9 LISTAS DE ABREVIAÇÕES APC CÉLULA APRESENTADORA DE ANTÍGENOS IFN-γ INTERFERON IL-2 INTERLEUCINA-2 IL-12 INTERLEUCINA-12 LTH LINFÓCITOS T AUXILIAR LT-CD4+ LINFÓCITOS T ESPECÍFICOS PELA CLASSE II DO MHC LT-CD8+ LINFÓCITOS T ESPECÍFICOS PELA CLASSE I DO MHC LT-CTL LINFÓCITOS T CITOLÍTICOS MHC COMPLEXO DE HISTOCOMPATIBILIDADE PRINCIPAL MPO MIELOPEROXIDASE NAG N-ACETILGLICOSAMINIDASE 10 RESUMO Neste trabalho procuramos verificar a viabilidade do modelo de implante subcutâneo de discos de esponjas de poliéster-poliuretana como suporte para células alogênicas visando o desenvolvimento de um método para estudos de rejeição de transplantes. Para tanto, discos de esponjas foram implantados em uma linhagem doadora (C57BL/6) e transplantados para animais de uma linhagem diferente ou receptora (BALB/c). Constatamos que o 21º dia é o período de implantação com maior colonização celular, bem como observamos que a reposta inflamatória nos receptores é diferente entre discos singênicos e alogênicos, sendo que nos últimos a inflamação é semelhante ao fenômeno de rejeição. Assim, o implante dos discos mostrou-se útil na obtenção de células alogênicas e na geração de reação inflamatória característica de rejeição. 11 1-INTRODUÇÃO: Transplante consiste em retirar células, tecidos ou órgãos de um indivíduo e colocálos em outro indivíduo, constituindo então um enxerto. Quando este é realizado entre organismos sem parentesco, por exemplo, entre duas linhagens distintas de camundongos (aloenxerto), ele é rejeitado pelo receptor em sete a dez dias. Este processo é caracterizado por uma reação inflamatória do tipo corpo estranho e foi denominado de rejeição primária ao enxerto (ABBAS et al., 2000). A rejeição primária é causada por respostas imunes (celular e humoral) a aloantígenos no enxerto, que são proteínas que variam entre indivíduos, sendo, portanto, percebidas como não-próprias pelo receptor. A resposta celular é, em geral, mais importante do que a resposta humoral para a rejeição de órgãos transplantados, envolvendo o recrutamento de diferentes tipos celulares dentro de uma ordem temporal, espacial e causal definida. Os principais alvos moleculares na rejeição dos transplantes são as formas alélicas não-próprias (alogênicas) das moléculas do MHC classe I e II em complexo com peptídeos próprios. Muitos clones de diferentes linfócitos T específicos para diferentes tipos de peptídeos estranhos acrescidos de moléculas próprias do MHC têm reação cruzada com toda a molécula alogênica. Esta alta freqüência de reconhecimento das moléculas alogênicas do MHC que são apresentadas ás células T diretamente, isto é, sem processamento, e em associação com moléculas próprias do MHC, explica o modo pelo qual a resposta alogênica é tão mais forte do que a resposta aos antígenos estranhos convencionais (SHERMAN, 1992). Assim, descrevemos dois mecanismos de alorreconhecimento, sendo que no primeiro ocorre a apresentação das moléculas alogênicas do MHC às células T sem a exigência de processamento do antígeno, fenômeno designado de apresentação direta do aloantígeno, que pode envolver o alorreconhecimento por linfócitos T CD4+ como pelos CD8+. No segundo mecanismo ocorre o processamento das moléculas alogênicas do MHC dentro de APCs e apresentação como não-próprias convencionais, fenômeno denominado de 12 apresentação indireta do aloantígeno, e envolve alorreconhecimento somente pelas células T CD4+, porque o aloantígeno é adquirido primariamente pelas APCs do receptor através da via vesicular endossômica resultando na apresentação pelas moléculas da classe II do MHC. (ABBAS, 2000). Em geral, as moléculas alogênicas MHC classe I estimulam os linfócitos citolíticos CD8+ alorreativos, que lisam diretamente as células parenquimatosas dos enxertos, enquanto as moléculas da classe II estimulam os linfócitos auxiliares CD4+ alorreativos, que podem recrutar e ativar macrófagos que fagocitam o enxerto (ABBAS et al., 2000). Quando os tecidos transplantados são reconhecidos pelas células T CD4+ e CD8+, em geral, resultam reações vigorosas de rejeição do aloenxerto. Transplantes que ocorrem entre animais de uma mesma linhagem (isogênicos) ou singênicos não produzem este tipo de resposta inflamatória. Podemos entender porque a rejeição é o evento principal que determina o destino de um órgão ou tecido transplantado; e definir novos modelos para o estudo deste fenômeno é fundamental para o entendimento desta rede imunológica complexa. Modelos que envolvem transplantes de pele em coelhos e entre linhagens de camundongos, permitem entender diversos mecanismos da rejeição de aloenxertos (ROSENBERG et al., 1992), no entanto não são procedimentos simples. No presente estudo procuramos utilizar uma variação do MODELO DE IMPLANTAÇÃO SUBCUTÂNEA DE ESPONJAS de poliéster para o estudo de rejeição, promovendo o transplante de tecidos entre duas linhagens diferentes de camundongos (C57BL/6 – linhagem doadora, e BALB/c –linhagem receptora). Ao longo do tempo, este modelo provou ser eficiente para estudo de tecido de granulação (EDWARDS et al., DAVIDSON et al., 1985), de imunização (GONTIJO, et al.1998) e de angiogênese (ANDRADE et al.,1987; FAJARDO et al., 1988; FERREIRA,1990) demonstrando ser uma técnica simples e objetiva. O modelo de implantação subcutânea de matrizes esponjosas em animais foi descrito inicialmente por GRINDLAY & WAUGH (1951) e posteriormente modificado por ANDRADE et al., em 1987. O modelo original desenvolvido por ANDRADE et al., 1987, é denominado MODELO DA ESPONJA EM RATO (“IN VIVO RAT SPONGE MODEL”) e se baseia no implante subcutâneo interescapular de discos de esponjas de poliéster 13 estéreis com uma cânula adaptada para avaliações subseqüentes do fluxo sanguíneo nos implantes, à medida que estes se tornam vascularizados. A vantagem deste método está na possibilidade de se avaliar com eficiência o processo de neovascularização além daqueles envolvidos no fenômeno inflamatório instalado na matriz esponjosa, por um período prolongado, num mesmo animal (MAHADEVAN et al., 1989). Uma variação do método descrito por ANDRADE et al., 1987, e semelhante ao MODELO DO SISTEMA DO DISCO EM ANGIOGÊNESE (“DISC ANGIOGENESIS SYSTEM-DAS”) consiste na implantação subcutânea de discos de esponjas de poliéster estéreis sem cânula (FAJARDO et al., 1988). Assim, após intervalos de tempo determinados, os discos de esponja são removidos, fixados e analisados através de técnicas histológicas.As vantagens deste segundo modelo estão relacionadas à fácil obtenção e baixo custo do material; à simplicidade da técnica; e à possibilidade de se implantar várias esponjas num mesmo animal. Suas limitações são a necessidade de se retirar o disco para avaliação e a impossibilidade de se acompanhar a neovascularização e o processo inflamatório num só animal durante todo o experimento. O disco de esponja implantado desencadeia no organismo uma reação inflamatória do tipo corpo estranho semelhante ao modelo de ANDRADE et al., 1987. Observa-se invasão progressiva no local do implante por exsudato inflamatório caracterizado por células mononucleares e polimorfonucleares, além da indução de tecido de granulação rico em novos vasos sanguíneos (FAJARDO et al., 1988). No estudo do processo inflamatório, este modelo permite a coleta e a análise bioquímica de fluidos, o efeito de drogas sobre o processo, além de estudos histológicos e morfométricos (BAILEY, 1988; JAN et al., 1997). Assim, a escolha deste modelo para o estudo proposto reside principalmente no fato de se obter um conjunto celular heterogêneo, expondo o animal receptor a um conjunto de aloantígenos semelhante ao verificado em transplantes executados pela prática médica, candidatando-se como um novo modelo experimental para o estudo de rejeição de transplantes. 14 2- OBJETIVOS 2-1 Objetivos Gerais: Verificar se discos de esponja poliéster-poliuretana implantados no dorso de animais poderiam servir como matriz de crescimento celular e consequentemente se comportar como um falso-órgão no que tange à composição, volume e organização tecidual. Verificar a resposta inflamatória dirigida sobre o disco de esponja previamente implantado em camundongos isogênicos e posteriormente transplantados em receptores alogênicos; e se ela se assemelha ao padrão esperado no fenômeno de rejeição. 2.2- Objetivos específicos: Avaliar o tempo ideal para o implante dos discos esponjosos na linhagem doadora, assim como definir os intervalos de tempo pós-transplante para a remoção dos discos nos animais receptores. Comparar as variações do peso úmido dos discos de poliéster-poliuretana pósimplante, nas linhagens doadoras, e dos discos pós-transplante nos intervalos de tempo, na linhagem receptora. Avaliar macroscopicamente o aspecto dos discos no momento da dissecação cirúrgica dos mesmos nos animais doadores e receptores. Avaliar o perfil dos cortes histológicos dos discos de esponjas pós-implante e naqueles pós-transplante, caracterizando o processo inflamatório induzido pelo implante subcutâneo das matrizes esponjosas. Investigar o perfil temporal da colononização celular nos discos pós-implante e póstransplante a partir da contagem do número médio de células por campo nestes cortes através de uma análise morfométrica. 15 Investigar o padrão de infiltração inflamatória através de dosagens das atividades enzimáticas da MIELOPEROXIDASE (MPO), e N-ACETILGLICOSAMINIDASE (NAG) nos discos de esponjas pós-transplantes nos intervalos de tempo: 13º ao 21º dia. 16 3- MATERIAL E MÉTODOS 3.1- Animais: Nestes experimentos utilizamos camundongos das linhagens isogênicas C57BL/6 e BALB/c, fêmeas com 8 a 10 semanas de vida e pesando aproximadamente 20 gramas, provenientes do Centro de Bioterismo (CEBIO) do Instituto de Ciências Biológicas – UFMG. 3.2-Tratamento dos discos esponjosos: Esponjas de resina de poliéster-poliuretana foram cortadas em discos de 11mm de diâmetro por 2mm de espessura, tratados em solução de etanol a 70% por 1 hora e a seguir fervidos em água destilada por 30 minutos. As esponjas foram secadas sob condições estéreis e imersas em solução salina também estéril. Os discos foram centrifugados (1000rpm, 5min.) para assegurar que toda a sua superfície interna estivesse em contato com a solução. 3.3-Implantes: : Camundongos da linhagem C57BL/6 receberam implantes discos de poliésterpoliuretana que foram removidos cirurgicamente após intervalos de tempo variados Para a realização dos implantes, estes animais da linhagem C57BL/6 foram anestesiados. A solução usada para tal fim foi feita adicionando-se 0,2 mL de Ketalar ® (sedativo, analgésico e relaxante muscular), 0,2mL de Rompum ® (anestésico) e 2,0 mL de uma solução salina. Cada camundongo foi injetado com 0,2 mL desta solução i.p. 17 Os animais anestesiados foram submetidos a tricotomia na região dorsal e, após uma assepsia local com álcool a 70%, em capela de fluxo laminar, foi feita uma incisão mediana dorsal entre as espinhas ilíacas com divulsão do tecido subcutâneo em direção cranial. Um disco de esponja foi cuidadosamente introduzido e acomodado na região interescapular de cada animal, e sobre ele foi injetado 0,30mL de solução salina estéril. A incisão foi suturada com fio de sutura (categute) usando ponto duplo, seguindo-se de aplicação local de spray anti-séptico (Johnson & Johnson – São Paulo) Após recuperação da anestesia os animais eram colocados em gaiolas com água e ração. 