REVOLUÇÕES LIBERAIS 1. RESCALDO DA GRANDE REVOLUÇÃO FRANCESA CONGRESSO DE VIENA (1814-15) Assembleia anti-liberal dos monarcas que se consideravam prejudicados pela França. O Congresso desenrolou-se numa atmosfera galante de recepções e bailes, destacando-se, além dos monarcas da Rússia, Áustria, Prússia, Inglaterra e França, o chanceler austríaco Metternich. Jogos estratégicos e diplomáticos revelam velhas rivalidades. Alinhadas a Prússia e a Rússia, "contra" a Áustria e a Grã-Bretanha. Isto vai criar um novo (e delicado…) equilíbrio europeu. Compensações territoriais: — Para a Inglaterra: ilha de Malta e ilhas Jónicas, colónia do Cabo e Ceilão (retiradas à Holanda) e algumas Antilhas (para apoio das suas esquadras). — Para a Rússia: grande parte da Polónia prussiana, a Finlândia (retirada à Suécia), e a Bessarábia (retirada à Turquia). — Para a Suécia (como compensação pela Finlândia): Noruega. — Para a Prússia: grande parte da Alemanha renana e da Saxónia. — Para a Áustria: recuperação do Tirol e ocupação do reino lombardo-veneziano (influência na Itália e no Adriático, como veremos adiante). — Criação do reino dos Países Baixos pela fusão da Holanda e da Bélgica, destinado a constituir um estado-tampão às tendências expansionistas da França. Consequências: — Para a Itália: mantém-se a sua profunda divisão - no Norte, quase todo dominado pela Áustria, apenas os reinos do Piemonte e da Sardenha se ampliam com a antiga república de Génova e a Sabóia. Reconstituição dos Estados Pontifícios. No centro, vários pequenos reinos ficam sob a tutela austríaca (Toscana, Modena e Parma). — Para a Alemanha: os estados alemães ficam reunidos na Confederação Germânica, presidida pelo imperador da Áustria. SANTA ALIANÇA (1815) Proposta pelo czar foi firmada pelos imperadores da Áustria, Prússia e Rússia. Esta aliança foi feita "em nome da Santíssima Trindade" de modo a unir os soberanos por laços de fraternidade cristã. Embora não aderisse à aliança, a Inglaterra viria a fazer um acordo com estas potências Novembro de 1815. A França aderiria em 1818. É claro um propósito de vigilância contra-revolucionária da política geral europeia. Fundamental o papel de Metternich na repressão de qualquer movimento nacionalista que, tanto na Itália como na Alemanha, poderia aniquilar a supremacia austríaca. 2. EVENTOS E REVOLUÇÕES NA FRANÇA DO SÉCULO XIX SEGUNDA RESTAURAÇÃO DE LUÍS XVIII Depois dos Cem Dias de Napoleão Bonaparte, Luís XVIII regressa ao poder, mantendo um frágil equilíbrio entre as tradições que representa e as limitações ao poder real. Curiosamente, em vésperas da Revolução, apoiara a votação "por cabeça" como queria o Terceiro Estado, mostrando-se sempre bem mais liberal que o rei, seu irmão. A assinatura do 2º Tratado de Paris, que reduz as fronteiras francesas às de 1789, e obriga a França a uma pesada indemnização de guerra e à ocupação militar do país enquanto o tributo não fosse pago, provoca graves convulsões políticas internas. CONTRA-REVOLUÇÃO DE CARLOS X Com a subida ao trono do outro irmão de Luís XVI e XVIII, verifica-se o regresso às tradições conservadoras: protecção aos grandes proprietários rurais por uma nova lei eleitoral; restrições à liberdade de imprensa; indemnizações aos emigrados prejudicados pela Revolução. Quatro Ordenanças: decretadas em Julho de 1830, com a oposição da Câmara de Deputados, suprimem a liberdade de imprensa e dissolvem as Câmaras, ente outras medidas impopulares. Aliança entre republicanos, realistas liberais e bonapartistas. REVOLUÇÃO DE 1830, a Monarquia de Julho Revolução de Julho de 1830, iniciada com 3 dias de insurreição conjunta de burgueses e operários. Temendo a instauração da República, alguns deputados oferecem a coroa a Luís Filipe, duque de Orleães, de orientação liberal. É o Rei-Cidadão, como ficará conhecido. Esta revolução entusiasma a Europa, provocando numerosos surtos nacionalistas e liberais: a Bélgica levanta-se contra a Holanda e proclama a independência, a