APOSTILA BIOLOGIA MOLLUSCA EVANDRO SEVERINO RODRIGUES O Filo Mollusca representa um dos maiores e mais diversos filos de todo o reino animal compreende o segundo maior grupo zoológico, depois dos artrópodes, em relação à diversidade biológica. Considerando tanto os moluscos extintos como os vivos, eles compreendem cerca de 11% de todas as espécies animais que já existiram em todo o curso da história da terra, com cerca de 125.000 espécies viventes e 35.000 espécies fósseis. O nome “molusco” é derivado da palavra em latim (mollis = mole) e é aplicada a um grande grupo de animais cujos representantes possuem “corpo mole” (molluscus). De todos os filos, o que apresenta características mais variadas e diversas é o Mollusca. 1. Tamanho - pode-se encontrar desde espécies minúsculas só visíveis na lupa ou microscópio como Cranopsis alvaria, Pterópodes sp., etc., até aquelas que apresentam dimensões descomunais como a lula gigante de águas profundas (Architeuthis spp) que pode alcançar até 15 metros de comprimento ou as conchas gigantes Tridacna gigas do Pacífico e Hippopus hippopus da Austrália que podem atingir mais de 2 metros e pesar mais de 200 kg. Em tempos remotos as valvas dessas conchas chegavam a ser utilizadas como pia batismal nas igrejas, dado o seu tamanho e beleza. 2. Distribuição - estão presentes em todos os ambientes aquáticos e a maioria dos ambientes terrestres, desde as regiões demersais dos oceanos, até o topo das montanhas e desertos, na terra. Possuem representantes marinhos, de água salobra, doce e terrestres. 3. Locomoção - podem viver na epifauna: sésseis, fixas a rochas, raízes, troncos e outras estruturas, como ostras, mariscos, etc., ou sobre o substrato como vieiras, Tridacna, etc. ou na infauna: enterradas na areia, como Donax sp., etc. ou na lama, como o marisco do mangue (Mytella guyanensis), ou de vida livre se deslocando na água, como lulas, polvos, etc., ou se arrastando sobre o solo, como lesmas e caracóis. 4.Alimentação - a alimentação varia conforme a espécie: os moluscos de terra geralmente são herbívoros, bivalves geralmente são filtradores, se alimentam de microrganismos e alguns gastrópodes como os búzios são carnívoros e podem se alimentar de outros moluscos assim como os cefalópodes polvos e lulas, que são predadores ativos podendo capturar peixes e moluscos. 5.Forma - apresenta diversificação quanto ao uso das estruturas calcarias (conchas) e a acomodação do corpo e distribuição dos órgãos internos: A) estruturas calcárias externas - o corpo pode se coberto por: a1) espículas = pequenas estruturas calcarias em forma de espinhos ou escamas distribuídas sobre a epiderme do animal, encontradas, por exemplo, nos Aplacofora a2) placas ou valvas = formações calcárias com forma laminar (achatadas), envolvendo a massa visceral do animal que podem ser única, como por exemplo, nos Monoplacofora, ou várias (articuladas por músculos) como por exemplo, nos Polyplacofora a3) conchas = podem ser constituídas por duas conchas distintas como nos bivalves (ex. ostras, mariscos, Donax, etc.) ou por uma única concha que pode ser com uma única abertura, bem calcificada, como nos gastrópodes (ex. caramujos terrestres, búzios, Thais, etc), pouco calcificada, como em alguns cefalópodes (ex. Nautilus) ou com duas aberturas como nos escafópodes (ex. Dentalium) B) estruturas calcárias internas - ocorrem no interior da massa muscular e podem ser: a1 - microconcha interna encontrada por exemplo nas lesmas marinhas (Aplysia) a2 - penas ou gladius = estruturas calcárias internas encontradas nas lulas. C) sem estruturas calcárias - corpo totalmente nu, como pode ocorrer nas lesmas terrestres e nos polvos. A presença da concha representa um fator de proteção apresentando grande resistência e durabilidade e usualmente são utilizados na classificação de diferentes táxons do Filo, alem de representarem grande importância na evolução dos moluscos dada a sua presença sob a forma de fósseis. A presença ou não de conchas podem ser fatores determinantes da forma do corpo e da disposição dos órgãos internos. 