PNEUMONIA A No Brasil, as pneumonias são a primeira causa de morte entre as doenças respiratórias e, ocupam o quarto lugar na mortalidade geral entre adultos, quando as causas externas, como acidentes, são excluídas. Há ainda um estudo recente, Martins (2002), mostrou haver relação direta entre poluição atmosférica e pneumonia, cada vez mais presente em nosso dia-a-dia, principalmente em grandes centros onde verifica-se elevados níveis de gases poluidores. Mecanismos de proteção do sistema respiratório É importante lembrar que, em circunstâncias normais, as vias respiratórias, têm mecanismos eficazes de proteção contra infecções por microorganismos. O primeiro deles ocorre no nariz, onde grandes partículas são filtradas, não podendo chegar até o pulmão para causar infecções. As partículas pequenas, quando são inaladas pelas vias respiratórias, são combatidas por mecanismos reflexos. Dentre estes estão o reflexo do espirro, do pigarrear e da tosse, que expulsam as partículas invasoras, evitando as possíveis infecções. Quando as pessoas estão resfriadas, a filtração que normalmente ocorre no nariz e a imunidade do organismo podem ficar prejudicadas, facilitando o surgimento de uma pneumonia. Naqueles casos onde ocorre uma supressão dos reflexos citados acima, também há um maior risco de surgimento de uma pneumonia. Esta pode ocorrer quando, por exemplo, uma pessoa dorme alcoolizada, fez uso de sedativos, sofreu uma perda de consciência por uma crise convulsiva ou é portador de seqüela neurológica. Os pulmões também possuem um mecanismo de limpeza, em que os cílios que ficam no seu interior realizam, através de sua movimentação, a remoção de secreções com microorganismos que, eventualmente, tenham vencido os mecanismos de defesa descritos anteriormente. Estes cílios ficam na parte interna dos brônquios, que são tubos que levam ar até os pulmões. É importante lembrar que este mecanismo de limpeza fica prejudicado no fumante, pois o fumo tem a propriedade de paralisar os cílios envolvidos neste trabalho. O último mecanismo de defesa da via respiratória ocorre nos alvéolos, onde ocorrem as trocas gasosas (entra o oxigênio e sai o dióxido de carbono) e é onde agem os macrófagos. Estes são células especializadas na defesa do organismo e englobam os microorganismos que, porventura, tenham vencido a filtração nasal, os reflexos de pigarrear, tossir ou espirrar, além da limpeza feita pelos cílios das vias respiratórias. O que é Pneumonia? A pneumonia é uma infecção ou inflamação localizada nos pulmões. Ela pode ser causada por muitas espécies de microorganismos diferentes, entre eles estão os vírus, as bactérias, alguns parasitas ou fungos. Esta doença ainda é muito freqüente e afeta pessoas de todas as idades. Muitas destas, anualmente, morrem por pneumonia. A metade de todos os casos de pneumonia é causada por bactérias e, destas, o pneumococo é o mais freqüente. Abaixo temos esquemas de como o pulmão é acometido, mostrando na fig 1 a localização dos agentes patógenos na fig 2 o excesso de secreção que afeta o pulmão com pneumonia. Figura 1: localização dos agentes patógenos Figura 2: secreções acumuladas nos bronquíolos terminais e alvéolos A pneumonia afeta os pulmões de duas maneiras: nos lobos pulmonares e nos brônquios. Na pneumonia lobar uma parte do pulmão (lobo) é afetada de maneira uniforme. A broncopneumonia afeta os pulmões de maneira "salpicada" , fig 3. Figura 3: forma de infecção na pneumonia Figura 4: esquema mostrando os possíveis locais de infecção na pneumonia e suas denominações Além disso, a pneumonia é dividida em algumas "modalidades", uma que é adquirida na comunidade, fora do ambiente hospitalar e outra que é contraída no hospital ou nosocomial. Esta última costuma ser causada por germes de maior agressividade e por conseqüência é mais grave. Estes dados são confirmados pelos índices de mortalidade bem mais elevados. É a mais freqüente infecção em pacientes hospitalizados em