ANALISANDO O PROCESSO DE CRIAÇÃO E CONSOLIDAÇÃO DO GRUPO ESCOLAR SILVEIRA BRUM EM MURIAÉ-MG (1907 – 1930) Denilson Santos de Azevedo [email protected] Talitha Estevam Moreira Cabral [email protected] Universidade Federal de Viçosa Palavras-chave: Grupo Escolar. História da Educação. Cultura Escolar O trabalho apresenta os resultados preliminares da investigação a respeito do processo de criação e da cultura escolar instituída nos primeiros anos de funcionamento do Grupo Escolar Silveira Brum (GESB), criado pelo decreto 3.305, de 5 de setembro de 1911 no município de Muriaé/MG e instalado em 7 de agosto de 1912. Para o estudo da formação do primeiro grupo escolar desta cidade, realizamos uma pesquisa bibliográfica a fim de conhecer o processo de criação dos grupos escolares no Brasil e identificar esse movimento no estado de Minas Gerais, bem como as razões que possibilitaram consolidar esse tipo de estabelecimento de ensino em algumas das cidades mineiras, no período da Primeira República (1889-1930). Ao mesmo tempo, foi feita uma análise das fontes, datadas entre 1907 e 1930, encontradas no Arquivo Público Mineiro, no acervo existente na atual Escola Estadual Dr. Silveira Brum, no Arquivo Público da cidade e na Fundação de Cultura e Artes de Muriaé (FUNDARTE). A análise das fontes primárias encontradas até o presente momento, como os livros e informações acerca da escolarização no Brasil e em Minas Gerais durante a Primeira República, aliado à documentação do Grupo, localizada nos arquivos pesquisados, datados entre 1907 e 1930, permitiu levantar dados sobre as injunções de ordem social e política que propiciaram a criação e a instalação do Grupo na cidade, e também contribuiu para identificar inicialmente algumas características da organização e funcionamento da Escola, observando as transições e inovações vivenciadas pelo ensino primário em Muriaé após a criação desse estabelecimento de ensino, na década de 1910. Na consulta desses acervos, verificou-se - na maioria dos casos – que não há uma preocupação com a conservação e manutenção documental, ou simplesmente o prédio não apresenta boas condições para o armazenamento, nem organização adequada das fontes, o que dificulta o acesso às mesmas por se encontrarem fragmentadas, em mau estado de conservação ou abandonadas em locais impróprios para o funcionamento de um arquivo. Isso dificulta o trabalho do pesquisador, visto que, conforme relata Luciana Silva de Carvalho as falhas nos sistemas de controle da produção e tramitação dos documentos, a acumulação desordenada e a falta de normas e procedimentos arquivísticos comprometem a qualidade das atividades rotineiras, uma vez que dificulta o acesso à informação(...) (Apud BERNARDES e DELATORRE, 2008, p. 7) Desse modo, o acesso às fontes documentais tem criado dificuldades para a consecução dessa pesquisa, em função de lacunas que não possibilitam uma apreensão mais acurada das informações relacionadas ao objeto de estudo. Como exemplo, podemos citar que os Cadernos de Atas de Reunião, referentes ao período de 1912 a 1930, ainda não foram localizados, além de outros documentos relevantes, como os Relatórios anuais do Grupo, cuja série história encontra-se incompleta. Na ausência desse material e na tentativa de se reconstituir a lacuna existente, recorremos às fontes disponíveis no Arquivo Público Mineiro (APM), com sede em Belo Horizonte (MG). Localizamos ali os cadernos que contém algumas das Atas de Instalação e Exames, os Termos de Assentamento e Posse, de Visitas Oficiais e Particulares, requerimentos, nomeações, decretos, ofícios e relatórios enviados à Secretaria de Ensino. Devido à impossibilidade de retirada do material de dentro do APM, até mesmo para possível digitalização, os documentos foram copiados manualmente para análises posteriores. Outras fontes consultadas foram alguns números do jornal “Alto Muriahé” datados de 1912 a 1915, encontrados na Casa de Cultura da cidade de Muriaé. Embora o acervo não possua todos os números do periódico, devido a um incêndio ocorrido em 1997, nos exemplares encontrados, localizamos notas a respeito do mentor, do diretor, dos alunos e de alguns eventos realizados no educandário, o que serviu de base para se conhecer e compreender os discursos veiculados pela imprensa local da época em relação à fundação do Grupo Escolar. A análise dos materiais elencados possibilitou o início do cotejamento de dados coletados com as informações obtidas através da revisão de literatura e, a partir dessa comparação, estabelecer semelhanças e diferenças