1 – Massa visceral distendida com o sistema digestivo em posição horizontal e a presença de boca anterior e anus posterior, pode ser encontrada em animais com estrutura calcificada externa como: bivalves, escafópodes, polyplacoforos e aplacoforos, ou sem estrutura calcificada externa como alguns gastrópodes como a lesma terrestre e as Aplysia. 2 - Massa visceral compactada, com o sistema digestivo em posição retorcida (forma de “U”), presença de boca e anus próximos, pode ser encontrada em animais com estrutura calcificada externa como: gastrópodes (caracóis), com concha com uma única abertura, ou sem estrutura calcificada externa, como os cefalópodes (lulas), com o corpo em forma cônica. Relações com o homem Moluscos de importância econômica: Alimentação: a utilização de moluscos como alimento é descrita desde épocas bem remotas, são bastante estudados os acúmulos de restos de alimentos fossilizados, constituídos basicamente de conchas, que caracterizam o tipo de alimentação utilizada por civilizações indígenas antigas da Américas e que são denominados: “sambaquis”. Os moluscos utilizados como alimento humano podem ser designados: Recursos pesqueiros (pesca) – explorados por algum tipo de tecnologia de captura, como por exemplo: polvo, lula, vieira, etc.; Recursos extrativos (cata) – recursos coletados diretamente da natureza, como por exemplo: ostra, marisco, berbigão, etc.; Cultivo – produção de animais em cativeiro como por exemplo: ostra, marisco, escargot, etc.; Industrialização: alguns moluscos são cultivados, extraídos ou capturados, para uso industrial como é o caso da indústria de jóias, ex. produção de pérolas (ostra perlífera marinha), indústria de ornamentos, ex. produção de botões de madrepérola (concha rosa de água doce) ou nácar (conchas marinhas) ou na indústria de cosméticos (escargot e lesmas). Saúde moluscos podem ser hospedeiros intermediários de parasitas que causam doenças ao ser humano como por exemplo: ““““““““““Esquistossomose, Xistose ou Barriga d’Água” é causada pelo verme Schitsosoma mansoni transmitido por caramujos de água doce da família Planorbidae (Biomphalaria) é uma doença infecciosa parasitária típica das Américas, Ásia e África.” “Fasciolose Hepática” é causada pelo verme Fasciola hepatica transmitido por caramujos de água doce = família Lymnaeidae (Lymnaea) ataca homens e animais domésticos (principalmente).” “Angiostrongilíase abdominal” causada pelo verme Angiostrongylus costaricensis transmitido pelo caramujos exótico (caramujo africano) Achatina fullica, portador e transmissor e que vive em hortas quintais e jardins domésticos” “Doenças biliares e verminoses” causadas por vermes trematódeos que atacam as vias biliares e provocam verminoses transmitidas por moluscos Melaniideos. “Heterofiíase humana” = parasitose proveniente do pescado. O helminto utiliza tainhas como hospedeiro intermediário e pode ser transmitido para o homem pelo consumo do peixe infectado cru ou mal cozido. tem como primeiro hospedeiro intermediário natural o molusco Heleobia australis Espécies tóxicas = algumas espécies de bivalves filtradores utilizados na alimentação, que podem concentrar algas tóxicas (dinoflagelados) e quando ocorrem alta multiplicação das mesmas no oceano (maré vermelha) podem se tornar venenosos. Espécies venenosas = gastrópodes como Conus sp. Hastula sp. ec., podem inocular substância peçonhenta, em quem as toca ou como forma de capturar suas presas através de estilete venenoso associado à rádula; cefalópodes como o “polvo dos anéis azuis” (Hapalochlaena sp.) possuem toxina que em contato com a epiderme pode ser letal. Pragas da Agricultura e Maricultura moluscos atacar lavouras, diferentes tipos de plantação, hortas e jardins, como é o caso de lesmas e caracóis terrestre. Outras espécies podem atacar cultivos marinhos (mitiliculturas, ostreiculturas, etc.), perfurando as conchas como Stramonita; Cymatium e Lithophaga ou possuem larvas que podem parasitar