Unidades de Terapia Intensiva (UTI´s), em uma pesquisa de Carrilho (1998), que acompanhou 540 pacientes que permaneceram internados em um hospital por mais de 24 horas, percebeu-se que 15,4% deles desenvolveram pneumonia. Esse trabalho apresenta ainda como fatores de risco para a pneumonia em pacientes hospitalizados em UTI´s o uso de sonda naso-gástrica, a traqueostomia e o rebaixamento do nível de consciência. A infecção de ambos os pulmões é popularmente chamada de pneumonia dupla. O que causa pneumonia? Pneumonia não é uma doença única. Ela pode ter mais de 30 causas diferentes. As principais causas das pneumonias podem ser vistas abaixo: - Bactérias - Vírus - Micoplasma e Clamídia - Outros agentes infecciosos, tais como fungos - Várias substâncias químicas Figura 5: lâmina corada mostrando aspecto histológico de pulmão com pneumonia típica Pneumonia bacteriana Pneumonia bacteriana é pneumonia causada por bactérias. Isto ocorre em aproximadamente 50% dos casos, e depende da idade e outros fatores. A causa mais comum de pneumonia bacteriana em adultos é uma bactéria chamada Streptococcus pneumoniae ou Pneumococo. Esta forma de pneumonia pode ser fatal, mas existe uma vacina disponível. A Infecção pneumocócica tem origem invariavelmente na faringe; daí a bactéria que se colonizou pode ser aspirada e causar a Pneumonia, como pode ter acesso ao ouvido médio ou aos seios paranasais, determinando Otite ou Sinusite, como pode ainda cair na circulação sangüínea a atingir o sistema nervoso central, causando Meningite. O pneumococo é o agente mais comum das Pneumonias Comunitárias em adultos e estima-se que seja responsável por aproximadamente 50% dos casos de Pneumonia em geral, e 90% das Pneumonias Lobares. A Pneumonia bacteriana geralmente aparece de repente, muitas vezes como uma complicação de outras doenças. As pessoas com Pneumonia se sentirão muito mal e aparentarão estar muito doentes, com febre alta, letargia, dificuldade em respirar, tosse e dor no peito, principalmente ao respirar. É provável que fique pálida e transpire. As bactérias estão presentes na garganta de algumas pessoas normais. Quando as defesas do organismo se enfraquecem as bactérias podem ser aspiradas e causar pneumonia. Pessoas debilitadas, alcoólatras e paciente em pós-operatório podem ter diferentes tipos de bactérias na garganta, e maior risco de pneumonia. Pneumococos (bactérias arredondadas) Figura 6: lâmina corada mostrando bactérias causadoras de pneumonia Pneumonia viral Os vírus são causadores de grande parceladas infecções de pulmão, um dos principais é o vírus da gripe. As pneumonias virais ocorrem mais no outono e no inverno. Elas também podem ser complicadas por pneumonias bacterianas. Mulheres grávidas e pessoas com doenças cardíacas ou pulmonares pré-existentes podem ter pneumonias graves pelo vírus da gripe. Pneumonia Intersticial Protótipo: pneumonia primária atípica Agente: Mycoplasma pneumoniae (outros: vírus da influenza, parainfluenza, citomegálico, herpesvírus, Varicela-zoster - grávidas e imunodeprimidos - , clamídias e o "agente da febre Q "). Microscopicamente Processo inflamatório intersticial. Septos alveolares alargados por edema e infiltrado de mononucleares. Os alvéolos, em geral, possuem pequena quantidade de líquido, mas em casos graves podem surgir membranas hialinas. Figura 7: lâmina corada mostrando infecção na pneumonia intersticial Figura 8: tomografia computadorizada mostrando septos espessados em pneumonia intersticial Pneumonia por Micoplasma, Clamídia e Legionella Os micoplasmas foram descobertos durante a 2ª. guerra mundial. São os menores agentes livres, capazes de causar doença na espécie humana; tem características tanto de bactérias quanto de vírus. O micoplasma é a 2ª. causa de pneumonia em freqüência, depois do pneumococo e responde a antibióticos diferentes. Antigamente se denominava a pneumonia causada pelo micoplasma de "atípica", porque se acreditava que o quadro