3.4- Transplantes: No 21º dia após implante, os discos de esponja foram removidos da linhagem C57BL/6 e transplantados em animais da linhagem receptora BALB/c. Os animais C57BL/6 foram sacrificados através de inalação de éter (Labsynth) e deslocamento cervical. Os implantes foram removidos e rapidamente pesados. Em seguida cada implante foi transferido para um animal da linhagem receptora BALB/c, que foram submetidos ao mesmo procedimento cirúrgico descrito anteriormente para realização do implante. 3.5- Colheita dos discos esponjosos: Do grupo receptor BALB/c foram colhidos os discos de esponja em diferentes intervalos de tempo: 3, 5, 7, 9, 11, 13, 15, 17, 19 e 21 dias após o transplante. Os animais foram sacrificados por inalação de éter e deslocamento cervical. Após a incisão, os discos transplantados eram avaliados macroscopicamente em relação a presença de cápsula conjuntiva, fluido e necrose. Em seguida foram dissecados, removidos, preparados para as dosagens bioquímicas, histológicas e morfométricas. 18 3.6- Análise do peso úmido: Os discos de esponjas implantados e transplantados dos grupos controle e experimental foram pesados sobre papel alumínio em uma balança digital no momento em que foram removidos dos animais doadores e receptores. 3.7- Análise histológica e morfométrica dos discos pós-implante e pós-transplante: 3.7.1- Análise histológica Os discos de esponjas provenientes dos implantes (doador-C57BL6) e dos transplantes (receptor-BALB/c) reservadas para a técnica histológica foram imediatamente fixadas em solução de formol 10%, pH 7,4 durante 24 horas e colocadas em álcool 70% até o processamento histológico que incluía desidratação, diafanização, banhos de parafina e inclusão em bloco de parafina. Após esse procedimento foi feita microtomia dos blocos com cortes de 7 μm e coloração com hematoxilina –eosina (H.E.). Cada lâmina continha três cortes de discos implantados ou transplantados de um mesmo intervalo de tampo. Foram confeccionadas 3 lâminas, num total de 9 animais por intervalos de tempo pós-implante e pós-transplante. Os cortes dos discos examinados ao microscópio óptico foram avaliados qualitativamente observando-se as seguintes características: presença de linfócitos, neutrófilos, células gigantes, fibroblasto, tecido conjutivo, vasos sanguíneos, adipócitos e regiões de necrose. 3.7.1- Análise morfométrica: As lâminas coradas na histologia foram examinadas por um analisador de imagens (ZEISS-KS300) acoplado a um microscópio (ZEISS) com câmara digital. 19 O software analisou as imagens capturadas e selecionou a partir de uma plataforma algorítmica, denominada MACRO, os núcleos corados por campo na lâmina. A MACRO é o controle de leitura e pode ser ajustada segundo a intenção da análise. No presente estudo uma MACRO específica foi desenvolvida para contar os núcleos por campo nas lâminas coradas. As lâminas analisadas foram os cortes histológicos dos discos de esponjas do doadorC57BL/6 e receptor-BALB/c e os dados obtidos descreveram o total de células para cada condição experimental. 3.8- Análises bioquímicas da atividade das enzimas: Para as análises bioquímicas, os discos removidos foram pesados em papel alumínio e cortados ao meio com um bisturi. Os dois fragmentos foram separados e congelados em tubos (Falcon) de 15mL com 2,0mL de solução filtrada PBS 1X para as análises da presença das enzimas mieloperoxidase (GRUPO 1) e n-acetilglicosaminidase (GRUPO 2). 3.8.1- MIELOPEROXIDASE (MPO): As amostras dos discos transplantados removidos dos animais BALB/c, GRUPO 1, foram homogeneizadas (Powergen – Fisher Scientific) em tubos (Falcon) de 15mL. Em seguida, elas foram transferidas para microtubos (Eppendorf) de 1,5mL contendo 2,0mL de tampão fosfato, pH 4,7 e centrifugadas a 10000g durante 15 minutos a 4ºC. O sobrenadante foi desprezado e o precipitado remanescente ressuspendido em 2,0mL de HTAB (brometo de hexadeciltrimetilamonio) (Sigma) 0,5% diluído em tampão fosfato, pH 5,4. Após homogeneização (Vortex) por aproximadamente 30 segundos, segui-se à transferência de 1mL de cada amostra para microtubos (Eppendorf) de 1,5mL, os quais sofreram processo de congelamento/descongelamento (3 vezes) em nitrogênio líquido. 20 As suspensões foram, então, centrifugadas a 10000g por 15minutos a 4ºC e o sobrenadante foi coletado para posterior utilização no ensaio enzimático. A seguir, adicionou-se 25,0μL das amostras a uma placa de 96 poços. Às amostras, adicionou-se 25,0μL do substrato TMB (3,3’, 5,5’ –tetrametilbenzina) (Sigma) diluído em DMSO (Dimetil sulfóxido) (Merck) e procedeu-se à incubação da placa a 37ºC por 5 minutos. Após esse período, foram adicionados 100,0μL de peróxido de hidrogênio 0,003% à cada poço. A placa foi novamente incubada a 37ºC por 5 minutos e areação foi interrompida através da adição de 100,0μL de H2SO4, 4M. A absorbância foi medida por espectrofotometria em comprimento de onda de 450nm. A quantidade de neutrófilos contidos nas amostras foi estimada a partir de uma curvapadrão que relaciona linearmente a atividade enzimática (MPO) medida pela absorbância e a concentração de neutrófilos. Esta foi elaborada após a determinação da atividade de MPO por neutrófilos isolados da cavidade peritoneal de camundongos BALB/c previamente estimulados com caseína 5%. Os resultados foram expressos em número relativo de neutrófilos por miligrama de peso úmido de esponja (neutrófilo / mg peso úmido do disco transplantado). 