Inauguração SESC Santana 22 outubro 2005 Cultura e lazer na zona norte A cidade, hoje, é tanto sinônimo de sociabilidade, como também de individualismo e anonimato. Seu orgulho é feito da junção entre a cidade real e a cidade imaginada, sonhada por seus habitantes e por aqueles que a trazem à luz. É o local do intercâmbio de experiências. Diversa e desigual, a cidade está na intersecção do local e do global. Uma cidade como São Paulo, cuja história irradia do antigo Colégio dos Jesuítas, cresceu pelos quatro cantos, tendo, cada um deles, uma maneira peculiar de ocupação, de organização, de formação de sua identidade. Na história da cidade de São Paulo, o SESC desponta nos anos 40, já reunindo 60 anos de trabalho dedicado ao trabalhador do comércio e serviços, a seus familiares e à comunidade em geral. Instalando-se originalmente na região central, seguiu os passos já traçados pela história. Paulatinamente, foi avançando para cada um desses cantos. E hoje, ao abrir esse centro cultural e desportivo, refaz a história desse bairro cuja identidade está intimamente ligada à história do rio Tietê: o bairro de Santana. Segundo o historiador Alcântara Machado, o rio Tietê deu a São Paulo o quanto possuía: o ouro das areias, a força das águas, a fertilidade das terras, a madeira das matas, os mitos do sertão. Despiu-se de todo encanto e de todo mistério: despoetizouse e empobreceu por São Paulo e pelo Brasil. Mas foi pela transposição do rio Tietê, originalmente pela Ponte Grande e, no século XX, pela ponte das Bandeiras, que a zona norte, antes fornecedora de alimentos produzidos na Fazenda Santana, passou a integrar e a interagir com a cidade de maneira efetiva, tanto no ramo comercial e industrial, como também no ramo das práticas esportivas e artísticas. Qual o significado, então, da presença do SESC no bairro de Santana? É um gesto de inscrição positiva em seu território físico e social. É um gesto otimista. É um gesto de convicção no poder transformador das idéias e das ações comprometidas com a melhoria da qualidade de vida de sua população. Qual o porquê desse centro cultural e desportivo ser como ele é? Acreditamos ter construído um ponto de encontro, um núcleo para o aprendizado e para o exercício da sociabilidade, da solidariedade e da cooperação. A opção arquitetônica de recortar o concreto com janelas, deixando à mostra diferentes pontos de vista da cidade, vem ao encontro da concepção de cultura que não se restringe à percepção do real. Ela é sinônimo de cuidar e de guardar as ações do outro para serem transformadas. A opção de integrar espaços voltados a diversas ações corrobora a crença no convívio harmônico entre os diferentes. Isto porque não existe uma cultura homogênea. A cultura é, fundamentalmente, plural. Ela é o resultado de um processo de múltiplas interações e oposições no tempo e no espaço. Ela é o resultado de um conjunto de saberes, sempre em transformação. Por isso, a necessidade da cultura ser esculpida em um processo de educação, de aprendizagem permanente. Para isso, cada uma de nossas ações tem o papel de integrar-se à vida cotidiana, ressaltando suas possibilidades de transformação e de transcendência. Para isso, cada uma de nossas ações há de ter o papel deflagrador de novos modos de ver, de pensar, de relacionar-se, de atuar e de viver em sociedade. Conectadas a uma proposta programática, as diferentes linguagens artísticas vislumbram descortinar seus aspectos estéticos e criativos, interagindo com um público atuante. A cultura do corpo saudável encontra nas atividades físicas e esportivas, nos bons hábitos alimentares e nos locais para descanso sua representação. No entanto, esse conjunto de ações que possibilitam uma vivência criativa, inventiva, questionadora e propositiva só é possível porque há um grupo de pessoas reunidas e dedicadas a esse propósito. Ao propósito de fazer valer o direito de vida saudável e harmônica do cidadão em sua cidade. Ao propósito de fazer valer o direito do sonho e da imaginação. Nesse grupo de pessoas, é justo destacar o papel desempenhado pelos empresários do comércio e serviços que, há quase sessenta anos, vêm mantendo, com suas contribuições, cada um dos centros culturais e desportivos do SESC. É justo destacar, também, o papel desempenhado pelos servidores que, na particularidade de suas funções, foram o conjunto necessário e harmônico para a realização desses propósitos. Nossos cumprimentos e agradecimentos aos membros do Conselho Regional do SESC no Estado de São Paulo, órgão que, tendo à frente seu Presidente, Abram Szajman, mostra hoje, aqui em Santana, que as lideranças empresariais têm levado a bom termo a tarefa de contribuir para o bem-estar da sociedade. Em passado recente, a zona norte foi ponto de convergência e irradiação de espécies e pessoas pelo curso das águas do rio Tietê. Que o SESC Santana possa ser, desde agora, um dos pontos de convergência e irradiação do poético, com o propósito último de encantar, de cultivar e de fazer bem conviver cada um de nós. Muito obrigado. Danilo Santos de Miranda Diretor Regional do SESC SP