“Pé diabético” exige cuidados especiais

“Pé diabético” exige cuidados especiais
Grave problema de saúde, pode levar à perda de membros. Governo estuda
diretrizes para prevenção, diagnóstico, tratamento e reabilitação
Cerca de 70% das amputações realizadas no Sistema Único de Saúde
(SUS) ocorrem em pessoas portadoras de diabetes. Uma das principais
complicações enfrentadas por quem sofre dessa doença é o chamado pé
diabético. Se as lesões não forem diagnosticadas e tratadas precocemente,
podem levar à amputação dos membros inferiores como pés, pernas e coxas. A
maioria dessas amputações poderia ser evitada a partir do diagnóstico precoce e
de cuidados básicos. O Ministério da Saúde criou um grupo de trabalho para
traçar Diretrizes Nacionais para Prevenção, Diagnóstico Precoce, Tratamento e
Reabilitação das lesões do Pé Diabético.
O pé diabético é uma das mais graves complicações do diabetes mellitus.
São diversos tipos de lesões que aparecem nos pés de pacientes e que podem
levar a alterações severas na sensibilidade e na circulação sanguínea dos
membros inferiores. Elas podem ter como origem alterações neurológicas e
vasculares que produzem feridas e aumentam o risco de amputações. Essas
lesões, evoluídas pela falta de cuidados adequados, provocaram, somente no ano
passado, 17 mil amputações de pernas e coxas. O número não inclui cirurgias
para retirada de dedos necrosados, realizadas ainda em maior quantidade. A
situação é tão grave que o Ministério Público está intervindo nos estados para que
eles realizem ações contra a doença.
Para as pessoas com diabetes, o pé merece atenção especial. Como são
vulneráveis a ferimentos, é preciso observar os pés todos os dias. Isso deve ser
um hábito, principalmente para aqueles que sofrem de neuropatia (lesões nos
nervos causadas pelos altos níveis de açúcar no sangue). Responsáveis pela
sensibilidade, os nervos dos pés permitem que as pessoas sintam dor,
temperatura e o contato com o chão. Quando esses nervos são lesados pelo
diabetes, a pessoa perde a sensibilidade .
Todos os portadores de diabetes devem ser examinados pelo menos uma
vez ao ano por especialistas. Essa vigilância torna-se necessária porque,
normalmente, surgem cortes, calos, bolhas nos pés, sem a pessoa sentir. Isso
representa um agravante para que a doença evolua sem que o paciente perceba.
Em muitos casos, até que se detecte o problema, a lesão já se tornou grave e até
irreversível. “O número de amputações vem crescendo no país, não só pelo não
controle da doença, mas pela falta de informação”, aponta a Coordenadora da
Política Nacional de Diabetes e Hipertensão do Ministério da Saúde, Rosa
Sampaio.
As úlceras nos pés começam a partir de cortes superficiais e
deformidades, associados à perda da capacidade de cicatrização.
Cuidados – A prevenção com acompanhamento rigoroso e a educação
continuada dos pacientes e profissionais de saúde pode evitar até 85% dos casos
de amputação. A meta da Organização Mundial da Saúde (OMS) é uma redução
de 50% das taxas de amputação por diabetes no mundo.
Os portadores de
diabetes podem se prevenir com alguns cuidados diários como lavar bem os pés
todos os dias, enxugá-los com cuidado, principalmente entre os dedos, passar
creme nos pés, evitar caminhadas sem calçados adequados e não usar sapatos
sem meias. As unhas dos pés também devem estar bem cortadas, com as pontas
retas, e não se deve cortar ou remover calos sem ajuda de especialistas.
Calçados
inadequados
constituem
um
dos
maiores
fatores
para
complicações do pé diabético. “O portador não deve nem pensar em usar chinelos
de dedos, porque esse tipo de calçado pode provocar feridas entre eles”, alerta
Rosa Sampaio. Os calçados devem ser adequados às deformidades dos pés. O
Ministério da Saúde, junto com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa), estuda adotar medidas para fiscalizar o funcionamento do comércio
desses calçados especiais.
Atividades físicas também ajudam na prevenção da doença. Os exercícios
aumentam a circulação sangüínea nos pés e podem auxiliar no controle dos níveis
de açúcar no sangue e do peso, assim como a manter articulações saudáveis.
Uma dieta balanceada pode auxiliar na cicatrização de feridas. Hábitos
alimentares adequados também ajudam no controle do diabetes.
“É muito importante incentivarmos as pessoas a procurar o serviço de
saúde mais próximo da sua casa para fazer o diagnóstico precoce, só assim é
possível ter acesso ao tratamento adequado e evitar lesões”, diz Rosa. Antes do
aparecimento de lesões, o exame de detecção é feito por um equipamento
chamado monofilamento, que detecta as alterações de sensibilidade do pé. Se o
pé já tiver algum ferimento, deve ser feito o reconhecimento do machucado para
que se inicie tratamento e não se permita que o machucado evolua. “Os
portadores de diabetes precisam ter consciência de todos os riscos da doença e,
além
dos
cuidados
diários,
devem
se
submeter
constantemente
a
acompanhamento médico”, aconselha Rosa Sampaio.
Ações – No dia 14 de novembro do ano passado, Dia Mundial e Nacional de
Diabetes, o Ministério da Saúde participou em Salvador (BA) do Congresso
Brasileiro de Diabetes, que reuniu especialistas do mundo inteiro. No evento foi
realizada a primeira reunião do grupo de trabalho instituído pelo ministério para
traçar Diretrizes Nacionais para Prevenção, Diagnóstico Precoce, Tratamento e
Reabilitação das lesões do Pé Diabético.
O grupo foi criado com base em portaria assinada pelo ministro da Saúde,
Saraiva Felipe. O governo federal já executa ações preventivas para evitar
diabetes, como a campanha Pratique Saúde, que estimula hábitos saudáveis de
vida, e a Política Nacional de Atenção aos Portadores de Diabetes e Hipertensão,
que realiza, inclusive, a distribuição gratuita de medicamentos nos serviços de
atenção básica do Sistema Único de Saúde. “A campanha Pratique Saúde é uma
ação positiva, por chamar a atenção da população para os cuidados necessários
para uma vida saudável”, afirma Rosa Sampaio. Segundo a coordenadora, as
campanhas publicitárias são um importante meio para mobilizar a população.
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