clínico era diferente da pneumonia clássica. Hoje esta idéia foi abandonada. Clamídia, um tipo de germe parecido com o Micoplasma. É um agente de pneumonia relativamente freqüente, descoberto nos últimos anos. Em 1976, uma forma grave de pneumonia atacou várias pessoas em uma convenção dos Legionários norte-americanos em um hotel na Filadélfia. O agente causador foi logo descoberto e chamado de Legionella. Embora incomum, causa muitos casos de pneumonias graves. Pneumonia Aspirativa Este importante tipo de pneumonia ocorre quando acontece a entrada de líquidos, secreções do próprio corpo ou outras substâncias, da via aérea superior ou do estômago para dentro dos pulmões. A partir daí, é desenvolvida a pneumonia que, geralmente, é causada por um anaeróbio - bactéria que pode viver na ausência de oxigênio. Muitas vezes o conteúdo que é aspirado para um ou ambos pulmões é o suco gástrico do estômago, o qual, por ser ácido, inicialmente causa uma pneumonite (inflamação) nos pulmões; após isso, ocorre o desenvolvimento da pneumonia propriamente. Geralmente, existem duas condições predisponentes para que ocorra a aspiração do inóculo para os pulmões. Uma delas ocorre na falha nos mecanismos de defesa que protegem os pulmões, e a outra acontece porque o inóculo que alcançou o pulmão tem de ser suficientemente deletério para iniciar o processo inflamatório da pneumonia. Dentre os principais mecanismos de defesa está o reflexo da glote, o qual funciona como uma fenda que se fecha ao nível das cordas vocais para que nenhum líquido ou outra substância chegue, inadvertidamente, até os pulmões. Existe também o reflexo da tosse, o movimento ciliar e a fagocitose dos macrófagos dos alvéolos, quando o fechamento da glote não funciona de maneira eficaz. Então, se o reflexo da tosse não expulsar o líquido ou substância que está indo à direção dos pulmões, um movimento de cílios iniciará a "limpeza" destes. Os cílios revestem a parte interna dos brônquios - "tubulações" que espalham o ar dentro dos pulmões - e funcionam como cerdas de uma escova que trabalha de uma maneira unidirecional, levando a "sujeira" dos pulmões em direção à boca. Se, porventura, todos estes mecanismos forem vencidos e o inóculo alcançar os alvéolos, ainda terá a fagocitose dos macrófagos para combater aquela bactéria deletéria contida no inóculo aspirado. Os alvéolos são diminutos sacos onde ocorrem as trocas gasosas dos pulmões (entra o oxigênio e sai o gás carbônico). Já os macrófagos são as células que englobam (combatem) as bactérias que chegam até os alvéolos. Portanto, para que ocorra a pneumonia aspirativa, a bactéria agressiva que está no inóculo aspirado da via aérea superior para os pulmões terá que vencer todos os mecanismos de defesa supracitados. Normalmente, as bactérias que comumente causam este tipo de pneumonia são as anaeróbicas que fazem parte da flora ("ambiente") normal da cavidade oral (boca). Usualmente, o motivo da falha nos mecanismos de defesa do organismo é a perda de consciência ou a presença de algum distúrbio de deglutição (da comida ou da saliva) - como em alguns indivíduos que sofreram derrame cerebral, por exemplo. Dentre os indivíduos que costumam ter perda de consciência estão os alcoólatras, usuários de drogas, seqüelados por doença neurológica, doentes mentais, idosos, pacientes de UTI (Unidade de Tratamento Intensivo), epilépticos ou pacientes que tenham feito anestesia geral recentemente. Devemos lembrar também que existem vários estudos demonstrando aspirações em indivíduos sadios que se resolvem espontaneamente, não causando complicações pulmonares como a pneumonia. Esta patologia poderá ter um curso agudo, crônico ou intermediário. Calafrios, febre, tosse e dor torácica são algumas das alterações que podem ocorrer nesta doença. Geralmente, a tosse é seca nos primeiros dias, mas costuma apresentar expectoração (catarro) nos dias subseqüentes. Este catarro poderá ter a cor amarela, verde ou até