Polónia revolta-se contra o domínio russo (sem êxito), os liberais italianos revoltam-se em vários estados, na Alemanha a agitação revolucionária impõe várias constituições, em Portugal o movimento liberal ganha uma nova força no combate contra o absolutismo, a partir da ilha Terceira. Revisão da Carta Constitucional, restringe a autoridade do rei e da Câmara dos Pares. No entanto, aumenta a pressão da burguesia e a exploração do operariado. A questão social torna-se dominante, para mais face à crescente industrialização da França. Agudiza-se a luta entre bonapartistas, republicanos e legitimistas (partidários do duque de Angoulême, filho de Carlos X). Outros factores de perturbação: guerra na Argélia (1839-47) a que dera azo a sua ocupação em 1830, ainda no reinado de Carlos X; crise agrícola em 1847-48 seguida de grave crise industrial. Propaganda antigovernativa, especialmente contra o 1º ministro Guizot, em banquetes. A proibição de um deles, leva à revolução. REVOLUÇÃO DE 1848 Em Fevereiro de 1848 as ruas enchem-se de barricadas e Luís Filipe abdica, sendo proclamada a 2ª República Francesa. Novo alento dado aos movimentos liberais europeus: revolta liberal na Áustria depõe Metternich e cria um regime constitucional, ao mesmo tempo que se extingue a Santa Aliança; revolta dos Checos e dos Húngaros, dominados pela Áustria; insurreição na Itália dos habitantes do reino lombardo-veneziano, com o apoio do Piemonte; revoluções nos Estados Pontifícios, na Toscana e no Reino das Duas Sicílias; revolta na Alemanha, a favor da unificação. Se nem todos os movimentos triunfaram, a verdade é que toda a Europa (excepto a Rússia e a Turquia) aceitou o liberalismo. A França era governada por um Governo Provisório que organizou eleições por sufrágio universal, com resultados favoráveis aos moderados. Nova revolução popular, afogada em sangue. Assembleia Constituinte elabora a Constituição de 1848, que confere o poder executivo a um presidente da República eleito por 4 anos, não podendo ser reeleito. É eleito presidente Luís Napoleão Bonaparte, sobrinho de Napoleão que, em face do impedimento de se recandidatar, se apodera do poder por golpe de Estado de 2 de Dezembro de 1851, tornando-se, sucessivamente, príncipe-presidente, e Imperador, em 2 de Dezembro de 1852, com o título de Napoleão III… SEGUNDO IMPÉRIO Reforço da política autoritária, mantendo-se a estrutura política anterior, desorganizada e assente, embora com as liberdades parlamentares restringidas, no sufrágio universal! Industrialização e acalmia social trazem certo bem-estar material. Melhoria das comunicações, sobretudo caminhos-de-ferro e do comércio internacional. Participação na Guerra da Crimeia (1854-56), ao lado da Turquia e da Inglaterra, contra a Rússia, que acaba derrotada na tomada de Sebastopol. Apoio aos nacionalistas italianos contra a Áustria, dá à França a Sabóia e Nice. A partir de 1860 a França volta a liberalizar-se, com o reaparecimento dos partidos políticos, a amnistia a presos e perseguidos políticos e a liberdade de imprensa. O regime parlamentar estava já anunciado em 1870, data em que ocorrem graves acontecimentos na política externa: Intervenção no México, com o apoio da Inglaterra e da Espanha, aproveitando a Guerra de Secessão de 1861-65 nos E.U.A. A imposição de um irmão do imperador Francisco José da Áustria, Maximiliano, como imperador do México, termina num fracasso. Os franceses vêem-se obrigados a retirar, deixando-o nas mãos dos republicanos mexicanos, que o fuzilam. Na Itália, Napoleão III é levado pelos católicos franceses a retirar o apoio aos nacionalistas e a defender a integridade dos Estados do Papa, que acabam por cair em poder dos liberais, perante a retirada das tropas francesas que são obrigadas a regressar à França para a defenderem da invasão prussiana. Isso deve-se à Guerra Franco-Prussiana que, em 1870-71, conduz à derrota da França e à prisão de Napoleão III. Paris em revolta proclama a República. TERCEIRA