PROVA 9 Exercício 1: Num dado país existem 100 empresas produtoras de moldes de aço (bem X) que vendem o seu produto num mercado concorrencial. A procura é descrita por PX 4 . Na produção de moldes estas empresas utilizam aço (bem Y) que compram à empresa A. A função de produção de cada empresa é dada pela expressão xi F yi 2 yi0.5 . Para além dos custos com a aquisição da matéria prima, estas empresas têm ainda um custo de transformação de 2 unidades monetárias por unidade de produto final. A empresa A, monopolista na produção e comercialização de aço, produlo a partir de uma liga metálica que compra num mercado concorrencial e cujo preço é dado por PZ 0.5 . Para produzir 1 unidade de aço são necessárias 2 unidades da liga metálica. a) Determine a expressão da função de procura de aço dirigida à empresa A? (Cotação: 2 valores) Resolução: A função de procura de aço dirigida à empresa A, é obtida a partir das funções de procura de cada empresa. Estas podem obter-se da maximização do respectivo lucro: Max 4 2 yi0.5 pY yi 4 yi0.5 pelo que: 4 4 yi 05 pY 2 yi 0.5 0 yi 2 . pY Como o preço de X é totalmente determinado pela respectiva procura, infinitamente elástica para um preço igual a 4, a procura global pode obter-se pela mera adição das procuras individuais e é dada por: 400 y 2 . pY b) Qual a quantidade e o preço de equilíbrio do aço, a quantidade de moldes produzida por cada empresa, e o lucro de cada empresa mencionada? (Cotação: 1.5 valores) Resolução: Para determinarmos o equilíbrio no mercado do aço temos de resolver o problema de maximização do lucro do respectivo monopolista. Invertendo a curva de procura obtemos pY 20 y 0.5 . Portanto, resolve-se o problema: Max 20 y 0.5 y , pelo que: 10 y 0.5 1 0 y 100 . Portanto, as restantes variáveis assumem os valores: pY 2 , yi 1 , xi 2 , X i 2 e A 100 . No sentido de criar uma melhor posição para a negociação do preço do aço, as produtoras de moldes formaram uma associação empresarial. 1 c) Qual o preço que elas desejarão impor para o aço? (Cotação: 1.5 valores) Resolução: Neste caso a associação patronal comportar-se-á como um monopsonista. Portanto, sabendo que o custo marginal da empresa A é igual a 1, desejará impor esse preço. Se o preço fosse superior a associação empresarial estaria conceder lucros à empresa A; se o preço fosse inferior a empresa A não quereria vender aço. O Estado preocupado com o poder de monopólio da empresa A decidiu abrir o comércio do aço ao exterior. O preço no mercado internacional é 1.5. d) Qual o impacto dessa medida no poder negocial da associação empresarial e da empresa A? (Cotação: 2 valores) Resolução: Depende do poder negocial que tenham na situação anterior., em cujas condições a empresa A e associação patronal negociarão um preço entre 1 e 2. O preço acordado poderá ser visto como uma média ponderada destes valores, em que o peso dado a 1 é uma medida do poder negocial da associação patronal e o peso dado a 2 é uma medida do poder negocial da empresa A. Ao abrir o mercado ao comércio internacional o preço do aço terá de passar a ser igual a 1.5 (se fosse mais alto os compradores importariam o aço; se fosse mais baixo a empresa A exportá-lo-ia), pelo que tudo se passará como se o poder negocial das partes fosse de 50%, ou seja reduzir-se-ia o poder negocial da parte inicialmente mais forte e se aumentar-se-ia o poder negocial da parte inicialmente mais fraca. Exercício 2: Considere uma economia constituída pelos agentes A e B. O agente A possui uma dotação de trabalho de 400 e uma tecnologia que permite produzir bem X de acordo com a função de produção X (l X ) l X . O agente B possui uma dotação de trabalho de 200 e a tecnologia de produção do bem Y dada