A ESPERANÇA QUE BROTA DA FÉ

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PÁSCOA, ANÚNCIO DE ESPERANÇA
Homilia no Domingo de Páscoa A 2008 (cf. Encíclica Spe Salvi, ns.2,6,12 e 31)
“Procurais Jesus, o Crucificado? Não está aqui. Ressuscitou!”
I. Este grito da Páscoa é um verdadeiro anúncio de esperança! É como se um “relâmpago” celeste
atravessasse a terra inteira, do nascente ao poente, rasgando por toda a parte um indelével fio de luz!
Treme também a terra, na mais bela manhã de primavera, pois que um mundo velho acaba e um
mundo novo começa. Ressoa este grito pascal de esperança, e por sinal, «ao raiar do primeiro dia da
semana», aquele dia em que se fez Luz, no princípio da criação! O Domingo, primeiro dia da criação,
torna-se, doravante, o dia do Senhor, o dia da Ressurreição!
II. Caros irmãos e irmãos: Caminhemos, passo a passo, naquele compasso tão apressado das mulheres,
para descobrirmos, com elas, hoje e aqui, os múltiplos sentidos e cores desta “grande esperança” que se
levanta para todos, naquela gloriosa manhã de Páscoa! Pois a manhã da nova criação abre, em
esperança, o início da nova era, o tempo novo da nova aliança!
1º Num primeiro passo, diz São Mateus que “as mulheres foram visitar o sepulcro”. Pelo caminho, não
vêem senão «terra deserta e vazia». Como no princípio, «as trevas cobriam» de tristeza, de desânimo e
desconcerto, os seus corações, escurecidos pela morte do seu amigo e Senhor! Mas - creio eu - por uma
espécie de íntima sintonia com o mistério da vida, elas acalentam, neste gesto de piedade, o desejo
irreprimível de uma vida verdadeira, uma vida que não fosse tampouco tocada pela morte! Mesmo sem
saber como, mesmo sem conhecer em detalhe essa vida, por que tanto anseiam, mesmo que se trate
ainda de uma realidade nova e desconhecida, aquilo por que esperam e desejam não é senão a vida
eterna, não uma vida presente interminável, mas a vida nova e plena da ressurreição!
2º. Mas jamais chegariam elas a conhecer esta nova realidade, que tanto esperam e desejam, se não
lhes chegasse do Alto a mensagem da grande esperança! E este é o passo decisivo. A elas, como a nós,
são dirigidas palavras que tranquilizam os corações amedrontados: «Não tenhais medo! Não está aqui;
ressuscitou» (Mt 28,5-6). Uma incrível esperança tem o selo posto no túmulo aberto e vazio. O corpo de
Jesus já não estava ali! O Filho de Deus não ficou no sepulcro, porque não podia continuar prisioneiro da
morte (cf. Act. 2, 24). O túmulo não podia reter «o Vivente» (Ap. 1, 18), Aquele que é afinal a própria fonte
da vida!
3º Mas, para elas, como para nós, a Boa nova da ressurreição não foi apenas a surpresa de uma
“informação de última hora”. Foi uma comunicação que se transformou em factos e mudou a vida.
Doravante, a vida tem futuro e não acaba no vazio! Esta “grande esperança” muda agora o ritmo e a
direcção dos seus passos. Por isso, elas correm! Num pé, o temor, e noutro a alegria! São leves os seus
passos, a levar aos outros discípulos a alegre mensagem da sua esperança!
4º Curiosamente, Jesus entra na corrida porque é o caminho e a meta. Sai ao encontro destas mulheres.
Atravessa-se, na estrada, e torna-Se Ele mesmo o Caminho da Vida. É ele a Vida, na sua plenitude, a vida
em abundância, a vida eterna, de que as mulheres e todos nós, andamos, de uma maneira ou de outra,
à procura. E só Ele nos pode indicar o caminho, para além da morte! Porque Ele por lá passou e só Ele de
lá saiu! Só Ele daí nos liberta para a Vida, que nos preenche inteiramente. Doravante, em Cristo
Ressuscitado, temos a certeza de que, juntamente com Ele, há sempre uma passagem, há sempre uma
saída, da morte para a Vida! Mesmo na estrada da derradeira solidão, onde já ninguém mais nos pode
ou nos quer acompanhar, Ele caminha connosco, Ele é o nosso guia!
Esta é, pois, a nova esperança: existe Aquele que, mesmo na minha morte, me acompanha e, com o seu
«bastão e o seu cajado, me conforta», de modo que «não devo temer nenhum mal» (cf. Sal 23 [22] 4)! A
porta tenebrosa do tempo, do futuro, foi aberta de par em par. É possível mergulhar no oceano do amor
infinito, no qual o tempo já nem sequer existe.
III. Meus irmãos e irmãs: Este anúncio da grande esperança diz respeito a todos e toca a cada um. Quem
tem esta grande esperança, corre, como aquelas mulheres, e vai anunciá-la aos outros! Quem tem esta
“grande esperança”, vive diversamente, vive já animado por um espírito novo, torna-se mesmo uma
nova criatura! Afinal foi-me dada uma vida nova! Fui salvo em esperança. Uma esperança que me
compromete a trabalhar por um mundo novo, dado por Deus, fundado sobre a paz, sobre a justiça e
sobre o amor, sempre maior forte do que o ódio ou a morte.
Hoje não deve existir em nós a desconfiança, a tristeza, o desencorajamento, mas a disponibilidade, de
vida e de coração, para dar espaço a esta incrível, mas verdadeira esperança, que nasce da Ressurreição
de Jesus. Vivamos estes cinquenta dias de Páscoa, para reanimar em todos essa grande esperança da
vida nova da Ressurreição! Desejo que o primeiro fruto desta Páscoa seja, para todos, a plenitude da
alegria e da esperança, em Cristo ressuscitado!
A ESPERANÇA QUE BROTA DA FÉ, COMO A FLOR DO CAULE
HOMILIA NO II DOMINGO DE PÁSCOA A 2008
Cristo Ressuscitado é toda a nossa esperança! Com o nosso coração repleto de alegria, podemos agora,
nesta oitava da Páscoa, prosseguir o nosso “caminho da esperança”! Tomemos, desde já e para nós, as
palavras de São Pedro, no início da sua «homilia pascal»! Em jeito de verdadeiro hino de esperança,
cantava o Apóstolo: “Bendito seja Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos fez renascer, pela
ressurreição de Jesus Cristo, para uma esperança viva, para uma herança que não se corrompe, nem se
mancha, nem desaparece. Esta herança está reservada nos Céus para vós (I Pe.1,3-4)!”
1. Vale a pena, retomar o texto, quase palavra a palavra. E que nos diz ele? Diz-nos em primeiro lugar,
que «pela ressurreição de Jesus Cristo, renascemos para uma esperança viva». «Viva» é esta esperança,
não uma esperança ilusória ou uma esperança enganadora; não uma esperança inactiva ou passiva: não
uma vaga crença no futuro, ou uma espécie de sonho eternamente adiado. Não. Trata-se de uma
«esperança viva», porquanto ela dá mais vida à vida; dá outra vida à minha vida; dá sentido eterno e
nova meta ao meu viver. «Quem tem esta esperança, vive diversamente; foi-lhe dada uma vida nova»
(Spe Salvi 2).
2. A esperança, de que nos fala a Escritura, de algum modo, identifica-se com a fé. Por isso se diz que a
fé é «a substância», isto é, o penhor e a garantia, das coisas que se esperam. A fé dá-nos como que «a
prova, o indício ou o gérmen, das coisas que não se vêem» (cf. Heb.11,1). É precisamente esta fé, esta
certeza confiante, nesta adesão vital a Cristo, que nos permite saborear antecipadamente, e viver desde
já, aquela vida nova e eterna, por que todos esperamos, e que nos está prometida, como «herança
reservada nos céus»!
Dito de outro modo, meus caros irmãos e irmãs: A nossa fé em Cristo, vivo e Ressuscitado, não se traduz
apenas naquela “convicção individual”, de poder vir um dia a alcançar qualquer coisa mais, lá para um
futuro longínquo, depois da morte! Não. A fé cristã manifesta-se, desde já, na experiência viva, gozosa e
maravilhosa, de uma vida, já hoje, animada e transformada, por Cristo Ressuscitado. Pela fé, já está
presente, em nós como que em gérmen, aquela vida total, eterna e verdadeira, por que esperamos!