REPÚBLICA O Governo Provisório é chefiado por Thiers, antigo ministro de Luís Filipe. Divergências entre os bonapartistas e realistas ajudam a consolidar a República. Desfile das tropas alemãs vitoriosas pelos Campos Elíseos, em 1 de Março, exacerba os ânimos franceses. Insurreição anti-burguesa, com luta entre versaillais e communards estabelece governo revolucionário que dura 2 meses (Março a Maio de 1871), chamado da COMUNA DE PARIS, que constitui a primeira tentativa de instauração de um governo proletário. Thiers abandona Paris. Alastramento da revolução a outras cidades, embora incompreendida por grande parte da população. Medidas de grande alcance, a favor das classes trabalhadoras e das mulheres, embora tímidas em relação ao poderio do capital. Thiers obtém a libertação de 60 000 prisioneiros franceses dos prussianos, para o ajudarem a reconquistar Paris. 130 000 homens, chefiados por Mac-Mahon, enfrentam um máximo de 30 000 comunardos. Com a vitória das forças governamentais, a repressão é impiedosa, horrorizando a Europa, devido ao número de execuções sumárias, cerca de 20 000 durante a chamada "semana sangrenta". Mais de 38 000 prisões, com mais condenações à morte, trabalhos forçados e exílio, completam a repressão da por muitos considerada a primeira revolução comunista da História. O significado da Comuna de Paris é imenso, como património comum a marxistas e anarquistas, sendo em muitos aspectos relembrada na revolta estudantil de 1968. E retomado o governo da 3ª República, acentuando-se alguns aspectos dominantes: Política expansionista em África e na Ásia: protectorado da Tunísia, conquista de Madagáscar, penetração na bacia do Congo, início da anexação da Indochina. Progresso industrial, acompanhado de florescimento das Artes e das Letras. Reconstituição do exército, com vista à defesa, mas também à desforra da guerra de 1870. Questões entre a Igreja e o Estado: expulsão das ordens religiosas e separação entre a Igreja e o Estado.. Caso Dreyfus (1894): ligado à vaga de anti-semitismo que culminou com a condenação injusta do capitão Dreyfus, um judeu acusado de vender segredos militares à Alemanha. Destituído do exército, foi deportado para a Guiana. Os seus partidários, entre os quais Zola (J'accuse!") só em 1906 conseguiram a sua reabilitação, acabando condecorado com a Legião de Honra. O DESPERTAR DOS NACIONALISMOS Os estados multinacionais da Europa ocultavam a sua constituição por várias nações (Áustria, Rússia, Turquia) enquanto outras nações estavam divididas em vários estados (Alemanha e Itália). Apoio dos partidos liberais à autodeterminação das nações anexadas e à unificação das divididas. Liberalismo e nacionalismo são ambas as faces da mesma moeda. São buscados argumentos de ordem histórica, cultural, étnica, religiosa, para justificar o seu objectivo. Movimentos de autonomia ou de independência na Europa: — Bélgica em relação á Holanda — Sérvia, Grécia, Roménia, Montenegro e Bulgária (Balcãs) em relação à Turquia — Hungria, Boémia, Lombardia, Venécia e Bósnia, em relação à Áustria —Polónia, em relação á Rússia Movimentos de unificação — Itália — Alemanha INDEPENDÊNCIA DAS COLÓNIAS ESPANHOLAS Os territórios americanos pertencentes à Espanha estendiam-se da América do Sul à do Norte, onde ocupavam o México, a Califórnia, a Florida e o Texas. Estes territórios eram governados por vice-reis e capitães-gerais, representantes da Coroa espanhola. A independência dos EUA, reconhecida pela GB em 1783, e a Revoluçaõ Francesa, influenciaram uma forte corrente de opinião liberal nas colónias, principalmente veiculada pela burguesia local. Também a atitude da coroa espanhola para sufocar a autonomia comercial das colónias agravou a tensão. A primeira tentativa de independência ocorreu em 1806, por acção do venezuelano Miranda. A Guerra da Independência (1810-1824) Levantamentos em Caracas (1810), depois em Buenos Aires, no Chile e no México. No México a revolta foi dirigida por dois sacerdotes, Hidalgo