peixes (piscicultura) e outros vertebrados larva gloquideo de alguns moluscos de água doce. Definição: Moluscos são invertebrados triblásticos, celomados com simetria bilateral, corpo mole e viscoso, não segmentado, dividido em três partes: cabeça, pé ventral e massa visceral dorsal. Apesar da variedade e diversidade do filo, apresentam semelhanças essenciais: corpo muscular, mole e sólido, sem qualquer tipo de esqueleto interno, músculos envolvidos por uma camada de tecido denominada parênquima e a parte posterior recoberta com membrana especial resultante da expansão do tegumento, denominada manto. O manto é uma estrutura o que separa os moluscos dos outros animais e é responsável pela secreção da concha calcaria. Produz a secreção responsável pela segregação da concha calcaria, fato que ocorre durante o estágio embrionário. O manto também separa a massa visceral da câmara que contem os órgão respiratórios e orifícios excretores e deposita os resíduos para excreção. Caracteres do Filo Alem da presença de corpo mole e sólido recoberto pelo manto, não existe uma característica única encontrada em todos os moluscos, uma vez que a maior parte deles apresentam exceções às características gerais, como podemos observar a seguir : a)Presença da rádula – a rádula é um órgão de raspagem em forma de lixa, que às vezes pode ser adaptado para outros fins. Esta estrutura surgiu no processo evolutivo dos Mollusca, provavelmente antes da concha. A maioria dos moluscos a possuem mas alguns grupos como o dos bivalves, não tem; b) Presença de brânquias especializadas - a maior parte dos moluscos possuem brânquias especializadas, denominadas “ctenídeos” geralmente localizadas na cavidade do manto, mas alguns grupos não a têm, como é caso dos escafopodes, ou evoluíram para outro tipo de estratégia respiratória como a forma de estilete (pena) nos cefalópodes ou respiração pulmonar nos gastrópodes terrestres; c) Simetria bilateral - ocorre na maioria dos moluscos exceto nos gastrópodes; d) Presença de larvas livres - grande parte dos moluscos, principalmente as espécies aquáticas possuem larvas livres denominadas: “trocófora“ (mais primitivas) ou “véliger” (mais evoluídas, mas existem espécies que exteriorizam ovos ou tem desenvolvimento direto); e) Conchas algumas espécies possuem estruturas externas como espículas calcárias, placas e conchas outras possuem estruturas internas como microconcha interna, pena e bico, e outras apresentam o corpo nu, sem qualquer tipo de estrutura calcária. Para as espécies que possuem conchas, algumas podem ser formadas de aragonita, outras de calcita e outras uma combinação dos dois; f) Sistema circulatório - muitas espécies possuem sistema circulatório aberto, porém outras como é o caso dos cefalópodes tem sistema circulatório fechado (sangue conduzido por veias e artérias)o; A maioria dos moluscos usam hemocianina como pigmento respiratório mas algumas espécies podem usar hemoglobina. Prováveis ancestrais dos moluscos A unidade do grupo é filogenética, ou seja as formas atuais derivaram de um ancestral comum. Estudos embriológicos demonstram que características de padrão de desenvolvimento encontrados nos moluscos como a clivagem espiral que culmina em uma larva trocófora, também é encontrado em: Filo Annelídea = vermes segmentados com o corpo formado por "anéis" (minhoca, poliquetas, sanguessugas, etc.); Filo Pogonophora = animais marinhos tubulares das profundezas em condições adversas de sobrevivência); Filo Nemertea ou Rhynchocoela (vermes cilíndricos nemertinos, maior parte marinhos porem existem também espécies de água doce e terrestres); Filo Plathelminthes (vermes achatados, marinhos, de água doce terrestres e parasitas de alguns animais - tênia, planária, etc.) Os dois primeiros grupos foram excluídos do parentesco por não possuírem segmentação larval e celoma, sendo que os ancestrais dos moluscos possuíam estas características. Portanto os moluscos provavelmente derivaram de nemertinos e platelmintos. Os passos evolutivos