O ensino da gramática - Sírio Possenti e Evanildo Bechara

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LÍNGUA PORTUGUESA – 2ºA
PROFESSOR RICARDO LEANDRO
ATIVIDADE DE INTERPRETAÇÃO
CONTEÚDO
Dificuldades
da língua:
gramática
Leia a seguir duas entrevistas com especialistas que discutem a necessidade e a
importância (ou não) de ensinar gramática na escola. O primeiro é Sírio Possenti,
professor de Linguística da Unicamp. O segundo é o gramático e filólogo Evanildo
Bechara, membro da Academia Brasileira de Letras e professor da UERJ e da UFF.
TEXTO 1
LETRA MAGNA – Qual a posição do professor de língua portuguesa diante do ensino de
gramática?
POSSENTI – Qualquer que seja a posição do professor em relação ao ensino de gramática
(contra ou a favor), dois aspectos deveriam ser considerados a sério: a) ensinar gramática não
é a mesma coisa que ensinar uma língua – ler e escrever bem são tipos de saberes que não
exigem capacidade de análise explícita no domínio gramatical, e saber gramática não confere a
ninguém a capacidade de ler e de escrever bem; b) se a escola decidir ensinar uma gramática,
por que teria que ensinar uma ruim, cheia de contradições e de lacunas?
LETRA MAGNA – Há lugar para o ensino das regras normativas tradicionais na escola de
hoje? Qual a postura que o professor deve assumir no momento de tratar o assunto?
Estamos caminhando para uma “aposentadoria” eminente dessas regras tradicionais?
POSSENTI – Certamente que há lugar para o ensino de regras normativas. Por exemplo, diante
de um caso de escrita “errada”, a atitude óbvia é “corrigir”. Se não, vai-se à escola para quê?
Pela merenda? A questão toda é como se corrige – na verdade, também há problemas sobre o
que corrigir... Se alguém escrevesse (ou dissesse) “se eu manter”, haverá que corrija
substituindo a forma “manter” por “mantiver”, simplesmente. E haverá que papagueie “o futuro
do subjuntivo de forma a partir do pretérito perfeito; tome a terceira pessoa do plural, retire a
desinência e você terá o futuro do subjuntivo; assim: mantiveram > mantiver”. Funciona? Duvido.
LETRA MAGNA – Qual a diferença entre “ensinar” e “aprender” uma língua?
POSSENTI – Talvez a grande contribuição da linguística seja, afinal, dizer que não se ensina
língua. Que uma língua se aprende – ou não. Na verdade, ensinar tem sido compreendido como
dar lições e fazer repetir. Ora, esse método, aparentemente, funciona para treinar pombos
correios; eventualmente, goleiros. Mas não ensina ninguém a falar. Uma coisa é clara: quer
aprender uma língua? Fale, escute, escreve, leia – se possível, no meio de nativos. Mesmo no
que se refere à língua materna, a prática que funciona é a mesma: quer aprender a escrever?
Escreva várias horas por dia durante toda sua vida. Mas as pessoas querem dicas para obter o
bom resultado sem trabalho e em poucos dias. E o pior é que há montanhas de livros que dizem
que têm uma solução prática, rápida e bem humorada.
LETRA MAGNA – Como deve ser tratado “o erro” gramatical em uma produção textual?
POSSENTI – O “erro” deve ser tratado, a meu ver, como um caso de revisão. Quem manda um
livro para uma editora não tem seu texto revisto por profissionais? Pois é assim, eu acho, que o
erro – e mesmo o acerto, já que há alternativas – deve ser tratado na escola. Ou seja: o professor
– ou colegas, ou mesmo o próprio autor – revisa seu texto, oferece sugestões de mudança. A
regra, se houver uma, seria: tratar a redação como um texto e o aluno como um autor. Durante
toda a sua vida escolar.
LETRA MAGNA – E os erros ortográficos mais especificamente? Devem ser corrigidos?
Qual o procedimento didático mais eficaz nesse caso?
POSSENTI – É óbvio que os erros ortográficos devem ser corrigidos. Afinal, a ortografia é
definida em lei (errar poderia até dar cadeia...). Mas há duas questões importantes a serem
consideradas, antes de falar em correção: a) os erros devem ser entendidos, isto é, o “corretor”
deve ser capaz de descobrir as razões pelas quais alguém escreve “táquissi” por “táxi”, “rumoal
équissa” por “rumo ao hexa”, “tapué” por “tapeware” (nem falo de casos mais óbvios, como
“borraxaria”). Se não for capaz de descobrir, por debaixo desses erros legais, ricos processos
psicolinguísticos, seria melhor fazer outra coisa na vida. Isso não se refere só a professores,
claro. Refere-se a todos os que se divertem com tais erros, porque eles revelam, de fato, maior
ignorância até mesmo do que os que erram; b) corrigir não pode ser sinônimo de humilhar; deve
ser uma ocasião para estudar, para compreender o estágio do aluno e da própria língua.