e Morellos. Fernando VII envia reforços que esmagam os rebeldes (1816), que continuam a resistir na Argentina, com o general San Martín. Em 1817 recomeça a guerra. Com a revolta a norte chefiada por Simão Bolívar, e a sul por San Martín: Bolívar desembarca na Venezuela e penetra na Colômbia, onde é eleito presidente da Grande Colômbia (Colômbia, Equador e Venezuela). Ataca então o Peru pelo Norte, enquanto San Martín, que libertara o Chile, ataca o Sul. No México, o general Iturbide proclama-se imperador (1822). A Espanha reconhece a independência destas 16 repúblicas. INDEPENDÊNCIA DO BRASIL É proclamada a independência do Brasil pelo príncipe D. Pedro, em 7 de Setembro de 1822. Em 12 de Outubro de 1822, é proclamado imperador. A independência viria a ser reconhecida por Portugal, em 15 de Novembro de 1825, tendo como intermediários a Inglaterra e a Áustria. INDEPENDÊNCIA DA BÉLGICA O Congresso de Viena formara o Reino dos Países Baixos com a Holanda e a Bélgica. Este reino tinha à sua frente Guilherme I de Orange. Divergências linguísticas e religiosas, além de económicas, separavam-nos. A obrigatoriedade da lingua holandesa e a luta entre o clero católico belga e os calvinistas, aumentava a tensão. Revolução nacionalista e liberal em Bruxelas, a 25 de Agosto de 1830, expulsa as forças holandesas de quase toda a Bélgica. O receio das ambições francesas leva a uma conferência internacional que tenta resolver os problemas daí advindos (Londres, 1830-1), reconhecendo a independência da Bélgica, qua deveria ser declarada perpetuamente neutra pelas outras potências europeias. Sob proposta da Inglaterra, os Belgas aceitaram como seu rei o príncipe alemão Leopoldo de saxe-Coburgo. INDEPENDÊNCIA DOS PAÍSES BALCÂNICOS No início do séc. XIX, o Império Otomano dominava toda a Península Balcânica, o Egipto, a Síria, a Palestina e a Ásia Menor. Alguns paxás conseguem libertar-se da tutela do sultão turco: Moldávia, Valáquia, Montenegro e Egipto. A estas sublevações que dilaceram o império, seguem-se revoltas das populações cristãs dominadas. No entanto, estavam demasiado divididas para conseguirem resultados. Independência da Sérvia Triunfo, em 1804, de sublevação na Sérvia. O seu chefe proclama-se rei (1808) mas o sultão sufoca a revolta. Nova tentativa, em 1815, resulta numa grande autonomia da Sérvia dentro do Império Turco. Independência da Grécia Segue-se a revolta grega, iniciada na península da Moreia. Proclamada a independência da Grécia, em Epidauro (1822). Segue-se logo a repressão turca, auxiliada pelo paxá do Egipto. Massacre da população da ilha de Quios e reconquista da Moreia e da Ática (1827). Grande entusiasmo de parte de liberais estrangeiros que vão ajudar os patriotas gregos Victor Hugo e Byron camtam o seu heroísmo e David fá-los tema das suas pinturas. Byron combate mesmo, vindo a morrer no cerco de Missolonghi (1826). Os países são contagiados pelas atitudes individuais. A Rússia, a França e Inglaterra acabam por entrar em guerra, obrigando a Turquia a reconhecer a independência grega (Moreia e Ática) pelo tratado de Andrinopla (1829), sob o rei bávaro Otão I. Independência do Montenegro, Roménia, Bulgária e Albânia As restantes independências, feitas à custa do território do Império Otomano, vão pôr fim à "Questão do Oriente". — Montenegro, independente em 1851. — Roménia (Moldo-Valáquia), independente depois da Guerra da Crimeia (1854-55). — A Conferência de Berlim de 1878 reconheceria a independência daqueles estados e ainda a da Bulgária (1879). — Albânia, independente em 1912, depois de duas guerras balcânicas. O território turco na Europa ficou reduzido à pequena península da Trácia. UNIFICAÇÃO ALEMÃ Confederação Germânica Depois do Congresso de Viena, a Alemanha continuava dividida em 36 pequenos estados soberanos, ligados entre si pela Confederação Germânica, presidida pela Áustria. O único elo real que unia estes estados era a Dieta de Francoforte, que pouca ou nenhuma acção exercia. As