por Y (lY ) 0.1lY . Ambos têm as preferências descritas pela função de utilidade U ( x, y ) 10 ln( x) y . a) Considere nesta alínea que não existe mercado de trabalho, ou seja, temos uma economia de troca pura em que o agente A tem uma dotação de 20 (isto é 400 ) unidades de X e o agente B de 20 (isto é 0.1 200 ) unidades de Y. Qual o equilíbrio competitivo desta economia? (Cotação: 2.5 valores) Resolução: As condições de eficiência no consumo dos bens levam-nos a: 10 x p A , 10 p x B onde p é o preço relativo do bem X. Por conseguinte, da condição de equilíbrio no mercado do bem X resulta: 2/5 10 10 20 p 1 x A x B 10. p p Portanto, y A (20 10) 1 10 e yB 20 10 10 . A partir de agora passe a considerar que existe um mercado de trabalho. b) Determine a fronteira de possibilidades de produção desta economia e represente-a graficamente. (Cotação: 1.5 valores) Resolução: A fronteira de possibilidades de produção desta economia pode obter-se a partir do seguinte sistema: LX LY 600 , X LX Y 0.1L Y que conduz a X 2 10Y 600 Y 60 X2 . 10 c) Determine o equilíbrio competitivo desta economia. (Cotação: 3 valores) Resolução: Seja px PX / W , px PY / W , p p x / p y . O equilíbrio competitivo no mercado do factor exige que: px 0.5(l X ) 0.5 1 l X 0.25 px 2 . p y 10 p y 0.1 1 2 lY 600 0.25 p x l X lY 600 Utilizando agora a condição de equilíbrio no mercado do bem X: 10 10 0.5 lX px px py py e tendo em conta que, da optimalidade na produção do bem X, l X 0.5 0.5 px , resulta p x 20 . Assim, p 2 , X A X B 10 / 2 5 , LX 0.25 400 100 , LY 600 100 500 , X 10, e Y 0.1 500 50. Por fim, a partir da restrição orçamental do agente B temos PX xB PY y B W 200 yB 10 , e portanto y A 40 . d) Comente a seguinte afirmação de um dos agentes: “Estava mais contente quando não tínhamos mercado de trabalho na economia. Isto não me deixa acreditar nos mercados, em particular, não é possível que o Primeiro Teorema do Bem-Estar seja verdadeiro, nem tão pouco que tenha havido uma melhoria do bem estar social.” (Cotação: 1.5 valores) Resolução: A afectação da alínea a) não é um óptimo para a economia da alínea c) pois o preço relativo era de 1, mas a TMT 4 . Isto permite perceber que a abertura do mercado de trabalho pode não induzir uma melhoria de Pareto, pelo que é possível que de facto um dos agentes tenha ficado pior, sem que isso viole o Primeiro Teorema do Bem-Estar. Porém, a abertura do mercado de trabalho, induzirá então uma melhoria potencial de Pareto. É naturalmente possível que o 3/5 bem estar social tenha aumentado; isso só depende da forma como as utilidades de cada agente afectem a função de bem-estar social. Exercício 3: a) Enuncie e explique o Teorema da Impossibilidade de Arrow (Cotação: 1.5 valores) Resolução: O Teorema da Impossibilidade de Arrow diz que não existe nenhum mecanismo de escolha social que satisfaça simultaneamente as seguintes condições: as escolhas sejam completas (quaisquer duas alternativas possam ser comparadas), reflexivas (o mecanismo de escolha social permite concluir que uma alternativa é pelo menos tão boa quanto ela própria) e transitivas (se o mecanismo leva à escolha de X relativamente a Y e de Y relativamente a Z, então leva à escolha de X relativamente a Z); independentes de alternativas irrelevantes (a escolha entre alternativas X e Y é independente das outras alternativas existentes); compatíveis com o critério de Pareto (se todos os elementos da comunidade preferem a alternativa X relativamente à alternativa Y, a escolha social prefere a alternativa X à alternativa Y); e não levem à existência de ditador (as escolhas sociais não coincidem necessariamente com as de um elemento da comunidade). Este Teorema tem uma grande importância para