Para concluir, gostaria de fazer uma observação sobre a que parece ser a agenda “social” sobre
ensino de língua: a sensação que se tem é que se pensa que haveria uma solução óbvia, ensinar
gramática. Ora, o ensino tem muitos aspectos. Consta que a escola forma leitores precários. A
solução é ensinar gramática normativa? É como se, para resolver os problemas de subnutrição,
os especialistas, ou os governos, sugerissem que os pobres devem ser submetidos ao ensino
de regras de etiqueta.
TEXTO 2
LETRA MAGNA – O senhor acredita que a gramática perdeu seu prestígio hoje no ensino
brasileiro?
BECHARA – Atualmente, surgem teses que defendem a possibilidade de se ensinar uma língua
sem gramática. É preciso notar que a gramática é a estruturação de uma língua. Toda língua
está estruturada e, como tudo na vida, ela obedece a princípios que podem ser intuitivos o
científicos. Enquanto aqui se fala que não se deve estudar gramática, acabou de sair na Itália
uma gramática com mais de 2 mil páginas. Recentemente, saiu na Espanha uma em três
volumes com mais de 5 mil páginas. No Brasil, quando se ouve numa esfera universitária que é
uma perda de tempo estudar gramática, percebe-se que estamos perdendo o trem da história.
LETRA MAGNA – Dentro do estudo de letras no Brasil, a gramática assume o papel de
“patinho feio” em relação à literatura?
BECHARA – Tem acontecido isso. Principalmente entre a gramática e a linguística textual, que
estuda os procedimentos de construção de um texto. Ora, um texto é como um edifício. O que
ocorre hoje é que as pessoas olham para o edifício, contemplam sua beleza, as apenas por sua
imponência. Elas perdem de vista que o edifício só pode ser apresentado da maneira que é
porque utilizou cimento, tijolo, o trabalho dos marceneiros que colocaram as janelas. Todos veem
o produto pronto, mas não o instrumental, que, no caso de um texto, é uma estrutura que se
chama língua. A palavra literatura vem de littera, que quer dizer letra. Ver o texto, mas não ver a
letra, o instrumental que impossibilitou a construção, é o mesmo que querer erguer um prédio
pela cobertura, sem considerar seus alicerces.
LETRA MAGNA – Esse descaso com os alicerces de um texto predomina no ensino de
Letras no país?
BECHARA – Oficialmente, inclusive. Mesmo nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs),
editados pelo Ministério da Educação, a estrutura interna de um texto fica submissa à estrutura
externa. Não sou contra os PCNs, mas acho que eles só estudam uma modalidade da linguagem:
o texto. E a linguagem é, na verdade, um instrumento de três pés: O primeiro se chama cultura.
O segundo é a língua. E o terceiro é o texto. Utilizar bem a linguagem implica conhecer o assunto,
conhecer a língua, para apresentar seu conhecimento dele de modo linguisticamente adequado,
e dominar a estrutura do texto. É preciso conhecer essas três bases da linguagem. Privilegiar
apenas uma delas não garante que o indivíduo saberá falar ou escrever.
LETRA MAGNA – Nos últimos anos, professores de português começaram a ficar atuantes
nos meios de comunicação, assinando colunas em jornais a até participando de
programas de TV. Isso mudou o status do gramático na sociedade?
BECHARA – Não. Pelo contrário. O gramático passo para um segundo plano. O que aconteceu
é que as pessoas que deveriam estudar cientificamente a língua chegaram à conclusão de que
aplicar-se em gramática é a aplicação menor, que isso deve ser atribuído a pessoas de uma
formação menor. O resultado é que deixaram o espaço, que deveria ser preenchido, vazio. Mas
aqueles que hoje assumem esse papel na mídia têm, de qualquer maneira, um lado positivo, já
que chamam a atenção para a necessidade do conhecimento da língua.
Após a leitura dos textos, identifique a opinião dos especialistas sobre as questões
a seguir.
1. Qual é a relação entre o ensino da gramática e a capacidade de ler, escrever e falar bem?
2. Qual é o status do ensino de gramática no Brasil e no mundo?
3. Qual deve ser a postura do professor diante dos erros gramaticais e ortográficos dos alunos?
4. Quais são os perigos de se dar muita importância e de se ignorar o ensino de gramática?
5. Formule o ponto de vista do grupo a respeito da seguinte questão: qual é a importância de se
ensinar ou não gramática na escola?
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