9 de Outubro Beato Antônio Patrizi Presbítero

Propaganda
9 DE OUTUBRO
BEATO ANTÔNIO PATRIZI
PRESBÍTERO
O Beato Antônio nasceu e viveu em Sena (Toscana), na segunda metade do século XIII. Ingressou
no convento agostiniano de Lecceto, sendo transferido, mais tarde, ao de Monticiano, onde viria a
morrer, numa noite de 1311, quando se dispunha a visitar um amigo no ermo de Camerata. A
dimensão contemplativa -tão importante na espiritualidade agostiniana– tem em Antônio Patrizi
um singular expoente. Sua contemplação traduziu-se num profundo amor a Deus e num incansável
e exemplar serviço aos irmãos, sempre aberto às diversas necessidades da Igreja. Em sua
memória, ilustra-se o fervor dos primeiros anos de vida da Ordem de Santo Agostinho. Seu culto,
que provém de tempos imemoriais, foi confirmado em 1805.
Do Comum dos santos homens: para religiosos.
OFÍCIO DAS LEITURAS
SEGUNDA LEITURA
Do Tratado “Das gestas do Senhor Salvador”, do Beato Simão de Cássia, presbítero
(Lib. IV, cap XI, ed. W. Eckermann OSA, Romae 1998, CSA VII/2, pp. 91-93)
Descansar com Cristo no deserto é a finalidade do amor
Disse Jesus aos apóstolos: “Vinde sozinhos para um lugar deserto, e descansai um
pouco”. Cristo afasta os seus apóstolos da mentalidade e dos costumes mundanos.
Concebido e nascido separado de todos os homens, embora fosse homem com os homens,
leva também uma vida apartada dos homens em razão da excelência pela qual era ele um
homem acima de todos os outros homens.
E convida os seus discípulos a viverem completamente afastados daqueles que
normalmente vivem mal. Afastados, porém, não em casas de cidades, não em casas de
reis, não nos salões dos próceres do mundo, não em castelos, não em palácios murados
com janelas guarnecidas e tetos artesoados de ciprestes, não em casas de veraneio nem em
jardins de inverno. Aonde os convida então? “Sozinhos para o deserto”, ou melhor “para
um lugar deserto”. Era necessário, em primeiro lugar, que amassem o deserto e se
sentissem atraídos por sua amenidade e beleza, os que haveriam de pregar contra as
amenidades e a beleza do mundo, que conduzem à perdição das almas. Os que haveriam
de ir em pós da salvação das almas precisavam ser prevenidos na vida, nos costumes e na
doutrina, por meio da força do Espírito Santo, contra tudo que lhes fosse contrário.
A maior admiração, porém, eleva-se o espírito, quando o Salvador acrescenta: “E
descansai um pouco”. Onde se acha tal descanso? No deserto. Onde está a paz? No
deserto. Onde a tranquilidade? No deserto. Onde o retiro da perseguição dos homens? No
deserto. Onde o refúgio da maldição das línguas? No deserto. Onde descansa o olho
petulante? No deserto. Onde repousa o ouvido dos clamores enfadonhos? No deserto.
Onde descansa a força do vento? No deserto. Onde deixa o gosto de ser solicitado? No
deserto. Onde cessa a agitação variegada e estéril? No deserto. Onde o homem pode
entreter-se em colóquio consigo mesmo? No deserto. Descansemos, pois, um pouco no
deserto, já que a isso nos convida o Senhor.
Descansar no deserto é deixar as impertinentes ações do mundo. É conservar o espírito
em paz em todas as renúncias que ele faz, e perder o favor dos homens, é empenhar-se em
BEATO ANTÔNIO PATRIZI (09 DE OUTUBRO)
conquistar a paz imperturbável, fugindo das más ocasiões e daquelas, em que se fomenta e
se favorece agradável e desnecessariamente a sensualidade: eis o santo repouso do deserto.
O Filho de Deus queria, em primeiro lugar, descansar no deserto. Era mui conveniente
que ao descanso convidasse os apóstolos que ele havia de mandar ao inquieto mundo, de
modo que fizessem experiência da bondade do repouso da alma racional, da doçura da
contemplação dos mistérios divinos, do deleite da separação dos homens e dos negócios
mundanos, os que se dispunham a afastar do mundo os atraídos por seus atrativos.