entre a concepção de ensino implantada no processo de criação, e a cultura escolar sedimentada no Grupo Escolar Silveira Brum até 1930. Com base nas informações apreendidas até o presente momento, foi possível realizar uma caracterização da escolarização no município, e se a mesma se configurou em consonância com o ensino ministrado no Estado de Minas e no Brasil nesse período. Diante dessas considerações iniciais e para atender aos propósitos deste trabalho, iremos realizar uma apresentação a respeito da organização do ensino no Brasil e em Minas Gerais durante o final do Império e início da República por meio de uma breve revisão bibliográfica, para depois apresentar dados a respeito do processo de criação, instalação e funcionamento do mencionado Grupo Escolar. O processo de difusão dos Grupos Escolares no Brasil A organização do ensino primário brasileiro durante o período imperial (1822– 1889) se fez por meio das escolas isoladas. Para a fundação ou extinção desses estabelecimentos de ensino, era necessária a autorização dos governos provinciais. Após a criação dos colégios, o trabalho era de responsabilidade de um único professor da comunidade, que se tornava o dono da cadeira. As classes heterogêneas que se formavam nas escolas isoladas funcionavam de maneira precária, em locais improvisados, comumente na própria residência dos docentes, sem oferecer as mínimas condições de higiene. Em seu exercício profissional, o professor estava submetido ao controle do inspetor que deveria acompanhar o funcionamento das escolas, averiguando em visitas periódicas as condições físicas das instalações, o número de alunos frequentes às aulas, a postura do professor em sala de sala e o método de ensino. Simultaneamente a essa organização escolar, cabe citar que no referido período a escolarização doméstica também foi utilizada, atendendo a um número elevado de alunos. A partir de 1889, com a instalação da república, o modelo de escola que vigorava até aquele momento passa a ser visto como ultrapassado e incapaz de atender aos ideais propagados pelos defensores do novo regime, como democracia, ordem, progresso e amor à pátria. Era necessário adaptar o futuro homem à nova sociedade republicana, retirando o país do atraso educacional ao qual se estava submetido. Os republicanos pretendem, a partir desse momento, disseminar seus valores, preparando a criança para viver em uma sociedade capitalista. É aí, então, que se dá uma nova organização do ensino primário, calcada nos Grupos Escolares, que podem ser caracterizados pelo agrupamento de várias escolas isoladas em um mesmo prédio, onde deveria ser oferecido um ensino público, laico e universal. O movimento de renovação da escola primária por meio do surgimento dos Grupos Escolares teve um profundo significado social, político e cultural, representando a implantação de uma instituição educativa comprometida com os ideais da república e com as perspectivas de modernização da sociedade brasileira. Vago (2000, p. 1) em sua obra aponta que essa nova organização de ensino potencializou a representação da escola como instituição de fundamental importância para o progresso [...] em face do processo de complexificação social em andamento. O cenário tornou-se propício para afirmação e legitimação de uma pedagogia moderna e científica. A organização da escola primária na forma de Grupo Escolar levou a uma divisão mais eficiente do ensino, formando classes com alunos de mesmo nível de aprendizagem, o que possibilitaria a universalização da instrução elementar. Envolver o aluno era característica do novo projeto pedagógico adotado a partir da implantação dos Grupos Escolares, o método intuitivo, no qual o aluno era o centro do processo educativo. Essa forma de ensinar propunha o uso de variado material e dependia de diretrizes metodológicas claras, implicando a adoção de um novo método de ensino entendido como concreto, racional e ativo. O que se buscava, portanto, era uma orientação segura para a condução dos alunos, por parte do professor, nas salas de aula. Essas organizações foram se institucionalizando e sendo construídas, porém em ritmo diferenciado nos vários estados brasileiros. Segundo Bencostta (2005) coube ao então Distrito Federal e ao Estado de São Paulo esse pioneirismo de implantação. Em Minas Gerais a definição dos grupos escolares como espaço ideal para efetivar o ensino primário ocorreu através da lei n° 439, de 28 de setembro de 1906, editada no governo de João Pinheiro (07/09/1906 a 25/10/1908). Tal Reforma Educacional culminou em