A fé cristã, torna-se assim «esperança viva», pois ela «não é, apenas, e só, uma inclinação da pessoa,
para realidades que hão-de vir, e que ainda estão totalmente ausentes»! Não. “A fé dá-nos, já e agora,
algo da nova realidade esperada” (Spe Salvi, 7)!
3. Seguindo ainda o nosso texto, diz São Pedro que a fé na ressurreição de Cristo também faz o cristão
renascer para «uma herança incorruptível, imaculada e eterna» (I Pe.1,4).
Disso é testemunho bem eloquente a vida da primeira comunidade dos cristãos, descrita na primeira
leitura: «viviam unidos e tinham tudo em comum. Vendiam propriedades e bens e distribuíam o dinheiro
por todos, conforme as necessidades de cada um» (Act.2,44-45). De modo algo semelhante, o autor da
Carta aos Hebreus, elogiará, mais tarde, os cristãos perseguidos, por terem «aceite com alegria a
confiscação dos seus bens». E fizeram-no, precisamente porque estavam cientes de possuir «uma
riqueza melhor e imperecível» (Heb.14,34). Num caso, como noutro, estes bens partilhados são as
propriedades, os diversos haveres, que na vida terrena constituem precisamente a base, ou a
«substância» da qual se necessita para viver. Mas os cristãos puderam dispensá-la, porque tinham
encontrado uma «base» melhor para a sua existência – uma base «que não se corrompe, nem se
mancha, nem desaparece», uma base que permanece e que ninguém lhes pode tirar. É a própria fé que
serve agora de «base» de sustentação à própria vida dos cristãos. A confiança na riqueza material,
relativiza-se. Cria-se então uma nova liberdade face a todos os bens (cf. Spe Salvi 8).
4. Dito de modo simples e concreto: «se, pela fé, tenho já em mim algo do que espero no futuro, e se,
pela fé, espero uma herança de vida, que me «está reservada nos céus», então não preciso de me ater
às minhas coisas; posso dispor dos meus bens, com alegria, generosidade e simplicidade de coração,
para o maior bem dos outros». Aqui se vê, como a verdadeira fé, que me dá esperança, e me liberta dos
bens, acaba por renascer em esperança, para todos os outros, que vivem na escuridão da penúria. O
exemplo de pessoas, que deixaram tudo, por causa de Cristo e da Igreja, é, de facto, “uma «prova» de
que as coisas futuras, ou seja, a promessa de Cristo, não é uma realidade apenas esperada, mas uma
verdadeira presença” (Spe Salvi 8), neste mundo.
5. Temos, então, para esta segunda semana da Páscoa, a nossa primeira prova, no caminho da
esperança: verifiquemos a nossa capacidade de partilhar, com alegria e simplicidade de coração, os
nossos bens. Por esta liberdade, face às coisas, se vê, claramente, onde está posta a nossa esperança! É
uma esperança depositada, em Cristo Ressuscitado, que rende sempre a favor da minha liberdade e do
bem dos outros? Ou é uma esperança morta e apodrecida, no bolor de outros bens, que são causa de
outros tantos males? Não tenhamos medo de pôr o dedo na ferida! Se queremos realmente ser curados
pela fé, e salvos em esperança!
DEUS, A NOSSA GRANDE ESPERANÇA
Homilia no III Domingo de Páscoa A 2008
“Nós esperávamos que fosse Ele quem havia de libertar Israel.
Mas, afinal, é já o terceiro dia depois que isto aconteceu”!
1. Que esperança acalentava o coração dos dois discípulos, naquela tarde de uma Primavera tão
“gelidamente escaldante”? Era ainda uma pequena esperança, muito apoiada no poder da força, fiada
na força do poder! Eles esperavam de Jesus a “libertação de Israel”, esperavam do Messias, uma
“revolução”, que abalasse e derrubasse a sociedade e, assim, “instaurasse um mundo perfeito” (Spe Salvi,
30)! Jesus de Nazaré - esperavam eles - devia cumprir uma espécie de “programa político de salvação
nacional”, que trouxesse “um progresso, rumo a um mundo definitivamente bom” (Spe Salvi 20)… enfim,
“um mundo onde o bem fosse definitivamente consolidado” (Spe Salvi, 24). Nos seus corações talvez
esperassem, do seu grande amigo “uma certa posição na profissão, este ou aquele sucesso,
determinante para o resto da sua vida” (Spe Salvi 30). Mas, curiosamente, jamais dirão ao seu interlocutor
«nós esperávamos que Ele ressuscitasse e, por Ele, nos fossem abertas, de par em par, as portas da vida
eterna»! Por isso mesmo, depois da crucifixão de Jesus, imersos na tristeza e na desilusão, eles
regressavam a casa desconfortados. Desvaneceram-se, por completo as suas «pequenas esperanças»!
Jesus não passava, agora, a seus olhos, de mais um homem notável, como outros, que no decorrer da
história consagraram a sua vida a uma causa considerada justa e morreram!
2. Foi então que Jesus se aproximou, começou a falar com eles e a admoestá-los: "Ó homens sem
inteligência e lentos de espírito em crer em tudo quanto os profetas anunciaram! Não tinha o Messias de
sofrer essas coisas para entrar na Sua glória?" (Lc 24, 25-26). E, no fio da Palavra das Escrituras, ele ilumina
e aquece o coração dos discípulos e faz arder neles a chama da «grande esperança», acesa na luz da Sua
ressurreição. De facto, não era suficiente a Sua morte, para demonstrar o seu amor e como era
verdadeiramente o Filho de Deus, o Messias esperado. Só a Sua ressurreição é a "prova certa", é a
certeza de que tudo quanto Ele afirmara se cumpriu e é bom e válido para nós.
3. São Pedro, na 2ª leitura, dizia-nos precisamente que a ressurreição de Jesus aconteceu “para que a
nossa fé e a nossa esperança estejam em Deus”. É nisto que precisamos, desde já, assentar o nosso
coração: “a verdadeira e grande esperança do homem, que resiste apesar de todas as desilusões, só
pode ser Deus – o Deus que nos amou, e ama ainda agora, «até ao fim»” (Spe Salvi, 27). É verdade que
“precisamos de esperanças – menores ou maiores – que, dia após dia, nos mantêm a caminho” (Spe Salvi,
31). E vistas bem as coisas, “todos nós, na sucessão dos dias, temos muitas esperanças. Às vezes pode
parecer que uma destas esperanças, nos satisfaça totalmente, sem ter necessidade de outras. Na
juventude, pode ser a esperança do grande e ardente amor” (Spe Salvi, 30), ou, no resto da vida, a
esperança numa pessoa, num partido, no progresso da ciência ou da medicina. Mas até “quando estas
esperanças se realizam, resulta claro: isso não era a totalidade. Torna-se evidente que precisamos de
uma esperança que vá mais além. Só algo de infinito nos pode bastar” (cf. Spe Salvi, 30).
Também as grandes desilusões do caminho da vida nos conduzem a “pôr a nossa fé e a nossa esperança
em Deus”. De facto, “sem a grande esperança que deve superar tudo o resto, as outras esperanças não
bastam. Esta grande esperança só pode ser Deus; só Ele nos pode propor e dar aquilo que, sozinhos, não
podemos conseguir. Este Deus, de rosto humano e que nos amou até ao fim, é realmente o fundamento
da esperança” (Spe Salvi, 31). Se caminharmos fora deste amor, viveremos sem esperança neste mundo!
(cf. Ef.2,12). Diríamos mais: “mesmo podendo ter muitas esperanças, todo aquele que está sem Deus, no
fundo, está sem a grande esperança, que sustenta toda a vida” (Spe Salvi, 27).