3.8.2- N-ACETILGLICOSAMINIDASE (NAG): As amostras transplantados removidos dos animais BALB/c, GRUPO 2, foram homogeneizadas (Powergen – Fisher Scientific) em tubos (Falcon) de 15mL. Em seguida, elas foram transferidas para microtubos (Eppendorf) de 1,5mL contendo 2,0mL de solução salina 0,9% / Triton x-100 (Promega) 0,1% v/v. Em seguida, as amostras foram transferidas para microtubos (Eppendorf) de 1,5mL e centrifugadas a 3000g durante 10 minutos a 4ºC. O sobrenadante foi então coletado. A seguir, adicionou-se 100,0μL das amostras diluídas em tampão citrato/fosfato, pH 4,5 a uma placa de 96 poços. Às amostras, adicionou-se 100,0μL do substrato p-nitrofenil-N-acetil-β-D-glicosaminida (Sigma) diluído em tampão citrato-fosfato, pH 4,5, e procedeu-se à incubação da placa a 37ºC por 10 minutos. Após este período, a reação foi interrompida através da adição de 100,0μL de 21 tampão glicina, 0,2M, pH 10,6. A absorbância foi medida por espectrofotometria em comprimento de onda de 400nm. A quantidade de macrófagos presentes nas amostras foi estimada a partir de uma curva-padrão que relaciona linearmente a atividade enzimática (NAG) medida pela absorbância e a concentração de macrófagos. Esta foi elaborada após a determinação da atividade de NAG por macrófagos isolados da cavidade peritoneal de camundongos BALB/c previamente estimulados com tioglucolato 3%. Os resultados foram expressos em número relativo de macrófagos por miligrama de peso úmido de amostra (macrófago / mg peso úmido do disco transplantado). 3.9- Análise estatística: Em todos os experimentos os resultados foram analisados através do teste T de Student, considerando-se significativas as diferenças onde p > 0,05. Os resultados foram apresentados como média ± erro padrão da média de cada grupo de animais. 22 4- RESULTADOS 4.1- Peso úmido dos discos pós-implante e pós-transplante. Os discos pós-implante dos animais doadores foram pesados no momento em que eram removidos dos animais doadores a fim de se comparar o ganho de massa a partir do peso seco da matriz esponjosa nos intervalos de implantação: 12; 15; 21 e 30 dias. As media do peso úmido dos discos foram apresentadas na Tabela 1. Estes dados demonstraram que houve um aumento de peso úmido nos discos do grupo experimental e controle durante o período de implantação. No entanto percebemos que este acréscimo de peso não foi contínuo, sendo que no 30º dia pós-implantação houve ligeira perda de massa dos discos. O ganho de peso foi máximo no intervalo de 21 dias pós-implante em ambos os grupos. Estes dados foram cruzados com a análise histológica dos discos nestes intervalos a fim de obter um intervalo ideal de implantação. 23 TABELA 1: PESO ÚMIDO (mg) DOS DISCOS DE ESPONJAS DOADORES ANTES DO TRANSPLANTE. GRUPO DISCOS DE ESPONJAS SECOS TEMPO PÓS-IMPLANTE PESO ÚMIDO (DIAS) (g) 0 0,007± 0,03 (7) 12 0,09± 0,07 (9) 15 0,11± 0,05 (9) 21 0,26 ± 0,02 (7) 30 0,16 ± 0,03 (7) 12 0.10 ± 0,04 (7) 15 0,11 ± 0,09(5) 21 0,24 ± 0,07 (6) 30 0,14 ± 0,09 (7) ANTES DOS IMPLANTES. DOADOR C57BL6 (Experimental) DOADOR BALB/c (Controle) Legenda: Valores representam média ± erro padrão da média O número de animais usados em cada experiência está indicado entre parênteses. 24 A Figura 1 apresenta a variação do peso úmido dos discos de esponjas transplantados, colhidos dos animais receptores-BALB/c dos grupos experimental e controle nos intervalos de tempo: 1, 3, 5, 7, 9, 11, 13, 15, 17, 19 e 21 dias pós-transplante. O grupo experimental consistiu de animais que receberam implantes provenientes de linhagem diferente, discos doadores-C57BL/6, enquanto o grupo controle consistiu de animais que receberam discos doadores da mesma linhagem, isto é, BALB/c. Os dados descreveram um aumento do peso úmido dos discos transplantados ao longo do tempo, sendo que podemos observar um pico de crescimento no peso úmido no 7º dia pós-transplante, no grupo experimental, e um pico no 9º dia pós-transplante, no grupo controle. Um segundo pico foi identificado no 13º dia pós-transplante no grupo experimental, no entanto este ponto não apareceu no grupo controle, pois a partir do 13º dia verificamos uma queda neste parâmetro que passa a oscilar dentro de uma cinética constante até o 21º dia. Podemos verificar que o aumento do peso úmido é ligeiramente maior no grupo experimental quando comparado ao grupo controle 25 FIGURA1: PESO ÚMIDO (mg) DOS DISCOS DE ESPONJAS TRANSPLANTADOS, DISSECADOS DE BALB/c EM INTERVALOS DIFERENTES DE TEMPO. Peso úmido dos discos transplantados 700 Peso úmido (mg) 600 500 400 300 200 grupo experimental 100 grupo controle 0 1 3 5 7 9 11 13 15 19 21 Dias pós-transplante Legenda: Os pontos representam a média de peso úmido para cada intervalo de tempo póstransplante. O número de animais por ponto foi de 5 animais. O ponto 1° dia descreve o peso úmido dos discos no momento em que estes foram removidos dos animais doadores e transplantados para os receptores, neste ponto o número de animais foi maior. 26 4.2.- Observação macroscópica 4.2.1.