diversas novidades para a educação no estado, como a utilização do método simultâneo de ensino, na qual o professor ministrava aulas para um maior número de crianças ao mesmo tempo, a instituição do cargo administrativo de diretor escolar e a modificação do currículo oferecido pelas escolas. No entanto, mesmo implantada, esta lei não garantiu que os grupos escolares se instalassem de maneira homogênea nos municípios mineiros. Segundo Pereira (2004) em menos de dois meses após a instituição da Reforma foi fundado o primeiro grupo escolar de Minas Gerais, na capital Belo Horizonte, que entrou em funcionamento no dia 05 de fevereiro de 1907. Em seguida foi inaugurado o segundo na cidade de Juiz de Fora e o terceiro em Lavras. Depois deles esse novo modelo de escola foi se difundindo por todo o estado, em tempos diferentes. A criação dos grupos escolares mineiros dependia, quase sempre, de relações políticas existentes no município. Assim sendo, na cidade de Muriaé, pode-se atribuir a criação do Grupo Escolar, em 1912, à influência política de Antônio da Silveira Brum, quem governou esse município de 1905 a 1920. Foi Deputado Estadual pela 2ª Circunscrição de Minas Gerais em duas legislaturas e Deputado Federal pelo 2º Distrito de Minas Gerais em três legislaturas. Como chefe do executivo municipal realizou importantes obras para a cidade (Revista de Historiografia Muriaeense, 1979). Em sua obra “O que ficou dos 178 anos da historiografia Muriaeense”, Maria Auxiliadora Faria (1995) atribui a este político a maioria das benfeitorias ocorridas na cidade durante sua gestão como Chefe do Executivo: “Eram tantas as demandas, que o Dr. Brum teve de apresentar um programa de governo que mais parecia o de fundação de uma outra cidade”. Como tentativa de melhoria da cidade, Silveira Brum empenhou ações de destaque para o setor do Ensino, Instrução e Educação, a começar com a criação do primeiro Grupo Escolar público do município. Antes de tratar dessa fundação, é importante apontar algumas características da cidade e do ensino até então vigente, que assim como na maioria dos municípios mineiros, tinha o interesse em efetivar a escolarização e a sistematização do ensino nesse novo molde e que foi inspirado, basicamente, no exemplo dos grupos escolares paulistas, tendo como preocupação levar adiante o projeto republicano, de promoção e de democratização do ensino. Nessa época, esse município, localizado na Zona da Mata mineira era grande produtor de café. Os coronéis eram não só a elite econômica como também representavam o poder político da região, com forte influência em Minas Gerais e no país. Esses proprietários das grandes fazendas produtoras de café cuidavam de educar seus filhos por meio dos professores particulares, que se limitavam à alfabetização das crianças. Muriaé manteve essa prática de ensino até o início do século XX, quando foram abertas várias casas de ensino de nível primário e propedêutico para ambos os sexos, o que representou tentativas de experiências escolares que pudessem atender o maior número de pessoas possível. Esses estabelecimentos eram particulares, todavia recebiam apoio financeiro da Administração Pública Municipal. De acordo com a Revista de Historiografia Muriaeense (1979, p. 81 e 82), destacam-se, nessa época: • “Colégio Santos Anjos”, Colégio Salesiano destinado ao sexo feminino; • “Ginásio e Escola Normal São Vicente de Paula”, organização modelar, adotando os mais rigorosos processos pedagógicos. Equiparado às escolas normais do Estado; • “Atheneu São Paulo”, contava com um professorado seleto e preparava alunos para a matrícula nas escolas superiores da República, tendo externato para ambos os sexos e internato e semi-internato para o sexo masculino; • “Colégio São José”, destinado ao preparo de alunas para matrícula na Escola Normal; • “Colégio Nossa Senhora da Glória”, dirigido pela normalista Julieta de Oliveira Macedo Teixeira, que ensinava por métodos intuitivos e modernos. Para incentivar e oportunizar a presença dos alunos carentes nessas Casas de Ensino particulares, foram concedidas bolsas de estudo à essas crianças. Assim também era oferecido auxílio financeiro no pagamento das mensalidades para alunos alfabetizados que quisessem dar continuidade aos estudos fora da cidade. No entanto, o interesse do político que estaria revolucionando a cidade aos olhos do povo, era de dotar Muriaé de Escolas Públicas gratuitas, para crianças pobres, o que realizou em 1912, com a criação do Grupo Escolar Silveira Brum. A cidade que, até então, só contava com