APLICAÇÕES DE IMAGENS HRC DO SATÉLITE CBERS-2B NO RECONHECIMENTO DE GEOGLIFOS NO ESTADO DO ACRE. Geol. Paulo Roberto Martini, MSc. Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais-INPE Divisão de Sensoriamento Remoto - DSR Av. dos Astronautas 1758 São Jose dos Campos SP CEP 12227-010 Fone: +55 12 3945 6470 - Fax: +55 12 3945 6488 [email protected] ABSTRACT Ancient earthworks known as geoglyphs have been depicted by air photos over the landscapes of the State of Acre in Brazilian Western Amazonia. These features are believed to be of pre-Columbus age and so far no acceptable explanations were found to the purposes they were built. Geoglyphs are square or circular perfect designs and measures not much than three hundred meters and so have been also registered in high resolution frames collected by commercial satellites such those in GoogleEarth. This article describes how far HRC-CBERS public images can help one to recognize and to map the geoglyphs. Results show that HRC images are able to map and measure those features proving in this case that they can be reliable alternatives to commercial high resolution satellite images and even aerial photos. 1.RESUMO E CONCLUSÕES Vários pesquisadores vem estudando há anos as feições conhecidas como geoglifos na Amazônia Ocidental e particularmente no Estado do Acre. Esta feições criadas por civilizações pré-colombiana combinam movimentos de terra segundo valetas com geometrias bem definidas como círculos, quadrados e desenhos duplos mais complexos. Os geoglifos tem sido registrados em fotos aéreas panorâmicas e verticais. Neste trabalho procura-se verficar a potencialidade das imagens do Sensor HRCHigh Resolution CCD do Satélite SinoBrasileiro de Recursos Terrestres CBERS-2B com resolução geométrica de 2,5 metros para mapear tais feições não reconhecidas antes em imagens orbitais de resolução mais grosseira como aquelas dos sensores TM, ETM e CCD que variam de 15 a 30 metros de pixel. Os resultados mostram que as imagens HRC se aplicam sobremaneira aos estudos destas feições, sob ponto de vista geométrico, quanto as fotos aéreas com resoluções ao redor de 50 centímetros. Na área estudada ao longo de um trecho de 25 quilômetros da BR317 entre Rio Branco e Boca do Acre foram reconhecidos ao menos 12 geoglifos identificados incicialmente apenas em fotos aéreas e panorâmicas, posteriormente nos satélites comerciais de alta resolução. Os resultados permitem concluir que as imagens públicas e livres do custos como as HRCCBERS 2B mostraram neste trabalho desempenho equivalente aos outros produtos comerciais citados. Este artigo descreve com mais detalhes o conjunto de atividades e os procedimentos reportados nesta introdução. 2. ANTECEDENTES Os primeiros registros de geoglifos acreanos foram feitos por fotografias aéreas coletadas sobre as diretrizes das rodovias que deixavam Rio Branco para Porto Velho-RO (BR 364) e Boca do Acre-AM (BR-317). As datas apontam para o período compreendido entre 1975 e 1980 quando estas rodovias foram implantadas seguindo o avanço agrícola que se dirigia para a Amazônia ocidental.. Pioneiros destas observações foram os professores da Universidade Federal do Acre representados pelo Dr. Ondemar Dias e seu orientando Dr. Alceu Ranzi. Estas observações pioneiras foram posteriormente incrementadas por levantamentos aéreospanorâmicos mais detalhados conforme descritos em Ranzi e Aguiar (2004). A partir destas constataçòes e tendo em conta que observações por satélite poderiam colaborar no registro e no entendimento da distribuição espacial dos geoglifos, o autor passou e tentar identificar tais feiçoes em imagens disponíveis no acervo do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Inicialmente foram estudadas as imagens do sensor TM (Mapeador