4. Para exemplificar este “Deus, como fundamento da esperança”, transmito-vos o testemunho de uma
pobre viúva, que veio, há dias, pedir-me que rezasse na Eucaristia, pela sua filha, que iria ser sujeita a
uma delicadíssima operação. Ela perdera já um filho, o marido, e toda a sua vida parece atraída pela
cruz, uma vida que não conhece nenhuma espécie de sucesso mundano. Conheço-a bem e disse-lhe que
«sim», que rezaria, por ela e pela filha. E acrescentei: «realmente a senhora tem uma história de grande
sofrimento e perdeu já tantas pessoas queridas, na sua vida». Ela, num jeito muito simples e popular de
dizer, respondeu-me: «eu já não me importo de perder tudo; eu só não quero é perder Deus da minha
ideia. Se o perco, estou perdida”.
5. Meus caros irmãos e irmãs: se nos viesse a faltar Deus, autor da vida e da ressurreição, ficaríamos
sem fé e sem esperança neste mundo! Sem esta fé e esta esperança na ressurreição, tudo pára, tudo
desmorona. Não é porventura a certeza de que Cristo ressuscitou que nos dá coragem, audácia
profética e perseverança? Não percamos então o ardor da esperança, num mundo, que por sua
natureza é imperfeito! Ponhamos a nossa fé e a nossa esperança em Deus! É Ele, e só Ele, “a fonte, o
ponto de apoio e a meta de toda a nossa esperança” (Bento XVI)!
O BOM PASTOR, IMAGEM DA ESPERANÇA NA VIDA ETERNA
Homilia no IV Domingo de Páscoa A 2008
1. Abriu-se uma porta de esperança, para cá desta vida e para além da morte. A Porta da vida e do Reino
é o próprio Cristo Crucificado, que morreu e ressuscitou, dando a Vida por nós! Quem O segue, neste
mundo, terá já a luz da Vida. E quem entrar por Ele, será salvo, até da própria morte, pois em Cristo,
encontrará sempre passagem para a vida do mundo que há-de vir. Deste modo, a bucólica figura do
Pastor, descrita no belíssimo salmo de confiança (Sal. 22/23), que há pouco cantávamos, é
simultaneamente uma sugestiva imagem da nossa esperança cristã.
2. Disso tiveram clara certeza os primeiros cristãos. Quase no final do século terceiro, e pela primeira
vez, em Roma, num sarcófago (ou sepultura) de um menino, aparece-nos desenhada a figura de Cristo,
filósofo e Pastor. Como filosofo, Jesus segura, numa mão, o evangelho! Ele é a Sabedoria de Deus, a
Palavra que se fez Carne. É Ele quem, na realidade, nos diz o que é a pessoa humana, e o que devemos
fazer para sermos verdadeiramente homens. Como único e verdadeiro Mestre, Jesus, indica-nos o
caminho, e este caminho é a verdade. Ele próprio é, ao mesmo tempo, “caminho e verdade”, sendo por
isso também a vida, a vida em abundância, de que todos nós andamos à procura!
3. Mas na outra mão, Jesus segura o bastão de Pastor. E a mensagem da esperança aparece-nos então
bem clara: Jesus não só nos indica o caminho da vida, como nos acompanha, guia e conduz, na morte e
para lá da morte! “A imagem do Pastor já não é tanto a expressão do sonho de uma vida serena e
simples, de que as pessoas, na confusão da grande cidade, sentiam saudade. Doravante, o Bom Pastor
torna-se a imagem da grande esperança, na vida eterna, como cantava o salmista: «O Senhor é meu
Pastor, nada me faltará. Ainda que tenha de andar por vales tenebrosos, não temerei nenhum mal,
porque Vós estais comigo»” (Spe Salvi,6)!
Neste sentido, Cristo é o verdadeiro Pastor, precisamente “porque é também Aquele que conhece o
caminho que passa pelo vale da morte”! Sim, o último vale é a morte. “O verdadeiro pastor é Aquele
que, mesmo na estrada da derradeira solidão, onde já ninguém me pode acompanhar, caminha comigo,
servindo-me de guia ao atravessá-la” (Spe Salvi,6)!
4. Perguntamo-nos então: porque é que só Ele, Jesus Cristo, pode fazer-nos “passar” pelo vale da morte
e entrar pela porta da vida? “Porque Ele próprio percorreu esta estrada, desceu ao reino da morte,
venceu-a e voltou, para nos acompanhar agora a nós, e nos dar, a todos, a certeza de que, juntamente
com Ele, acha-se uma passagem” (Spe Salvi,6)!
Até então, antes ainda da descida de Cristo à mansão dos mortos, diríamos que “a porta da morte
estava fechada, e ninguém dali podia voltar para trás. Não existia uma chave, para esta porta férrea.
Cristo, porém, possui a chave. A sua Cruz, abre de par em par as portas da morte, essas portas que
pareciam intransponíveis. A sua Cruz, a radicalidade do seu amor é a chave que abre esta porta. O amor
d'Aquele que, sendo Deus, se fez Homem, para poder morrer – este amor tem a força para abrir esta
porta. Este amor é mesmo mais forte que a morte” (cf. Bento XVI, Homilia na Vigília Pascal 2007). Di-lo, na sua
encíclica sobre a esperança, e de maneira igualmente bela, o Papa Bento XVI: em Cristo, morto e
ressuscitado, “a porta tenebrosa do tempo e do futuro, foi aberta de par em par” (Spe Salvi, 2).
Vede então, meus caros irmãos: “A certeza de que existe Aquele Pastor que, mesmo na morte, me
acompanha e com o seu «bastão e o seu cajado me conforta», de modo que «não devo temer nenhum
mal», esta era a nova «esperança» que surgia na vida dos cristãos” (Spe Salvi, 6)!
5. Esta nova esperança, que se nos abriu, graças ao Bom Pastor, que deu a Vida, por nós, devia
despertar-nos a mesma emoção e a comoção dos ouvintes de Pedro, que então perguntavam: “E agora,
que havemos de fazer, irmãos”. A resposta podia ser simples: “Recebestes de Deus, a tua vida como
dádiva, faz dela um dom para os outros! Recebestes de Cristo, a vida em abundância, dá-te, sem
reservas, Àquele que morreu por ti! Fostes salvo, pelo preço do Sangue de Cristo, então não Lhe dês
menos que a própria Vida”!
Este é realmente «o apelo do Senhor, nosso Deus», que também hoje faz ouvir a Sua voz e chama a
todos, sem excepção, e chama a cada um, pelo seu próprio nome! Que quer Ele de nós? Ele quer
simplesmente levar-nos «para fora» de portas, para além de nós mesmos e dos nossos interesses; para
fora do nosso reduto íntimo e reservado, para ir ao encontro e ao serviço dos outros. No matrimónio e
na família, na vida religiosa, (activa ou contemplativa), no ministério sacerdotal ou em alguma
consagração secular, todos encontramos, do outro lado, do lado do outro, do lado de fora de nós
mesmos, o sentido da vida que recebemos! Todos entramos e passamos pela única Porta, que é Cristo, a
fim de sermos levados para fora, como portadores de vida e de esperança para o nosso mundo! Este
mundo há muito espera por ver no que dá afinal toda esta nossa esperança!
A VISÃO DE DEUS, META DA NOSSA ESPERANÇA
Homilia no V Domingo de Páscoa A 2008
“Senhor, mostra-nos o Pai e isso nos basta (Jo.14,8)!”
1. Parece que ao Apóstolo Filipe não bastava uma bela amizade, para toda a vida. O seu coração pedia
mais do que um “amor, até à morte”. Tampouco lhe bastava um mundo melhor e mais perfeito. Tudo
lhe parece tão pouco, para a medida desmedida do seu desejo infinito. Tal desejo orienta-se, não para
uma coisa grande, por muito boa e bela que ela possa ser! O seu coração procura simplesmente uma
“morada” eterna, pessoal e vital, no coração de Deus! Procura afinal Deus, a contemplação do Seu
rosto! Quer chegar a uma comunhão plena de vida e amor com Deus. De Deus, Filipe espera Deus e
mais nada. Pois a Quem a Deus tem, nada lhe falta! Só Deus basta!
Feito para Deus, orientado para Ele, Filipe sente, como todos nós, no mais profundo do seu coração, que
“só algo de infinito lhe pode bastar” (Spe Salvi, 30). No seu coração, como no nosso, a esperança está
inscrita de maneira indelével, porque Deus Pai é Vida, e é para a vida eterna que fomos criados. Deste
modo, o Apóstolo Filipe resume toda a nossa esperança, neste pedido puro e simples: “mostra-nos o Pai
e isso nos basta”!