escolas isoladas e/ou particulares, incorporou novas práticas pedagógicas que passaram a modificar o cotidiano do funcionamento da instituição escola. O processo de criação e instalação do Grupo Escolar Silveira Brum Como mencionado anteriormente, a cidade de Muriaé só dispunha de ensino de alfabetização ministrado por professores particulares nas Casas de Ensino, nas Escolas Isoladas ou por meio de aulas particulares. A criação do GESB resultou de um movimento mais amplo de reforma do ensino primário, que se iniciou desde o final do século XIX, com o início da República no Brasil e que gradualmente foi sendo efetivado no Estado de Minas Gerais a partir de 1906, com a Reforma João Pinheiro. Essa escola foi, portanto, a primeira tentativa do município de institucionalizar a escolarização que já se desenvolvia no estado mineiro. Foi fundado por meio de várias negociações, transgressões, resistências e conflitos. Segundo relatos da Revista de Historiografia Muriaeense, durante o período anterior à chegada de Silveira Brum ao poder, Muriaé não tinha condição característica de cidade, pois não contava com governantes capazes de superar as dificuldades vivenciadas no país e no estado de Minas Gerais, resultantes da situação política confusa que era enfrentada com a implantação da República. Em 1904, então, dr. Brum iniciou sua vida política em Muriaé, quando o diretório local do Partido Republicano Mineiro (PRM) indicou o nome dele para vereador, sendo o mesmo eleito com número expressivo de votos. Na primeira reunião da Câmara foi eleito presidente e proclamado Agente do Executivo Municipal. A partir de então, começaram as negociações a fim de oferecer ao município melhores condições para o desenvolvimento. De acordo com a Revista de Historiografia Muriaeense (1979, p.73), ao assumir a chefia do Executivo Municipal, o Dr. Brum já conhecia as aspirações da população muriaeense e os planos traçados pelos seus antecessores para dotar a cidade e os distritos de condições mínimas de conforto para seus habitantes. A essas inovações planejadas pela figura política recém chegada ao poder estava como prioridade a instrução, visto que o ensino era acessível a poucos por ser oferecido apenas pela iniciativa particular dos coronéis e famílias ricas da cidade. Todavia, Silveira Brum encontrou barreiras na tentativa de criação de uma instituição pública de educação. Inicialmente, o maior problema enfrentado por ele foi de ordem financeira. O orçamento da Receita do Município, que em 1898, era de duzentos contos de reis, vinha baixando gradativamente: cento e noventa contos de reis em 1899; cento e sessenta e cinco contos de reis em 1900; cento e trinta e um contos, oitocentos e quinze mil reis em 1901; noventa e cinco contos, quinhentos e noventa mil reis em 1904; e o de 1905 nem chegou a ser votado dentro do prazo. A pedido do Dr. Brum, a Câmara revigorou o Orçamento de 1904 para o primeiro ano de seu governo. (Revista de Historiografia Muriaeense, 1979, p.74) Além dessa dificuldade, a pouca influência do município frente as grandes potências mineiras, incluindo a Capital, era mais um desafio no trabalho do governante que, apesar de todo apoio dos vereadores e munícipes, contava com poucos recursos e interesse do Governo Estadual pelo progresso da cidade. Para tentar solucionar essa questão, o que havia de ser realizado “dependia de uma efetiva colaboração da Administração Superior, principalmente quanto à motivação desta para os negócios municipais, o que corresponderia à aplicação da tecnologia externa”. Toda essa resistência política devido ao pouco prestígio muriaeense atrasava a possibilidade da criação do Grupo Escolar público. Silveira Brum iniciou, então, uma série de viagens à Capital do Estado, entrando em franco contacto com a Administração Pública e com a cúpula do Partido Republicano Mineiro (PRM) cujo prestígio começava a se impor na Política Nacional. (Revista de Historiografia Muriaeense, 1979, p.76) Diante das investidas do governante de Muriaé, foi firmado o prestígio perante a política de Minas Gerais. A ascenção de vários políticos desse estado ao poder federal contribuía cada vez mais para a permissão da criação do Grupo no município. A Revista de Historiografia Muriaeense aponta que “todos esses governantes mineiros tomaram conhecimento dos planos administrativos do Dr. Brum para Muriaé e todos lhe deram o apoio de que precisava no sentido de dotar esta cidade (...) de ensino”. Conforme apontado nos documentos analisados, este grupo custou 65:000$000 sendo construído por doação