destes ancestrais até um molusco atual são incertos. Observação: Clivagem: divisão do ovo em muitas células; Clivagem espiral: padrão de divisão das células de um zigoto no qual os sucessivos conjuntos de blastômeros se colocam sobre as separações das células do conjunto localizado imediatamente abaixo, criando um padrão espiral; Trocófora é o primeiro estágio larval dos moluscos, com aparência cônica e é dotada de numerosos cílios, com os quais produz correntes na água para se deslocar. Evolutivamente uma larva tardia, denominada véliger, pode surgir e a trocófora pode ser suprimida; Pogonófora os pogonóforos vestimentíferos são estranhíssimos animais sem boca, sem intestino, sem ânus e que, no entanto, podem atingir até 1,5 metro de comprimento. Descobertos recentemente,em 1977, no assoalho submarino, vivem em escuridão quase total, pressão de centenas de atmosferas, vulcanismo, ambiente saturado de compostos de enxofre, jatos d'água sob pressão a 400 graus Celsius, circundados por águas geladas. Origem: A unidade do grupo é filogenética ou seja, as formas atuais derivaram de um ancestral comum. Estima-se que a transição para as formas atuais de moluscos se deu provavelmente no período Pré-Cambriano, a cerca de 600 milhões de anos. Na “Pangea” surgiram as primeiras conchas utilizando depósitos de sais e outras substancias químicas do oceano. A 400 milhões de anos conquistaram a água doce (Bivalvia – Gastropoda) e a 300 milhões de anos migraram para o ambiente terrestre (Gastropoda). Acredita-se que aproximadamente a 100 milhões de anos, as sete classes de moluscos atuais (viventes), já existiam. Os moluscos atuais divergem de um ancestral comum chamado “Arquimolusco”. Esse ancestral apresentava provavelmente poucos milímetros de comprimento, era achatado, usava músculos para locomoção e outra estrutura para realizar difusão e para obter e circular o oxigênio. Era constituído de uma estrutura calcaria (concha) tipo prato (capa superficial), pé muscular macio com um simples canal alimentar e a presença de manto. Diferentemente dos moluscos modernos, era segmentado (elo com nemertinos e platelmintos). A partir desse ancestral a estrutura corporal de todo o filo é similar, com: cabeça, bem definida, ou não (alimentação); massa visceral (contendo os órgãos internos) acomodada na cavidade do manto, podendo, ou não, ocorrer uma extensão muscular que forma o pé (locomoção). Evolutivamente surgiram oito classes do filo Mollusca, sete delas viventes e uma extinta. A única classe extinta (fóssil) amplamente aceita denomina-se “Rostroconcha”. Era constituída por uma única estrutura calcificada (concha) rasa (pseudo- bivalve) que encapsulava o manto e um pé locomotor. É importante em estudos da evolução dos moluscos, pois se acredita que tenham um elo de ancestralidade com bivalves e escafópodes. Viveu entre o Cambriano e o permiano. CLASSIFICAÇÃO CLASSES: 1 - Classe Aplacófora: Seu nome origina-se do latim: “aplaco+phora”, que significa "não possui concha ou placas". São animais marinhos, vermiformes, bilaterais, que vivem em profundidades de moderada a grandes, geralmente em substratos moles. Possuem uma cutícula com cobertura brilhante coberta de inúmeros espinhos ou escamas genericamente conhecidos como espículas calcárias. São formados de carbonato de cálcio (aragonita) e denominados escleritos. (Cada espícula se inicia com o encapsulamento de uma célula individual que cresce através da cutícula). Diferem de todos os outros moluscos, alem do fato de serem parecidos com vermes, pela forma cilíndrica do corpo, por possuírem escleritos na superfície do corpo, pela ausência de concha, pela presença de pé reduzido ou ausente (geralmente restrito a uma pequena fenda pedal na parte anterior ou no manto). Possuem rádula (o que literalmente o identifica como um molusco, embora algumas espécies não a possuam). A rádula não parece ter a mesma função raspadora dos outros moluscos. Apresentam uma boca anterior e uma pequena cavidade do manto, posteriormente. Consiste de