-Implantes: Os discos de esponjas implantados nos animais doadores (C57BL/6 -grupo experimental e BALB/c – grupo controle) nos intervalos de tempo: 12, 15, 21 e 31 foram dissecados e avaliados macroscopicamente quanto à aderência na tela subcutânea dos animais, presença de cápsula e colonização celular (aspecto da matriz esponjosa após o implante). Os discos dissecados após 12 e 15 de implante não apresentavam cápsula apesar de estarem razoavelmente aderidos à tela subcutânea. Os discos de esponjas dissecados após 21 dias pós-implante apresentavam-se firmemente aderidas ao tecido subcutâneo da região dorsal do doador, no entanto muitos discos foram dissecados aderidos a região ventral . Uma cápsula de tecido extremamente delgado preenchido com edema de coloração incolor-amarelada envolvia os discos. Quando os discos eram retirados verificou-se uma extensa rede de vasos na região de aderência na tela subcutânea. Havia nitidamente a ligação de tecidos do doador com os discos o que dificultava a remoção dos mesmos. Identificou-se também a presença de gordura parda aderida à face ventral dos discos. Os discos dissecados no 30º dia apresentavam características macroscópicas semelhantes aos dissecados no 21º dia diferindo apenas na aderência à tela subcutânea, que naqueles era maior 4.2.2.- Transplantes: Após 3 dias de transplante não se constatou a presença de cápsula, estando os discos do grupo controle e experimental pouco aderidos às faces ventral ou dorsal da região 27 subcutânea. Em muitos discos transplantados, em que se verificou certa aderência, observou-se a presença de edema de coloração amarelada. Após 5 dias de transplante os discos do grupo controle e experimental encontravamse aderidos e envolvidos por uma cápsula de tecido translúcido e delgado com edema de coloração amarelada. Após 7 dias os disco dos dois grupos adquiriram uma coloração amarelada homogênea. A cápsula se manteve e o edema adquiriu maior viscosidade. Nos dias seguintes até o 15º dia não houve mudanças visíveis da coloração, no entanto a partir deste dia observou-se marcante redução do volume dos discos dissecados. Apesar destes estarem cada vez mais aderidos à tela subcutânea, o edema diminuiu em quantidade e viscosidade em ambos os grupos. Após 19º e 21º dias de transplante os discos estavam aderidos firmemente ao tecido subcutâneo com a presença de gordura parda. A redução de volume dos discos é clara. 28 4.3.- Histologia: 4.3.2.- Implantes: Os dados da histologia foram obtidos a partir da observação das lâminas dos discos de implante nos intervalos de 12; 15; 21 e 30 dias do grupo experimental e controle. Os discos de implante em todos os intervalos apresentaram-se invadidos por tecido conjuntivo frouxo, e este adquiriu maiores amplitudes nos intervalos 21º e 30º dias. Nestes discos, observaram-se vasos irrigando todo o disco, principalmente na sua periferia, onde a proliferação de tecido conjuntivo frouxo foi maior. Nos discos com 30 dias pós-implante a concentração de substância fundamental amorfa foi elevada, além disto os discos possuíam baixa celularidade quando comparados aos discos com 21 dias de implantação (Figura 2). Estes apresentavam infiltrado inflamatório (macrófagos, neutrófilo e poucos linfócitos) concentrado na periferia dos discos e em torno das trabéculas de esponja. Células gigantes estavam sempre próximas às trabéculas esponjosas dos discos em todos os intervalos. Fibroblastos eram mais abundantes no centro dos discos dos intervalos 21º e 30º dias. Regiões de necrose eram pequenas e ausentes nos intervalos 12º e 15º. Não foi observada diferença quanto aos tipos celulares e seu número nos discos de doadores C57BL/6 e BALB/c colhidos no mesmo intervalo de tempo. 4.3.2.- Transplante: Os resultados da histologia indicaram que os discos transplantados dos grupos experimental e controle apresentavam os mesmos tipos celulares predominantes. A Tabela 2 resume as observações da histologia descrevendo a freqüência qualitativa dos tipos celulares nos intervalos de tempo pós-transplante. A partir destes dados, podemos verificar uma flutuação de tipos celulares específicos ao longo do tempo de transplantação. 29 Os neutrófilos surgiram inicialmente a partir do 5º dia atingindo no grupo experimental uma concentração máxima no 7º dia (Figura 4), se distribuindo extensamente na periferia dos discos. Os macrófagos surgiram a partir do 9º dia e seu pico ocorreu por volta do 11º dia. Os linfócitos foram observados em maior número no 13º dia nas lâminas do grupo experimental (Figura 6), localizados na periferia dos discos. Estes estavam pouco freqüentes nos cortes dos discos do grupo controle Identificamos algumas áreas de necrose principalmente no centro dos discos nos intervalos 3º ao 21º dias de pós-transplante. Não foram distinguidos vasos sanguíneos nestas regiões desde então. Células gigantes se localizavam em volta das trabéculas esponjosas na região central. Elas se multiplicaram por volta do 13º dia estando preferencialmente agregadas à matriz esponjosa. No 17º ao 21° dias observou-se uma mobilização de macrófagos para a região central do disco. Os neutrófilos permaneceram freqüentes na periferia. Os fibroblastos foram mais tardios estando mais freqüentes a partir do 15º e predominando nos intervalos 19º e 21º dias nos discos do grupo controle. Estas células estão envolvidas com a fase proliferativa característica de processos de reparo e regeneração de tecidos lesionados. 