulheres são mais poderosas que os homens”. (GIDDENS, 2005:107)
Os papéis dos homens em sua grande maioria são mais valorizados e
recompensados do que os das mulheres. Sendo que na quase totalidade das culturas, na
divisão sexual do trabalho, são as mulheres as responsáveis pelos cuidados com os filhos
e com a casa, e aos homens geralmente cabe o sustento da família o que gera uma
desigualdade nas relações de poder entre homens e mulheres.
Algumas abordagens feministas procuraram explicar os fatores que levam as
desigualdades de gênero. Giddens cita as visões do feminismo liberal e do feminismo
radical.
A primeira vertente procura a explicação desses fatores em atitudes sociais e
culturais. Para as feministas liberais, a subordinação não é vista como uma parte de um
grande sistema ou estrutura, elas mantêm sua atenção nos muitos fatores distintos que
causam as desigualdades entre homens e mulheres e estão preocupadas, por exemplo,
com o sexismo e a discriminação contra as mulheres, que estão presentes nos locais de
trabalho, nas instituições e na mídia. Elas buscam dentro do sistema existente, trabalhar
para gradativamente alcançar mais espaço. Nesse ponto, se diferenciam das feministas
radicais que reivindicam o fim do sistema vigente.
Para as feministas radicais, o sistema de patriarcado é a principal causa da
subordinação das mulheres. A idéia de patriarcado foi muito importante para
compreender as desigualdades entre os gêneros, mas também foi muito criticada por não
explicar as mudanças e a diversidade nessas diferenças. A autora Sylvia Walby (1990),
procurou teorizar a questão do patriarcado de uma maneira mais flexível, considerando
o tempo histórico e as diferenças étnicas e de classe. Ela destaca duas formas diferentes
de patriarcado: uma na esfera privada, onde a mulher fica subordinada a um patriarca
específico dentro do núcleo familiar, e outra na esfera pública, onde as mulheres
participam de atividades de domínio público, no entanto, continuam sendo segregadas e
com menos direitos do que os homens. (Walby, 1990 apud Giddens, 2005:110)
Para Elizabeth Souza Lobo, a questão do patriarcado estaria fundada em bases
materiais, dentro de uma estrutura determinante:
“De uma certa forma, o patriarcado funda a divisão sexual do trabalho e é
por sua vez fundado nas bases materiais da sociedade. Ou, o que me parece seguir um
raciocínio semelhante: as relações sociais organizam as divisões da sociedade, e a
divisão sexual do trabalho é um lócus fundamental nas relações entre os sexos. A
historicidade da divisão sexual do trabalho e seu conteúdo de construção cultural
parecem-me aqui perdidos, na medida em que se estabelecem relações de determinação
estrutural. Como aponta Sheila Rowbotham (1984), a palavra “ patriarcado” coloca
muitos problemas; remete a uma forma universal e histórica de opressão, com fortes
marcas biologizantes, produz um “modelo feminista de base-superestrutura”, uma
estrutura fixa, enquanto que as relações entre homens e mulheres são tanto mutáveis
quanto fazem parte de heranças culturais e institucionais, implicam em reciprocidades
tanto quanto em antagonismos” ( LOBO, 2005:259-260)
Lobo (1990), problematizando as discussões sobre a categoria gênero nos
estudos da Sociologia do Trabalho, ressalta que é preciso “pesquisar como a
subordinação das mulheres se construiu historicamente, nas práticas, nas culturas, nas
instituições”. Seguindo a linha dessa autora, ela diz que sociólogos e historiadores
fizeram uso de um conceito de classe que foi construído a partir de uma “representação
masculina do operário e, embora tenha sido afirmado incansavelmente que 'a classe
operária tem dois sexos', na verdade era preciso reconhecer que a classe era masculina,
ou seja, que o conceito remetia a uma posição estrutural”. Dando continuidade, ela
explica que “a análise das práticas diferenciadoras permanecia num segundo nível de
explicitação: o conceito apontava para um paradigma que se pretendia universal, da
classe, mas que – os estudos sobre as práticas e a consciência operárias vão tornar
evidentes - se fundavam numa generalização das práticas masculinas”.