aproximadamente 300 espécies viventes divididas em duas Subclasses: Solenogastres (Neomeniomorpha): com 25 famílias possuem uma abertura ventral estreita onde se situa um pé rudimentar que não passa de uma protuberância ciliada sem músculos por onde o animal se arrasta. São hermafroditas; Caudofovetas (Chaetodermomorpha): com apenas 03 famílias diferem dos Solenogastres por não possuírem pé ou abertura ventral. São dióicos (sexos separados). A cabeça é geralmente separada do corpo por uma pequena constrição. Ocorrem apenas quatro espécies de Aplacofora no Brasil: Neomenia herwigi, Falcidens sp., Scutopus megaradulatus e Limifossor sp. Os Aplacofora vivem em águas de moderada a alta profundidade (entre 200 e 7000 metros). Alguns são detritívoros outros predadores. Podem apresentar fecundação interna (Neomeniomorpha) ou externa (Chaetodermomorpha) e tem a biologia pouco conhecida. Seu tamanho varia de 1mm a 30cm (a maior parte deles com menos de 5mm). 2 - Classe Monoplacófora Seu nome origina-se do latim: “monoplaco+phora”, que significa "possui apenas uma concha ou placa”. Moluscos marinhos pequenos e achatados que habitam águas profundas entre 1800 e 7000m de profundidade (embora espécimes de Veleropilina possam ser encontradas na costa da Itália a profundidades de 180 metros). São bilateralmente simétricos, medindo de três até 35 mm, tem a concha em peça única que varia da forma de escudo (placa) a um cone baixo (colher), composta de três camadas: perióstraco, camada prismática e camada nacarada. Possuem vários músculos retratores, brânquias e coração e provavelmente possuam fecundação externa, porém seu corpo não é segmentado. Muito pouco se conhece sobre o desenvolvimento desses moluscos e muito menos sobre a sua ecologia, por viverem em grandes profundidades (o que não permite que animais vivos sejam observados, acredita-se que se alimentem de espólios, ou seja pastadores de algas, protozoários, diatomáceas, foraminíferos e esponjas). .São mais conhecidos pelos seus registros fósseis do Cambriano ao Devoniano; pois se acreditava que estivessem extintos a pelo menos 400 milhões de anos. Porem em 1952 foram encontrados animais vivos da espécie Neopilina galatheae, dragada em valas profundas do Oceano Pacífico, na costa do México a mais de 3500 metros de profundidade. Existem apenas 20 espécies e três gêneros conhecidos ainda viventes. Sua descoberta representa um elo perdido entre os moluscos e os anelídeos e constituem uma importante fonte de estudos evolucionários já que possuem um corpo que é base para a evolução de todos as outras classes de moluscos. 3 - Classe Polyplacophora: Seu nome origina-se do latim: “polyplaco+phora”, que significa "possui várias conchas ou placas”. São comumente chamados de quitons ou chitons. Possuem na sua morfologia, simetria bilateral com o corpo alongado e oval, fortemente achatado. Caracteriza-se pela presença de oito valvas (placas) articuladas por músculos complexos inseridos nas valvas, que facilitam a locomoção, sendo que a união das oito valvas pode ser considerada uma concha. A disposição e a forma das valvas podem ser utilizadas na classificação do animal. Apresentam um cinturão que pode ser ornamentado por espículas, espinhos ou pêlos na sua extremidade ou em sua extensão. Possuem um sulco que circunda o pé no qual ocorrem de 06 a 88 pares de brânquias. A cabeça não possui olhos ou tentáculos cefálicos, mas geralmente possui áreas sensíveis à luz (quimioreceptores) para alimentação e direção, possuem manto espesso e pé amplo e achatado que auxiliam na fixação a substratos duros (rochas). Sua reprodução é externa havendo fecundação através da liberação dos gametas na água, o ovo pode desenvolver na cavidade do manto pode haver também a colocação dos ovos em um invólucro preso ao substrato ou fecundação e eclosão dos ovos na cavidade do manto. Podem ser encontrados desde a zona de marés até profundidades em torno de 9000 metros, todos marinhos e restritos a substratos consolidados como rochas, costão rochoso