Homilia de Domingo 11/06/06

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Homilia de domingo, 11/06/06
Pe. Luís Maurício
Meus queridos irmãos e irmãs, a Igreja nos propõe na celebração de hoje, a retomada do
Tempo Comum, após cinqüenta dias da Páscoa. A Igreja nos propõe celebrar a Trindade
Santa. Na verdade podemos dizer que a celebração de hoje é uma grande reverência a nossa
consciência como comunidade, de homens e mulheres de fé, que se colocam diante de Deus
e o reconhece como seu Senhor. Trindade Santa. Nosso Deus se apresenta na comunhão de
pessoas, vem ao nosso encontro na perspectiva de fazer acontecer um relacionamento vivo.
Ele mesmo se dá em sinal de humildade e de comunhão. Nesta celebração, a nossa atitude
de comunidade é de contemplação silenciosa do mistério de Deus que não é aquilo que não
podemos conhecer ou que não temos acesso, mas aquilo que é inesgotável. Quanto mais
fizermos a experiência de Deus na nossa vida, mais temos que silenciar e contemplar as
atitudes permanentes de Deus, que é sempre novidade de amor. Mistério da Santíssima
Trindade, na comunhão e no amor de Deus, que se dá como uma novidade eterna.
Na primeira leitura de hoje, Moisés chama a atenção de todo o povo de Deus, o povo de
Israel, a renovar a profissão de fé neste Deus que é Senhor da vida, que é fonte de vida.
Como se Moisés dissesse, não existe outro povo, entre todos os povos da Terra, nenhum
deles conseguiu fazer a experiência que fizemos, que é a da proximidade de Deus. O nosso
Deus, de Abraão, Isaac e Jacó, é aquele que está próximo, que convive conosco, está no
nosso cotidiano, vem ao nosso encontro com seus sinais, com seus prodígios. Somos
chamados a renovar a fé nesse Deus. O Deus que Moisés proclama na primeira leitura é
aquele que se dá a conhecer. Santo Agostinho nos fala: só amamos o que conhecemos. Por
isso, a primeira atitude que a Liturgia de hoje nos pede é de conhecimento, contemplação
silenciosa, para que possamos acolher o Deus que se dá a conhecer, para que possamos
aprender a amá-lo, como única fonte de vida, inesgotável fonte amor.
São Paulo, na segunda leitura, nos fala de forma tão viva: o Espírito deste Deus está em
todos nós. Somos marcados por este Senhor da vida. Ele nos dá o seu próprio espírito e
uma vez que permanece na nossa vida, nas nossas relações, nos nossos interesses, somos
chamados a estabelecer com Ele um relacionamento de intimidade. São Paulo nos diz: não
podemos mais ser considerados como escravos.
Com o Deus de Jesus Cristo, a relação é outra, não é superficial ou de domínio. É uma
relação de intimidade. O Deus de Jesus Cristo provoca pelo seu espírito uma tamanha
intimidade, que somos convidados a chamá-lo de Aba, que significa papaizinho. Intimidade
esta que nos permite ser com Deus o que Ele mesmo por natureza é, uma família. Uma
família que faz realizar seu projeto de amor.
Moisés na primeira leitura nos chama a atenção para descobrirmos verdadeiramente a nossa
fé. E a Liturgia de hoje, ainda, se propõe a corrigir esta fé. Quantas vezes a imagem que
temos de Deus é de um Deus distante, onipotente, poderoso. É verdade que Ele é
onipotente, Senhor de todas as coisas. Mas um Senhor que não se apega a essa realidade e
vem ao nosso encontro, está no nosso meio, para conosco fazer acontecer a proposta de
vida na qual todos possamos experimentar aquilo que Ele mesmo é: fonte inesgotável de
amor. Se proclamamos crer em Deus, se nos denominamos homens e mulheres de fé, se
dizemos termos muita fé, se dizemos vivermos a sua proposta de fé, a celebração de hoje
vem nos corrigir. A profissão de fé não é apenas o conhecimento de Deus. Professar a fé
não é apenas o entendimento filosófico ou teológico, que podemos ter do Deus de Jesus
Cristo. A profissão de fé, no Deus Trindade é uma atitude de vida. Essa é a correção que a
Liturgia de hoje propõe a cada um de nós. Uma atitude de vida na qual o nosso viver, a
nossa maneira de nos relacionarmos, nos expressarmos, possa demonstrar e comunicar uma
fé que é verdadeira, em um Deus que é Senhor da vida, que garante vida e que na maneira
de estar conosco, nos motiva a estarmos a serviço da proposta de seu reino, que é
construído pela solidariedade, comunhão e amor.