A categoria trabalho sempre esteve presente no pensamento feminista como
um assunto de grande relevância. Em relação à agricultura familiar, categorizar as
inúmeras atividades que as mulheres realizam dentro do ambiente doméstico, e fora, nas
tarefas ligadas a propriedade, possibilitou a elas uma maior visibilidade e valorização,
pois passam a serem vistas como produtoras rurais, e não mais apenas como ajudantes
do marido. (PAULILO, 2000:1)
2.2- Relações de Gênero e Geração na divisão do trabalho na família
As famílias camponesas vivem e se organizam de forma coletiva, sendo que a
unidade familiar está sempre ligada à unidade de produção na propriedade, tendo as
atividades realizadas em “conjunto” (que foi um termo muito utilizado pelas mulheres
entrevistas durante a pesquisa de campo), embora no cotidiano, os papéis que cada
membro da família exerça são bem definidos, sendo cada qual responsável por uma ou
outra tarefa.
As relações de trabalho, quando se trata de agricultura familiar, estão sempre
interligadas com as relações de gênero que compõe um núcleo familiar. E na unidade
familiar, a divisão do trabalho entre o pai e a mãe e entre os filhos e as filhas (também
de acordo com a idade de cada filho ou filha), é distribuída conforme os ciclos anuais
produtivos das culturas, e de acordo com dinâmicas internas da família, que costumam
respeitar uma hierarquia, onde a figura do pai aparece como central. (DE GRANDI,
1999).
A divisão sexual do trabalho nas pequenas propriedades rurais é de caráter
patriarcal, sendo as atividades geralmente direcionadas conforme determinação do
“chefe de família”, embora o “lugar” de cada um dentro dessa distribuição seja passado
de geração para geração, como algo naturalizado. Seria o que Bourdieu definiu como
habitus. E mudar esse habitus não é tão simples e tampouco depende só das mulheres.
Para elas não é fácil abandonar a posição de dominada, e nem ao homem o papel de
dominador. (Bourdieu, 1995 apud Boni, 2005:52)
Segundo De Grandi (1999), citando Woorthmann (1997, P. 38), “a ideologia
‘camponesa’ entende o pai de família como aquele que re-une todas as condições para
participar de todo o processo de trabalho”, sendo ele que determinaria a distribuição das
atividades dentro da propriedade, por ser o portador do conhecimento, mesmo que o
restante da família possua o mesmo conhecimento sobre o processo produtivo.
Por influência do marxismo, na década de 70 surgem discussões a cerca do
trabalho “produtivo” (referindo-se ao trabalho realizado pelos homens, que se tratava de
atividades que produziam mais valia) e ao trabalho “improdutivo” (referindo-se ao
trabalho realizado pelas mulheres, pois consideravam o trabalho doméstico
improdutivo). (PAULILO, 2000:1)
CARRASCO (2003:16) diz que a sociedade estaria tradicionalmente dividida
em duas esferas distintas:
“Por um lado, a esfera pública (masculina), que estaria focada no que se
considera social, político e econômico-mercantil e regida pelos critérios de êxito,
poder, direitos de liberdade e propriedades universais etc., e relacionada
fundamentalmente com a satisfação do componente mais objetivo (o único reconhecido)
das necessidades humanas. Por outro, a esfera privada ou doméstica (feminina), que
estaria focada no lar, baseada em laços afetivos e sentimentos, desprovida de qualquer
idéia de participação social, política ou produtiva e relacionada diretamente com as
necessidades subjetivas (sempre esquecidas) das pessoas. A atividade ou participação
na denominada esfera privada, destinada socialmente às mulheres, fica relegada ao
limbo do invisível, o que lhe nega toda possibilidade de valorização social”.
