O CRESCIMENTO FÍSICO O desenvolvimento de uma forma geral encontra-se intimamente relacionado aos fatores internos ou biológicos. O crescimento físico corresponde ao principal fator interno do desenvolvimento. O crescimento físico pode ser definido como mudanças físicas e biológicas mensuráveis no desenvolvimento do indivíduo. Crescimento e desenvolvimento são fenômenos diferentes em sua concepção fisiológica, mas paralelos em seu curso e integrados em seu significado, podendo-se dizer que são dois fenômenos em um só. O Crescimento significa divisão celular, aumento de massa corpórea que pode ser identificada em unidades tais como gramas e centímetros, isto é, aumento de “unidade de massa” em determinada “unidade de tempo”. O Desenvolvimento é fundamentado no ganho de capacidade, não havendo “unidade de massa”, e sim “unidade de tempo”. O crescimento diz respeito à multiplicação celular, responsável pelas modificações em comprimento, volume e peso. O desenvolvimento, pela sua abrangência, inclui o crescimento. O crescimento físico (peso e estatura) é um dos aspectos biológicos do desenvolvimento ou um dos fatores internos de desenvolvimento. A - Fases e Tipos de Crescimento O crescimento humano se caracteriza por quatro fases distintas, compostas de duração desigual e características totalmente diversas: Fase 1 - crescimento intra-uterino, da concepção ao nascimento; Fase 2 – 1ª infância, do nascimento aos 2 anos de idade aproximadamente; Fase 3 – 2ª e 3ª infâncias, período de equilíbrio e crescimento uniforme em que o acréscimo anual do peso se mantém no mesmo nível; Fase 4 - adolescência, fase final do crescimento, que se estende mais ou menos dos 10 aos 20 anos de idade; o crescimento inicialmente se acelera, até atingir um máximo em torno dos 15 anos e depois declina rapidamente até os 20 anos. Existem quatro tipos de crescimento: geral somático, neural, genital e linfóide. O Crescimento Geral Somático é o crescimento do corpo como um todo, tecido muscular e ósseo, órgãos internos, rim e baço. Este tipo de crescimento pode ser representado pela curva de peso e estatura, com dois períodos de maior velocidade (0 a 2 anos e puberdade). O Crescimento Neural corresponde ao crescimento do cérebro, cerebelo e perímetro cefálico. Caracteriza-se por uma intensa velocidade nos 2 primeiros anos de vida. O Crescimento Genital refere-se ao crescimento dos testículos, ovários, vesículas seminais, próstata, útero e anexos. Ocorre um crescimento acelerado dentro das transformações físicas que correspondem à puberdade. O Crescimento Linfóide é o crescimento do timo, gânglios linfáticos, amígdalas, adenóides. É o único tipo de crescimento que apresenta um processo de involução enquanto as demais estruturas ainda estão em fase de crescimento franco. FIGURA 1: Curva dos principais tipos de crescimento. É preciso considerar, ainda, dois tipos básicos de crescimento: Repleção: quando há predomínio dos diâmetros transversais com o acúmulo fácil de gordura, esta situação ocorre de 0 a 2 anos e no início da puberdade; Estirão: falsa impressão de emagrecimento, pois desaparecem os acúmulos de gordura da repleção (de 2 a 5 anos e durante a plenitude dos fenômenos pubertários). CONSEQÜÊNCIAS: O crescimento interfere nas relações que com outras pessoas, podendo alterar o padrão motor e interação social com o mundo, bem como o desenvolvimento emocional. O crescimento físico e suas mudanças corporais e motoras influenciam diretamente no autoconceito, estando relacionado à imagem corporal que cada pessoa tem de si, interferindo diretamente nas relações sociais, no comportamento e na auto-estima. Algumas formas de crescimento necessitam de esclarecimentos devido a importância que possuem ao desenvolvimento infantil: ossos, músculos e sistema nervoso. Ossos: Quanto ao número, os ossos aumentam na mão, pulso, calcanhar e pé. A criança de um ano, por exemplo, possui apenas 3 ossos no pulso, desenvolvendo os outros 6 completamente na adolescência. Já os ossos do cérebro, ao contrário, diminuem de número, fundindo-se. O recém-nascido possui as chamadas fontanelas, que são os espaços entre os ossos da caixa craniana, permitindo a compressão dessa durante o nascimento, bem como o crescimento do cérebro. Quanto a ossificação, essa ocorre gradualmente, permitindo aos ossos, que antes eram mais macios e flexíveis, um endurecimento desde o nascimento até a puberdade. Na medida em que os ossos endurecem, o bebê consegue manipular seu corpo com maior segurança, o que aumenta seu alcance de exploração e o torna mais independente. Músculos: já no nascimento, todas as fibras musculares estão formadas, porém são ainda pequenas e com grande quantidade de água. Durante a infância essas tornam-se mais longas, grossas e rígidas. Com o passar dos anos, meninos e meninas tornam-se cada vez mais fortes. Os meninos, porém, devido principalmente a padrões hormonais, adquirem força maior do que as meninas. Sistema nervoso: composto pelo cérebro, cerebelo, tronco encefálico e medula espinhal. Existe uma diferença entre o crescimento e a maturação do sistema nervoso. Por crescimento entende-se as trocas