2. Vemos claramente, por estas palavras, quanto a “esperança cristã está ligada inseparavelmente ao
conhecimento do rosto de Deus, àquele mesmo rosto que se revelou em Jesus” (Bento XVI). Por isso
mesmo, “chegar a conhecer Deus, o verdadeiro Deus, significa receber esperança” (Spe Salvi, 3). É, aliás, o
próprio Jesus que relaciona este conhecimento de Deus com o dom da vida eterna, quando nos diz: «A
vida eterna consiste nisto: Que Te conheçam a Ti, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a Quem
enviaste» (Jo. 17,3).
Por isso, e bem, a Filipe bastava conhecer o rosto de Deus! É isso, no fundo, o que o nosso coração mais
espera. Sem esse conhecimento experimentado do amor de Deus, definha qualquer esperança! Quando
desaparece Deus do mapa da nossa vida, interior ou pública, também se perde, com isso, o desejo da
vida eterna. E quando desaparece a grande esperança na vida eterna, esmorece, de imediato, o desejo
de conhecer Deus, de chegar a uma relação íntima e vital com Ele. “Quem não conhece Deus, mesmo
podendo ter muitas esperanças, no fundo está sem esperança, sem a grande esperança que sustenta
toda a vida” (Spe Salvi, 27). Na realidade, abramos os olhos: quando falta Deus, falta a esperança. Tudo
perde a sua consistência. É como se todas as coisas ficassem desprovidas de sentido e de futuro. Sem
Deus, o homem é levado a pensar que dentro dele e ao seu redor reina apenas o vazio: nada antes do
nascimento, nada depois da morte. Assim a verdadeira e grande esperança do homem, a única
esperança que resiste, apesar de todas as desilusões, só pode ser Deus: esse Deus, cujo rosto se revela
em Jesus, que nos amou, e nos ama ainda agora até ao fim! Este amor de Deus é para nós a “garantia de
que existe aquilo que intuímos só vagamente, mas que lá no íntimo todos esperamos: a vida que é
«verdadeiramente» vida” (Spe Salvi,31).
3. Meus caros irmãos: se olharmos para nós, contando apenas com as nossas forças e méritos,
facilmente se desvanece a esperança de construir um mundo novo, neste mundo velho, ou de alcançar a
vida eterna, no mundo novo que há-de vir. Por isso, importa pôr toda a nossa esperança, neste amor de
Deus, por nós, como nos ensinava o salmista: «esperamos, Senhor, na vossa misericórdia» (Sal.33,22). De
facto, dizia-nos o grande João Paulo II: «não existe para o homem, outra fonte de esperança, fora da
misericórdia de Deus». Neste mudo perturbado e conturbado, “só a Divina Misericórdia é capaz de pôr
limites ao mal; só o amor omnipotente de Deus pode derrotar a prepotência dos malvados e o poder
destruidor do egoísmo e do ódio” (João Paulo II) e deste modo dar fundamento seguro à esperança de um
mundo novo!
4. “Somente o amor de Deus, que se revelou em Cristo, nos dá a possibilidade de perseverar, de não
desistir nem desanimar, mas de lutar com toda a sobriedade, dia após dia, sem perder o ardor da
esperança, neste mundo que, por sua natureza, é imperfeito” (Spe Salvi, 31). É uma confiança que
encontra o seu reflexo nos corações dos pequeninos e dos humildes, quando, através das dificuldades e
preocupações, se comprometem, todos os dias, a fazer o melhor que podem, a realizar aquele pouco de
bem, que aos olhos de Deus é muito: na família, no lugar de trabalho, na escola e nos vários âmbitos da
sociedade.
5. Voltemos, enfim, ao princípio da nossa reflexão: «Mostra-nos o Pai e isso nos basta» (Jo.14,8). Vede,
irmãos: no nosso interior, há uma profunda sede de Deus, só saciável no poço do seu amor infinito. Não
nos deixemos atrair e seduzir pelas possibilidades quase ilimitadas que a ciência e a técnica nos
oferecem; não cometamos o erro de pensar que podemos, só com os nossos esforços, saciar os nossos
anseios mais profundos. Grande ilusão! Sem Deus, as nossas vidas estão vazias e sem esperança.
Aproximemo-nos de Cristo. Cultivemos, por isso, uma relação viva, com Cristo, que é a nossa vida e a
nossa esperança! (I Tim.1.1). “Quem nEle puser a sua confiança, jamais será confundido” (I Pe.2,6)!
ORAÇÃO, LUGAR DE APRENDIZAGEM DA ESPERANÇA
Homilia no VI Domingo de Páscoa A 2008
Venerai Cristo Senhor em vossos corações, prontos sempre a responder,
a quem quer que seja, sobre a razão da vossa esperança (I Pe.3,15)!
Sobram-nos razões de esperança, mesmo num mundo de futuro incerto! Ao longo desta Páscoa, temos
vindo a percorrer “o caminho da esperança”, e julgo que nos firmamos, pelo menos, nesta certeza
inabalável: o princípio, a fonte e a meta desta esperança é o próprio Deus, que se revelou em Cristo.
Neste Domingo, gostaria de “parar” um pouco neste primeiro lugar de aprendizagem da esperança, que
é a Oração (cf. Bento XVI, Spe salvi, 32). Respondamos, de modo simples à pergunta: “Em que medida é que a
oração exercita a nossa esperança”?
1. Em primeiro lugar, a oração é uma força de esperança. Vede: “Quando já ninguém me escuta, Deus
ainda me ouve! Quando já não posso falar com ninguém, nem invocar mais ninguém, a Deus sempre
posso falar. Se não há mais ninguém que me possa ajudar – por tratar-se de uma necessidade ou de
uma expectativa que está para além da capacidade humana de esperar – Deus pode ajudar-me. Se me
encontro isolado numa extrema solidão... ao rezar, sei que nunca estou está totalmente só” (Spe salvi,32).
A oração torna-se uma força crescente de esperança, nas noites da solidão, no meio do desespero, da
luta, da demora, do desconcerto da vida. Foi assim com Jesus, nas tentações, na agonia, na paixão. Foi
assim com todos santos. É assim connosco.
2. Mas a oração não é apenas uma força de esperança! Ela própria dilata a esperança, na medida em
que orienta o nosso desejo para Deus. Se repararmos bem, a oração é um exercício do desejo. Fomos
criados para «conhecer a Deus», para participar da sua vida, para sermos preenchidos por Ele e pelo seu
amor. E só nEle o nosso coração alcança o que deseja. Mas, em boa verdade, o nosso coração é
demasiado estreito para a grandeza da graça da vida eterna, que lhe está prometida. Tem, por isso, de
ser dilatado. E o coração dilata-se pela oração! Pensai na vossa experiência: Como Cristo, nós rogamos
ao Pai. E o Pai não nos nega nada do “único necessário”, mas, por vezes, demora-se na resposta. Com
essa demora, aprendemos, pouco a pouco, o que verdadeiramente pedir a Deus, o que é digno de Deus:
não podemos pedir coisas superficiais e cómodas, que de momento desejamos, limitando-nos «a uma
pequena esperança», que uma vez satisfeita, nos leva para longe de Deus. Só com o nosso desejo
purificado e elevado, é que Deus pode dilatar a nossa alma, tornando-a apta a receber os dons mais
excelentes, os dons eternos: a sua própria vida divina.
3. Por último, a oração exercita a nossa esperança, porque estimula em nós o desejo de cumprir a
vontade de Deus e assim construir o seu Reino! Rezar não significa “meter a cabeça na areia”, sair da
história e retirar-se para o canto privado da própria felicidade. Longe de fechar-nos em nós mesmos ou
de fugir dos altos e baixos da vida, por meio da oração dirigimo-nos a Deus, e através d’Ele, dirigimo-nos
a todos, inclusive aos marginalizados e àqueles que seguem caminhos diversos dos de Deus (cf. Spe salvi,
33). A oração torna-se então esperança concreta, esperança activa: isto é, rezando, mantemos o mundo
aberto a Deus e recebemos ânimo para lutar a fim de instaurar todas as coisas em Cristo.