30 TABELA 2: AVALIAÇÃO QUALITATIVA DAS FREQUÊNCIAS DOS TIPOS CELULARES OBSERVADOS NOS DISCOS TRANSPLANTADOS EM DIFERENTES INTERVALOS DE TEMPO. Neutrófilos D Exp Cont 3 ++ + 5 +++ 7 Macrófagos Exp Linfócitos Fibroblastos Cont Exp Cont Exp Cont + + - - + + ++ ++ ++ + - + + ++++ ++++ +++ ++ ++ + + + 9 +++ +++ ++++ +++ ++ + + + 11 +++ +++ +++ +++ +++ ++ ++ + 13 ++ ++ +++ +++ ++++ + ++ ++ 15 ++ ++ ++ ++ ++ + ++ +++ 19 + + +++ ++ + - +++ ++++ 21 + ++ + + - - +++ ++++ Legenda: A letra D se refere ao dia pós-transplante em dias. Os dados das freqüências foram confeccionados a partir de 3 lâminas por intervalo póstransplante, num total de 9 animais. Exp identifica o grupo experimental. Cont identifica o grupo controle. (-) nenhum; (+) presente; (++) freqüente; (+++) bastante freqüente; (++++) predomina. 31 FIGURA 2: VISÃO MICROSCÓPICA DO DISCO PÓS- IMPLANTE: Legenda: Disco de esponja de poliéster implantado em C57BL/6 e retirado após 21 dias. Coloração: H. E. Aumento: 10x 40x FIGURA 3: VISÃO MICROSCÓPICA DO DISCO PÓS –TRANSPLANTE: Legenda: Disco de esponja de poliéster pós-trransplante após 7 dias- grupo controle. Coloração: H.E. Aumento: 10x 40x 32 FIGURA 4: VISÃO MICROSCÓPICA DO DISCO PÓS –TRANSPLANTE Legenda: Disco de esponja de poliéster pós-transplante após 7 dias- grupo experimental. Coloração: H.E. Aumento: 10x 40x FIGURA 5: VISÃO MICROSCÓPICA DO DISCO PÓS –TRANSPLANTE Legenda: Disco de esponja de poliéster pós-transplante após 13 dias- grupo controle Coloração: H.E. 33 FIGURA 6: VISÃO MICROSCÓPICA DO DISCO PÓS –TRANSPLANTE Legenda: Disco de esponja de poliéster pós-transplante após 13 dias- grupo experimental. Coloração: H.E. Aumento: 10x 40x 34 4.3.3- Análise morfométrica: As análises morfométricas realizadas a partir da lâminas da histologia descreveram um crescimento celular em ambos os grupos, controle e experimental, no intervalo de tempo do transplante, porém esta técnica não permite identificar e quantificar um tipo celular individualmente. O software (KS300- ZEISS) gera uma grandeza numérica a partir da análise das imagens digitalizadas capturadas das lâminas, que é o total de núcleos por campo, mas não consegue diferenciar entre duas células diferentes (Figura 7). No entanto a contagem de núcleos totais por campo através do analisador gerou dados mais objetivos quanto à colonização dos discos de esponja transplantados. A Figura 8 descreve os resultados da contagem dos núcleos totais por campo de lâminas nos intervalos de tempo pós-transplantes. Nesta percebemos um aumento expressivo da celularidade nos cortes dos discos no 7º e 13º dias pós-transplante (grupo experimental) e nos cortes dos discos no 9º dia pós-transplante (grupo controle. Estes resultados foram bastante semelhantes aos dados obtidos com o peso dos discos póstransplantes apresentados anteriormente. No 21º dia pós-transplante, nos cortes dos discos do grupo controle, percebemos um pico de celularidade que não cruza com os resultados do peso úmido para o mesmo período. FIGURA 7: ÁREA DE TRABALHO DO SOFTWARE KS300-ZEISS: 35 FIGURA 8: RESULTADO QUANTITATIVO DO NÚMERO MÉDIO DE CÉLULAS POR CAMPO NOS DISCOS OBTIDO ATRAVÉS DOANALISADOR DIGITAL DE IMAGENS. Número médio de núcleos por campo 450 Número de núcleos 400 350 300 250 200 150 grupo experimental 100 grupo controle 50 0 1 3 5 7 9 11 13 15 19 21 Dias pós-transplantes Legenda: Os pontos na Figura 8 indicam a média da contagem dos núcleos totais por campo para cada intervalo de tempo pós-transplante. Para cada ponto foram capturadas 24 imagens por lâmina. Foram analisadas 3 lâminas para cada intervalo de tempo, perfazendo um total de 9 animais para cada ponto. 36 4.4- Análise das enzimas NAG E MPO: O resultado destas análises confirmou a presença de neutrófilos (atividade da MPO) e macrófagos (atividade da NAG) nos discos transplantados. Estes tipos celulares desempenham papel importante na rejeição uma vez que promovem a remoção de tecidos estranhos e participam da atração e ativação de outras células para o sítio de inflamação, assim podemos verificar que atividade positiva destas enzimas confirma a presença destes tipos celulares nos discos dos grupos controle e experimental. Os testes foram realizados nos discos transplantados removidos nos intervalos de tempo 13, 15, 15, 17, 19 e 21 dias e os dados preliminares indicaram que o grupo experimental apresentou maior quantidade destas células por mg de peso úmido quando comparado ao grupo controle. 37 FIGURA 9 : TOTAL DE NEUTRÓFILOS POR PESO ÚMIDO DOS DISCOS PÓS TRANSPLANTES Neutrófilos (x1000)/ peso úmido do tansplante (mg) Total de Neutrófilos 160 140 120 100 80 60 40 20 0 13 15 17 19 21 grupo controle grupo experimental Dias pós-transplante Legenda: Os resultados representam a média de cada grupo de animais (n=3). FIGURA 10 : TOTAL DE MACRÓFAGOS POR PESO ÚMIDO DOS DISCOS PÓS TRANSPLANTES: Macrófagos (x1000)/ peso úmido do discos pós transplante Total de Macrófagos 180 160 140 120 100 80 60 40 20 0 13 15 17 19 Dias pós-transplante 21 grupo controle grupo experimental Legenda: Os resultados representam a média de cada grupo de animais (n=3). 38 5.