Temático) do Satélite LANDSAT-5, depois tentou-se verificar as feições em valetas no sensor ETM (Mapeador Temático Avançado) do Satélite LANDSAT-7 e mais recentemente na Câmera CCD do Satélite CBERS-2. As imagens destes sensores não foram capazes de identificar nenhum dos geoglifos mapeados anteriormente pelos pesquisadores citados. A explicação óbvia é que a resolução geométrica dos sensores, variando de 30 a 15 metros, não era suficiente para registras os desenhos dos geoglifos cujas dimensões se encontram na faixa de três centenas de metros ou menos. Nestas condições buscou-se a alternativa do sensor HRC com. alta resolução geométrica do CBERS-2B. As imagens utilizadas e os resultados obtidos na abordagem dos geoglifos mediante imagens HRC são adiante descritos. 3. IMAGENS HRC DO SATÉLITE CBERS2B O sensor HRC é um dos três instrumentos operando a bordo do Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres, o CBERS-2B, o terceiro da família. Trata-se de um sensor que opera em banda pacromática (verde+vermelho) com distância entre pixel de 2.5 metros que lhe confere uma resolução geométrica de média a alta. Os níveis radiométricos são processados para 8 bits o que lhe confere um desempenho semelhante aos outros sensores orbitais de uso comum em Sensoriamento Remoto no Brasil. As imagens HRC cobrem no terreno uma área de 25x25 quilômetros sendo portanto necessárias 25 cenas para cobrir uma área equivalente a uma imagem CCD. Para nomear cada cena HRC foram usados os números de bases e pontos de cada centro de imagem CCD mais as letras de “A” a “E” nas faixas horizontais (colunas) e os dígitos de “1” a “5” nas faixas verticais (linhas). Como em cada passagem do satélite grava-se uma coluna e sabendo-se que a revisita do satélite é de 26 dias levam-se 5 passagens para se cobrir uma cena CCD com imagens HRC. A revisita portanto para o sensor HRC é de 150 dias ou eventualmente duas passagens ao ano. Este fato faz com que a disponibilidade de imagens HRC, livres de nuvens, particularmente na área estudada que se situa em domínio tropical torna-se bem pequena. Neste trabalho foram utilizadas três imagens HRC gravadas em 13 de julho de 2008 correspondentes aos seguintes números: -WRS 179C_111_1 em arquivo digital de 531 megabytes -WRS 179C-111_3 em arquivo digital de 177 megabytes -WRS 179C-111_4 em arquivo digital de 177 megabytes. As imagens foram estudadas com ferramenta IMAEDIT um freeware do INPE disponível em www.dgi.inpe.br . As cenas foram realçadas em contraste usando o corte padrão de histogramas disponível na ferramenta. Elas não foram submetidas à correções geométricas de qualquer tipo. 4. RESULTADOS Foram estudados 12 geoglifos nesta fase do trabalho. A análise partiu da visualização das feições na literatura, principalmente em Anzi e Aguiar (op.cit) para o reconhecimento delas nas imagens HRC e vice-versa. Além de fotos panorâmicas foram estudadas também fotos aéreas verticais. Exemplo de uma destas fotos verticais é aquela da figura 1 obtida com base na aeronave Bandeirante do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais-INPE quando em missão no Estado do Acre. As estruturas destas fotos medem entre 100 metros (diâmetro) e 300 metros (lado). Figura 1. Fotos aéreas coletadas através da Aeronave Bandeirantes mostrando alguns geoglifos. Deve-se notar a perfeita geometria das valetas. A rodovia na foto inferior é a BR-317. As estruturas desta foto situam-se na Fazenda Colorada de acordo com a literatura citada.