[4. Permiti-me ainda, advertir-vos, finalmente, sobre duas características essenciais, para que a nossa
oração desenvolva esta força purificadora da esperança:
Por um lado, a oração deve ser muito pessoal, um confronto de todo o meu «ser» com este Deus vivo,
que me conhece e deseja ser conhecido, neste amor com que me ama e quer ser amado. Mas, por outro
lado, a oração deve ser incessantemente guiada e iluminada pelas grandes orações da Igreja e dos
santos, pela oração litúrgica, na qual o Senhor nos ensina a rezar de modo recto e correcto (cf. Spe salvi
34). Quando se torna árida a oração e nos é tão difícil rezar, podemos sempre agarrar-nos às palavras da
oração da Igreja: ao Pai-Nosso, à Ave-Maria, às outras orações da Liturgia e da piedade popular.
Na oração cristã, deve haver sempre este entrelaçamento da oração pública e da oração pessoal. Vede
como Jesus rezava: ora a sós, na contemplação do silêncio, ora com o povo, na liturgia da sinagoga ou
do Templo; ora Jesus rezava a sós, no monte e junto ao mar, ora Ele rezava com os seus discípulos
reunidos no Cenáculo. Jesus tanto rezava, no segredo do seu quarto, como erguia os olhos ao céu,
diante de todos! Numa palavra: na oração cristã, nem unicamente a sós, nem exclusivamente com os
outros!]
5. Meus caros irmãos e irmãs: Estamos prestes a começar o «mês de Maria» e o tempo litúrgico da
Páscoa encaminha-nos para a sua plenitude no Pentecostes. O Evangelho põe-nos em contacto com
este Jesus, constantemente em oração. É este então “o momento de reafirmar a importância da oração,
face ao activismo” (Bento XVI, DCE 37). Por muito que haja a fazer, o tempo passado na Oração nunca é
tempo perdido. Seja este mês um tempo propício à oração pessoal e comunitária. Rezemos, a sós, em
grupo ou em comunidade, mas sempre sob o olhar materno de Maria, a Virgem da espera, a Estrela da
nossa Esperança. Rezemos mais. Rezemos melhor, para fortalecer, dilatar, activar e testemunhar a razão
da nossa esperança!
O CÉU E UMA CRIANÇA, DUAS IMAGENS DA ESPERANÇA
Homilia na Solenidade da Ascensão do Senhor A 2008 / Dia da Mãe
Homens da Galileia, porque estais a olhar para o céu?
1. A pergunta, que há dois mil anos, ressoara do alto, dirigia-se então ao olhar assombrado dos
discípulos! Talvez hoje a pergunta nos devesse ser feita ao avesso: “E vós, homens desta Terra,
porque estais a olhar para o chão”? Ou então, como quem denuncia a pequena esperança que nos
minga o olhar, a pergunta podia ser formulada assim: “E vós, homens desta terra, porque deixastes
de olhar para o céu”? De facto, a visão do céu parece ter-se eclipsado hoje, ao olhar ensombrado
do coração poluído de tantos homens e mulheres! A vida eterna deixou de ser desejável, para
muitos de nós; tornou-se até, a nosso pequeno ver, um obstáculo, para todo o proveito desta vida.
Quando muito, para quem enterrou já a sua esperança debaixo dos pés, o que importa não é
alcançar a vida eterna; é simplesmente adiar a morte (cf. Spe Salvi,10). A promessa do Reino dos céus,
pouca ou nada importará, diante da oferta mundana de um reino terreno, conquistado, a pulso,
pelos homens. Sim, como poderá ainda sentir-se fascinado pelo céu, aquele que não deseja mais
que o palmo de terra que pisa no momento, de momento e para o momento?
2. Precisamos então de “um espírito de sabedoria e de luz, que ilumine os olhos do nosso coração,
para compreendermos a esperança a que fomos chamados” (2ª leitura). A isso se destina
precisamente a última aparição pascal de Jesus: a sua Ascensão. De facto, «a Ascensão de Cristo é a
nossa esperança» (Oração colecta). Com esta aparição, Jesus projecta-nos o olhar para o alto; tira-nos
os olhos, mas não os pés, do chão. Faz-nos ver mais alto, mais longe, mais além. Mostra-nos, afinal,
a altíssima vocação, a que estamos chamados. "Elevando-se” à vista dos discípulos, Cristo sobe ao
Céu com aquela humanidade, que é afinal a nossa, mas agora transfigurada, divinizada e eterna.
Portanto, a Ascensão revela, em toda a sua beleza e grandeza, a "altíssima vocação" de cada
pessoa humana, chamada à vida eterna no Reino de Deus. Está assim, dito ao Homem, que ele
pode e deve viver para as alturas de Deus. É só neste patamar, que o Homem pode chegar a ser o
que deve ser. Permanecendo nesta terra, somos chamados a fitar o céu, a orientar a nossa
atenção, o nosso pensamento e o nosso coração para o mistério inefável do amor de Deus. É Deus
a meta, a pátria e o sentido definitivo da nossa vida. A nossa vida é atraída para o céu, isto é, para a
felicidade infinita, na plena comunhão de vida e amor, com Deus e nEle, com todos os nossos
irmãos.
3. Meus caros amigos: a solenidade da Ascensão faz-nos compreender «quem somos», na medida
em que responde à pergunta «para onde vamos?» Vamos com Cristo, para o Pai, envoltos no seu
Espírito de amor! Todavia, a celebração deste dia da Mãe, ajuda-nos ainda a saber quem somos,
porque nos reconduz à pergunta primordial: «donde vimos?» Vimos do «seio materno», desse
lugar sagrado, escolhido por Deus, para o milagre da vida!
Neste sentido, não é apenas o céu «para onde vamos», a imagem da nossa esperança e do nosso
futuro. Também uma mãe, com o seu filho, representa, de maneira única, a nossa esperança.
“Cada criança que nasce é uma confirmação daquela esperança que a pessoa nutre por um futuro
aberto à eternidade de Deus. Aliás, a esta nossa esperança, o próprio Deus respondeu e
correspondeu, nascendo, no tempo, como um pequeno ser humano” (Bento XVI). Por isso,
podemos dizer, com toda a convicção, que a “maternidade” é a expressão mais terna da nossa
esperança eterna! Ao contrário, a grande crise de natalidade põe a nu, sobretudo, a falta de
esperança e a enorme perda de confiança na vida e no futuro. Podíamos acrescentar ao ditado
popular, o seu reverso, e dizer «enquanto há esperança, há vida”.
4. Entre a saudade do seio materno donde viemos e a esperança do seio paterno para onde vamos,
aqui estamos. E não estamos órfãos, nem sós, porque o Senhor está connosco. E connosco deixounos sua Mãe. Depois da Ascensão, Ela estava no meio da comunidade dos crentes, que rezavam
unanimemente, pedindo o dom do Espírito Santo (cf. Act 1,14). Com eles esperou a manifestação do
Reino de Deus, sabendo que “este chega, onde Ele é amado e onde o seu amor nos alcança” (Spe
Salvi,31)! Maria permanece connosco, como nossa mãe! Neste mês, e especialmente neste dia,
também nós a saudamos como “vida, doçura e esperança nossa”!
SOFRIMENTO, LUGAR DE APRENDIZAGEM DA ESPERANÇA
Homilia no V Domingo da Quaresma 2008 (Cf. Spe Salvi, 36-40)
Toco sempre, com respeito sagrado, este drama humano da doença e da morte. Basta que estas “duas
irmãs”, a doença e a morte, entrem pela nossa casa dentro, para percebermos o risco, a inutilidade e
até a ofensa de certas palavras e atitudes, no trato com os que mais sofrem. Prefiro, como Jesus, a
comoção das lágrimas e a proximidade do amor. Se hoje tenho de dizer alguma coisa, seria para
estabelecer uma espécie de diálogo pessoal e amigo, com os doentes, mas que servirá de ajuda a todos
os que deles cuidam. Vou, arriscar, contigo, meu bom amigo, que estás doente, (no corpo, no espírito,
no coração, na mente), dez palavras de sentido, que antes de te ajudarem a ti, me comprometem a
mim:
1º. Escolhe, em primeiro lugar, como companheiro insubstituível da tua dor, Cristo Crucificado, que
porventura trazes ao peito, ou tens à cabeceira do teu quarto. Ele veio a este mundo, padeceu e
compadeceu-se de Ti. Vê que tens assim um valor tão grande, aos olhos de Deus! Ele mesmo Se fez
Homem, para poder padecer contigo, de modo muito real, na carne e no sangue, como se tornou bem
claro na Paixão de Jesus.