ou mesmo conchas de outros moluscos. São animais micrófagos: carnívoros e/ou onívoros que se alimentam de algas e microrganismos incrustados no substrato como; foraminíferos, detritos e cnidários. Seus corpos variam do quase esférico, alongado, achatado e estreito e podem medir de 3mm a mais de 30 cm. O maior polyplacophora existente, Cryptochiton stelery ocorre no Chile e é utilizado como iguaria para os nativos locais. Contêm cerca de 900 espécies viventes e 350 espécies fósseis e no Brasil são conhecidas três famílias e oito Gêneros, sendo que, pelo fato da classe ser pouco estudada, este número esta sujeito à alteração. 4 - Classe Scaphopoda: Do grego: “skaphe = bote + pous, podos = pés” – “pés em forma da bote” São moluscos marinhos e cavadores que vivem enterrados ou semienterrados em substratos de areia ou lama. Enterram-se até 30cm no substrato, com o corpo inclinado e a cabeça voltada para baixo (mais imersa).Conhecidas como “presa de elefante” possuem concha carbonatada, tubular com duas aberturas, uma em cada extremidade: a basal, mais larga e a terminal mais estreita. Apresentam corpo alongado, envolvido pelo manto, e massa visceral confinada a concha. O pé cilíndrico (cônico) e pontiagudo e retrátil, está adaptado à escavação. Da abertura basal, junto ao pé, saem filamentos contráteis chamados “captáculos” com função tátil e adesiva e utilizados na captação de alimentos.Têm rádula, mas não possuem brânquias (ctenídeos), respiração é feita pela superfície do corpo. A cabeça é rudimentar (reduzida) e não possui olhos ou tentáculos. O sistema circulatório não é organizado (não possuem coração) e o sistema reprodutor é constituído por apenas uma gônada. São detritívoros (detritos microscópicos) ou microcarnivoros (foraminíferos). Seu tamanho varia de 2mm a 15cm. Ex. Dentalium sp., Cadulus sp. Compreende cerca de 500 espécies viventes, e os primeiros registros geológicos datam do Ordoviciano. 5 - Classe Bivalvia: Também chamados de Lamellibranchia ou Pelecypoda, são a segunda maior Classe de moluscos com aproximadamente 15.000 espécies, com cerca de 1300 de água doce. São exclusivamente aquáticos (marinhos e de água doce), bilateralmente simétricos e caracterizados por um corpo comprimido lateralmente com uma concha externa composta por duas valvas. Algumas espécies como as sésseis (presas ao substrato), como as ostras, não são bilateralmente simétricas. As valvas são unidas na parte dorsal, conectadas por um ligamento elástico parcialmente calcificado e mantida juntas por músculos adutores presos à superfície interna da concha. Abrem-se através ligamento e fecham-se por contração dos músculos adutores. Separam-se dos demais moluscos principalmente por não possuir cabeça diferenciada nem rádula. A cavidade do mento é alargada para conter a massa visceral e outros órgãos internos. A maior parte dos bivalves é filtradora (a boca possui um par de palpos labiais que direciona a comida coletada pelas brânquias), mas também podem ser necrófagos e até mesmo predadores.Podem utilizar-se do pé, embora não seja tão eficiente como o dos gastrópodes. Alguns (ostras e mexilhões) vivem presos ao substrato sólido e outros podem penetrar em madeira (Teredo) e alguns podem nadar (Pecten). Seu tamanho varia de 0,5 mm a 1,4 metros. Apresentam três Subclasses: Heterodonta – Ex. Anomalocardia sp. (berbigão); Protobranchia – Ex. Núcula sp.; Pteromorpha – Ex. Perna sp. (mexilhão); Crassostrea sp. (ostra); Pecten sp. (Vieira) De acordo com a morfologia e tipo de alimentação podem ser divididos em: Lamelibrânquios = filtradores (maioria); Protobranquios = comedores de depósitos (+ primitivos); Septibranquios = carnívoros (+ especializados). 