Na primeira leitura Moisés vai dizer: se este é o nosso Deus, reconhece, pois, hoje, e grava
no seu coração. Mas guarda as leis e os seus mandamentos. Professar a fé no Deus
Trindade nos provoca uma atitude de vida que seja coerente com aquilo que professamos.
Como sermos Cristãos e crermos no Deus que é que fonte de toda vida, e continuarmos a
dizer que a única maneira da segurança pública acontecer é por meio da pena de morte?
Como sermos Cristãos e crermos no Deus da vida e nos relacionarmos promovendo o
abismo das diferenças e das injustiças sociais? Como sermos Cristãos e professarmos Deus
que é o Senhor da vida, se por conta do individualismo ou da estética, promovermos o
aborto? Como sermos Cristãos e professarmos a fé num Deus Senhor que é único, que se dá
como Trindade, através de sinais na nossa vida, de relações fraternas, amorosas, solidárias,
e continuarmos a acreditar em tantas situações e circunstâncias que nos impedem de sermos
irmãos de verdade?
Jesus, no Evangelho de hoje, do mesmo jeito que Moisés, nos propõe sermos marcados por
Deus pela graça do batismo, e justamente por esta graça é que todos somos testemunhas da
presença de Deus. Somos marcados em nome de um Deus que é Pai, para que possamos
entender e experimentarmos que não existe outro, ou outra oportunidade, para idolatria.
Nada pode tirar o lugar do Deus verdadeiro e único. Só Ele é Senhor, e temos que
considerar na nossa vida somente a presença de Deus. Somos batizados em nome do Deus
que é filho, e somos batizados em nome de Deus para que nossas relações sejam fraternas.
A relação que Deus estabelece é de filiação. Em Jesus Cristo, com Ele, todos somos irmãos.
Devemos entender a paternidade de Deus de uma maneira diferente, próxima, convidativa.
Somos batizados em nome do Espírito Santo, de Deus que é Espírito Santo, consolador,
para entendermos que toda pessoa humana é templo divino do próprio Deus. Entendermos
que a vida humana, por natureza é santa, pertence a Deus e precisa ser referenciada como
valor inalienável.
Meus queridos irmãos e irmãs, tem muita gente que proclama Deus por aí. Talvez o nosso
mundo nunca tenha vivido um momento de busca de Deus tão intenso. Entretanto, a fé
Cristã se propõe a esta busca de uma maneira sempre nova, atuante, que incomoda porque
desafia. Não é uma profissão na qual apenas falamos e podemos entender somente com
base na filosofia ou na teologia. A fé Cristã é necessariamente uma adesão de vida. Se
cremos na Trindade Santa, que vem a nós como uma comunhão de relações, como fonte
inesgotável de vida, estímulo constante para vivência eterna do amor, não existe outra
maneira senão fazer valer na nossa vida aquilo que coerentemente professamos. Do
contrário, mais do que Cristãos, alguém dirá que somos ateus.
Amém.
Leituras:
Dt 4, 32-34. 39-40
Rm 8, 14-17
Mt 28, 16-20
Como sermos Cristãos e crermos no Deus da vida e nos relacionarmos promovendo o
abismo das diferenças e das injustiças sociais?
Como sermos Cristãos e professarmos Deus que é o Senhor da vida, se por conta do
individualismo ou da estética, promovermos o aborto?
Como sermos Cristãos e professarmos a fé num Deus Senhor que é único... e continuarmos
a acreditar em tantas situações e circunstâncias que nos impedem de sermos irmãos de
verdade?
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