2º. Aceita a companhia de Cristo e torna-te seu companheiro. Se te consideras um dos amigos de Jesus,
como Lázaro, não estranhes, teres sido chamado, agora, a participar, pela tua dor, na Sua dor. Na hora
da agonia, sentindo a fraqueza da carne, Jesus chamou, para junto de si, os mais íntimos amigos, que
viriam a dar a vida por Ele. Por isso, não queiras que tua amizade com Jesus funcione como uma espécie
de “seguro de saúde” ou se transforme num “seguro de vida, contra todos os riscos”.
3º. Procura e acolhe, como Jesus, e de bom grado, o apoio da família, dos amigos, da sociedade e da
comunidade cristã, que devem mobilizar todos os recursos para te acompanhar, com o tratamento e a
presença, a visita e a ajuda, a oração e o sacramento da Unção dos Doentes. De facto, todo o Corpo da
Igreja sofre quando um membro sofre. Não te marginalizes na dor e - queira Deus - não te escondam
nunca, ao olhar dos outros. Uma sociedade que não consegue aceitar os que sofrem e não é capaz de
contribuir, mediante a compaixão, para fazer com que o sofrimento seja compartilhado e assumido, é
uma sociedade cruel e desumana. A tua doença é um apelo radical ao melhor da humanidade, na sua
capacidade de compaixão e na proximidade do amor.
4º. Não tenhas medo de exprimir os teus sentimentos, porventura, de revolta, de culpa, de medo, ou de
conflito! Podes mesmo chorar. Também Jesus chorou, diante do amigo Lázaro, morto. Ele chora, por
compaixão amorosa com a tua dor. Chora contigo. São lágrimas de fraternidade, vertidas da miséria da
nossa condição e da abundância da misericórdia do seu coração. Ele está perto dos corações
atribulados!
5º. Transforma o teu grito de dor, em oração de súplica, de confiança e de acção de graças… como
Jesus, que rezava e se confiava a Deus… E não acuses Deus, que é teu aliado, pondo-o no banco dos
réus! Lembra-te que Deus não é um observador distante da tua dor. Ele não intervirá nunca, a partir de
fora, e não Te responderá verbalmente, mas está presente, a partir do teu interior e, de modos
diferentes e misteriosos, ajudar-te-á a enfrentar a dor. A sua graça acompanha e supera toda a
desgraça.
6º. Não te culpes, na dor, a ti ou aos outros. Procura, antes e, tanto quanto possível, ver até onde a dor
te pode levar?! Em vez de perguntares “porquê a mim?”, interroga-te: “que posso eu fazer com tudo
isto que me aconteceu”? Em vez de mergulhares no passado, podes dar um contributo para o futuro.
Nem imaginas quanto bem podes fazer com o sofrimento!
7º. Faz tudo por superar o teu sofrimento e o dos outros, mas eliminá-lo completamente não entra nas
tuas possibilidades, pois estarás sempre neste mundo, como criatura, com os seus limites. A doença e a
morte são os sinais mais evidentes da tua finitude humana. Também Ele convive serenamente com os
limites deste mundo criado por Ele, e que geme (Rom.8,22) tantas vezes, ameaçado e destruído por nós.
8º. Aceita, por isso, a imperfeição da tua natureza humana. E encontrarás coragem, para amar o mundo,
com as suas imperfeições, para amar a irmã natureza, com as suas fraquezas, e para amar a irmã morte
com as suas partidas. Não se pode nascer, crescer e viver, sem sofrer e morrer. Feitas assim as Pazes
com a tua natureza humana débil, orienta o teu corpo e alma, para o céu, para essa vida nova e plena da
ressurreição.
9º. Não queiras encontrar respostas claras, para o “paradoxo da cruz” em que o único Justo, suportou,
sobre si, as nossas culpas e enfermidades. Abre humildemente o teu coração ao mistério do sofrimento.
Mesmo que encontrasses uma resposta, ela não eliminaria a tua dor.
10º. A única resposta cristã à dor é o amor. A “ressurreição de Lázaro” foi apenas o sinal, o início e o
indício da Ressurreição de Jesus, pela qual Deus se mostrou amigo dos homens e o seu Amor se mostrou
mais forte do que a morte. Doravante, o sofrimento tornou-se lugar de aprendizagem da esperança na
vida eterna!
Meu caro doente: perdoa-me o atrevimento de tanto mandamento!
Meus caros irmãos: consolai-vos uns aos outros, com estas palavras!
O JUÍZO, LUGAR DE APRENDIZAGEM DA ESPERANÇA
Homilia nas Exéquias de um suicida
O Juízo de Deus, lugar de esperança
Talvez, neste momento, todos nos interroguemos ou murmuremos, em surdina, sobre o “juízo” divino,
isto é, obre o tipo de desfecho a que chegará o “julgamento final” de uma vida assim interrompida.
São muito luminosas, nesta circunstância, as palavras de Bento XVI, na sua última encíclica, sobre a
Esperança. Ali o Papa afirma categoricamente que o facto de haver um julgamento final da nossa vida é,
para nós motivo, não de terror mas de temor, não de medo mas de esperança. Ele afirma mesmo: “O
Juízo de Deus é esperança, quer porque é justiça, quer porque é graça” (Spe Salvi,47). Expliquemo-nos:
O juízo é justiça
Deus faz justiça. “Só Deus, em ultima instância, pode criar justiça” (Spe Salvi,44) e reparar a injustiça. Aliás,
pensai bem: se o juízo de Deus, não fosse justiça, então não seria levada a sério a nossa vida terrena!
“Deus ficar-nos-ia sempre devedor da resposta à pergunta que lhe fazemos acerca da Sua justiça,
perante tanta injustiça, causa de dor e sofrimento no mundo” (Spe Salvi, 47). Por isso, “a graça de Deus – a
sua misericórdia - não exclui a justiça. Não muda a injustiça em direito. Não é uma esponja que apaga
tudo, de modo que tudo quanto se fez na terra termine por ter o mesmo valor” (Spe Salvi, 44). Por
consequência, “o nosso modo de viver no presente não é irrelevante, para a vida futura”. Não podemos,
por isso, declinar o sentido da nossa responsabilidade humana perante a vida. É preciso dizê-lo: Viver é
obra da responsabilidade do homem, enquanto criatura, aceitando e estimando uma vida que lhe vem
da empatia humana e da sua relação a Deus. Todos havemos de cuidar da nossa salvação «com temor e
tremor» (Fil 2,12). Neste sentido, o juízo de Deus, enquanto justiça, é uma imagem que apela à nossa
responsabilidade” (Spe Salvi, 41.44) em relação à vida que nos foi confiada (Spe Salvi, 41), à minha e à dos
outros.
O juízo de Deus é graça ou misericórdia
Mas, na sua justiça, Deus é também graça ou misericórdia. Sabemo-lo fixando o olhar em Cristo
crucificado e ressuscitado. De facto, se este juízo de Deus, fosse apenas “pura justiça”, então, em
definitivo, tal juízo só podia ser, para todos nós, motivo de ameaça e de terror. Ora é neste ponto que
somos «salvos em esperança», pois nós sabemos que «Deus é amor». A nossa esperança não está, pois,
fiada nos nossos méritos e obras. Ela vem da certeza que, “no momento do Juízo, o amor divino
prevalece” (Spe Salvi.47), o amor de Deus é mais forte, ele vence sobre todo o mal que há em nós. “A
nossa sujeira não nos mancha para sempre, se ao menos continuámos inclinados para Cristo, para a
verdade e para o amor” (Spe salvi, 47) Por isso a graça permite-nos, a todos nós, apesar de tudo, esperar e
caminhar cheios de confiança ao encontro dAquele Juiz, que é nosso «advogado» e defensor (cf. 1 Jo 2,1).
Ele está do nosso lado. E quer que estejamos onde Ele está.