De um modo geral o que se pode observar nas propriedades rurais é que o
trabalho do homem está no âmbito produtivo, tendo suas tarefas direcionadas mais aos
trabalhos considerados “pesados”, como cuidar da lavoura e das criações de grande
porte, que representam uma renda maior para a família. No caso da mulher, o trabalho é
considerado reprodutivo, e a ela cabe as atividades ligadas à casa e ao interior da
propriedade. (DE GRANDI, 1999). Nessa separação entre produtivo e reprodutivo o
homem é considerado o responsável pela produção e a mulher e aos filhos cabe o papel
de “ajudantes”.
PAULILO (1987) em seu estudo sobre os agricultores nos estados de São
Paulo, Paraíba e Santa Catarina, relata que o trabalho realizado pelas mulheres (e pelas
crianças) é considerado “leve”, enquanto o trabalho realizado pelos homens é
considerado “pesado”. Ela explica que o mesmo trabalho considerado leve em uma
região, pode ser considerado pesado em outra, e vice-versa, sendo que o fator
determinante para classificar o trabalho como leve ou pesado é a posição na hierarquia
familiar de quem o executa. Trabalhos passíveis de serem realizados por mulheres e
crianças são considerados “leves” e também recebem uma remuneração menor, ao
contrário dos trabalhos considerados masculinos e “pesados”, que ganham valores mais
altos que os primeiros.
No que tange ao uso de tecnologias, a mulher também tem seu trabalho
desvalorizado. Quando o trabalho realizado pela mulher passa a ser mecanizado, ela
“perde seu espaço de trabalho, não por que não goste de ‘mexer com máquinas’, mas
sim por que o treinamento e a informação para uso das mesmas são dirigidos ao
homem, chefe da família” (pág. 21), e acrescenta que isso faz com que as mulheres
tenham seu trabalho desmerecido, restando apenas as atividades que não exijam
conhecimentos técnicos nem capacitação. (DE GRANDI, 1999:22)
De Grandi (1999) diz ainda que há uma diferença entre a situação dos filhos e
filhas, já que para os meninos, a situação de subordinação às ordens do pai tende a ser
temporária, e a condição das meninas apenas se modifica de filhas “ajudantes” na
propriedade do pai, para posteriormente serem esposas “ajudantes” na propriedade do
marido. Esse é um dos fatores que indicam serem as mulheres a principal parcela que
levam ao esvaziamento do meio rural.
2.2.1- Êxodo rural e processo sucessório
Atualmente, há uma grande tendência que a população rural se torne cada vez
mais masculina e idosa. No Estado apenas 17% dela tem entre 15 e 24 anos. O êxodo é
o grande responsável pela masculinização e envelhecimento. (INFORME, 2006)
Um grande número de jovens, não consegue encontrar oportunidades de
emprego e renda, não vêem como melhorar sua condição social na agricultura, não
possuem estímulos para construir seus projetos de vida nas comunidades rurais e
acabam optando por migrar para as cidades. Mas sem mão-de-obra qualificada, estes
jovens encontram dificuldades de emprego, aumentando ainda mais os problemas
sociais existentes nos centros urbanos.
Os jovens rurais acabam “invisíveis” no que diz respeito à sua “inclusão nas
demais esferas da vida social, complexificando assim, o entendimento do processo de
inserção
desse
público
numa
sociedade
que
se
globaliza
culturalmente”
(STROPASOLAS, 2006)
Da mesma forma, observa-se a exclusão dos jovens rurais no campo das
políticas públicas, já que estes não recebem um tratamento diferenciado por gênero e
renda na grande maioria dos programas governamentais. (STROPASOLAS, 2006)
Para jovens que participam do PRAPEM/MICROBACIAS 2, (Programa de
Recuperação Ambiental e apoio ao pequeno produtor rural), desenvolvido pelo Governo
do Estado de Santa Catarina, apontam como principais fatores para a saída dos jovens
do campo, a falta de incentivos, lazer e baixa renda. A vida no campo exige um trabalho
árduo, que nem sempre é recompensado financeiramente. Outro ponto apresentado é a
falta de autonomia na propriedade rural. As relações de poder presentes no núcleo
familiar, muitas vezes excluem os jovens das decisões que envolvem a propriedade
rural. Sobre este ponto, a mulher sofre maior exclusão ainda, sobretudo na questão de
quem herda a terra.