raias de sangue. O odor da secreção expectorada nos casos de pneumonia aspirativa por bactérias anaeróbias é típico: tem cheiro fétido característico. A dificuldade respiratória poderá ocorrer devido à dor causada por cada movimento respiratório - a dita "pontada". Se a pneumonia for muito extensa, poderá ou não estar associada à cianose - coloração azulada da pele em torno da boca, nos lábios, nas orelhas ou extremidades dos dedos. A cianose traduz, neste caso, um sinal de gravidade. Já os idosos, na maioria das vezes, não apresentam o quadro pneumônico típico descrito acima. Poderão apresentar uma piora no seu estado geral (mental inclusive), com adinamia, diminuição do apetite e, em muitos casos, sem febre. Nas crianças pequenas, as alterações que costumam aparecer, afetam o estado geral destas. Comumente não surgem sinais ou sintomas específicos de pneumonia. São crianças que, geralmente, estão febris, com diminuição na ingestão de alimentos (não querem mamar ou comer), choram bastante e a mãe ou responsável pode até notar a dificuldade respiratória da criança. Algumas vezes, os indivíduos afetados apresentam sintomas por um longo período, com a perda de peso e, até, anemia. Outros tipos de pneumonias: Pneumocystis carinii é um fungo que muitas vezes causa pneumonia em portadores do HIV. O tratamento cura a maioria dos casos. Pessoas que tem as defesas muito reduzidas, (chamados em medicina de hospedeiros comprometidos), podem ter infecções por agentes infecciosos incomuns. São hospedeiros comprometidos os portadores de HIV, quem usa corticosteróides em doses elevadas e portadores de certos tipos de câncer em tratamento com quimioterapia, como portadores de leucemias e linfomas. Broncopneumonia: A infecção se inicia nos brônquios e bronquíolos e, através deste, há comprometimento dos alvéolos peribronquiolares e de ácinos adjacentes. Propagação por nível canalicular, com formação e inúmeros focos de consolidação do parênquima (segmentos basais). Corresponde a uma complicação bacteriana de infecção viral respiratória prévia. Mais freqüente na infância e velhice. Germes mais prevalentes: estafilococo,pneumococo, hemófilo. É sempre um processo inflamatório focal sendo caracterizado por vários focos de condensação pulmonar, sendo que tais focos podem ser confluentes. Microscopicamente - Exsudato purulento na luz dos alvéolos e bronquíolos, associado a destruição da parede desses componentes e edema de grau variado. Pode ocorrer formação de abscessos. Complicações - Extensão a pleura (pleurite, empiema) ou ao pericárdio (pericardite) e disseminação a distância. Broncopneumonia por aspiração: provocada pela inalação de restos alimentares e/ou secreções digestivas. Mais freqüente em lactentes, crianças, idosos, doentes mentais, pessoas anestesiadas, portadores de doenças neurológicas ou com fístula esôfago-traqueal. A Pneumonia Aguda é habitualmente uma doença infecciosa que afeta os pulmões, traduzida por uma consolidação dos alvéolos pulmonares ou infiltração do tecido intersticial por células inflamatórias. As pneumonias que afetam as crianças normais, no seu meio habitual, designadas pneumonias da comunidade são aquelas aqui abordadas, uma vez que os recém-nascidos, as crianças imunodeprimidas, com doenças crônicas ou internadas, constituem um grupo à parte, podendo ser infectadas por microorganismos diferentes. Para além das causas infecciosas, existem outras pneumonias provocadas, por exemplo, por aspiração de alimentos ou corpos estranhos, reações de hipersensibilidade ou induzidas por drogas. Os vírus respiratórios são os principais agentes infecciosos (80 a 85%), sendo o vírus sincicial respiratório (VSR), o influenza, o parainfluenza e o adenovírus os mais encontrados. O Mycoplasma pneumoniae e bactérias selecionadas, como o pneumococo, o Staphilococos aureus e atualmente menos freqüente, o Haemophilus influenza tipo b são outras causas comuns de pneumonia na criança. De uma forma