Visualização do documento Prevenção de acidentes oculares.doc (75 KB) Baixar PREVENÇÃO DE ACIDENTES OCULARES Instituto Penido Burnier Dr. Leoncio de Souza Queiroz Neto * Dr. André M. Sleiman Raad Camargo ** Dr. Mauro Antonio Chies ** INTRODUÇÃO O olho é um órgão do corpo humano responsável por um do sentidos mais importantes: a visão. Sabendo-se que a maior parte da nossa comunicação com o meio exterior é dada por este sentido (aproximadamente 85%), e que uma grande percentagem das lesões oculares geram defeitos visuais permanentes, tornase fácil o entendimento da importância da prevenção de acidentes com os olhos e da manutenção da saúde dos mesmo. BREVE ANATOMIA DO OLHO O olho humano é constituído por delicadas estruturas. Na sua parte anterior, temos a córnea, que é um tecido transparente que recobre a porção colorida dos olhos (denominada íris). Pupila é o nome dado ao orifício da íris (conhecida como "menina dos olhos"). O cristalino é uma lente natural que possuímos dentro dos nossos olhos, situado atrás da íris. Banhando estas estruturas há um líquido denominado humor aquoso. A porção posterior do olho é constituída basicamente pela retina, que é um tecido que abriga as células responsáveis pela visão e o nervo óptico, que conduz as informações visuais para serem interpretadas no cérebro. Esta porção posterior é preenchida por um outro líquido, gelatinoso, chamado humor vítreo. O tecido branco que envolve todo o globo ocular é chamado esclera. A VISÃO E OS DEFEITOS VISUAIS O mecanismo visual pode ser resumido da seguinte forma: os raios luminosos trazendo uma imagem penetram no olho através da pupila e são focalizados na retina pela córnea e pelo cristalino. Esta imagem formada na retina é levada ao cérebro onde é realizada. Os principais defeitos visuais são: miopia, hipermetropia, astigmatismo e presbiopia. Na miopia, a imagem formada é embaçada (fora de foco) devido ao fato do globo ocular ser geralmente maior que o normal. Com isso, a imagem formase antes de atingir a retina. Este defeito visual tende a aumentar com o crescimento corporal, uma vez que o olho também crescerá. É corrigido por lentes divergentes que irão focalizar a imagem na retina. Na hipermetropia, temos também uma imagem desfocalizada, mas neste caso, deve-se ao fato do olho ser menor que o normal e a imagem é formada atrás da retina, e não sobre ela como seria o normal. Este defeito visual tende a diminuir com o crescimento corporal pelo aumento do globo ocular. É corrigido por lentes convergentes com o mesmo objetivo de focalizar a imagem nítida na retina. O astigmatismo é um defeito da curvatura da córnea, que ao invés de esférica é ovalada, fato que gera uma imagem distorcida. É corrigido por lentes cilíndricas mais ou menos. A presbiopia é também conhecida como "vista cansada". É um defeito visual que surge em 100% dos indivíduos com mais de 40 anos de idade causando dificuldade para a visão de perto (como a leitura, a manipulação de objetos, trabalhos manuais, etc.) Todos estes defeitos visuais são facilmente corrigidos com lentes corretamente receitadas pelo oftalmologista. Sabemos a importância da visão perfeita para a vida e para o trabalho, mas poucos de nós tem consciência que vêem mal. Um bom exemplo disto foi um trabalho realizado na França, no qual em cerca de 180.000 pessoas examinadas ao acaso, 50% não viam bem e, destes, a metade não tinha consciência de que viam mal. Além disso, órgãos franceses como a Associação Nacional para Defesa da Vista, chegaram a conclusão que, em cada 4 acidentes na estrada, 1 se devia a baixa visual; em cada 10 acidentes de trabalho, 1 se devia também a baixa visual , no campo escolar, em cada 5 estudantes, 1 era mau aluno porque via mal. IMPORTÂNCIA DA PREVENÇÃO DE ACIDENTES OCULARES A proteção dos olhos é uma necessidade urgente, e imperativa, não apenas pelo desejo de bem estar dos indivíduos, mas também por razões de ordens sócio-econômicas, como o aumento da produtividade. Com o aumento da industrialização e a diminuição das medidas profiláticas, os acidentes oculares de trabalho tem ocorrido com uma freqüência cada vez maior, sendo necessárias medidas eficazes para preveni-los e evitá-los. Tais acidentes são responsáveis, muitas vezes, por gerar incapacidade e limitações nos indivíduos, por provocarem cegueira. Nos Estados Unidos ocorrem uma média de 1.000 acidentes oculares de trabalho por dia, apesar de todo um esforço na sua prevenção. Por ser a visão o sentido mais importante, os olhos são extremamente essenciais para o operário e lesões mínimas podem impossibilitá-lo para o trabalho. É importante ressaltar que aproximadamente 98% dos acidentes são evitáveis, ou seja, a cada 100 acidentes, apenas 2 deveriam acontecer. Historicamente, Remazzini em 1700 relatou a importância da prevenção de acidentes oculares, e também a dificuldade em realizá-la, devido principalmente à falta de compreensão e colaboração dos trabalhadores em adotarem medidas simples de precaução. O ACIDENTE OCULAR DE TRABALHO E SUA PREVENÇÃO Os acidentes com os olhos podem acontecer repentina e inesperadamente, e o indivíduo pode percebe-los imediatamente ou apenas horas mais tarde, quando surgirem, sintomas como irritação, hiperemia ou sensação de corpo estranho. A inaptidão para o trabalho causada pelo comprometimento ocular é muito maior do que qualquer outro tipo de acidente uma vez que é em média de 15 semanas, quando não permanente, contra as 5 para aqueles que afetam outra partes do corpo. Os profissionais mais atingidos pelo trauma ocular são