Idade Média - nexus.futuro.usp.

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
ESCOLA DE COMUNICAÇÕES E ARTES
DEPARTAMENTO DE BIBLIOTECONOMIA E DOCUMENTAÇÃO
Roger Tioji Numao
A anomia e o manicômio
São Paulo
2° semestre de 2006
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ROGER TIOJI NUMAO (5389876)
A anomia e o manicômio
Trabalho apresentado à disciplina
de
Orientação
Bibliográfica,
oferecida
pelo
Depto.
De
Biblioteconomia e Documentação
da Escola de Comunicação e
Artes da USP no 2o semestre de
2006, sob a responsabilidade da
Profa. Brasilina Passarelli.
São Paulo
2° Semestre de 2006
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Resumo
O trabalho aborda a anomia de um indivíduo na sociedade e de como os
manicômios absorvem estes indivíduos marginalizados.
Palavras-Chave: anomia; loucura; manicômio
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"A pior das loucuras é, sem dúvida, pretender ser sensato num mundo de doidos."
(Erasmo de Rotterdam)
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Sumário
Sumário _____________________________________________ 5
Apresentação ________________________________________ 6
Introdução ___________________________________________ 6
Definição de loucura ___________________________________ 7
A sociedade e as instituições ____________________________ 8
Antiguidade __________________________________________ 9
Idade Média __________________________________________ 9
Renascença_________________________________________ 10
Século XVIII até hoje __________________________________ 11
A sociologia e as políticas de isolamento __________________ 12
Metodologia _________________________________________ 13
Conclusão __________________________________________ 13
Bibliografia __________________________________________ 15
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1. – Apresentação
Este trabalho possui o objetivo de estudar os fatores da exclusão social, de
como a sociedade reage a sujeitos que se comportam fora das regras do convívio
social estabelecido para demonstrar que, a loucura mais do que um problema
psicológico é um problema social. Além disso, estudar-se-á como as instituições
de internamentos de pacientes com doenças mentais podem absorver estas
pessoas marginalizadas, funcionando como lugares de segregação social.
2. - Introdução
Em um mundo de culturas distintas, é natural que os indivíduos ajam de
maneiras
diferentes.
Porém
estas
diferenças,
por
vezes,
nos
causam
estranhamento, principalmente, por não estarmos habituados a elas. Em uma
sociedade onde existem normas e regras de convívio, padronizam-se os
comportamentos e aqueles que não a seguem costumam ser taxados de loucos,
motivo suficiente para isolá-los da sociedade e serem internados em instituições,
como os manicômios.
Num momento em que se falam em aceitar as diferenças, será que agimos
como falamos? Será que os manicômios não camuflam a exclusão de um
indivíduo sob a argumentação de oferecer ajuda psiquiátrica? As pessoas
internadas em manicômios são necessariamente loucas? Os manicômios
funcionam como locais de exclusão social?
Talvez as diferenças entre as diversas pessoas que estão internadas em
manicômios para as que estão do lado de fora destas instituições, são que os
primeiros possuem comportamentos, os quais não são aceitos pela sociedade.
Enquanto os que estão do lado de fora possuem comportamentos que se
enquadram nos padrões do convívio social. Esta, por sua vez, exclui os diferentes
isolando-as do convívio coletivo.
Baseado nesses pensamentos desenvolvi meus estudos a fim de tentar
obter respostas aos questionamentos acima mencionados, assim espero contribuir
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para que as pessoas entendam que os sujeitos não compreendidos, não devem
ser suprimidos da sociedade, mas sim ajudados a coexistirem conosco.
3. - Definição de loucura
Muitos sãos os termos para se designar a “loucura”, como por exemplo,
alienação, esquizofrenia, doentes mentais, distúrbios mentais, neuroses, psicoses,
etc. Não existe um rigor na utilização destes termos, por isso tratá-los-ei como
sinônimos, apesar de saber que, em um estudo mais aprofundado, as palavras
possuirão diferenças significativas.
As definições também são diversas, dependendo da área em que se
procura encontra-se um tipo de definição diferente. Preferi os termos que
diferenciam os “normais” dos “anormais” do ramo da sociologia, mas também
pesquisei algumas definições da psiquiatria.
Como por exemplo, esta: loucura são perturbações dos processos mentais,
onde ocupam o primeiro plano, representações delirantes e ilusões (patológica)
dos sentidos. Doença mental em sentido estrito. (Em medida legal) estado em
que, pela psicose, faltam consciência e responsabilidade das próprias ações e
suas conseqüências. (DORSCH, 2001, p.338)
Já Foucault dizia que “o louco desvenda a verdade elementar do homem:
esta o reduz a seus desejos primitivos, a seus mecanismos simples, às
determinações mais prementes de seu corpo. A loucura é uma espécie de infância
cronológica e social, psicológica e orgânica, do homem” (apud, Flavio Carvalho
Ferraz).