geral, as infecções virais do aparelho respiratório inferior são bastante mais vulgares nos meses de inverno e o VSR é o agente mais comum, especialmente nos bebês mais pequenos. Os quadros de bronquiolite predominam no 1º ano de vida, enquanto a pneumonia viral tem a máxima incidência entre os 2 e os 3 anos, reduzindo-se a partir de então de uma forma progressiva. Relativamente ao Mycoplasma, a maior incidência ocorre em crianças em idade escolar, sendo responsável por cerca de um terço das pneumonias entre os 5 e os 9 anos e por aproximadamente 70% das pneumonias entre os 9 e 15 anos. As pneumonias bacterianas, não são muito comuns nas crianças de outro modo saudáveis, afetando mais freqüentemente aquelas com doenças subjacentes, como seja, por exemplo, a fibrose cística ou imunodeprimidos. Uma infecção viral prévia do pulmão pode, contudo, alterar os mecanismos de defesa e deixar que as bactérias causem doença. Na pneumonias virais, muitas vezes existem familiares com sintomas respiratórios em casa e durante alguns dias, a criança apresenta pingo no nariz e tosse; entretanto surge febre, que não costuma ser muito elevada e sinais de dificuldade respiratória, mais ou menos intensos. O quadro de pneumonia bacteriana é habitualmente mais súbito e exuberante, com febre elevada, tosse e dificuldade respiratória, continuando a ser o pneumococo o agente mais freqüente. O diagnóstico é feito pela clínica, com particular importância para a auscultação pulmonar, por radiografia pulmonar e por análises de sangue. O diagnóstico definitivo é feito pelo isolamento do agente em causa, a partir de uma amostra de secreções respiratórias ou no sangue. O Mycoplasma pneumoniae é um agente infeccioso que dá origem aos chamados quadros de pneumonia atípica, nas quais os sintomas gerais são mais exuberantes do que as queixas respiratórias, simulando por vezes infecções virais arrastadas. É importante lembrar que nem sempre é fácil fazer o diagnóstico diferencial de todas estas situações, sendo necessário para sua confirmação à conjugação de todos os dados clínicos e os exames complementares necessários, nomeadamente exames microbiológicos apropriados. Como nas restantes infecções provocadas por vírus, o tratamento habitual é de suporte, sendo necessário internamento dos bebês mais pequeninos ou dos casos mais graves. Nas infecções provocadas por bactérias, o tratamento com antibióticos veio melhorar muito a história desta doença, assim como das outras causadas por agentes bacterianos. O prognóstico costuma ser bom, embora em algumas situações a doença possa ser mais prolongada ou, nomeadamente com o adenovírus, o quadro possa ser mais perigoso. Um estudo realizado por César (1997) mostrou associação direta das internações por pneumonia e a classe social e a escolaridade materna, evidenciando que crianças de classe social baixa e filhas de mães com pouca escolaridade têm maior chance de serem acometidas por pneumonia que outras crianças em situações financeiras e sócias diferentes. Isso pode nos levar à hipótese não comprovada de que a pneumonia tem ligação com o nível sócio econômico dos pacientes. França (2001) associa ainda a mortalidade por pneumonia com os mesmos fatores relatados por César, no trabalho anterior. Como se desenvolve normalmente? Normalmente, a doença se desenvolve quando, por algum motivo, há uma falha nos mecanismos de defesa do organismo. A pneumonia pode desenvolver-se por três mecanismos diferentes: Um deles, bem freqüente, ocorre quando a pessoa inala um microorganismo, através da respiração, e este chega até um ou ambos pulmões, onde causa a doença. Outra maneira freqüente é quando bactérias, que normalmente vivem na boca, se proliferam e acabam sendo aspiradas para um local do pulmão. A forma mais incomum de contrair a doença é através da circulação sangüínea. Uma infecção por um microorganismo em outro local do corpo se alastra e, através do sangue que circula, chega aos pulmões, onde