quantitativas em número de neurônios e em volume de massa intracraneana. A maturação consiste nas trocas qualitativas, através do aparecimento de novas estruturas e funções. Tais processos interdependem-se. Das estruturas que compõem o sistema nervoso, o tronco encefálico e a medula já estão quase desenvolvidos por completo no nascimento, sendo responsáveis pelas tarefas que os recém-nascidos executam (atenção, habituação, sono, vigília, eliminação e movimento da cabeça e pescoço). Já o cérebro, responsável pela percepção, movimento corporal, pensamento e linguagem complexos, é a parte menos desenvolvida nos neonatos. Além disso, quase todos os neurônios e células gliais também já estão presentes nos recém-nascidos. O desenvolvimento pós-natal proporciona-lhes a criação de sinapses e por conseqüência o crescimento dos dendritos e dos axônios em nível do córtex. Tal processo acontece, principalmente, até os dois anos de idade, fazendo com que o peso global do cérebro seja triplicado. Um processo muito importante nesse contexto é a mielinização, ou seja, formação do revestimento de mielina dos axônios, que conduzem as informações de um neurônio a outro. À medida que a mielinização vai acontecendo – seguindo as leis céfalocaudal e próximo-distal – a criança vai controlando cada vez mais seu próprio corpo e movimentos, completando-se na adolescência. A criança nasce ao mundo com a sua mielinização por fazer, tornando-se evidente como esta maior velocidade de comunicação entre os centros de decisão e os centros de execução é de importância decisiva ao seu desenvolvimento global. B) Elementos que podem afetar o Crescimento O crescimento é produto de uma interação complexa entre hereditariedade e ambiente. O crescimento pode ser afetado tanto na vida pré-natal como na vida pós-natal e as causas podem ser desde causas químicas, físicas, imunológicas, infecciosas, mecânicas, até fatores relacionados ao meio familiar, afetividade e fatores sócio-econômicos. Os elementos que determinam o processo de crescimento são chamados de fatores genéticos, e possuem a inscrição do programa biológico da espécie. A herança está presente em toda parte: condiciona maior intensidade e/ou velocidade da multiplicação celular; determina a época de fechamento das cartilagens de crescimento; condiciona o aparecimento de doenças familiares capazes de prejudicar o crescimento e pode indiretamente intervir nos fatores ambientais, garantindo maior ou menor resistência do organismo aos agravos do meio. Predizendo a Estatura Final: Herança Genética As relações entre altura de uma criança e altura de seus pais estão estudadas e comprovadas. Os dados sugerem que a contribuição de pai e da mãe para a altura do filho é mais ou menos igual. Cálculo para Previsão da Altura Adulta: MENINOS: 2 vezes a altura em centímetros aos 2 anos de idade. MENINAS: 2 vezes a altura em centímetros aos 1ano e meio de idade. Existem fatores endócrinos que podem influenciar o crescimento físico. O hipotálamo é o local controlador do sistema endócrino, um centro integrador de mensagens, controlando a produção e liberação dos hormônios de todas as glândulas do organismo. Fatores mórbidos podem interferir no crescimento, influindo em alterações em parte do organismo ou aberração no processo de crescimento. As patologias crônicas podem ter influência, determinando prejuízos ao crescimento. O meio ambiente na qual a pessoa em crescimento está inserida exerce influências poderosas, contribuindo positiva ou negativamente à realização do plano genético. O ambiente compreende tanto condições da vida material, como a alimentação e sua utilização (nutrição), como o ambiente físico (sócio-econômico, estilo de vida) e o ambiente familiar e cultural, cujo elemento fundamental é constituído pela relação afetiva primária e o estímulo materno. FIGURA 2: Pirâmide dos alimentos. C) Medidas de Avaliação do Crescimento O crescimento físico é o melhor parâmetro de saúde dos indivíduos, podendo ser avaliado através de métodos clínicos, físicos, bioquímicos e antropométricos. O método antropométrico é rápido, objetivo e fácil de ser executado. As medidas antropométricas mais usadas são o peso, a altura e o perímetro cefálico, e permitem avaliar o crescimento da criança, determinar a velocidade e o ritmo do crescimento físico em períodos de tempo prédeterminados e monitorar o crescimento de indivíduos isolados ou de populações. Quadro 1: Idade e perímetro cefálico. Idade em Meses para ambos os Sexos 0 12 24 48 60 Perímetro Cefálico (cm) 35,0 46,0 49,0 50,5 50,8 A apreciação correta do crescimento de uma criança não dispensa a consulta a tabelas, tidas como “Padrões de Referências”. São instrumentos que servem como parâmetros populacionais de crescimento em peso e estatura. O NCHS, criado pelo Centro Nacional de Saúde e Estatística, é recomendado pela OMS para uso internacional. QUADRO 2: Peso e estatura para meninos e meninas para o referencial do NCHS. PESO ESTATURA IDADE MENINOS MENINAS MENINOS MENINAS 05 18,7 Kg 17,7 Kg 106,9 cm 108,4 cm 06 20,7 Kg 19,5 Kg 116,1 cm 114,6 cm 07 22,9 Kg 21,8 Kg 121,7 cm 120,6 cm Profª. Cláudia Terra Nascimento.