-DISCUSSÃO: A rejeição é uma reação inflamatória dirigida a um tecido ou órgão não-próprio (alogênicos) desencadeada, principalmente, pela ativação de células T via moléculas de MHC alogênicas classe I e classe II. A ativação destas células causa a destruição do enxerto e as terapias de inibição da rejeição envolvem o bloqueio da IL-2, principal citocina responsável pela progressão dos linfócitos T da fase G1 para a fase S do ciclo celular. O desenvolvimento de um modelo experimental para o estudo da rejeição de órgãos e tecidos é fundamental para as pesquisas de novas tecnologias de transplantes e de tratamento para os transplantados. Uma vez que esta metodologia é consideravelmente mais complexa em animais de laboratório, torna-se necessário buscar alternativas simples, porém objetivas para se entender este intricado mecanismo imunológico. Um modelo eficiente seria aquele que expusesse o animal receptor a uma carga contínua de aloantígenos de um animal doador, nas condições de espaço e tempo que simulem a prática médica. O modelo de implantação de discos de esponjas de poliéster-poliuretano na região subcutânea no dorso de animais tem se mostrado eficiente no estudo de tecido de granulação, angiogênese (ANDRADE et al., 1987) e imunização ( LIMA, 1998). O fato de desencadear no organismo receptor uma reação inflamatória do tipo corpo estranho que promove uma intensa colononização celular, observada na matriz esponjosa, despertou nosso interesse em utilizar este método em estudos de rejeição de transplantes. Para isto era nosso objetivo verificar se os discos de esponja de poliéster-poliuretana implantados eram colonizados pelas células da linhagem doadora. Interessava descobrir qual era a amplitude desta colonização e o tempo necessário para se obter o máximo de células Observamos através dos resultados do peso úmido (Figura 1), bem como das análises histológicas (Figura 2) e morfométricas (Figura 8) que os discos pós-implantados (controle e experimental) apresentavam uma composição celular variada com extensa colonização. Esta foi maior nos discos com 21 dias de implantação, o que nos levou a fixar 39 este intervalo como o tempo limite ou ideal de implantação e data do transplante para os animais receptores. Quando analisamos os resultados do peso úmido dos discos pós-transplantados verificamos que eles são muito semelhantes aos produzidos pelas análises histológicas e morfométricas. Estes resultados descrevem um aumento celular no 7º dia pós-transplante (grupo experimental) e no 9º dia (grupo controle) que pode ser atribuído principalmente à migração de neutrófilos para os discos transplantados (Figuras 3 e 4). Quando ocorre o transplante dos discos para os animais receptores, a vascularização dos discos pós-implante é rompida o que promove a morte celular, localizada principalmente, no centro dos discos. O fenômeno de necrose derivado desta condição ativa uma variedade de mecanismos humorais e celulares. O organismo interpreta estes sinais bioquímicos gerando uma resposta inflamatória. Esta primeira reação inflamatória local é semelhante à observada em lesões teciduais e, segundo ROBBINS (1996) caracteriza-se, inicialmente, por vasoconstrição arteriolar transitória, seguida por vasodilatação e por aumento da permeabilidade dos capilares, resultando em aumento do fluxo sanguíneo local (hiperemia) e na exsudação de líquido rico em proteínas (edema). Segue-se, então, migração direcional e seletiva de leucócitos do sangue periférico para o sítio lesado (diapedese). Nos estágios iniciais do processo, neutrófilos são particularmente prevalentes no sítio da lesão e são responsáveis pela resposta fagocítica rápida e não específica e pela ação potencialmente destrutiva de seus conteúdos granulares. No presente estudo observamos um certo atraso e menor amplitude da resposta neutrofílica do grupo controle em relação ao experimental. Neste caso os mediadores liberados pelo tecido necrosado não sustentam esta diferença, uma vez que os discos dos dois grupos foram submetidos aos mesmos procedimentos no momento do transplante e transferidos para um receptor idêntico (BALB/c), sujeitos aos mesmos fenômenos biológicos causados pela perda de vascularização. Assim, esta diferença pode está agregada à natureza do enxerto, ou melhor, dos aloantígenos, presentes na matriz esponjosa do grupo experimental. Os macrófagos apareceram nos discos por volta do 9º dia nos discos pós-transplante experimental e por volta do 11º dia nos discos do grupo controle. Na resposta inflamatória, 40 eles surgem no sítio alvo em um segundo momento, uma vez que derivam da maturação de monócitos, que atravessaram os vasos da tela subcutânea seguindo os estímulos quimiotáticos de mediadores inflamatórios e neutrófilos. Os macrófagos produzem moléculas inflamatórias responsáveis pela amplificação do processo, atraindo, por sua vez, mais neutrófilos, através de quimiocinas (ROLLINS, 1997) e estimulando a ativação e diferenciação de linfócitos T a partir da liberação de IL-12 ou funcionando como células apresentadoras de antígenos (APC). Nesse estágio, os macrófagos exercem importante atividade fagocítica, estando envolvidos na destruição celular e na remoção de restos celulares e teciduais (DAVIDSON, 1985). Os linfócitos, segundo a histologia, foram abundantes nos discos transplantados do grupo experimental no 13º dia ( Figura 6). Os resultados do peso úmido (Figura 1) e da morfometria (Figura 8) também indicam um pico no 13ºdia nos discos transplantados do grupo experimental, assim podemos inferir que este pico no peso úmido e no número de núcleos seja atribuído à migração de células T ativadas para as matrizes esponjosas, uma vez que os neutrófilos e macrófagos estavam com suas freqüências reduzidas neste intervalo (tabela 2). Novamente, não podemos afirmar que esta migração no grupo experimental foi determinada exclusivamente por mediadores inflamatórios, provenientes da necrose ou liberados pelos neutrófilos e macrófagos, ou da própria quimiotaxia e ativação (IL-12) promovida por estas células que surgiram no sítio primeiro. A IL-12, produzida por macrófagos potencializa as funções citolíticas das células T CD8+, além de induzir os linfócitos a secretarem IFN-γ, potente ativador de fagócitos mononucleares e neutrófilos Segundo MASON (1986), linfócitos do organismo receptor atravessam os vasos sanguíneos (diapedese), no sítio alvo: discos transplantados, atraídos pela inflamação e ação de quimiocinas liberadas, principalmente, por neutrófilos e macrófagos, presentes na matriz tecidual. Quando alcançam o foco quimiotático que, no presente estudo, são os discos transplantados são expostos a várias moléculas, próprias (grupo controle) e nãopróprias ou alogênicas (grupo experimental). Moléculas singênicos processadas e apresentadas pelas APC, via MHC classe I e classe II, aos linfócitos T presentes no sítio de transplantação dos discos do grupo controle, não são capazes de promover a ativação eficiente destas células (SHERMAN, 1992). 