majoritária da Câmara Municipal, no entanto apesar da recente estabilidade financeira, o Estado auxiliou à municipalidade com 15:000$000. Criado pelo decreto 3.305, de 5 de setembro de 1911, foi inaugurado em 07 de agosto de 1912 sob a direção do professor José Gonçalves Couto, que depois de nomeado por ato do Sr. Governador do Estado, Júlio Bueno Brandão, em 12 de janeiro de 1912, permaneceu no cargo até 13 de abril de 1936, quando se aposentou. No que refere à construção predial, o Grupo Escolar Silveira Brum sobressaía-se como um dos melhores edifícios da cidade, conforme retrata o “Relatório do Movimento do Grupo Escolar de Muriahé”, feito pelo diretor, e que abrange o período de 07 de agosto de 1912 a 25 de janeiro de 1913. Construído exclusivamente para o fim da instrução, o prédio ocupava posição central na praça mais movimentada da cidade, próxima à construção da Igreja Matriz, Paróquia de São Paulo do Muriahé e do Edifício da Câmara Municipal. Ainda neste documento, que foi enviado ao Secretário do Interior, o então diretor do Grupo, dá detalhes a respeito da estrutura do recém inaugurado educandário. Segundo ele, o prédio era de uma solidez a toda prova. Os salões haviam sido construídos em número de doze, sendo “oito para as aulas, um para o gabinete do director, um para o museu escolar, outro – o nobre – destinado à reunião dos alumnos nos dias de festas escolares, e, (...) o vestíbulo (...)”. No primeiro andar funcionavam quatro cadeiras e, no segundo, outras quatro. Em cada andar se encontravam uma varanda vastíssima, “onde podem, durante os exercícios physicos, recreio e canto (...) permanecer os alumnos (...).” (idem) Nesse relato, o então diretor Gonçalves Couto afirma que cada sala de aula era composta de vinte e cinco carteiras, uma mesa, três cadeiras, uma cantoneira e uma talha com filtro. O mobiliário do gabinete do diretor era composto de um sofá, seis cadeiras e um armário grande. Nas paredes do mesmo podiam se encontrar um cabide e o relógio da casa. Para iniciar os trabalhos docentes no educandário, o corpo de profissionais compunha-se de nove professores da cidade, muitos lecionando gratuitamente, destacando-se, dentre eles, Maria Brandão Lobato Silva e seu marido, Fernando Silva. Acompanhando-os, os primeiros professores da escola foram: D. Estephania Maria do Patrocínio, Sr. Henrique Silva, D. Amélia Soares de Figueiredo, D. Julieta de Oliveira de Macedo, D. Amélia Lopes Carneiro, Sr. Lívio de Castro Carneiro, D. Maria Amélia Soares de Figueiredo. Nos relatórios enviados ao Secretário do Interior, o diretor Gonçalves Couto sempre fazia menção aos professores do Grupo. Em 1914, especificou o comportamento de cada um, referindo-se à ordem, obediência e trabalhos realizados. Constantes e duras críticas eram feitas com relação às atitudes dos mesmos, o que possivelmente justifica os relatórios dos inspetores sempre apontando para a rigorosa organização e sucesso das práticas implementadas no grupo. No relatório do GESB de 1915, o diretor pontua o trabalho de cada professor, chamando a atenção na maioria das vezes. Os únicos elogios destinados aos docentes foram feitos a Julieta Macedo e Estephania do Patrocínio, quando disse que “em suas classes há sempre muito boa ordem e irreprehensivel disciplina”. Sobre os demais, o diretor critica negativamente e faz objeções para mudança de postura em sala de aula. Exemplo disso foi a observação sobre uma professora que, segundo ele não desempenhou corretamente as tarefas do cargo porque “em conseqüência de grave enfermidade ficou (...) com as faculdades mentaes um tanto enfraquecidas”. Críticas foram feitas também a um outro profissional relatando que “apesar de zeloso, este professor deve (...) cultivar melhor o seu espírito.” Um relato presente nesse documento já demonstra o início de uma grande discussão que se formou mais tarde em torno do caso de um professor que se ausentava constantemente sem justificativa e desrespeitava a ordem do diretor. Nesse relatório, Gonçalves Couto só aponta críticas ao docente, segundo ele de todos os professores é o que mais dissabores, aborrecimentos e trabalho tem me dado. A sua classe é indisciplinadíssima, formando um verdadeiro contraste com as outras. Os alunos da mesma, meigos e dóceis, tornaram-se insolentes e grosseiros. O mal está no professor que gasta todo o tempo, excepto quando eu estou em sua classe, a passar-lhes grassa de compostura. O effeito é que os alumnos divertem-se com estes excessos do professor, que bate com os pés no sovalho, mette a régua na mesa, grita