A antipsiquiatria nega a validade de uma abordagem médica ou
psicopatológica dos distúrbios mentais e procuram sua origem em explicações de
natureza política ou sociológica.
Pela sociologia encontram-se dois termos muito correntes: a anomia e o
desvio social. O primeiro utilizado por Durkheim em A divisão do trabalho social e
em O suicídio, que pode ser definido, segundo JOHNSON (1997, p.27), como,
essencialmente, falta de carência de normas sociais, de regras destinadas a
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manter dentro dos limites apropriados o comportamento do indivíduo, que assim
cai num estado de desenfreamento. Uma característica objetiva do sistema
cultural, isto é, os valores, normas, as regras em cuja estrutura o indivíduo se acha
inserido, e não as reações. Estabelece também uma relação de causação
cumulativa entre estado objetivo de anomia e estado dos indivíduos que a
experimentam, notando que o estado de falta de regras ou anomia é reforçado
pela indisciplina das paixões, consequentemente a uma falência anterior das
regras que deveriam mantê-las sob controle.
Enquanto, desvio social pode-se ser definido, segundo JOHNSON (1997,
p.208), como ato, comportamento ou expressão, inclusive verbal, do membro
reconhecido da coletividade, que a maioria dos membros dessa coletividade
avaliam como um afastamento ou uma violação, mais ou menos grave, no plano
prático ou no ideológico, de determinadas normas, expectativas ou crenças,
julgadas legítimas, e às quais de fato o grupo adere; a essa violação a coletividade
tende a reagir com intensidade proporcional ao seu sentimento de ofensa.
E enfim, segundo FRAYZE-PEREIRA (1994, p.20), as definições de loucura
são, explícita ou implicitamente, sempre relacionais. Isto é, designa-se louco o
indivíduo cuja maneira de ser é relativa a uma outra maneira de ser. E esta não é
uma maneira de ser qualquer, mas a maneira normal de ser. Sendo assim, será
sempre em relação a uma ordem de “normalidade”, “racionalidade” ou “saúde” que
a loucura é concebida nos quadros da “anormalidade”, “irracionalidade” ou
“doença”
4. - A sociedade e as instituições
O comportamento humano está sempre em constante mudança, pois os
seres humanos se comportam conforme seus costumes, estes estão sempre em
processo de transformação, devido a inúmeros fatores, como a tecnologia,
religião, política, etc.
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O ponto de vista reflete nosso jeito de ver a realidade, isto está ligado ao
modo de como pensamos, e a maneira de como pensamos relaciona-se com
nossas praxes.
Então, nossos pontos de vista variam com o passar do tempo, uma vez
que, nossos costumes também variam. Sendo assim, muitos conceitos foram
mudados ao longo dos anos. O conceito de loucura não foi diferente, e o modo de
como a sociedade os marginalizava, também.
Em suma, a política de internamento é ligada a evolução das
representações coletivas da loucura. Por isso se faz necessária a apresentação
dessas representações ao longo da história.
4.1 – Antiguidade
Na Grécia a loucura era tratada como uma doença de espírito. A doença
era algo momentâneo curava-se de um dia para o outro. Nessa época são
construídos lugares distantes da civilização, onde a pessoa poderia passar alguns
dias em repouso, para recuperar-se da doença sem nenhum tratamento. Tem-se
assim, a primeira relação de que um lugar poderia curar alguém.
4.2 - Idade Média
A forte religiosidade deste período e as epidemias que a assolaram são
fatos marcantes para a percepção da loucura e a maneira de como ocorre a
marginalização dos indivíduos.
As epidemias como a peste fizeram com que fosse criado o hábito de isolar
os indivíduos. A lepra é vista como um castigo de Deus. “O pecador que abandona
o leproso à sua porta está, com esse gesto, abrindo-lhe as portas da salvação”
(FOUCAULT, 1972, p.6)
Para segregar os leprosos foram construídas instituições que serviam como
depósito de pessoas, esses lugares ficaram conhecidos como leprosários, tinham
apenas a função de manter enclausuradas as pessoas marginalizadas. Não havia
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preocupação em tratá-las. Até mesmo porque muitos achavam que as pessoas se
curariam por milagres, a assistência espiritual era o remédio mais indicado em
casos de doenças e de outros infortúnios.
