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AS PERSPECTIVAS PARA O SÉCULO XXI
A corrida pela hegemonia mundial
1- Uma importante dúvida geopolítica sobre este novo século se refere às possibilidades de cada região do globo: quem deverá se sair bem, ou seja,
quem sairá ganhador nesta nova ordem mundial? E quem, provavelmente, vai se sair mal, ou seja, sairá perdedor? As mudanças hoje são muito mais
rápidas que no passado e os países que progridem em um ritmo lento certamente vão ficar para trás, o que significa que as desigualdades
internacionais deverão aumentar ainda mais.
1.1- Convém lembrar, em primeiro lugar, que existem alguns processos fundamentais para compreendermos as perspectivas para o século. XXI: a nova
ordem mundial com a Terceira Revolução Industrial e a globalização, além da enorme importância do ensino, da ciência e da tecnologia.
1.2- De um lado, os prováveis ganhadores, regiões ou países que conhecerão um grande desenvolvimento neste século, serão aqueles que
modernizarem de forma mais eficaz suas instituições e sua economia, o que significa dispor de:
 Um ótimo sistema de ensino, com excelentes universidades e institutos de pesquisas científicas e tecnológicas;
 Uma força de trabalho qualificada e com uma elevada escolaridade média;
 Um enorme mercado consumidor, ou seja, de populações com alto nível médio de rendimentos e de poder de consumo;
 Um Estado eficiente, ou seja, um poder público que se ocupe com competência de algumas atividades básicas (educação e saúde, a lei e a ordem,
incentivos ao desenvolvimento) e não desperdice recursos nem seja burocratizado (isto é, com excesso de funcionários e atividades sem importância).
1.3- De outro lado, os prováveis perdedores ou retardatários – o que vão ficar relativamente mais pobres ou atrasados – serão aqueles que não
puderem ou não conseguirem dispor desses elementos mencionados. Serão, portanto, nações onde o Estado é ineficiente (existe uma corrupção e
desperdício de recursos e não se investe adequadamente na educação e na pesquisa científica e tecnológica), onde a força de trabalho em geral não é
qualificada nem tem uma elevada escolarização, onde o mercado consumidor não é muito atraente em virtude da pobreza geral ou da péssima
distribuição social da renda (uma minoria concentrando os recursos), etc. Mas vamos detalhar melhor isso nas linhas a seguir.
1.4- Os estudiosos concordam com a afirmação de que o século XIX foi britânico (do Reino Unido, o país hegemônico nesse período) e o século. XX foi
norte-americano. De quem será o século. XXI: dos Estados Unidos novamente, como afirmam vários autores, da Europa unificada, do Japão ou da
China? Ou talvez de ninguém em especial, mas de todos esses países ou regiões ao mesmo tempo? É interessante constatar que nenhum especialista
no assunto aposta numa supremacia da América Latina, da África, da Rússia, da Oceania e de grande parte da Ásia (exceto a China e o Japão,
principalmente, e também os Tigres Asiáticos). Por que será?
1.5- A disputa pela hegemonia mundial hoje, ao contrário dos séculos anteriores – pelo menos até o XIX –, não se faz mais tão-somente com
armamentos e com guerras. A disputa econômica e tecnológica tornou-se mais importante que a disputa militar. O fator decisivo nessa disputa pela
hegemonia mundial no século XXI não será quem tem o melhor exército, mas quem tem a economia mais moderna, o melhor padrão ou qualidade de
vida para suas populações, a tecnologia mais avançada. Os recursos humanos – a população com a sua escolaridade e o seu poder aquisitivo – são
mais importantes do que os recursos naturais, do que os armamentos e até mesmo do que apenas os recursos financeiros. Inúmeros exemplos atestam
esse fato:
 Alguns países exportadores de petróleo, a começar pela Arábia Saudita, que acumularam fortunas de centenas de bilhões com esse recurso natural.
Apenas isso, no entanto, não garante a eles nenhum futuro especial no transcorrer do século. XXI. Eles nem sequer são considerados economias
desenvolvidas e tampouco candidatos a esse status; podemos imaginar qual será a sua situação no momento em que essa fonte de energia não for
mais importante para a sociedade moderna.
 Estados riquíssimos em minérios ou bons solos agricultáveis que também não conseguem se desenvolver: Rússia, Casaquistão, Ucrânia, Brasil,
África do Sul, Nigéria, etc.