(Fonte: Carlos Alberto Steffen). As duas feições da foto inferior da figura 1 foram identificadas na imagem HRC conforme pode ser certificado na figura 2. Nesta figura a BR-317 aparece em sua posição nominal na imagem HRC com o norte dirigido para a parte superior da cena. O geoglifo redondo e aquele que se parece com um campo de golfe aparecem no centro da cena ao sul da BR 317 Figura 2. Imagem HRC mostrando as feições da foto inferior da figura 1 tomada de avião. Alguns dos geoglifos estudados nas imagens HRC não fazem parte das listagens encontradas na literatura científica, outros mostram desenhos bem complexos. A estrutura da figura 3 não faz parte das fotos aéreas disponibilizadas na literatura estudada. A estrutura da figura 4, extraída do GoogleEarth, é de alta complexidade e não faz parte tampouco dos anais da bibliografia consultada (Ranzi e Aguiar op.cit.; Schaan et al. 2009). A feição da figura 4 inclusive mostra corredores em valetas que fazem ligação com outro geoglifo também complexo. Estas estruturas se encontram mais ao norte das feições anteriores, nas cercanias da cidade de Boca do Acre no estado do Amazonas. A situação de cobertura vegetal das feições merece ser tratada com atenção pois pode induzir a questões mais telúricas. O exemplo da figura 5 mostra isto que parte da valeta (lado esquerdo do quadrado) é coberta por mata tropical. Esta disposição parece indicar que a mata cresceu depois da construção da valeta. A datação da valeta pode portanto apontar para uma idade mínima da mata, mais recente do que os geoglifos. Vale lembrar que sítios urbanos “(“garden cities”) amazônicos, atípicos de convivência com a hiléia mas passíveis de serem erguidos em ambiente savânico, tem sido estudados no alto Rio Xingu por Heckenberger et al.(2003). Figura 3. Geoglifo notável pela sua perfeição geométrica. Não faz parte do acervo de fotos encontrado na literatura estudada embora seja de conhecimento dos estudiosos (Alceu Ranzi, informação verbal). Figura 4. Geoglifo complexo que se distingue sobremaneira dos padrões convencionais. (Fonte: Edvard Zanic-INPE/DGI). Figura 5. Imagem HRC com um geoglifo cortado pela BR 317 na margem direita da cena. O fato de que um de seus lados (o esquerdo) é recoberto por mata tropical induz a especulações sobre a idade da floresta. 5. ANÁLISE DOS RESULTADOS. Os resultados demonstram que as imagens HRC tem ótimos atributos para levantamentos de geoglifos tanto sob ponto de vista de resolução geométrica quanto em questões radiométricas. Neste aspecto deve ser citado que as imagens estudadas foram gravadas no período de seca quando os contrastes são mais discretos entre valetas e a cobertura vegetal rasa. Mesmo assim as imagens registraram com propriedade os contrastes. de posicionamento, as quais não foram atendidas neste trabalho. Assim os passos seguintes deste trabalho irão tentar responder sobre a qualidade de posicionamento destas feições nas imagens HRC. Os resultados tambem recomendam que os dados HRC sejam aplicados para estudos arqueológicos principalmente em regiões que envolvem geoglifos como o alto Rio Xingu, o vale do Rio Beni na Bolívia e o platô de Nasca no Peru. 6. BIBLIOGRAFIA. As dimenões das feições tomadas sobre as imagens combinaram perfeitamente com aquelas feitas em campo pelos estudiosos citados na bibliografia. O posicionamento cartográfico das estruturas não foram avaliados mas observou-se que as coordenadas obtidas diretamente das imagens HRC não tem precisão comparável com aquela mostrada pelo Google para a área de estudo que já são bem discretas.. Neste sentido as imagens HRC demandam correções Heckenberger, M.L.; Kuikuro, A.; Kuikuro, U.T; Russel, C.; Schmidt, M.; Fausto, C.; Franchetto, B.,2003. Amazonia 1492: Pristine Forest or Cultural Parkland. Science vol.301, 5640, 1710-1714. Ranzi, A.; Aguiar, R., 2004. Geoglifos da Amazônia - Perspectiva Aérea. Editora da Faculdade Energia, Rio Branco-AC, 53 páginas. Schaan, D.; Ranzi, A.; Parssinen, M.,(org.), 2008. Arqueologia da Amazônia Ocidental: os Geoglifos do Acre. Prelo, 147 páginas.