como um louco, tornando-se assim ridículo aos discípulos (...) (Relatório do Movimento do Grupo Escolar de Muriahé, 1915, s/p). Em vários outros momentos encontramos apontamentos que envolviam a vida profissional dos docentes. Ofícios de licença, de contratação, termos de compromisso, e ainda regimentos internos sempre faziam menção a esses personagens, o que demonstra a preocupação em se analisar a competência dos mesmos no exercício da profissão. Além do trabalho dos professores, cabe analisar o número de matrículas no Grupo e qual a relevância disso para a consolidação do mesmo. Em visita aos Arquivos Público Mineiro e da Escola Silveira Brum, encontramos em ofícios e relatórios enviados à Secretaria de Ensino, evidências que demonstraram uma grande oscilação no número de alunos matriculados a cada ano. Nos materiais pesquisados referentes ao período abarcado no trabalho, encontramos os dados relativos à matrícula de 1912 a 1925, com lacunas nos anos de 1913, 1917 e 1923. Os números variaram de 423 a 663 ao longo desses anos, conforme mostra o gráfico abaixo: Analisando as informações supracitadas percebemos que o ano com mais alunos matriculados foi 1914, isso se deve provavelmente ao grau de confiança depositado no Grupo após seus dois primeiros anos de funcionamento. Conforme as leituras realizadas nos relatórios de visitas encontrados, os inspetores e particulares teceram apenas elogios quanto às práticas, divisão e organização dos alunos por nível de aprendizagem. Em 1916, ano com menor número de alunos, a cidade de Muriaé sofreu uma epidemia de Trachoma1, o que gerou prejuízos no número de matriculados e freqüentes às aulas, devido às conseqüências da moléstia. Em maio desse mesmo ano, o diretor de higiene solicitou que os matriculados e ainda freqüentes, suspeitos de tal doença, se afastassem do Grupo. Em seu ofício, Belchior Silva diz que: “Confirmada as comunicações da existência do trachoma em alumnos do Grupo Escolar de São Paulo do Muriahé (...) pedi o afastamento dos alumnos trachomados e dos suspeitos de tal moléstia”. Não obstante a oscilação nas matrículas a cada ano, o número de alunos era consideravelmente vultoso. E foi essa justificativa que permitiu que, em 1915, o Grupo passasse a funcionar em dois turnos. O pedido para que isso acontecesse já havia sido enviado em 1914 (ano de maior matrícula no educandário). Tal argumentação foi feita pelo Inspetor de Ensino João Ferreira da Silva que após sua visita ao educandário relatou que: (...) Depois de demorada inspeção, cumpre-me responder a V. Excia que, a bem do ensino, convém a divisão dos dois turnos, e essa medida se justifica: 1º) pela avultada freqüência diária (...); 2º) pela inferioridade das salas de aula em relação ao número de alumnos; 3º) pela deficiência das carteiras que existem no estabelecimento(...) Acresce que a freqüência tende a aumentar, pois muitos alumnos matriculados ainda não compareceram uma só vez ao Grupo e provavelmente ainda se apresentarão para os trabalhos escolares, tendo os pais justificado a ausência de seus filhos. É esta minha opinião. (Relatório do Inspector de ensino da 11ª região, João Ferreira da Silva, 1915). 1 Trachoma é uma ceratoconjuntivite crônica causado pela Chlamydia trachomatis sorotipo A, B ou C(1). A fase ativa, infecciosa, acontece predominantemente na idade pré-escolar com riscos de cegueira no futuro em regiões hiperendêmicas. A fase inativa, cicatricial, é encontrada nos adultos, sendo mais precoce quando mais cedo e intensos forem os episódios infecciosos. Enfermidade comum no ínicio do século XX, nas cidades interioranas. Desse modo, as aulas no Grupo, passaram a ser divididas em dois turnos, funcionando o primeiro no horário das 7 às 11 horas da manhã e o segundo das 11h50 às 4 horas da tarde. O ensino no GESB era ministrado rigorosamente, debaixo de uma disciplina enérgica, sendo os meninos educados para os deveres cívicos e as meninas educadas para os deveres domésticos. Eram princípios básicos do Grupo a instrução primária, seguido da educação pelo amor à Pátria, pelo respeito às Leis e pela obediência às regras da Moral. Os alunos do sexo masculino, devidamente uniformizados, recebiam instrução pré-militar, com exercícios obrigatórios de ordem unida e de culto à Bandeira Nacional. E as meninas eram prendadas para os afazeres domésticos. No relatório sobre a festa de 7 de setembro, em 1913 (segundo ano de funcionamento do Grupo), o diretor evidencia o patriotismo por meio de uma comemoração à independência do Brasil que (...) ao som do hymno