 Países como o Paquistão ou a Coréia do Norte que investiram uma soma imensa de recursos em armamentos, inclusive bombas atômicas. Isso,
porém, não impediu que eles continuassem a fazer parte do mundo subdesenvolvido, aliás, de sua parte mais pobre e atrasada.
 Países subdesenvolvidos que, em contrapartida, investiram, nas ultimas décadas, de forma intensa e eficiente na educação e na tecnologia – tais
como Coréia do Sul, Cingapura e outros – e que já são considerados economias desenvolvidas.
1.6- Depois dessas considerações, vamos examinar os pontos fortes e os fracos dos principais candidatos a grande potencia mundial, avaliando as
chances de cada um deles para se sair bem no século XXI.
Europa
2- A Europa – ou melhor, a União Européia – tem chances de voltar a ser o centro mundial de poder, posição que teve desde o século XVI e só perdeu
no século XX, notadamente com as duas grandes guerras mundiais. O seu grande desafio é integrar à União Européia todo o continente, ou seja, a
Europa oriental e as nações européias da CEI (Rússia, Ucrânia e algumas outras).
2.1- O ponto mais forte da Europa é a sua população. São cerca de 720 milhões de pessoas com um bom poder aquisitivo médio e com uma elevada
escolaridade média, a maior de todos os continentes. Isso é fundamental, pois, como já mencionamos, o mais importante na atualidade são os recursos
humanos, as pessoas – especialmente do ponto de vista de sua escolaridade ou qualificação e de seu poder aquisitivo ou de consumo –, não mais os
recursos naturais (o tamanho do território e suas riquezas: solos, minérios, etc.) nem mesmo o poderio militar, que já tiveram maior importância no
passado. Até os países mais pobres da Europa, como a Albânia, sempre valorizam a educação, e a situação européia nesse aspecto é excelente,
melhor do que a de qualquer outro continente desde que se compare a situação média.
2.2- A Europa conta ainda com uma economia moderna, que já atingiu em várias regiões o estágio da Terceira Revolução Industrial (especialmente na
Alemanha, na França, no Reino Unido, no norte da Itália e nos Países Baixos) e produz de tudo, desde supercomputadores até vinhos, desde robôs até
queijos, desde remédios até sofisticados peixes (salmão, bacalhau, truta, etc.).
2.3- O ponto mais fraco da Europa talvez seja a dificuldade que ela tem em conciliar a grande heterogeneidade ou as diferenças de povos e culturas
(idiomas, hábitos, religiões, tradições), o que originou rivalidades milenares e já deu origem a inúmeras guerras. Basta lembrar que o século XX
começou com uma guerra na Europa, na região das Bálcãs (onde se localizam a Sérvia, Montenegro, a Croácia, a Grécia, a Bósnia-Herzegovina e
outros Estado), e terminou com uma outra sangrenta guerra nessa mesma região européia, a Guerra do Kosovo.
2.4- Cabe lembrar ainda o crescente racismo na Europa ocidental, que vem ocasionando conflitos violentos, e os constantes atritos entre os povos
ocidentais e os islâmicos, que se multiplicam nas grandes cidades européias. Além disso, a população européia está envelhecendo mais rapidamente
que as dos demais continentes e, com isso, existe a necessidade de continuar a receber um grande número de imigrantes, o que poderá agravar ainda
mais os preconceitos, o racismo e o fundamentalismo.
2.5- Alguns partidos de extrema direita, que muitas vezes são exageradamente nacionalistas e até racistas, vem ganhando um numero cada vez maior
de adeptos ou eleitores em vários países da Europa ocidental e, se eles conseguirem chegar ao poder, poderemos ter um novo tipo de totalitarismo no
século XXI. E não podemos esquecer que foi exatamente o totalitarismo – especialmente o da Alemanha nazista – que originou a grande decadência
da Europa no século XX.
2.6- Todavia, se os povos europeus conseguirem superar essa crescente onda de fundamentalismos ou extremismos, de a UE se expandir, integrando
o Leste europeu e os países ocidentais da CEI, se conseguir uma coexistência pacífica e democrática entre as minorias étnicas, algo dificílimo mas não
impossível, então a Europa provavelmente voltará a ser uma espécie de centro (cultural, político e até econômico) do mundo no século XXI.