O nosso juízo
É assim o juízo de Deus: justiça e graça. Mas que pensar, direis vós, que juízo de valor fazer, perante o
suicídio de um irmão nosso? Eu diria que a moral cristã refreia todo o ímpeto de condenação, em
relação às pessoas que, com maior ou menor deliberação e liberdade, põem fim à sua vida. É um
acontecimento que escapa à observação, porque se passa, em grande medida, para além do ponto em
que a razão e a compaixão podem penetrar. Deus é maior do que a moral e é maior que o nosso
coração. Por isso, a prudência aconselha que deixemos esse juízo para o misterioso encontro entre Deus
e esta pessoa, que, por razões que não conhecemos, não se achou nas condições para aceitar a
continuação da vida.
Recomendações finais
Perguntemo-nos, antes e sobretudo, que havemos de fazer, irmãos?
Antes de mais, amparemos todas as pessoas, que se encontram de “coração perturbado”, e estão diante
da pior das tentações: a de não continuar a viver e, por conseguinte, na tentação de desertar, de forma
definitiva, desta vida e da sua responsabilidade moral. Ninguém peca sozinho, como ninguém se salva
sozinho!
É nosso dever amparar também aquelas pessoas, que estão de luto, e para quem a dor da morte e a
responsabilidade da vida se tornaram ainda maiores. Elas merecem-nos o dever da presença, da
esperança e da consolação.
Por último, rezemos uns com os outros, uns pelos outros. Mas rezemos sobretudo pelo nosso irmão. À
sua alma, pode ser dado “alívio e refrigério mediante a Eucaristia e a nossa oração” (Spe Salvi,48)!
Que esta seja a hora de Deus: a hora da esperança para nós, a hora da misericórdia para Ele. Na
misericórdia de Deus, está agora e sempre a fonte de toda a nossa esperança!
SALVOS EM ESPERANÇA
HOMILIA NA SOLENIDADE DO PENTECOSTES A 2008
1. «É em esperança que estamos salvos» (Rom.8,24)! Que bela mensagem, a fazer-nos “transbordar de
esperança, pela força do Espírito Santo” (Rom.15,13)! Com este mesmo pensamento, o Papa Bento XVI
iniciou e deu título à Encíclica sobre a Esperança. Reflectimo-la aqui, passo a passo, durante o tempo
pascal. Hoje, ao celebrarmos a Páscoa na sua plenitude, com a descida e o dom do Espírito Santo,
gostaríamos de concluir as nossas reflexões sobre a “esperança em que fomos salvos” (Spe Salvi,1),
descobrindo e invocando o Espírito Santo, como “guarda e animador desta nova esperança” (João Paulo II,
Dom. Vivif.66)!
2. Perguntemo-nos, em primeiro lugar, que significa isto de dizer, «em esperança é que fomos salvos»?
Significa que, pela morte e ressurreição de Jesus, a nossa vida foi salva, ou se quiserem, está a salvo,
mergulhada no oceano infinito do amor de Deus por nós! Em Cristo, morto e ressuscitado, fomos salvos
do «império do mal», pois esse mal foi derrotado, pela força invencível do amor, que une o Pai e o Filho!
Não fizemos nada por isso, nem pagamos nada para isso. Antes, fomos resgatados da escravidão do
pecado, por um alto preço: Jesus entregou a própria vida, ofereceu-a ao Pai, por cada um de nós!
«Fomos salvos» ou «estamos salvos»! Esta salvação é uma realidade nova, está ao alcance de todos; é
um dom que jamais nos podem tirar! Fomos «salvos» de maneira irrevogável, de uma vez por todas.
Todavia, esta confiança e esta certeza absoluta do «amor que nos salva», não é um “facto adquirido”,
para ninguém (cf. Spe Salvi,1)! Faz-se «esperança». Dito de outro modo, a certeza de já estarmos salvos, de
sermos amados e esperados por este amor divino, impele-nos agora a caminhar para o que ainda não
temos! Esta confiança, no amor que nos redime, leva-nos a perseguir o que ainda não vemos, move-nos
a buscar o que ainda não alcançamos, na plenitude! De facto, a salvação, que já está ao nosso alcance, é
um dom fiável; mas, da nossa parte, esta salvação, precisa ainda de ser acolhida plenamente, recebida
totalmente, aceite incondicionalmente, correspondida inteiramente. Diríamos que o dom oferecido da
salvação está “ainda” em nós como que em «gérmen», em «gestação»; vive, geme e cresce, no silêncio
humilde do crescimento lento da nossa vida, desenvolve-se no segredo calado e pesado do nosso
coração, actua criativamente no íntimo do nosso mundo como um fogo, até que frutifique na nossa
vida, e para a vida eterna! Trata-se de um processo lento, porque a nossa liberdade humana resiste e se
demora a inclinar-se para o bem (cf. Spe Salvi, 24b). Por isso ainda não vemos tudo o que esperamos! Aliás,
se tivéssemos já tudo o que esperamos, então deixaríamos de lado a esperança. Pois ver “o que se
espera não é esperança: quem espera o que já vê? Mas esperar o que não vemos é esperá-lo com
perseverança”!
3. “Esperar com perseverança” é esperar sem se iludir com as conquistas da ciência e da técnica, que
tanto ajudam e engrandecem o homem, como o podem ameaçar, diminuir ou destruir (cf.Spe Salvi, 22).
Esperar com perseverança é esperar “sem desesperar” perante a lentidão da nossa resposta ao amor de
Deus, sempre actuante em nós! Quem poderá «esperar assim», sem ilusão e sem desespero, a não ser
pela graça do “Espírito Santo, que nos concede a perfeita esperança” (Sto. Hilário)? Só o “dom do alto” nos
faz esperar tudo de Deus! Só o Espírito Criador, que renova a terra, nos impede do cansaço, na
construção de um mundo novo. Neste entretanto, ou nesta demora, enquanto gememos e sofremos,
pela chegada da hora da plenitude, o Espírito Santo desce sobre nós, “vem em auxílio da nossa
fraqueza”! «Habitando em nós, é o nosso alento» (Sequência do Pentecostes).
4. Assim, “no meio dos problemas, das desilusões e das esperanças, das deserções e dos retornos desta
nossa época, o Espírito Santo é-nos dado para que nos mantenhamos naquela esperança, em que já
«fomos salvos». O Espírito é, por isso, o guarda e o animador desta esperança!” (cf. Dominum et Vivificantem,
66).
Permiti-me que, concretize, esta relação entre o dom Espírito Santo e a virtude da esperança, com este
testemunho:
“Sou um homem de esperança, não por razões humanas, ou por um optimismo natural. Mas,
simplesmente, porque creio que o Espírito Santo actua na Igreja e no mundo, mesmo que estes não o
saibam ou não o vejam!
Sou um Homem de esperança, porque creio que o Espírito Santo será sempre o Espírito Criador que,
todas as manhãs, dá a quem O acolhe uma liberdade nova e uma provisão de alegria e de confiança!
Sou um Homem de esperança, porque sei que a História da Igreja e do mundo é uma história longa,
repleta das maravilhas do Espírito Santo. Pensai nos profetas e nos santos que, em horas cruciais, foram
instrumentos prodigiosos de graças e projectaram na vida um raio luminoso!
Sou um homem de esperança, porque apesar de todos as sombras de pecado, em mim e no mundo que
me rodeia, creio nas surpresas impensadas e impensáveis do Espírito Santo!” (cf. Cardeal Suenens).
(pode ser lido por um leitor no final da homilia ou em vez da oração dos fiéis; se a opção for para a oração dos fiéis, pode
intercalar-se com uma invocação cantada: Vinde, Espírito de amor e de Paz)
(5) P- Nesta «esperança», invoquemos juntos o dom do Espírito Santo:
Vem, Espírito Santo! Convence-nos do pecado e livra-nos da ilusão e da tentação de sermos salvos,
pelas próprias mãos! Sê-nos favorável na clemência, recria no coração a inocência, que nos abre à
esperança em que fomos salvos!
Vem, Espírito Santo! Vem em auxílio da nossa fraqueza e livra-nos da desilusão, do desencanto e do
desespero! Abranda durezas para os caminhantes, anima os tristes, guia os errantes, na companhia dos
santos, quais «estrelas» no caminho da nossa esperança»!
