Olho Mágico - Vol. 8 - Nº 1 jan./abr.2001 ENFOQUE O sentido do

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Olho Mágico - Vol. 8 - Nº 1 jan./abr.2001
ENFOQUE
O sentido do processo de avaliação nas metodologias ativas de
aprendizagem
Marcia Hiromi Sakai
Mestre em Saúde Coletiva, Médica,
Docente do Depto. Materno-Infantil e Saúde Comunitária/CCS/UEL
[email protected]
Olga Chizue Takahashi
Mestre em Educação, Enfermeira,
Vice-Diretora do Centro de Ciências da Saúde/UEL
[email protected]
Edite Mitie Kikuchi
Mestre em Educação, Enfermeira,
Docente do Depto. de Enfermagem/CCS/UEL
[email protected]
Kazuhiro Ito
Médico, Docente do Depto. de Patologia Aplicada,
Legislação e Deontologia/CCS/UEL, Coordenador
do Colegiado do Curso de Medicina/CCS/UEL
[email protected]
Falar sobre avaliação implica necessariamente refletir sobre o processo ensinoaprendizagem. É fundamental que, primeiramente, tenhamos clareza do significado
dos elementos aprender e ensinar. Conforme a ênfase dada a um deles, estaremos
indicando a opção pedagógica adotada.
Tradicionalmente, os profissionais de saúde, durante a sua formação, foram
influenciados pela concepção pedagógica da transmissão, que enfatiza o “como
ensinar”. Neste enfoque, as atividades centralizam-se na figura do professor, suas
qualidades, habilidades e experiências ( Abreu e Masetto, 1990). Como
consequência, o aluno desempenha um papel passivo, de grande tomador de notas,
memorizador e com tendência a reproduzir o que lhe foi ensinado.
Neste sentido, a avaliação tem caráter classificatório, pontual, punitivo, com
valorização do aspecto cognitivo e do produto, e o professor atua como fiscalizador
e controlador.
Quando se enfatiza “o aprender ”, que é entendido como um processo que
acontece no aluno e que é realizado pelo aluno, as atividades de aprendizagem são
centradas em suas experiências, habilidades e capacidades , ficando claro que
ninguém pode aprender pelo outro (Bordenave, Pereira, 1986). O professor tem o
papel de mediador da relação do aluno com o conhecimento, propiciando condições
para que ambos aprendam e se aperfeiçoem.
A aprendizagem é entendida como um processo complexo de mudança de
comportamento, englobando não só aspectos cognitivos (saber), mas também as
habilidades (saber fazer) e atitudes (saber ser e saber conviver), todos interligados
entre si. Torna-se claro que a tradicional pedagogia da transmissão não atende as
necessidades desta nova concepção, sendo necessária a adoção de metodologias
ativas de aprendizagem. Considerando a estrutura lógica de pensamento do aluno,
estas metodologias contribuem para que ele construa o conhecimento através do
desenvolvimento de seu raciocínio crítico. ( Sena-Chompré; Egry, 1998 ).
Neste cenário, o processo de avaliação tem a finalidade de acompanhar a evolução
do aluno, identificando seus avanços e dificuldades, possibilitando a tomada de
decisões e intervindo, quando necessário, para o alcance dos objetivos propostos.
Assim, a avaliação passa a ter outro significado: de instrumento que visa somente
o produto, a um instrumento de acompanhamento de todo o processo ensinoaprendizagem, incluindo a atividade docente e o próprio curso.
Aspectos Importantes
Alguns aspectos importantes devem ser considerados no processo de avaliação:
•
ser
compatível
com
o
processo
de
ensino-aprendizagem;
• ter coerência com os objetivos de aprendizagem sem perder de vista o perfil do
profissional
desejado;
•
ser
contínuo;
• verificar os desempenhos do aluno (conhecimentos, habilidades e atitudes) e do
professor;
•
verificar
a
adequação
do
currículo;
•
avaliar
o
processo
e
não
apenas
o
produto;
•
fornecer
feedback
de
todas
as
atividades
realizadas;
• atender a critérios de validade, confiabilidade e factibilidade.
Modalidades de Avaliação
A utilização de metodologias ativas de aprendizagem pressupõe que a avaliação do
aluno tenha características formativas e somativas.
A avaliação formativa valoriza o processo e possibilita detectar dificuldades que
interferem na aprendizagem do aluno, permitindo um feedback contínuo e
encaminhamentos necessários para que os objetivos educacionais sejam atingidos.