nacional tocado pela corporação musical – 7 de setembro -, e entoado, vibrantemente, por todos os alumnos do grupo, elevou-se lentamente, garbosamente ao grande mastro a bandeira nacional que foi saudada por uma salva de 21 tiros. (Relatório do Movimento do Grupo Escolar de Muriahé, 1913, s/p). A respeito do ensino ministrado na sala de aula, as disciplinas oferecidas no decorrer do ano eram Língua Escripta, Língua Pátria, Aritmética, Geografia, História do Brasil, Instrução Moral e Cívica, História Natural Física e Higiene, Geometria e Desenho. Em consulta ao arquivo da atual Escola Estadual Dr. Silveira Brum, encontramos as avaliações de um aluno do 4º ano, em 1913, em que os conteúdos eram: Língua escripta: escrever abe-maria Língua Patria: transformar em prosa a seguinte fábula: o gallo e a águia Arithmetica: quaes são os juros de 9:500$000 a 12% durante dois annos, quatro mezes e oito dias? Geographia: situação geographica e aspecto physico: produções, superfície, população, commercio, vias de comunicação do estado de são paulo. História do Brasil: presidentes de minas. Intrucção Moral e Cívica: a justiça, seus representantes na união, no estado, na comarca e no districto. Historia Natural Physica e Hygiene: habitações, sua higiene. Geometria e Desenho: um canteiro tem a forma de um círculo, o seu diâmetro é de 2 metros 4/8. Qual será a área do mesmo círculo? (Provas escriptas, 1913, s/p) Simultaneamente a esses exames finais, havia o costume de se realizar exposições escolares no Salão Nobre do Grupo que contavam com os trabalhos feitos pelos alunos durante o ano. Eram trabalhos de agulha, costura, cartografia, cartonagem, desenho, etc. Essa era uma prática que buscava permitir ao aluno se reconhecer como envolvido no processo de aprendizagem, assim, o Grupo Escolar Silveira Brum demonstrava estar em consonância com os ideais difundidos pelo novo método pedagógico, adotando práticas de ensino pautadas no aluno, visando seu aprendizado pleno. A fim de controlar e analisar o funcionamento dessas práticas pedagógicas que vinham sendo implementadas no Grupo, surge a figura do inspetor escolar, a quem cabia dirigir a parte técnica do ensino. Era ainda função dessa autoridade, por intermédio dos seus auxiliares, a fiscalização das escolas, emitindo opinião sobre as obras didáticas, e pareceres quando solicitado pelo governo. No Grupo Escolar Silveira Brum, constantes visitas de oficiais e particulares delineavam os trabalhos realizados. Os relatórios dessas inspeções eram quase sempre elogiando o bom desempenho da instituição, exemplo disso é o relato de Antônio Teixeira e Silva, inspetor escolar do município, que diz: “Ahí, devido à competência, esforço e dedicação, se vae executando com toda regularidade o programa do ensino, verificando, além disto, boa disciplina e muita ordem.” Em visita ao arquivo municipal, pudemos encontrar um exemplar do jornal “Minas Geraes e seus municípios”, de 1916 em que Roberto Capri, durante uma visita particular às escolas da cidade, aponta que: O Grupo Escolar “Silveira Brum”, sob a competente direcção do professor José Gonçalves Couto, tem prestado grandes serviços ás crianças pobres, pois, alli, a instrucção é gratuita, o ensino é rigororso, a disciplina enérgica e forma-se o menino para os deveres cívicos e educa-se a menina para os mais sagrados deveres domésticos. Educase a criança amando a pátria, respeitando as leis e obedecendo ás regras da moral. (...) Como se vê pelo exposto, a cidade de Muriahé, nesse particular, se acha em adeantado estado de desenvolvimento. O interesse que o doutor Silveira Brum empresta á instrucção pública e particular é bem patente, dada a grande disseminação de escolas por todo interior do município (...) (Minas Geraes e seus municípios, Roberto Capri, 1916). Das recomendações apresentadas pelos inspetores para o melhor funcionamento do Grupo e orientações dadas aos professores em diferentes relatórios e momentos, destacamos as seguintes: O programa é inteligentemente executado e apenas consigno neste uma recomendação, relativa às aulas de escripta: prestem os ditactas toda a attenção ás mesmas aulas, corrigindo as posições prejudiciaes dos alumnos e procurando obter os melhores trabalhos. (Relatório do inspector de ensino da 11ª região, João Ferreira da Silva, 1913, s/p). Faço as seguintes recomendações: inicie-se o ensino de cartografia e de desenho; (...). logo que o tempo o permitta, executem-se os exercícios de gymnastica, determinado no programma. (Relatório do inspector de ensino da 11ª região, João Ferreira