causa a infecção. O que se sente? A pneumonia clássica inicia abruptamente, com febre, calafrios, dor no tórax e tosse com expectoração (catarro) amarelada ou esverdeada que pode ter um pouco de sangue misturado à secreção. A tosse pode ser seca no início. A respiração pode ficar mais curta e dolorosa, a pessoa pode ter falta de ar e em torno dos lábios a coloração da pele pode ficar azulada, nos casos mais graves. Em idosos, confusão mental pode ser um sintoma freqüente, além da piora do estado geral (fraqueza, perda do apetite e desânimo, por exemplo). Nas crianças, os sintomas podem ser vagos (diminuição do apetite, choro, febre). Outra alteração que pode ocorrer é o surgimento de lesões de herpes nos lábios, por estar o sistema imune debilitado. Em alguns casos, pode ocorrer dor abdominal, vômitos, náuseas e sintomas do trato respiratório superior como dor de garganta, espirros, coriza e dor de cabeça. Como o médico faz o diagnóstico? O diagnóstico pode ser feito apenas baseado no exame físico alterado e na conversa que o médico teve com seu paciente que relata sinais e sintomas compatíveis com a doença. Os exames complementares são importantes para corroborar o diagnóstico e ajudarão a definir o tratamento mais adequado para cada caso. Normalmente, o médico utiliza-se dos exames de imagem (raios-X de tórax ou, até mesmo, da tomografia computadorizada de tórax) e de exames de sangue como auxílio para o diagnóstico. O exame do escarro também é muito importante para tentar identificar o germe causador da pneumonia. Com isso, o médico poderá prever, na maioria dos casos, o curso da doença e também definir o antibiótico mais adequado para cada caso. Como se trata? A pneumonia bacteriana deverá ser tratada com antibióticos. Cada caso é avaliado individualmente e se definirá, além do tipo de antibiótico, se há ou não necessidade de internação. Nos casos graves, até mesmo a internação em Unidades de Tratamento Intensivo (UTI) poderá ser necessária. Os antibióticos e demais medicações podem ser utilizados por via oral ou através de injeções, que podem ser na veia ou no músculo. Em alguns casos, além das medicações, podemos utilizar a fisioterapia respiratória como auxiliar no tratamento. Os fisioterapeutas utilizam exercícios respiratórios, vibradores no tórax e tapotagem (percussão do tórax com os punhos) com o intuito de retirar as secreções que estão dentro dos pulmões, agilizando o processo de cura dos pacientes. Nas pneumonias por vírus, o tratamento é praticamente só de suporte. Visa melhorar as condições do organismo para que este combata a infecção. Utiliza-se uma dieta apropriada, oxigênio (se for necessário) e medicações para dor ou febre. Nos casos de pneumonia por parasitas ou fungos, antimicrobianos específicos são utilizados. Como se previne a Pneumonia? Como já foi mencionado anteriormente, muitas vezes uma gripe ou resfriado podem preceder uma pneumonia. Para tentar evitar isso, vacinas foram criadas. Existe no mercado, a vacina contra o vírus influenza e outra contra o pneumococo, que podem diminuir as chances do aparecimento das doenças causadas por estes germes. Devemos lembrar que estas vacinas devem ser feitas antes do início do inverno, preferencialmente. A vacina contra o vírus influenza deverá ser feita anualmente em idosos e naquelas pessoas com maior risco de ter uma pneumonia. A vacina contra o pneumococo deverá ser feita em idosos e naquelas pessoas com o vírus do HIV, doença renal, problemas no baço, alcoólatras ou outras condições que debilitem o sistema de defesa do organismo. Esta vacina tem a duração de aproximadamente cinco anos. Em alguns casos, deverá ser repetida após o término deste período. Em casos selecionados, a vacina contra o Haemophilus influenzae deverá ser aplicada. Ele também é um germe freqüente que pode causar pneumonias. Existem outras vacinas, contra outros germes, que ainda estão em estudos. Medidas simples para prevenção de pneumonias