revoluções liberais de 1848, fizeram a Alemanha aspirar à unidade, apesar da rivalidade profunda que separava a Áustria da Prússia. A solução de Viena fora a concretização da Grande Alemanha, dirigida pela Áustria, ao invés da Pequena Alemanha, chefiada pela Prússia. Zollverein (1834) A Prússia joga uma cartada, a criação do Zollverein, a união aduaneira que abolia as barreiras alfandegárias entre os diversos estados alemães. Esta união faz a riqueza da Prússia que, em 1854, agrega a si uma nova união económica agrupando os estados do Norte da Alemanha, entre os quais o Hanôver. O poderio da Prússia e a crescente industrialização da Alemanha, dispondo agora dos portos nórdicos, mostrava o arcaísmo e os inconvenientes da fragmentação política. Bismarck (1815-1898) Primeiro-ministro do imperador Guilherme I, coroado em 1861. "— Os grandes problemas da nossa época não serão decididos por discursos e votações de maiorias, mas pelo ferro e pelo sangue". Ocupação dos ducados de Schleswig e Holstein Eram governados pelo rei da Dinamarca. Intervenção da Áustria unida à Prússia, em 1864: a Áustria ocupa o Holstein e a Prússia o Schleswigh (1865). Guerra Áustro-Prussiana — Máquina de guerra prussiana perfeitamente afinada, organizada pelo ministro da Guerra, Roon, e por Molkte. — Diplomacia prussiana garante a neutralidade de Napoleão III, que se alia à Itália, inimigo natural da Áustria (1866). — Bismarck provoca a Áustria, ameaçando dissolver a Confederação Germânica e iniciando preparativos bélicos. Em resposta, a Áustria entrega os ducados à Dieta de Francoforte. Imediata invasão do Holstein pela Prússia, a quem a Áustria e alguns príncipes alemães declaram guerra. — Vitória sobre os príncipes alemães, e batalha de Sadowa com vitória da Prússia sobre a Áustria. As forças prussianas são comandadas pelo próprio Guilherme I. — Paz de Praga exclui a Áustria da Alemanha, obrigando-a a abandonar o Holstein e a Venécia, esta para a Itália. A Prússia anexa alguns estados que dividem o seu território, nomeadamente o Hanôver e o Hessen e forma, a norte do rio Main, a Confederação da Alemanha do Norte, formada por 15 estados. Guerra Franco-Prussiana — Para além dos receios mútuos entre a França e a Prússia, surge a candidatura de um príncipe alemão ao trono de Espanha (Julho de 1870). Uma revolução liberal tinha afastado a rainha Isabel II do trono (1868). — A França exige a retirada da candidatura alemã mas, uma vez satisfeita, exige que Guilherme I se recuse, no futuro, a candidaturas desse género. A recusa do kaiser e um comunicado provocatória de Bismack à imprensa inflamam a reacção francesa. Declaração de guerra à Prússia. — Sucessão de derrotas francesas face a um exército mais organizado e equipado com armamento mais moderno. Ocupação da Alsácia e da Lorena pelos prussianos. Vitória prussiana de Sédan. As tropas francesas, metralhadas por 700 canhões, rendem-se, ficando Napoleão III prisioneiro com 100 000 homens. Proclamação do Segundo Reich —Proclamação da República em Paris e cerco da capital francesa. — Armistício pelo tratado de Francoforte (Maio de 1871), cedendo a França à Alemanha a Alsácia e o Norte da Lorena, com uma forte indemnização. — Guilherme I tinha sido proclamado, em 18 de Janeiro, imperador da Alemanha. O Império, de carácter federal, compreendia 26 estados com governos próprios. UNIFICAÇÃO ITALIANA Depois do Congresso de Viena, a Itália ficara dividida numa série de pequenos estados enfeudados à Áustria, que dominava quase todo o Norte da Itália. As revoluções liberais de 1830 de 1848 também tinham atingido a Itália. Os partidos liberais defendiam, ao mesmo tempo, o constitucionalismo e a unificação. Para os atingir, é preciso derrotar a Áustria. É notória a necessidade de apoio estrangeiro. Papel do Piemonte — Entretando, o núcleo duro do movimento sedia-se no Piemonte, um pequeno estado do norte da Itália, governado pelo rei Vítor Emanuel II e o seu ministro, o conde de Cavour. — Fortificação e