da Silva, 1915, s/p). aconselhei ao professor a não submeter a exames os alumnos do 4º anno sem o imprescendível grau de adeantamento(...)Dei-lhe instrucções sobre a pratica dos programmas e tomei parte no desenvolvimento das respectivas aulas. (Relatório do inspector de ensino da 11ª região, João Ferreira da Silva, 1915, s/p). Conforme as citações referidas, podemos perceber o interesse na melhoria do ensino e funcionamento do Grupo, que aperfeiçoou sua prática pedagógica com o auxílio dos inspetores que analisavam criticamente, apontando soluções aos problemas existentes. CONSIDERAÇÕES FINAIS Verifica-se que até o final do século XIX existiam diferentes formas de se oferecer o ensino em todo o Brasil. Havia as escolas domésticas através de professores particulares, as escolas particulares e as escolas isoladas, tanto rurais quanto urbanas. Muriaé praticamente não se difere desse modelo de escolarização até os anos de 1912, com a instalação do primeiro grupo escolar público do município. A criação do Grupo Escolar Silveira Brum na cidade de Muriaé, em 1912, é o marco inicial de um modelo de escolarização inovador que surge em todo o país, incluindo o estado de Minas Gerais. No referido município, surgiu a necessidade de inovação das práticas pedagógicas e da cultura escolar na educação primária oferecida num novo espaço projetado especificamente para esse fim da instrução. O educandário criado pretendia atender as exigências da república, com a divisão do trabalho, de modo a controlar os espaços e tempos escolares. Foi apropriado que se adotasse um método de ensino mais abrangente, que atendesse às necessidades de um programa de ensino legal, fiscalizado permanentemente. Desse modo, poderia se garantir a realização das tarefas educacionais, que se tornavam cada vez mais amplas e complexas. A nova metodologia de ensino utilizada no Grupo Escolar Silveira Brum contava com a figura do diretor como responsável pela organização do trabalho, com a presença de um professor como regente do ensino elementar a um grupo de alunos divididos por séries no ensino primário. Essas modificações nas práticas escolares contribuíram para concretizar uma aprendizagem progressiva, com a gradativa implantação de um trabalho pedagógico cada vez mais embasado nos princípios republicanos e patrióticos. Além das inovações pedagógicas, a localização espacial conferida ao Grupo, na praça central da cidade, demonstrou ao povo muriaeense o reconhecimento e a importância que se estava sendo dada à educação naquele momento. Sua construção em local visível contribuiu para que as crianças, antes distantes das salas de aulas, pudessem e quisessem frequentar uma escola, sem ter a família que pagar por isso. Outrossim, a sistematização do espaço e dos tempos escolares serviu para a disciplinarização dos alunos que passaram a respeitar um regimento do ensino, além de ter contribuído para a adoção de novos métodos pedagógicos, que se tornaram responsáveis em demarcar aspectos para serem implantados com a instalação do Grupo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Documentos pesquisados em Arquivos GRUPO ESCOLAR SILVEIRA BRUM. Atas de Instalação, posse, exames, etc. 1912-1924. (Arquivo Escola Estadual Doutor Silveira Brum). GRUPO ESCOLAR SILVEIRA BRUM. Ofícios enviados e recebidos da Secretaria de Educação do Estado. 1912 a 1930. (Arquivo Escola Estadual Doutor Silveira Brum). GRUPO ESCOLAR SILVEIRA BRUM. Termos de Visitas Oficiais 1912-1927. (Arquivo Público Mineiro e Escola Estadual Doutor Silveira Brum). GRUPO ESCOLAR SILVEIRA BRUM. Termos de Visitas Particulares. 19131924. (Arquivo Público Mineiro e Escola Estadual Doutor Silveira Brum). GRUPO ESCOLAR SILVEIRA BRUM. Cadernos de avaliação e certificados de aprovação dos alunos. 1913-1916. (Arquivo Escola Estadual Doutor Silveira Brum). GRUPO ESCOLAR SILVEIRA BRUM. Relatório do Diretor. 1913-1919. (Arquivo Escola Estadual Doutor Silveira Brum). GRUPO ESCOLAR SILVEIRA BRUM. Requerimentos de tempo de trabalho; diplomas; Atas de Instalação e Exames, Termos de Assentamento e Posse, Visitas Oficiais e Particulares, requerimentos, nomeações, decretos, ofícios e relatórios, licenças, procurações, frequência dos professores e/ou alunos 1912-1927. (Arquivo Público Mineiro). GRUPO ESCOLAR SILVEIRA BRUM. Documentos referentes à Caixa Escolar 1916-1924. (Arquivo Público Mineiro). Revista de Historiografia Muriaeense. Ano II, nº 2 – Muriaé/MG. Maio, 1979. Livros, atigos e periódicos BENCOSTTA, Marcus Levy Albino. 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