E Cristo não os enviou a descansar um pouco no deserto sem ele, mas chamou-os a
partilhar de seu próprio repouso juntamente com ele. Não haveria, pois, sem Cristo,
descanso que fosse justo no deserto; com ele, porém, em qualquer lugar encontra-se
repouso. Não será o lugar inóspito, nem o leito áspero, nem a tempestade marinha, nem o
terremoto, nem o vendaval, nem o raio repentino, nem o trovão, a trazer perturbação, se a
alma descansa com Cristo.
Descansar com Cristo no deserto é a finalidade do amor. E o esposo conjura a criação
inteira a que deixe descansar a amada, até que ela o queira. Todo amor vacila, a não ser
que descanse em Cristo. Os desejos estão em meio às tempestades, a não ser que a ele se
dirijam. Aonde quer que a alma se voltar, sentirá aguilhões a espetá-la, afadigar-se-á com
pés machucados, portará uma coroa de espinhos, com o terror sempre em seus ouvidos,
sofrerá insídias em sua paz e todo lugar lhe trará tormento, se não tiver descansado com
Cristo no deserto. Entenda-se o deserto do repouso com Cristo, quando estranho algum se
infiltra entre ele próprio e a alma, e a alma a nada se apega, a não ser àquilo que sabe ser
aprovado por quem a convida a descansar consigo.
RESPONSÓRIO
Cfr. SANTO AGOSTINHO, Confissões X, 20, 29
R/. Quando vos procuro, ó meu Deus, procuro a felicidade da vida.
* Procurar-vos-ei para que minh’alma viva.
V/. O meu corpo vive da minha alma, e a alma vive de vós.
R/. Procurar-vos-ei para que minh’alma viva.
Ou:
Do Tratado sobre a grandeza da alma, de Nosso Pai Santo Agostinho, bispo
(De Quantitate animæ 33, 74-76, passim: PL 32, 1075-1077; NBA 3/2, 119-123).
Os graus da contemplação
Quando a alma estiver livre de toda imperfeição e limpa de manchas, então deveras se
alegrará, por fim, em si mesma, e não temerá absolutamente coisa alguma por si, nem se
angustiará por sua causa no que quer que seja. Esse é, pois, o quinto grau: uma coisa é,
com efeito, alcançar a pureza, outra, conservá-la; uma coisa diferente é, ainda, a ação pela
qual a alma manchada se purifica, outra, a ação pela qual não aceita manchar-se de novo.
Neste grau, a alma concebe plenamente sua grandeza: e ao concebê-la, com uma ingente e
incrível confiança, tende para Deus, isto é, para a própria contemplação da verdade, e para
aquele altíssimo e secretíssimo prêmio pelo qual tanto labutou.
Mas tal ação, ou seja, o apetite de entender o que verdadeira e sumamente é, é a visão
mais alta da alma: nada tem ela que seja mais perfeito, nada melhor, nada mais reto do que
isso. Trata-se, pois, do sexto grau de sua ação. Uma coisa é, pois, purificar o próprio olho
da alma, para que ela não olhe de modo vão e temerário, e veja mal; outra, guardar e
robustecer esta mesma saúde; e outra, dirigir o olhar sereno e reto ao que se há de ver.
Pág. 2
LITURGIA AGOSTINIANA DAS HORAS
Os que o querem fazer, antes de terem sido purificados e curados, vêm a ser de tal
maneira ofuscados por aquela luz da verdade, que não só pensarão não haver nela nada de
bom, mas também que há ali muito de mal. Recusam-lhe, então, o nome de verdade e,
maldizendo a medicina, refugiam-se, com certo capricho e miserável prazer, nas trevas
que sua enfermidade pode tolerar. Por isso, sob inspiração divina e mui apropriadamente,
foi dito pelo profeta: “Criai em mim um coração que seja puro, dai-me de novo um
espírito decidido”. Ora, o espírito decidido, creio eu, é aquele pelo qual a alma não pode
desviar-se nem errar na busca pela verdade. Tal espírito, certamente, nela não se instaurará
se o coração não tiver sido purificado antes, ou seja, se o próprio pensamento não se tiver
afastado e limpado de todo desejo e do lodo das coisas passageiras.