Durante a Idade Média uma nova função sobrepujou as atribuições
benemerentes daquelas instituições, pois elas foram postas a serviço da
segregação de contingentes populacionais tidos como perigosos ao convívio
comunitário: os mendigos, os vadios, os imigrantes, os loucos, os portadores de
doenças repulsivas ou de outras moléstias cujo caráter transmissível já era
identificado. Com o crescimento do número de doentes cada cidade construiu, em
seus arredores, postos de isolamento para segregação de leprosos. A atividade de
controle público exercida por estes estabelecimentos anunciou uma forma inaudita
de enfrentamentos das doenças transmissíveis: a separação social dos doentes e
sua retenção em instituições. Esse procedimento logo se fez comum, quando o
apogeu das cidades, a partir da Renascença, contribuiu para difusão de novas
epidemias.
4.3 – Renascença
Neste período mantêm-se a visão da Idade Média, algumas das
propriedades da Igreja que foram confiscadas na Renascença, como os
monastérios transformaram–se em locais de exclusão social.
As casas de internamento não tinham uma política do que acolhiam, nessas
casas podiam se encontrar pobres, desempregados, correcionários, vagabundos e
insanos. Passadas as epidemias, as casas ganharam o caráter de assistência
social.
Outra prática comum no Renascimento, era de confinar os loucos em um
navio que os levasse de uma cidade para outra, elas ficaram conhecidas como
naus dos loucos. Foram muitas as cidades da Europa que viram essas naves de
loucos atracarem em seus portos. Muitas cidades eram vistas como exílios rituais,
e eram visitadas por estas embarcações, seus tripulantes e, principalmente, as
pessoas que a embarcavam acreditavam que a loucura era apenas algo
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momentâneo, que poderia ser curado por milagre, por isso visitavam terras
consideradas sagradas, havia peregrinações por esses locais e eles eram
“perdidos” ali.
4.4 - Século XVIII até hoje
Vários relatos da época atentaram para o fato de que os hospitais, por mais
que se pretendesse utilizá-los como instrumento para contenção e supressão de
fatores perturbadores da ordem pública, haviam se convertido em fonte de muitas
desordens e efeitos patológicos, com graves conseqüências para vida urbana.
Os hospitais sofreram diversas transformações, ocorridas no século XVIII, isto
resultou, principalmente, de uma crença que essas instituições pudessem vir a
exercer uma ação terapêutica efetiva e potencialmente eficaz sobre os doentes
internados, caso superassem sua condição insalubre. Desde a antiguidade, as
instituições de atenção às doenças e o implemento da medicina haviam se
desenvolvido de forma autônoma e independente, com poucas ocasiões de
aproximação mais estreita.
A partir do início da Idade Contemporânea, no entanto, as séries médica e
hospitalar convergiram para uma associação praticamente integral, o que refletiu
no fato de a figura do médico ter sido alçada à posição de maior destaque técnico
e administrativo do estabelecimento sanitário.
Esses processos resultaram em reformas, tanto dos hospitais quanto nos
conhecimentos médicos configurando a instituição como ela é hoje em dia.
Apesar de todas estas transformações a exclusão e o isolamento asilar
deram-se nos hospitais, os quais se prestaram ao controle e ao disciplinamento da
vida urbana. Nesse sentido, puderam-se perceber em seu funcionamento diversos
pontos similares aos observadores nos estabelecimentos penais do mesmo
período.
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5. - A sociologia e as políticas de isolamento
Um tema pouco aprofundado na sociologia são os estudos de como a
etnologia se aplica a psiquiatria, e esta por sua vez, aplica-se bastante mal a
fenômenos verificados em contextos sociais diferentes do nosso. Impor um ponto
de vista psiquiátrico sobre o polimorfismo das manifestações humanas é freqüente
e, por muitas vezes, violenta. Porém se levarmos em conta a maneira pela qual a
loucura é vivida, sentida e pensada, em contextos sociais diferentes do nosso,
somos obrigados a admitir que o vínculo entre a loucura e a patologia não é
universal.
O que podemos aprender com o ponto de vista da etnopsiquiatria é que
devemos alargar nossa compreensão do homem e do mundo humano através da
criação de um único campo, onde os outros e nós mesmos nos tornamos
inteligíveis por nossas singularidades, ou melhor, pelas diferenças que existem
entre eles e nós. Para que se entenda que diversidade não é necessariamente
doença.
O desvio social é a referência a uma coletividade determinada e ao seu
sistema de direito, pois não existem desvios em si mesmos, mas apenas
definições sociais daquilo que é um ato correto ou um ato fora das normas. Se a
norma de duas coletividades a que o sujeito pertence conflitarem entre si, o
mesmo ato pode ser visto como anti-social em relação às normas de uma, mas
totalmente conforme às normas da outra.