a construção de mecanismos de escolha social, porquanto exige que os mecanismos de escolha social permitam ditadores ou que tenham alguns elementos de irracionalidade (pelo menos uma das outras três hipóteses não pode ser observada). Por exemplo, os mecanismos habituais de votação não são transitivos e não respeitam a independência de alternativas irrelevantes. b) Suponha que num mercado de factor monopolizado (em que o monopolista maximiza o lucro) era introduzido um preço máximo. Que impacto teria isso sobre o preço e a quantidade de equilíbrio do factor. Explique através de uma análise gráfica. (Cotação: 1.5 valores) Resolução: A existência de um preço máximo limita a procura de factor: ainda que o valor da produtividade marginal seja muito elevado, o preço não pode exceder o máximo, pelo que não há procura de factor acima do preço máximo. Portanto, a procura passa a ter um segmento horizontal ao nível do preço máximo e até que a quantidade total procurada coincida com aquela para a qual o valor da produtividade marginal do factor seja igual ao valor máximo do preço. Recorrendo à figura seguinte podemos facilmente compreender os possíveis efeitos da imposição do preço máximo: S3 S2 S1 Caso a procura intersecte a receita marginal como S1 , a imposição do preço máximo não tem qualquer efeito. Na situação ilustrada por S2 , o preço de 4/5 equilíbrio diminui e a quantidade transaccionada aumenta. Na situação ilustrada em S3 , é possível que o preço e a quantidade diminuam. c) Considere uma economia de troca pura com dois agentes e dois bens. As preferências dos agentes são homotéticas (isto é, as TMS’s apenas dependem dos rácios em que se consomem os bens) e os bens são substitutos imperfeitos. Identifique o conjunto de afectações justas. (Cotação: 1.5 valores) Resolução: Sendo as preferências homotéticas, a curva de contrato pode ser a diagonal da caixa ou passar sempre acima ou abaixo da diagonal da caixa (análogo ao que se passa na caixa dos factores se ambas a funções de produção forem CRS). Se a curva de contrato for a diagonal da caixa, a única afectação justa é o centro da caixa. Com efeito a afectação do centro da caixa é eficiente (por ela passa a curva de contrato) e satisfaz o critério da ausência de inveja (os agentes têm cabazes iguais). Uma outra afectação da diagonal da caixa será eficiente mas não satisfará o critério da ausência de inveja (um agente tem mais de ambos os bens do que o outro, pelo que o segundo inveja o cabaz do primeiro). Caso contrário, suponhamos que a curva de contrato passa sempre acima da diagonal da caixa. Sabemos que a afectação correspondente ao equilíbrio competitivo que parta de uma dotação inicial igualitária é justa. As restantes afectações justas correspondem a uma parte contínua da curva de contrato, que inclui aquela afectação e que podemos identificar com o auxílio do seguinte gráfico, onde temos representada a curva de contrato e duas curvas de B indiferença (uma para cada agente). a b b ’ A a ’ As afectações a e b estão sobre a curva do contrato, e ao compará-las com as afectações resultantes da troca de cabazes entre os agentes (respectivamente a’ e b’) concluimos que satisfazem a ausência de inveja, pelo que são justas. Por construção, em qualquer afectação sobre a curva de contrato abaixo de b o agente A invejará o agente B, pelo que não pode ser justa. De modo análogo, em qualquer afectação sobre a curva de contrato acima de a o agente B invejará o agente A, pelo que não pode ser justa. Por fim, qualquer afectação sobre a curva de comtrato entre a e b necessariamente satisfará a ausência de inveja. Portanto, as afectações justas correspondem ao segmento da curva de contrato entre a e b. 5/5