incluem cuidados com a higiene, como a lavagem de mãos com sabonetes simples. Uma dieta rica em frutas e vegetais, que possuem vitaminas, ajudam a reforçar o sistema de defesa do organismo às infecções. FISIOTERAPIA A fisioterapia respiratória consiste na aplicação de exercícios para melhorar a tosse e a ventilação do alvéolo pulmonar -região do pulmão que faz a troca entre o oxigênio e o gás carbônico durante a respiração. O tratamento fisioterápico não é a única responsável pela melhora dos pacientes, mas aliada a tratamento com remédios e mudança nos hábitos do cotidiano, como a prática de exercícios e alimentação adequada, pode ter de 30% a 40% de eficácia, seja no tratamento antitabagista, de doenças respiratórias como asma, enfisema pulmonar ou pneumonia. Os objetivos da fisioterapia, nesses casos, são manter os pulmões bem ventilados, para não acumular secreções e, se houver acúmulo, realizar a higiene do aparelho respiratório. A técnica é indicada também para os pacientes internados em UTI (Unidade de Terapia Intensiva). Isso acontece porque, ficando muito tempo deitado, o doente pode vir a ter dificuldades de respiração e maior propensão a infecções, já que o pulmão não funciona perfeitamente. Os cuidados respiratórios representam cerca de 30% das necessidades dos pacientes em situação de emergência, como os internados em UTI ou pronto-socorro. Mesmo sem problemas respiratórios anteriores, os médicos e fisioterapeutas podem optar por aplicar a técnica logo que o doente é internado, devido ao risco de insuficiência respiratória. Essa insuficiência pode ocorrer por deficiências da respiração, como enfisemas e pneumonias, ou por falta de ar nos órgãos, como ocorre quando a pessoa sobre um derrame cerebral, infarto ou bate a cabeça. Na pessoa saudável, o ar entra normalmente nos pulmões, e algumas células deslocam secreções, partículas e bactérias. Nesse caso, a secreção está numa região mais central do pulmão e pode ser expelida por meio da tosse, ou até engolida. A pessoa acamada passa a ter os pulmões mais fechados, e a má ventilação provoca o acúmulo de secreções. Isso pode causar o aumento de bactérias e, conseqüentemente, o risco de infecção pulmonar. Com os pulmões debilitados, o paciente apresenta sonolência, diminuição das funções do cérebro e maior propensão a reter secreções no pulmão, o que pode levar a uma pneumonia. Outros sintomas são febre, alterações apresentadas no exame de sangue e respiração ofegante. A tosse é o meio mais fácil para que a respiração melhore. Dessa forma, se o paciente não tossir espontaneamente, é preciso provocá-la. A fisioterapia não cura a infecção, apenas remove ou desloca as secreções pulmonares, o que facilita a higiene pulmonar. A fisioterapia respiratória começou a ser desenvolvida no Brasil no final da década de 70. Um dos pioneiros nesse tipo de tratamento foi o Incor (Instituto do Coração), de São Paulo. Radiografia 1: radiografia normal do pulmão Radiografia 2: pneumonia bilateral Radiografia 3: pneumonia evidente em pulmão direito Radiografia 4: pneumonia em pulmão direito Radiografia 6: pneumonia no lobo médio Radiografia 7: pneumonia lingular Radiografia 8: pneumonia lingular Radiografia 9: pneumonia lingular em AP e LL Radiografia 10: pneumonia segmentar Radiografia 11: pneumonia por aspiração Radiografia 12: pneumonia por aspiração BIBLIOGRAFIA 1- CARRILHO, CMDM; Fatores associados ao risco de desenvolvimento de pneumonia hospitalar na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Universitário Regional do Norte do Paraná, Londrina, PR. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 32(4):455-456, julago, 1999. 2- CÉSAR, JÁ; VICTORA, CG; SANTOS, IS; BARROS, FC; ALBERNAZ, EP; OLIVEIRA, LM; FLORES, JA; HORTA, BL; WEIDERPASS, E; HALPERN, R. Hospitalização por pneumonia: influência de fatores socioeconômicos e gestacionais em uma coorte de crianças no Sul do Brasil. Rev. 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