A dinâmica da desordem mental se inscreve num sistema em que
colaboram, ao mesmo tempo, o desviante e a sociedade. Sendo assim, não é só o
começo que faz parte do sistema, mas também seu fim. A cura é reconhecida com
a ajuda de critérios que podem mudar de uma cultura para outra, a participação na
produtividade da sociedade global é um desses critérios. (BASTIDE, 1967, p.147)
Então, os motivos da exclusão da sociedade pode se dar por dois motivos:
utilidade social e segurança dos cidadãos. Os loucos são marginalizados pela
sociedade ou porque queriam se defender ou porque queriam se livrar deles.
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6. - Metodologia
O estudo se realizará a partir da leitura de uma bibliografia que aborde os
aspectos de exclusão da sociedade, seus mecanismos, e motivos. Uma
bibliografia que também aborde a história das casas de internamento, suas
políticas para a internação e os internos.
Um questionário será utilizado para observar os pontos de vista da
população e dos médicos psiquiatras que trabalham em sanatórios sobre a
loucura, a tolerância ao diferente.
Deverá haver um estudo para definir o que perguntar e de onde e como as
amostras serão recolhidas, a fim de validar a pesquisa.
7. - Conclusão
Em um lugar onde há um sistema de regras e normas de conduta, cria-se
uma padronização de nossas ações, o que traz consigo a diferença. Isto que
deveria ser um raciocínio lógico parece não ser muito bem compreendido pela
sociedade, uma vez que, a rejeita e ou a esconde. Aqueles que não seguem as
padronizações de conduta são isolados do convívio social, fato que também
acontece quando o indivíduo é alvo de preconceitos. Por estes motivos muitas
destas pessoas são consideradas loucas, quando na verdade na a são, porém,
são internadas em instituições psiquiátricas.
Poucas foram as tentativas de integrar, ou reintegrar, o indivíduo isolado
pela sociedade, seja isto feito pelos mais diversos motivos, o excluído é
desumanizado, sendo afastado não só por preconceitos, motivos de utilidade
social ou por colocar em risco a segurança de outros cidadãos, mas também como
uma medida higienista. Onde essas atitudes deploráveis são camufladas em
instituições como os manicômios, que o governo chama de Serviços Residenciais
Terapêuticos em Doenças Mentais, sabemos que essas instituições estão longe
de possibilitarem aos pacientes a inserção social, a qual se destinam, mas como
disse na apresentação não discutirei este aspecto. O fato é que a legislação
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vigente destes órgãos governamentais possibilita que a exclusão social dos
indivíduos que a sociedade não aceita seja feita nestes locais.
A sociedade sempre excluiu aqueles que nela não se enquadravam, os
motivos desta exclusão variaram através dos séculos, assim como o modo de
tratá-los e isola-los. Baseando-me nos estudos que foram feitos para a confecção
desta obra concluo que, atualmente, a prática de afastar tais pessoas, sejam elas
consideradas loucas ou não, ainda persiste. E os lugares de isolamento social
resistem ao tempo apesar das mudanças de seus nomes e os manicômios
configuram-se como um destes locais.
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8. - Bibliografia
ALBUQUERQUE, J. A. Guilhon. Metáforas da desordem: o contexto social da
doença mental. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978.
BASTIDE, Roger. A sociologia das doenças mentais. São Paulo: Editora
Nacional: Editora da Universidade de São Paulo, 1967.
CUNHA, Maria Clementina Pereira. Cidadelas da ordem a doença mental na
República. São Paulo: Editora Brasiliense, 1990.
DORSCH, Friedrich; STAPF, Hartmut H. K. Dicionário de Psicologia Dorsch.
Rio de Janeiro: Vozes, 2001.
FRAYZE-PEREIRA, João. O que é loucura. São Paulo: Editora Brasiliense, 1993.
FOUCAULT, Michel. História da loucura. São Paulo: Editora Perspectiva, 1972.
GOFFMAN, Erving. Manicômios, Prisões e Conventos. São Paulo, Ed.
Perspectiva, 1999. 6ª edição.
JOHNSON, Allan G. Dicionario de sociologia: guia prático da linguagem
sociológica. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997
PESSOTTI, Isaias. A loucura e as épocas. Rio de Janeiro: Editora 34, 1994.
VELHO, Gilberto. Desvio e divergência: uma crítica da patologia social. Rio de
Janeiro: Zahar Editores, 1974.
WING, J. K. Reflexões sobre a loucura. Rio de Janeiro: Zahar , 1979.
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