Vem, Espírito Santo! Conquista, incessantemente, a nossa liberdade frágil para o bem, para a beleza e
para a verdade! Benfeitor supremo em todo o momento, sê o alento, sê o guarda e animador da nossa
esperança!
Vem, Espírito Santo! Pelo teu poder criador, faz-nos colaboradores audazes da revolução do amor!
Acende, na terra, a luz fulgente daquela esperança, que atrai o Céu à terra e a Terra ao céu!
Vem, Espírito Santo! Faz-nos perseverar na esperança da vida eterna! Concede a quem que em Ti
confia, transbordar de esperança nesta vida, sentir o teu amparo consolador na morte, e no Céu
encontrar a plena alegria!
MARIA, ESTRELA DA ESPERANÇA
ROSÁRIO A MARIA, ESTRELA DA ESPERANÇA
(Inspirado em Spe Salvi, 49-50)
Ao longo do tempo da Páscoa, temos vindo a percorrer «o caminho da esperança». E
perguntamo-nos agora: Quem nos pode guiar, neste caminho? Quem são as estrelas que nos
guiam, no caminho da vida? Quem são os astros luminosos, que orientam a nossa viagem,
quando tudo parece tão difícil e escuro? Lá no céu, há uma grande Estrela que nos guia. Que é
Maria, a Mãe de Jesus. Neste mês, e especialmente neste dia, também nós a saudamos como
“vida, doçura e esperança nossa”!
Vamos, agora, mistério a mistério, de ave-maria, em ave-maria, recordar os passos de Maria,
no seu caminho de esperança:
[Nota: A partir do esquema que se segue, podem rezar-se cinco mistérios, (tal como a seguir estão assinalados) com 3 pontos de
reflexão cada; mas também se pode fazer de cada um dos pontos, (de 1 a 15), vários mistérios do Rosário, num total de 15. Com
crianças, pode mesmo, adoptar-se o esquema, de rezar três ave-marias, entre cada um dos pontos (de 1 a 15) até se chegar ao
fim]
1º Mistério: Maria espera e dará à luz o desejado das nações
1. Maria, filha de Israel:
Vós pertencíeis àquelas almas humildes e grandes de Israel
que, como Simeão, esperavam «a consolação de Israel» (Lc 2,25)
e, como Ana, aguardavam a «libertação de Jerusalém» (Lc 2,38).
2. Maria, Filha de Sião:
Vós vivíeis em íntimo contacto com as Sagradas Escrituras de Israel,
que falavam da esperança e da promessa feita a Abraão e à sua descendência
(cf. Lc 1,55).
3. Maria, Virgem de Nazaré:
Compreendemos o santo temor que Vos invadiu,
quando o anjo do Senhor entrou nos vossos aposentos
e Vos disse que daríeis à luz Àquele que era a esperança de Israel
e o esperado do mundo!
Refrão:
Estrela da Esperança,
brilhai sobre nós e guiai-nos no nosso caminho!
[Nota: Diz-se este refrão no final das três invocações seguidas se estas constituírem um só mistério; ou no final de cada invocação,
se cada uma delas constituir um mistério]
2º Mistério: Pelo seu “Sim”, Maria torna possível a realização da esperança!
4. Maria, Virgem da Espera e da Promessa:
“Por meio de Vós, através do vosso «sim»,
a esperança dos milénios havia de tornar-se realidade,
entrar neste mundo e na sua história.
5. Maria, nossa Senhora do Sim:
Vós Vos inclinastes diante da grandeza desta missão e dissestes «sim».
«Eis a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra» (Lc 1,38).
6. Maria, Arca da Aliança:
Pelo vosso «sim», abristes ao próprio Deus a porta do nosso mundo;
e tornaste-vos a Arca da Aliança viva,
onde Deus Se fez carne, tornou-Se um de nós
e estabeleceu a sua tenda no meio de nós (cf. Jo 1,14).
Refrão:
Estrela da Esperança,
brilhai sobre nós e guiai-nos no nosso caminho!
3º Mistério: Maria, peregrina da esperança
7. Maria, imagem da Igreja peregrina:
cheia de santa alegria,
atravessastes apressadamente os montes da Judeia
para encontrar a vossa parente Isabel,
então tornastes-Vos a imagem da futura Igreja,
que no seu seio, leva a esperança do mundo
através dos montes da história.
8. Maria, Mãe do Menino nascido:
Sobre o nascimento no presépio de Belém
brilhou o esplendor dos anjos
que traziam a boa nova aos pastores,
mas, ao mesmo tempo,
a pobreza de Deus neste mundo era demasiado palpável.
9. Maria, Senhora da Piedade:
O velho Simeão falou-Vos da espada
que atravessaria o vosso coração (cf. Lc. 2,35),
do sinal de contradição que vosso Filho haveria de ser neste mundo.
Refrão:
Estrela da Esperança,
brilhai sobre nós e guiai-nos no nosso caminho!
4º. Mistério: Maria, discípula da esperança
10. Maria, humilde serva da Palavra:
Quando iniciou a actividade pública do vosso Filho,
tivestes de Vos pôr de lado, e passar despercebida,
para que pudesse crescer a nova família,
dos que ouvem e cumprem a palavra do evangelho (cf. Lc. 11,27s).
11. Maria, discípula do vosso Filho:
Apesar de toda a grandeza e alegria do primeiro início da actividade de Jesus,
Vós, já na Sinagoga de Nazaré, tivestes de experimentar a verdade da palavra
sobre o «sinal de contradição» (cf. Lc 4,28s).
12. Maria, Mulher Admirável:
Vistes o crescente poder da hostilidade e da rejeição
que se ia progressivamente afirmando, à volta de Jesus até à hora da cruz,
quando tivestes de ver o Salvador do mundo, o herdeiro de David,
o Filho de Deus, morrer como um falido,
exposto ao escárnio, entre os malfeitores.
Acolhestes então a palavra:
«Mulher, eis aí o teu filho» (Jo 19,26).
Refrão:
Estrela da Esperança,
brilhai sobre nós e guiai-nos no nosso caminho!
5º Mistério: Maria espera contra toda a esperança
13. Maria, Mãe de todos os Homens:
Da cruz, recebestes uma nova missão.
Ser mãe de uma maneira nova:
mãe de todos aqueles que querem acreditar no vosso Filho Jesus e segui-Lo.
A espada da dor trespassou o vosso coração.
Tinha morrido a esperança?
Ficou o mundo definitivamente sem luz,
a vida sem objectivo?
14. Maria, Mãe Intemerata:
Naquela hora, provavelmente, no vosso íntimo,
tereis ouvido novamente a palavra com que o anjo tinha respondido
ao vosso temor, no instante da anunciação:
«Não temas, Maria!» (Lc 1,30).
Na hora de Nazaré, o anjo também Vos tinha dito:
«O seu reinado não terá fim » (Lc 1,33).
15. Maria, Testemunha da Esperança:
Teria talvez terminado o Reino de Deus, antes de começar? Não;
Junto da cruz, na base da palavra mesma de Jesus,
Vós tornastes-Vos a mãe dos crentes.
Nesta fé que, inclusive na escuridão do Sábado Santo,
era certeza da esperança,
Vós caminhastes, para a manhã de Páscoa.
Refrão:
Estrela da Esperança,
brilhai sobre nós e guiai-nos no nosso caminho!
Ultimas três Ave Marias
1. Maria, Mãe da Igreja:
A alegria da ressurreição tocou o vosso coração
e uniu-Vos de um novo modo aos discípulos,
destinados a tornar-se família de Jesus mediante a fé.
A.M.
2. Maria, Sacrário do Espírito Santo,
Assim Vós estivestes no meio da comunidade dos crentes,
que, nos dias após a Ascensão,
rezavam unanimemente pedindo o dom do Espírito Santo (cf. Act 1,14)
e o receberam no dia de Pentecostes.
A.M.
3. Maria, Mulher vestida de Sol:
O «Reino» de Jesus era diferente
daquele que os homens tinham podido imaginar.
Este «reino» iniciava naquela hora e nunca mais teria fim.
Assim, Vós permaneceis no meio dos discípulos como sua Mãe,
como Mãe da esperança.
A.M.
Salve Rainha
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