41 Segundo KRENSKY (1990), as moléculas alogênicas, especialmente as do MHC, classe I e classe II, processadas e apresentadas pelas APCs, ativam as células T CD4+ e CD8+, que uma vez ativadas liberam IL-2 que induz a ativação e o crescimento de outros linfócitos, atuando também nas mesmas células que a produziram, fator de crescimento autócrino, promovendo uma resposta proliferativa ( expansão clonal), que gera suficientes células específicas ao antígeno alogênico. Esta citocina estimula ainda a síntese de outras citocinas derivadas das células T, tais como linfotoxina e o IFN-γ. O IFN- γ é um ativador das células endoteliais vasculares, promovendo a adesão dos linfócitos T CD4+ e as alterações morfológicas que facilitam o extravasamento dos linfócitos (diapedese). Assim, esta rede de eventos promove a entrada de um número maior de células T no sito alvo. Além disto, o IFN- γ produzido pelas células T ativadas promove a expressão de mais moléculas de MHC classe II e co-estimuladora nos macrófagos ampliando a resposta. A quantidade de IL-2 sintetizada pelas células T CD4+ ativadas é um importante determinante da magnitude das respostas imunes dependentes das células T, como é o caso da rejeição de transplantes (COHEN, 1996). No grupo controle observou-se maior quantidade de fibroblastos e tecido conectivo a partir do 19º ao 21º dia que, segundo DAVIDSON, (1992) estão envolvidos em processos fibroproliferativos típicos de reparo e regeneração de tecidos lesados. O perfil enzimático (Figuras 9 e 10) confirmou a presença das enzimas NAG e MPO, indicando a presença de macrófagos e neutrófilos nos discos, sendo que, nos aloenxertos, o número destas células foi maior. Segundo ROLLINS, (1997) os linfócitos T ativados liberam quimiocinas da subfamília C-C e linfotoxina, potentes estimuladoras da motilidade e quimiotaxia de monócitos e neutrófilos respectivamente. Assim as células T promovem reações inflamatórias ricas em neutrófilos e macrófagos, semelhantes ao fenômeno de rejeição. A diferença entre as médias dos grupos pode ser atribuídas a maior participação de linfócitos T ativados no processo de ativação e direcionamento daquelas células para o sítio inflamatório nos transplantes alogênicos, porém estudos complementares serão conduzidos para determinar melhor o perfil destas enzimas ao longo dos dias de transplantes. 42 6.- CONCLUSÃO: Nossos experimentos comprovaram que o modelo de implantação de discos de esponjas de poliéster-poliuretana pode, semelhante ao observado por ANDRADE (1992), funcionar como matriz de colonização celular alogênica, sendo útil como método de estudo de rejeição. Definimos que o melhor tempo de implantação nos animais doadores é de 21 dias, assim como conseguimos caracterizar, através dos experimentos propostos, a resposta inflamatória nos dois grupos. Estas respostas apresentavam uma dinâmica celular diferente, estando os neutrófilos, macrófagos e, principalmente, linfócitos mais abundantes nos discos pós-transplantes ou alogênicos, de acordo com o descrito por MASON, (1986) A resposta inflamatória observada nos transplantes do grupo controle ou singênico assemelhou-se àquelas típicas de lesão tecidual, onde o esforço celular conjunto está empregado para o reparo funcional ou regeneração do tecido lesado, substituindo as células parenquimatosas do enxerto por tecido conjuntivo ( DAVIDSON, 1992) A inflamação verificada no grupo experimental foi mais intensa e dirigida para a eliminação do agente agressor (aloenxerto). Segundo KRENSKY, (1990) este padrão está intimamente associado à atuação dos linfócitos T do receptor, ativados a partir de interações estabelecidas principalmente com as moléculas alogênicas do MHC pelas vias direta e indireta de apresentação de aloantígenos. A partir das análises, observamos um padrão de resposta inflamatória nos discos transplantados do grupo experimental bastante semelhante àquele esperado nos fenômenos de rejeição de transplantes descritos por ROSENBERG (1992). Este comportamento mostra os potenciais deste modelo em simular in vivo a rejeição de transplantes. Esperamos realizar novos testes para caracterizar melhor a participação de cada tipo celular neste modelo de estudo e iniciar outros experimentos para elucidar melhor este processo inflamatório chamado rejeição. . 43 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 1-ABBAS, K.; LICHTMAN, AH. & POBER, J.S. (2000) Cellular and molecular Immunology. 4th edn. Philadelphia: W.B. Saunders Company. 553p. 2-ANDRADE, S.P.; CARDOSO, C.C.; MACHADO, R.D.P. & BERALDO, W.T. (1996) Angiotensin-II-induced angiogenesis in esponges implants in mice. Int. J. Microcirc. 16: 302-307. 3-ANDRADE, S.P.; FAN, T.P.D. & LEWIS, G.P. (1987) Quantitative in vivo studies on angiogenesis in a rat esponge model. 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