Estados Unidos
3- Se a disputa pela hegemonia mundial fosse apenas entre Estado nacionais, ou países, não haveria dúvida que os Estados Unidos teriam toda a
vantagem. É a maior economia e o maior mercado nacional de consumo do globo, com uma população de cerca de 280 milhões de habitantes e um
altíssimo poder aquisitivo médio, embora o nível médio de alfabetização, apesar de elevado para os padrões mundiais, seja bastante inferior ao de
países como a Alemanha, o Japão ou a Suécia.
3.1- Mas a disputa, no século XXI, não é mais somente entre Estado, e sim entre megablocos, dos quais o mais importante é a UE. Este é o grande
problema norte-americano: este Estado prefere atuar sozinho em nível planetário e fica indeciso com o avanço dos mercados regionais. Os EUA,
provavelmente, nunca concordarão em construir nas Américas uma associação semelhante à UE, onde há uma integração quase total (econômica,
política e futuramente até militar) entre os países membros. Sua preferência é liderar, de cima para baixo, zonas de livre comércio, ou seja, uma
associação apenas econômica – ou melhor, comercial –, onde não há integração política ou militar, nem livre circulação da mão-de-obra.
3.2- Juntamente com o Canadá e o México, os Estados Unidos criaram o Nafta, que até hoje suscita reações contrárias em grande parte da população
e dos políticos do país e que não avança, não se expande continuamente tal como ocorre na Europa, onde se investiu pesadamente na modernização
das regiões mais pobres e se criou uma moeda única, uma cidadania única para os povos, uma intensa liberdade da mão-de-obra para trabalhar
livremente em qualquer dos países membros, etc.
3.3- Os Estados Unidos lideraram a criação da Alca – Área de Livre Comércio das Américas –, a ser oficializada em 2005. mas a Alca será apenas uma
zona de livre comércio, que, aliás, já desagrada a uma significativa parcela da população dos Estados Unidos, que prefere o isolacionismo e rejeita
qualquer integração com países subdesenvolvidos. Muitos países latino-americanos, notadamente os do Mercosul e, em particular, o Brasil, por sua
vez, desconfiam que os Estados Unidos não estão interessados no desenvolvimento industrial desta parte do continente, mas apenas em ter um
mercado para colocar suas exportações de produtos com maior valor agregado. Dessa forma, é ainda duvidoso que tanto o Nafta quanto a Alca sirvam
de fato de um megabloco que vai fortalecer essa região do globo diante da Estado ou da Ásia.
Japão, China e Índia
4- O Japão saiu na frente na Terceira Revolução Industrial, no fim dos anos 1970 e na década posterior. Foi o país que mais investiu em tecnologia e,
especialmente, em robótica naquele período. Ele ainda tem mais robôs que qualquer outro país do mundo e, na segunda metade só século XX, foi a
economia que mais cresceu e se modernizou em todo o planeta. Em 1960, por exemplo, nenhum dos dez maiores bancos do mundo era japonês, mas,
em 1990, quatro deles já o eram. O país, que nos anos 1950 era atrasado em microeletrônica, em informática e em outros setores avançados, nos anos
1980 era o líder mundial na maioria deles. O Estado japonês construiu o melhor sistema escolar público do mundo nos anos 1970 e 1980.
4.1- Em 1990, a imensa maioria dos especialistas considerava o Japão o principal candidato a maior potencia mundial do século XXI. Mas, desde
então, muita coisa mudou e hoje essa idéia parece fantasiosa. O final da bipolaridade e da Guerra Fria prejudicou o Japão, pois o término dos mundo
socialista fez com que os Estados Unidos começassem a se preocupar com a ameaça econômica japonesa. Nos anos 1960, 1970 e 1980, os Estados
Unidos viam o Japão como um importante aliado na luta contra o comunismo e, por sinal, auxiliaram muito a reconstrução econômica desse país nos
anos 1950, já que era necessário mostrar aos países asiáticos que o capitalismo era melhor que o socialismo. Dessa forma, não ligavam para as
práticas japonesas de dumping nem para os constantes e imensos déficits que tinham todos os anos nas relações comerciais com o Japão.