Há um padrão a respeito da sucessão nas propriedades rurais, principalmente
nas antigas regiões de colonização italiana e alemã. “Tal padrão comporta variações e
exceções, mas geralmente são os filhos homens que herdam a terra, enquanto as
mulheres se tornam agricultoras por casamento” (PAULILO, 2000:4). E mesmo nos
casos em que a terra pertence à mulher por herança, o marido é considerado o
responsável pela propriedade.
Nos casos em que as mulheres recebem herança, são quando o casal não
possui filhos homens, ou a mulher fica na propriedade para cuidar dos pais; quando a
terra não possui mais importância como meio de produção ou quando a propriedade
possui grandes extensões de terras. O que PAULILO (2000:4) ressalta aqui é que se
preciso excluir alguém, esse alguém será a mulher.
Ela levanta um ponto muito interessante, que fala sobre como o alijamento da
posse da terra das mulheres é considerado natural, e cita casos em que as mulheres
relatam um descontentamento em relação a isso dizendo que “trabalharam tanto quanto
seus irmãos na terra dos pais”, o que nos remete a ver a herança como um pagamento
de serviços prestados na propriedade, sendo que os filhos que receberam o “estudo” já
sabem que não receberão parcela de terra. O que se evidencia com isso, é que o trabalho
das mulheres na propriedade não é reconhecido como tal. Sua compensação vem em
forma de dote por ocasião do casamento, que pode ser o enxoval, ou uma máquina de
costura, ou uma vaca de leite, etc., que obviamente não correspondem ao valor que ela
receberia em terras caso herdasse uma parcela como os irmãos homens.
“A idéia de que as moças migram mais pela eventual maior receptividade do
mercado de trabalho urbano nem sempre é verdadeira. Em algumas situações, a saída
do campo pode estar ligada a dinâmicas intra-familiares em que moças têm uma carga
de trabalho pesada no interior das unidades de produção, sem qualquer contrapartida
que lhes indique horizontes em que sua permanência no campo possa ser valorizada”.
(ABRAMOVAY E CAMARANO, 1997:10).
Esta saída das moças do campo é incentivada por vezes pelas próprias mães
que almejam para as filhas condições melhores de vida do que as que elas tiveram que
enfrentar. Depoimentos indicam que as moças que saem do campo para estudar
dificilmente retornam. A busca pelos estudos se dá pela recusa do casamento com filhos
de agricultores, pois isso representaria “a continuidade da condição da mulher na
agricultura, condição vivida por suas mães, e que elas não pretendem reproduzir”.
(STROPASOLAS, 2006)
3.2.A Masculinização na Produção de leite
Enquanto a atividade leiteira tinha como finalidade principal o consumo interno
para a família, a responsabilidade da produção recaía sobre as mulheres. Em geral, a
mãe e as filhas eram encarregadas das tarefas de ordenha e manejo das vacas e dos
bezerros. Ao homem cabia as atividades mais “pesadas”, como cuidar do “potreiro”
(campos de pastagens), retirar esterco dos estábulos, fazer a silagem, e colher o alimento
para o gado (trato) quando o pastoreio livre não é suficiente. (MELLO, 1998)
Com a inserção do leite no comércio, caracterizando uma maior importância na
composição da renda familiar, os homens passam a participar mais dessa atividade, e as
relações de trabalho se modificam dentro da família.
A mulher continua trabalhando tanto ou mais do que antes, contudo seu
trabalho fica restrito ao interior da propriedade, enquanto ao homem compete a parte de
contato com os técnicos, financiamentos, etc. (MAGALHÃES, 2009). A atividade
leiteira sempre foi uma atividade feminina, então cabia à mulher decidir o que fazer,
principalmente com a renda que obtinha dela. Mas quando o leite passa a ter maior
expressão na renda familiar, o homem assume o gerenciamento da atividade, e a mulher
acaba perdendo a autonomia em relação ao dinheiro que provinha da venda do leite, o
qual se destinava de modo geral às compras para a casa, para os filhos e ao pagamento
da energia elétrica.
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