6 - Classe Cephalopoda: Seu nome origina-se do latim: “cephalo+poda”, que significa "pés na cabeça”. Os cefalópodes apresentam um corpo com simetria bilateral, cabeça e olhos, boca com braços e tentáculos e com a presença da rádula. Os polvos não possuem tentáculos, mas sim 8 braços com ventosas (octopodes). As lulas possuem 8 braços e 2 tentáculos maiores com ventosas apenas nas extremidades. Nos machos, o quarto braço direito ou esquerdo modifica-se como órgão copulador chamado de hectocótilo. Conhece-se cerca de 800 espécies viventes e cerca de 10.000 extintas. São os moluscos mais ativos e tem os sistemas nervoso, sensorial e locomotor, altamente desenvolvidos. Utiliza-se de um sistema de propulsão na forma de funil (jato-propulsão) através de um sifão formado pelo manto, que é uma modificação do pé dos outros moluscos para se locomoverem. Possuem cromatóforos na pele (células pigmentadas) (camuflagem e comunicação) e órgãos de equilíbrio denominados estatocistos. Muitos têm uma bolsa de tinta, onde formam um líquido escuro que podem lançar, formando uma nuvem escura à sua volta, que lhes serve como proteção. Essa tinta é o famoso nanquim utilizado por pintores orientais. As lulas possuem duas nadadeiras laterais (aletas) na parte posterior do corpo, as quais equilibram o animal durante a natação. As estruturas calcificadas podem ser internas denominadas gladius (penas) como nas lulas, externas, como nos nautilus e argonautas ou ausente como nos polvos.Nos argonautas a concha é utilizada para abrigar os ovos na reprodução. Os sexos são separados. A fecundação pode ser interna (cavidade do manto) ou externa (ovos fixados no substrato), sempre com cópula. O desenvolvimento é direto; e externo do ovo surge um novo indivíduo semelhante ao adulto. Geralmente se reproduzem apenas uma vez na vida, morrendo após a fecundação a fêmea protege os ovos sem se alimentar e morre logo após o nascimento dos filhotes São carnívoros e muitos deles predadores ativos. Geralmente são pelágicos embora existam espécies (Octopus) bentônicas. Seu tamanho varia de 10 milímetros a 15 metros. 7- Classe Gastropoda: Seu nome origina-se do grego: “gaster+poda”, que significa "estômago nos pés”. São os moluscos de maior sucesso dentro do filo, a maior e mais diversificada classe, com cerca de 60.000 a 75.000 espécies atuais, marinhas, de água doce e terrestre e um número igualmente abundante de fósseis. Geralmente possuem uma única concha espiralada (helicoidal) sobre o lado direito embora algumas formas como as lapas, apresentem uma concha menos retorcida, e podem estar ausentes em algumas espécies como as lesmas terrestres e os nudibranquias. Possuem cabeça distinta, com tentáculos cefálicos (dois ou quatro) sensoriais, e boca com rádula, unida a um pé ventral bem desenvolvido musculoso em forma de pala. Em muitos casos, o animal é capaz de se retrair para dentro da concha para proteção. Sistema respiratório variável formas marinhas respiram através de brânquias e terrestres possuem pulmão (constituído por uma cavidade no manto muito vascularizada). Alguns gastrópodes que vivem enterrados no subsolo possuem um sifão extensível que entra contacto com a água, captando o oxigênio e funcionando como um respirador. Em seu desenvolvimento embrionário a massa visceral, juntamente com o manto, sofre uma rotação de 180° sobre um dos lados, denominada “torção” e que se destina a acomodar o corpo na concha espiralada. Alguns possuem opérculo para fechar a concha. A alimentação é bastante variada; Herbívoros – possuem rádulas fortes para raspar algas ou triturar folhas e caules; Detritivoros e filtradores - possuem rádulas simples ou ausentes; Carnívoros – rádula e peças bucais sofisticadas, muitas vezes associadas à injeção de substancia venenosa (paralisadora) em alguns predadores ativos. Os primeiros gastrópodes datam do Cambriano e no Ordoviciano já conquistaram a água doce e a 300 milhões de anos migraram para o ambiente terrestre. A classe gastrópode é dividida em três Subclasses: Pulmonata – terrestres, com pulmão,hermafrodita; Opisthobranquia – marinhos, com brânquias, hermafroditas, concha reduzida; Prosobranquia – marinhos, com brânquias, dióicas. Com o advento de técnicas de sequenciamento de DNA foi feita a revisão da taxonomia originando as Subclasses: Eogastropoda, Orthogastropoda, Heteropoda,