enriquecimento económico e militar do Piemonte pela acção de Cavour: construção de uma rede ferroviária, túneis e um arsenal da marinha de guerra, em La Spezzia. — Congregação de todos os patriotas italianos em torno de Vitor Emanuel, na Sociedade nacional Italiana (1857), com o lema: "Unidade, Independência, Vítor Emanuel rei de Itália", cuja sigla ficou V.E.R.D.I. — Obtenção do apoio da França. Napoleão III acaba por se comprometer a ajudar o Piemonte no caso de uma invasão austríaca (tratado de 26 de Janeiro de 1859). Nesse caso a Áustria seria expulsa do Norte de Itália, onde se formaria o reino da Alta Itália. A França receberia em troca a Sabóia e Nice. — Preparação para a guerra. A Áustria respondeu mobilizando as suas forças e intimando o Piemonte a suspender os preparativos bélicos dentro de 3 dias. Na negativa, a Áustria declara guerra ao Piemonte, obrigando napoleão III a colocar-se ao lado deste estado. Guerra com a Áustria — Vitória francesa em Magenta, próximo de Milão, logo ocupada pelas forças francopiemontesas. — Nova vitória franco-italiana em Solferino, mas com 17 000 baixas francesas. — Ameaças de ataque prussiano à França, altera planos de Napoleão III. — Armistício e tratado franco-austríaco (1859) entrega à França a Lombardia, que a cede ao Piemonte. Previa-se a formação de uma confederação italiana. Unificação da Itália — Movimentos populares no centro da Itália (ducados de Parma, Módena e Toscana, e a ramanha, que pertencia ao papa, expulsam os seus governantes e manifestam intenção de se unir ao Piemonte. Plebiscitos organizaos nestes territórios, têm o apoio da França que, entetanto, recebera a Sabóia e Nice. Não são ouvidos os protestos do papa… — Faltava conquistar o resto dos Estados pontifícios e o reino de Nápoles, onde reinava Francisco II de Bourbon. O ataque a Nápoles é organizado e chefiado por Garibaldi, patriota italiano nascido em Nice, que já lutara contra a Áustria. Garibaldi deixa secretamente Génova, com pouco mais de 1 000 voluntários. O governo Piemontês finge discordar. Desembarca na Sicília (1860), forma um governo provisório e passa ao sul da Itália onde vence o exército de Francisco II, posto em fuga. Entrada triunfal em Nápoles. — O governo de Cavour teme que Garibaldi se resolva a proclamar a República em Nápoles, seguindo as suas inclinações políticas. Atravessando as forças de Napoleão III, a quem convence da perigosidade de Garibaldi, apostado em tomar Roma, o que era de evitar a todo o custo, Cavour atravessa os estados do papa e derrota as suas tropas em Castelfidardo, poupando Roma. Antecipando-se assim aos eventuais propósitos de Garibaldi, Vítor Emanuel é aclamado rei da Itália em Nápoles, decretando a união do Reino das Duas Sicílias depois de um plebiscito, ao resto da Itália. Ao mesmo tempo, a Úmbria e as Marcas, do papa, votam também a sua união ao Piemonte. — O papa Pio IX está agora limitado a Roma e seus arredores. Só este território e a Venécia continuavam fora da Itália unida. Cavour sabia bem demais que Napoleão III se oporia à conquista de Roma. — A 23 de Março de 1861, depois de eleições gerais, Vítor Emanuel é proclamado rei da Itália. Questão Romana — As tropas francesas continuavam em Roma, enquanto o governo italiano, para não prolongar a situação, aceita não atacar Roma e tomar Florença como capital. — Com a retirada francesa, em 1864, Garibaldi aproveita para tomar Roma, de onde é expulso por um reforço francês enviado por Napoleão III. No entanto, este regimento é obrigado a abandonar a Itália em 1870, forçado pela Guerra Franco-Prussiana. — Vítor Emanuel aproveita a ocasião e ocupa Roma. Pio IX exige que seja feita uma brecha nas muralhas de Roma pelos invasores, como prova de violência, o que é feito. O papa, então, passa a considerar-se prisioneiro do governo italiano. Este tentou fazer-lhe certas concessões através da "Lei das garantias", mas o papa recusou-as. — Estava completada a unidade italiana, com a cedência da Venécia, como se viu.