Autor: Lena Frias

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Autor: Lena Frias
Título: Geografia agrária do jongo
Indicação bibliográfica: Jornal do Brasil, RJ, 16 de março, 1999.
Localização: Hemeroteca temática do Museu do Folclore
Data da 1ª edição: 1999
Recorte de jornal
Jongo: O artigo se refere à exibição em Paris, Londres, na TV Educativa e no CCBB/RJ do
documentário No fuzuê da muvuca, do “músico, cineasta e homem de mídia”, Délcio
Teobaldo. O documentário “(...) registra a cultura dos imigrantes [vindos] da Zona da Mata
Mineira para o Rio de Janeiro e sua interação com a cultura negro-religiosa do sulfluminense (...).”
Nas palavras do cineasta, a intenção do filme é “flagrar o dia-a-dia do núcleo de
jongo do Morro do Carmo, em Angra, um dos mais antigos e singulares e cuja história
ilustra a trajetória dessa imigração.” Os moradores do Carmo são descendentes de
trabalhadores rurais “expulsos” de suas terras. De acordo com Dona Luíza, jongueira do
lugar: “Vinham umas pessoas e tomavam conta da terra da gente. Era só chegar, cortar as
bananeiras que a gente plantava, e desperdiçar. Tudo sem ordem. Aí fomos obrigados a
mudar pro morro.”
A expressão, que dá título ao filme, segundo Délcio Teobaldo, é de origem banto e
quer dizer tormenta, desordem. Esse projeto, contudo, teve início há 15 anos atrás, quando
Teobaldo constatou que no processo de urbanização da cultura dos migrantes, a perda de
alguns valores sociais não implicou a perda da própria identidade, mantida através dos
“causos” e cantos passados de geração à geração.
“Para o realizados de No fuzuê da muvuca, existem muitos elementos que tornam
próximas e parecidas regiões geograficamente distintas e distantes, “transformando numa
só nação os canaviais de Ponte Nova, em Campos, os muvucas dos quilombos de Niterói,
os morros cariocas e os bairros como Mambucaba e Bracuí, em Angra dos Reis.”
(...)
“A partir do impressionante trabalho de campo, que inclui entrevistas,
documentação fotográfica e registros fonográficos e topográficos diversos, Délcio
Teobaldo, traçou o que chama de geografia agrária. Refez os caminhos que as culturas do
café, da cana-de-açúcar, da laranja e da banana desenharam no litoral sul-fluminense, uma
região de cantigas de roda e cantos de mutirão, novenas, terços cantados e pontos de
jongo.”
(...)
“O jongo relata acontecimentos antigos e comenta os atuais. Em Bracuí, o
canjengüê – que abre a função – , e o tambor de seu Zadi Rita do Espírito Santo vão falando
a linguagem do couro e todo mundo acompanha na palma e na dança singular e
inconfundível, de movimentos largos, os passos meio saltados, riscando letras: Eu te
falei/você não me escutou/agora passa fome/cadê o governador?, provoca uma cantiga. Eu
sou filho de Congo/Hoje eu vim pra gunguná, declara outro. Essa água tem feitiço, ô/deixa
a água correr, informa um terceiro. Jongueiro pemba/jongueiro pembabá/o cravo tá no
terreiro/Ô Maria, onde tá?”
Délcio José Bernardo, líder do Ylá Dudu, destacou a importância do jongo no
resgate a auto-estima dos negros em Angra dos Reis.
Região descrita: Angra dos Reis/Litoral Sul Fluminense
Período da descrição: 1999 (data aproximada a partir da publicação do artigo)
Ilustrações: 1) fotografia de Délcio Bernardo e seu Tio Zadi (no tambor) em uma roda de
jongo.
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