A IMPORTÂNCIA DAS FRATURAS NO DESENVOLVIMENTO DE FEIÇÕES CÁRSTICAS EM CALCÁRIOS DA FORMAÇÃO JANDAÍRA (CRETÁCIO DA BACIA POTIGUAR), FELIPE GUERRA – RN Iris Pereira Gomes1, César U. V. Veríssimo2 & Francisco Hilário R. Bezerra3 CPRM – Serv. Geol. do Brasil, REFO-CE1 ([email protected]); UFC, Departamento de Geologia 2; UFRN, Departamento de Geologia3 INTRODUÇÃO A pesquisa em apreço envolve o estudo geológico, estrutural e espeleológico de uma área localizada no município de Felipe Guerra – RN, porção oeste da Bacia Potiguar. Trata-se de um território pouco estudado que se encontra bem preservado, tornando-se um atrativo à novas descobertas. O objetivo da pesquisa é determinar a importância das fraturas na formação de feições cárticas e suas implicações para a gênese das cavernas do calcário Jandaíra e contribuir com informações geológicas acerca das rochas calcárias fraturadas da região, acreditando que a estruturação frágil tem grande importância no controle da paisagem cárstica. GEOLOGIA REGIONAL O presente estudo encontra-se localizado no contexto geológico da Bacia Potiguar, extremo nordeste do Brasil. Segundo Françolin & Szatmari (1989) in Dantas (1998), a Bacia Potiguar é uma bacia sedimentar do tipo rift originada pela fragmentação do supercontinente Gondwana, que teve inicio ao final do Jurássico, estando sua origem diretamente ligada a formação do Atlântico Sul. Engloba parte dos estados do Rio Grande do Norte e Ceará, com 48.000 km² de área e corresponde a uma transição entre o continente e o oceano (Figura 1 A). O preenchimento sedimentar da bacia está relacionado com diferentes fases de sua evolução tectônica, denominadas de: fases rift, transicional e deriva continental. Cada uma foi responsável, respectivamente, pela deposição sedimentar das megassequências continental, transicional e marinha (Chang et. al, 1992 in Pessoa Neto, 2003). Na fase de Deriva Continental, formou-se a ampla plataforma carbonática, designada de Formação Jandaíra, composta por calcarenitos com bioclástos e calciluditos, sobre a qual se encontra a área de pesquisa. GEOLOGIA ESTRUTURAL Todo o calcário aflorante mostra-se fortemente deformado por estruturas frágeis, marcado por ruptura das rochas. A determinação do comportamento das fraturas é de fundamental importância na avaliação do seu desenvolvimento, uma vez que são planos de fraqueza favoráveis à formação de estruturas maiores, além de representarem caminhos para percolação de fluidos mineralizadores, recarga de aqüíferos ou poluição. Apesar de uma composição simples, em lâmina, a porosidade surge de diversas formas: intergrãos, intragrãos, ao longo de estilólitos e em fraturas. Estes são o ponto de partida para o desenvolvimento de superfícies de dissolução, por onde a água inicia a desagregação lenta e contínua da rocha, passando, a longo prazo, à cavidades subterrâneas. Em campo foram reconhecidas quatro famílias de fraturas (N-S, E-W, NE-SW e NW-SE), mas lineamentos com direção E-W têm pouca ou quase nenhuma participação no traçado dos sistemas. Por outro lado, em ambiente SIG, modelamentos matemáticos gerados através do software Petbool, reforçam a tendência de três direções, NW-SE, NE-SW e N-S, em ambiente mais profundo. Além disso, a análise por sensores remotos, a partir de uma imagem Quickbird, permitiu reconhecer que a série de lineamentos interpretados e mapeados coincide em parte, tanto com o arranjo local, como com todo sistema estrutural da Bacia Potiguar, como por exemplo, os Sistemas de Falhas de Carnaubais (SFC) e de Afonso Bezerra (SFAB) de direções NE-SW e NW-SE. Com base neste contexto geológico, supõe-se de que as famílias de fraturas encontradas na área são reflexos de uma tectônica de expressão regional, ligada a evolução da margem continental brasileira, uma vez que a bacia apresenta características estruturais condizentes com o desenvolvimento do intenso sistema de fraturas da área de pesquisa. Além disso, os lineamentos NW-SE e NE-SW coincidem também com a topografia da caverna mapeada, que possui duas galerias, uma com 33m, na direção NESW e a outra com 54m, de direção NW-SE. Correlacionando as direções tomadas no interior da caverna, como alinhamentos de estalactites e fendas no teto, com aquelas medidas em superfície, temos novamente a concentração de duas direções preferenciais, NE-SW e NW-SE, e que essas estruturas assumem a direção aproximada ao desenvolvimento da caverna (Figura 1 B). CONCLUSÕES E SUGESTÕES O estudo mostrou que a área compreende um relevo cárstico, produzido pela ação geológica da água superficial e subterrânea sobre rochas solúveis, os calcários da Formação Jandaíra, nos quais a formação de condutos é controlada pela solubilidade da rocha e seu padrão estrutural. Com base nas evidências podemos dizer que a presença destas estruturas exerce forte controle e influência direta na formação de cavidades subterrâneas. Esperamos, finalmente, que este trabalho seja uma parcela contribuinte para Geologia do Brasil e recomendamos a intensificação de esforços científicos, voltados a um detalhamento das descobertas cavernícolas, capazes de enriquecer o banco de informações espeleológicas de natureza singular. REFERÊNCIAS DANTAS, E. P. Gravimetria e Sensoriamento Remoto: uma aplicação ao estudo da tectônica recente entre Macau e São Bento do Norte. 1998. 97p. Natal. Dissertação (Mestrado em Geodinâmica e Geofísica). CCET, UFRN. CHANG H. K. ET AL, 1992. In: PESSOA NETO, O.C. Estratigrafia de Seqüências da Plataforma Mista Neogênica na Bacia Potiguar, Margem Equatorial Brasileira. Revista Brasileira de Geociências, 2003. Volume 33, p. 263-278, 2003. FRANÇOLIN & SZATMARI (1989). In: DANTAS, E. P. Gravimetria e Sensoriamento Remoto: uma aplicação ao estudo da tectônica recente entre Macau e São Bento do Norte. 1998. 97p. Natal. Dissertação (Mestrado em Geodinâmica e Geofísica). CCET, UFRN. Figura 1: (A) Mapa geológico simplificado da Bacia Potiguar (Dantas, 1998); (B) Topografia da caverna, com diagrama de rosetas da freqüência acumulada de fraturas internas e alinhamento de estalactites no teto.