4.2- Mas, com o final da Guerra Fria, os Estados Unidos, o grande comprador das exportações japonesas, começaram a pressionar o Japão a acabar
com o dumping e importar mais produtos deles. Além disso, a China, que se abriu ao capitalismo desde o fim dos anos 1970 e começou a exportar
mercadorias a preços mais baixos que os japoneses a partir do fim dos anos 1980, passou a inundar o mercado mundial com produtos que, muitas
vezes, concorrem com os do Japão. A China, que exportava menos de 2 bilhões de dólares no ano na década de 1970, passou a exportar 35 bilhões
de dólares em 1985 e cerca de 250 bilhões de dólares em 2000. e tudo isso prejudicou a economia japonesa, que depende muito de suas exportações.
4.3- O Japão, dessa forma, enfrenta hoje o desafio de reformar a sua economia, voltando-se mais para o mercado interno – que não é tão significativo
quanto o europeu ou o norte-americano – e menos para o externo. Uma maneira de o país enfrentar os desafios do século XXI seria formar um
megabloco na Ásia, integrando a sua economia com as da Coréia, de Cingapura de Taiwan, da China e de outros países importantes do sudeste e do
leste da Ásia. Mas há enormes dificuldades para se realizar isso. Essas nações vizinhas têm seculares ou milenares rivalidades com o Japão, um
Estado considerado imperialista na Ásia e que, no passado, já invadiu e dominou militarmente territórios da China, da Coréia e de vários outros países
da região, que até hoje o vêem com certa desconfiança.
4.4- Além disso, a cultura japonesa – mais fechada e que aceita muito mal os estrangeiros, os imigrantes ou os que não são japoneses natos - é
diferente dos seus vizinhos. Esse é um dos grandes problemas do Japão, pois, no século XXI – que será globalizado e em que se dará enorme
importância às relações, em termos planetários –, as culturas mais abertas, que lidam melhor com os estrangeiros, terão muito mais chances de
sucesso que as culturas fechadas, que não conseguem conviver muito bem com eles.
4.5- por sua vez, a China tem, pelo menos na teoria, maiores probabilidades que o Japão de liderar um hipotético megabloco asiático: ela não é
malvista pelos povos asiáticos quanto o Japão; sua cultura é mais disseminada pela Ásia, existindo dezenas de milhões de chineses que vivem em
Cingapura, na Coréia do Sul, no Vietnã, no Laos, na Índia e em vários países vizinhos. Em virtude de sua imensa população e, a partir dos anos 1990,
de seu acelerado crescimento econômico, o maior do mundo na última década do século XX e no início do XXI, a China seria uma espécie de candidata
natural a essa liderança
4.6- Tirando o Japão, o único país que poderia desafiar seriamente a China nessa pretensão de ser a grande potencia asiática é a vizinha Índia, que
também vem se modernizando bastante desde os anos 1980 e que possui a segunda maior população do mundo – e talvez a primeira daqui a uns 15
ou 20 anos, pois o seu crescimento demográfico é maior que o chinês. Mas tanto a Índia quanto a China enfrentam sérios problemas étnicos, sociais e
políticos-territoriais. Esses países, notadamente a China, por causa de seu regime político extremamente autoritário, talvez sejam uma espécie de
“barril de pólvora” prestes a explodir, principalmente quando a economia diminuir ou declinar intensamente.
4.7- Existem minorias étnicas que querem se separar da Índia (regiões da Caxemira e do Punjab, ambos ao norte do país) e da China (o Tibete, a
oeste; a região noroeste, onde vivem povos muçulmanos; a Mongólia exterior, ao norte; e a Manchúria, a Nordeste). Alem de conflitos externos, de
fronteiras com países vizinhos, existem violentos conflitos internos, que, na China, ainda são reprimidos e abafados com enorme violência e que, por
isso mesmo, podem explodir com maior intensidade. A Índia tem constantes atritos com o Paquistão e com a própria China, e esta têm sérios conflitos
fronteiriços com a Índia, com a Mongólia e com a Rússia e outros países da CEI, notadamente o Casaquistão.
ATIVIDADES
I- Quais são os candidatos à hegemonia mundial no século XXI? Mencione os pontos fortes e os fracos de cada um deles.
II- Por que a África e a América Latina não constam dos candidatos à hegemonia mundial no século XXI?
III- Na sua opinião haverá uma única grande potencia mundial no século XXI ou várias? Justifique a sua resposta.
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