os das seguintes áreas: metalurgia, construção civil, marcenaria, mecânica, têxtil, cerâmica, industria química, industria de produtos alimentícios, transporte, pesca, artes gráficas e mineração. As lesões oculares mais encontradas são: corpos estranhos, úlceras traumáticas, queimaduras, contusões e lacerações e até perfurações do globo ocular. Os sintomas mais comuns são: dor, baixa da visão, ardor, lacrimejamento, fotofobia, vermelhidão, secreção ocular e sensação de corpo estranho nos olhos. As causas dos acidentes de trabalho oculares podem ser: 1) físicas, responsáveis por 10% dos acidentes e 2) falta de supervisão, responsável por 88% dos acidentes. Entre as causas físicas destacamos a falta de proteção eficiente (como os óculos de proteção com lentes de segurança), trajes inadequados, má iluminação e ventilação do ambiente de trabalho e a má disposição ou a manutenção inadequada dos equipamentos. Já no caso referente à supervisão, sabemos ser esta de extrema importância na prevenção de acidentes oculares, devendo no entanto ser constante, de modo a obrigar a totalidade dos funcionários. A educação é a principal arma de apoio devendo ser constante e duradoura. Há a necessidade de uma organização com plena autoridade de supervisão que se encarregue do assunto e faça cumprir a legislação já existente com referencia aos acidentes de trabalho. Cabe à supervisão, fiscalizar as condições de trabalho dos funcionários, promovendo mudanças para que estas tornem-se as mais adequadas possíveis. Assim, a verificação do estado de manutenção do maquinário bem como a avaliação das condições de trabalho que é submetido o funcionário é papel da supervisão, funções estas de extrema importância. Quanto às condições de trabalho, deve-se avaliar: ventilação e iluminação do local, necessita de ar condicionado, aspiradores e exaustores, uso de óculos de proteção, horas de trabalho e descanso, entre outras. Correia Bastos aconselha um descanso de 10 minutos após a 3ª hora de trabalho, pois é após este período que os acidentes são mais comuns. Com relação aos óculos de proteção, os mais utilizados são os com lentes de vidro temperado ou endurecido com 3 milímetros de espessura, que apresenta ótimas qualidades ópticas. Temos ainda lentes com vidros laminados coloridos e plásticos. Os óculos protetores protegem os olhos de areia, fagulhas, gases, pancadas, pó, vento e energia radiante. Para sua total eficiência, cada óculos de proteção deve ser modulado de acordo com a necessidade e função do trabalhador, e deve-se ter sempre à mão materiais de fácil limpeza dos mesmos. Não somente o trabalhador que faz o serviço deve estar com os óculos de proteção, mas também todos que o cercam. Infelizmente o uso dos óculos protetores não é muito difundido em nosso meio, devendo haver um maior número de campanhas educativas com o intuito de incentivar e conscientizar os trabalhadores da importância do seu uso rotineiro e habitual. O custo da prevenção não é alto, se levarmos em conta a economia proporcionada pela saúde do trabalhador e o seu baixo custo quando comparado com a incapacidade do mesmo para o trabalho. ACIDENTES OCULARES DOMÉSTICOS Muitos materiais e produtos são responsáveis por acidentes oculares domésticos. Dentre eles, podemos citar os produtos de limpeza (desinfetantes, detergentes, alvejantes, etc.), inseticidas, objetos pontiagudos (tesouras, facas, garfos, agulhas, etc.), objetos inflamáveis (álcool, etc.), produtos com temperaturas elevadas (fósforo, óleo para fritura, etc.), plantas domésticas que liberem substâncias (coroa-de-cristo, etc.), entre outros. Estes produtos provocam desde queimaduras até lesões perfurantes graves do globo ocular, devendo portanto ser evitado o seu manuseio sem os devidos cuidados preventivos. Um cuidado especial é o de se estocar tais produtos longe do alcance de crianças. Por fim, cabe ainda lembrar a importância do uso do cinto de segurança nos veículos, pois pesquisas mundiais demonstram a eficácia deste objeto de segurança na medida em que diminui em uma percentagem alta o número de acidentes oculares graves, como as perfurações, que podem gerar perda da função visual. É importante lembrar que o uso do cinto de segurança é indispensável sempre que se entrar em um automóvel, as cidade ou na estrada; pesquisa demonstraram que um grande número de acidentes automobilísticos ocorrem em um raio de 1km próximo à residência da vítima. PRIMEIROS SOCORROS OCULARES A primeira e mais importante medida de socorro após um acidente ocular é a lavagem do mesmo com água limpa em abundância. A única exceção se faz às perfurações oculares, que devem ser encaminhadas imediatamente ao oftalmologista para os devidos reparos (quando possível). É importante evitarse a compressão do globo ocular até a avaliação da extensão da lesão provocada pelo acidente. É sempre importante a avaliação do profissional especializado (oftalmologista) que possui os equipamentos necessários para um adequado exame do olho. O uso de colírio anestesiado para alívio dos sintomas é um procedimento apenas aceito durante o exame do olho acometido e somente pelo profissional habilitado. Nunca deve ser usado inadvertidamente ou como rotina por pessoa não habilitada, uma vez que o seu abuso pode gerar problemas oculares graves como úlceras e cegueira, sendo inclusive necessária a proibição de sua comercialização sem prescrição médica oftalmológica. * Oftalmologista do Instituto Penido Burnier ** Residentes de Oftalmologia do I.P.B. 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