Esta avaliação compreende a:
• auto-avaliação: é realizada pelo próprio aluno, para avaliar o seu desempenho,
capacitando-o a desenvolver a autocrítica, a honestidade pessoal e a
responsabilidade
pelo
seu
aprendizado;
• avaliação interpares: é realizada pelos colegas do grupo que avaliam o
desempenho
de
cada
um
dos
participantes;
• avaliação do aluno pelo professor: é realizada pelo professor responsável pelo
grupo de alunos.
As técnicas, instrumentos e momentos da avaliação formativa são variados, mas é
importante que ela seja vista pelos seus atores (professores e alunos) como um
processo interativo dinâmico, em que a avaliação sirva de norteador da
aprendizagem e do alcance dos objetivos propostos.
A avaliação somativa é a verificação dos resultados obtidos para constatar o
alcance dos objetivos de aprendizagem.
Técnicas avaliativas
As técnicas avaliativas devem ser compatíveis com o processo de ensinoaprendizagem adotado e também com os objetivos de aprendizagem que se deseja
avaliar.
Para a avaliação do desempenho do aluno em relação à aquisição de
conhecimentos, atitudes e habilidades, podemos utilizar diferentes técnicas. As
mais conhecidas e empregadas para avaliação de conhecimentos são: prova oral,
prova prática, dissertação ou ensaio e teste objetivo. Tais técnicas frequentemente
se limitam a exigir apenas a memorização de fatos, não atingindo níveis mais
complexos da taxonomia de Bloom.
Assim, outras técnicas têm sido desenvolvidas na área da saúde, como o PMP
(resolução de problemas do paciente), o MEQ (questões de ensaio modificadas) e o
Triple Jump Exercices (exercícios em três etapas), com o objetivo de atingir níveis
mais complexos na referida taxonomia com a aplicação, análise, síntese e
avaliação. Além destas técnicas, para a avaliação de atitudes e habilidades,
podemos utilizar: registro de incidentes críticos, portfólio, logbook, diário de curso,
lista de verificação, OSCE (Objective Structured Clinical Examination) entre outros.
Não é objetivo deste artigo a descrição de cada técnica aqui citada. Para
exemplificar as múltiplas possibilidades de utilização, reproduzimos acima uma
tabela elaborada pela University of New Mexico e validada por um Assessment
Manual “State of the Art”.
SABE
Testes Escritos
Ensaios
Teste de múltipla escolha
Exercícios Escritos Teste de aplicação
Questões de ensaio modificadas
(MEQ)
Resolução de problemas do
paciente (RMP)
Exercícios não
Simulação no computador
Realizados nos
Exame prático
pacientes
Exercícios
OSCE
Realizados nos
Pacientes padronizados
pacientes
Exercícios em três etapas
Observacional
Incidente crítico
Observação direta
Revisão de prontuário médico
Exame oral
Avaliação por partes
Escalas
A: uso mais eficiente
B: utilidade secundária
A
A
B
SABE MOSTRA
FAZ
COMO COMO
A
.
.
A
.
.
A
.
.
B
A
.
.
B
A
.
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B
A
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B
A
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B
B
B
B
B
B
B
B
B
A
A
A
.
.
.
.
.
.
.
.
.
A
A
A
A
A
A
2) Avaliação do currículo ou programa
Para que um currículo possa ter as características desejáveis de ser dinâmico,
flexível e em contínuo aperfeiçoamento em sua interação com o meio, é necessário
que ele seja avaliado de maneira contínua e sistemática. Devem ser criados
mecanismos avaliativos em que os atores participantes (professores, alunos,
comunidade) possam expressar suas opiniões a respeito de tudo : módulos,
problemas, estrutura física, tutores, atividades práticas, etc., no sentido de que
essa atividade possa fornecer dados objetivos que vão subsidiar as decisões dos
responsáveis pelo gerenciamento.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1) Abreu, M. C.; Masetto, M. T. O professor universitário em aula: prática e
princípios teóricos. 8 ed., São Paulo: MG Ed. Associados, 1990.
2) Bordenave, J. D.; Pereira, A. M. Estratégias de ensino-aprendizagem. 9 ed.,
Petrópolis: Vozes, 1986.
3) Sena-Chompré, R. R.; Egry, E. Y. A enfermagem no projeto UNI: redefinindo
um novo projeto político para a enfermagem brasileira. São Paulo: Hucitec, 1998.
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