Com relação à própria visão e contemplação da verdade, que constitui o sétimo e
último grau da alma -e já nem seria um grau, mas certa morada à qual se chega por
aqueles graus- o que direi eu? Que alegrias, que fruição do sumo e verdadeiro Bem, que
inspiração de sua serenidade e eternidade haverá? Certas almas grandes e incomparáveis
disseram quanto julgaram que devesse ser dito a respeito de tais realidades, que, cremos,
foram e são por elas vistas. Ouso dizer-te isso agora de modo claro.
Nós, se observarmos de modo mui constante o percurso que Deus nos ordena e que
acolhemos para por ele caminhar, havemos de chegar pela Virtude e pela Sabedoria de
Deus àquela suma Causa, ou sumo Autor, ou sumo Princípio de todas as coisas, ou como
quer que se chame ainda, com mais propriedade, uma tão sublime Realidade, por meio de
cujo entendimento, veremos verdadeiramente que todas as coisas que existem debaixo do
sol são vaidade das vaidades. Vaidade, com efeito, é a falácia; e vaidades, por sua vez, são
os enganados, ou enganadores, ou ambos de uma vez. Pode-se, entretanto, conhecer a
grande diferença que existe entre tais coisas e as que verdadeiramente são; e como, por
outro lado, também estas mesmas coisas foram criadas todas elas por Deus autor; e ainda
que estas, embora se comparadas àquelas nada sejam, vistas em si mesmas, porém, são
admiráveis e belas.
Então compreenderemos quão verdadeiras são as realidades em que se mandou que
crêssemos, de que maneira tão excelente e salutar fomos nutridos junto à mãe Igreja, e
qual a utilidade daquele leite que o apóstolo Paulo declarou ter dado, como bebida, aos
pequenos. É muito útil receber esse alimento, quando alguém se nutre ainda da mãe.
Quando já se é adulto, é vergonhoso. Rejeitá-lo, quando dele se necessita, é lamentável.
Criticá-lo às vezes ou mesmo odiá-lo é atitude criminosa e ímpia. Administrá-lo, porém, e
distribuí-lo de modo conveniente é ato mui louvável e caritativo.
Veremos também as muitas mudanças e vicissitudes desta natureza corpórea,
enquanto ela obedece às leis divinas, que até a própria ressurreição da carne, em que
alguns chegam a crer tardiamente e outros absolutamente não creem, teremos por coisa tão
certa, que mais certo não será para nós o fato de que o sol, uma vez posto, vai tornar a
nascer. Com relação aos que riem do homem assumido pelo todo-poderoso, eterno e
imutável Filho de Deus como exemplo e primícias da nossa salvação, de ter ele nascido da
Virgem, e dos outros milagres desta história, nós os desprezamos como àqueles meninos
que, ao verem um pintor pintando as tábuas que tem diante de si, pensam que o homem
não poderia pintar, se aquele que pinta não olhasse para outra pintura.
Por outro lado, tão grande é o prazer na contemplação da verdade, seja qual for o
aspecto sob o qual se pode contemplá-la, tanta a pureza, a sinceridade, a fé indubitável das
coisas, que ninguém pensará ter sabido coisa alguma em outro tempo, quando lhe parecia
que sabia. E a fim de que a alma não venha a ser impedida de unir-se completamente à
Pág. 3
BEATO ANTÔNIO PATRIZI (09 DE OUTUBRO)
verdade completa, seria de desejar, qual supremo benefício, a morte, que anteriormente se
temia, ou seja, a onímoda fuga e a evasão deste corpo.
RESPONSÓRIO
Cfr. SANTO AGOSTINHO, De Trin. XV, 28, 51
R/. Ó Senhor meu Deus, única esperança minha, * fortalecei o que vos busca, a
quem permitistes que vos encontrasse.
V/. Cumulastes-me de esperança de sempre mais vos encontrar.
R/. Fortalecei o que vos busca, a quem permitistes que vos encontrasse.
ORAÇÃO
Ó Deus, que atraístes admiravelmente o Beato Antônio, presbítero, a uma vida de
silêncio e contemplação, concedei que seu exemplo nos anime no conhecimento das
realidades eternas. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito
Santo.
R/. Amém.
Pág. 4
Download