São Francisco do Sul, 20 de fevereiro de 2010. A/C Presidência da República - Brasília Ministro do Meio Ambiente – MMA – Brasília Ministro de Aqüicultura e Pesca Presidente do IBAMA Diretoria de Licenciamento e Qualidade Ambiental - DILIC/IBAMA – Brasília Secretaria Especial de Portos C/C Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – Brasília / Itajaí Superintendência Estadual do IBAMA – Florianópolis Centro Mamíferos Aquático (CMA) / Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – Ilha de Itamaracá MANIFESTO DE APOIO URGENTE À SUSTENTABILIDADE DA BAIA DA BABITONGA E REPÚDIO AO LICENCIAMENTO DO PORTO MAR AZUL EM SÃO FRANCISCO DO SUL – SANTA CATARINA A Baía da Babitonga está localizada no litoral norte do estado de Santa Catarina, sendo um dos mais importantes complexos estuarinos do Sul do Brasil (Figura 1). A baía abrange 6 municípios (São Francisco do Sul, Garuva, Itapoá, Araquari, Joinville e Balneário Barra do Sul) e é reconhecida por sua expressiva importância sócio-econômica para a região, exuberante beleza cênica, cultura e biodiversidade, que representam inestimável patrimônio histórico, cultural e ambiental do país (Figura 2). O entorno da Baía da Babitonga abriga cerca de 33 comunidades de pescadores artesanais (mais de 2000 famílias) que vivem tradicionalmente da atividade pesqueira, extrativismo de caranguejos, maricultura e atividades ligadas ao turismo. 1 Figura 1: Localização geográfica da Baía da Babitonga no litoral norte de Santa Catarina. Dentre os municípios costeiros, ao sul encontra-se São Francisco do Sul, considerada a terceira cidade mais antiga do Brasil onde localiza-se o sexto maior porto em movimentação de containeres do país (atualmente em processo de ampliação). Já na porção norte da Baía da Babitonga situa-se Itapoá, que historicamente possui a economia centrada na pesca artesanal e no turismo, mas que agora passa por intenso processo de transformação em função da construção de um novo Terminal de Containeres, com inauguração prevista para final de 2010. a) b) c) Figura 2: a) Beleza cênica da Baía da Babitonga: potencial ao turismo ecológico e cultural; b) pescador exibe orgulhoso o fruto de seu trabalho na Baía Babitonga: o sustento da família; c) centro histórico de São Francisco do Sul. A Baía da Babitonga hoje sofre sérias ameaças que incluem a poluição por efluentes domésticos, industriais e agrícolas, assoreamento causado pelo mau uso do solo, pesca predatória, caça, ocupação ilegal de áreas públicas, supressão de manguezais, atividade portuária, entre outros. É consenso entre diversas instituições, incluindo o Estado, a necessidade de mecanismos que disciplinem os diversos usos da Baía da Babitonga. Por estes motivos desde o ano de 1983, existem iniciativas de criação de uma área protegida na região da Baía da Babitonga, nenhuma delas, no entanto, foi efetivamente constituída. A partir de 2005, o IBAMA em parceria com universidades e ONGs, reabre a discussão com a proposta de criação da Reserva de Fauna Baía da Babitonga (RFBB), Unidade de Conservação de Uso Sustentável, que compreende a área de lâmina d’água e manguezais totalizando aproximadamente 72.000 ha. 2 Pela extrema relação de dependência com a Baía da Babitonga, no dia 29 de maio de 2009, durante a 1º Conferência Municipal de Aqüicultura e Pesca de SFS o Grupo de Trabalho Pesca Artesanal consensuou a urgência na tomada de medidas para a conservação ambiental e ordenamento da pesca na região da Baía da Babitonga e seu entorno (Anexo 1). A criação de uma Unidade de Conservação foi considerada uma maneira efetiva de promover a gestão participativa dos recursos pesqueiros e conferir proteção dos estoques pesqueiros e outras espécies da fauna ameaçadas de extinção, resultando numa moção de apoio à RFBB protocolada na 3° Conferência Estadual de Aquicultura e Pesca de Santa Catarina (Anexo 2). A Baía da Babitonga está inserida no documento “Áreas e Ações Prioritárias para Conservação, Utilização Sustentável e Repartição de Benefícios da Biodiversidade Brasileira” como área onde a prioridade de ação é “extremamente alta”, para as quais se recomenda o manejo e criação de Unidades de Conservação (Portaria MMA nº 09, de 23/01/2007). A beleza cênica aliada à importância histórica da cidade de São Francisco do Sul (tombada pelo IPHAN) torna a Baía Babitonga uma região estratégica para o desenvolvimento turístico, indo ao encontro das Políticas do Governo Federal de incentivo ao desenvolvimento do Turismo enquanto atividade geradora de emprego e renda e podendo ser visualizada como área potencial ao estabelecimento de um Polo Ecoturístico. A baía abriga cerca de 75% dos bosques de manguezais do estado de Santa Catarina, sendo o limite austral deste ecossistema (em termos de expressividade) no Oceano Atlântico. Pelo menos 17 espécies de aves migratórias neárticas utilizam a baía para descanso e forrageio durante o período de invernada. A Baía da Babitonga foi identificada como Área Importante para a Conservação de Aves (IBA – Important Bird Áreas), segundo a BirdLife International em seu documento “Áreas Importantes para a Conservação de Aves no Brasil” (Bencke et al., 2006). A Baía da Babitonga e as ilhas costeiras adjacentes são também importantes áreas para a agregação reprodutiva de meros (Epinephelus itajara) (Gerhardinger et al., 2009), espécie protegida pela Portaria IBAMA Nº 42/2007, e constante no Anexo II da IN MMA nº 05/2004 (Figura 3) . A região é utilizada como sítio de alimentação e crescimento de tartarugas marinhas, particularmente a tartaruga-verde (Chelonia mydas), espécie incluída na Lista Oficial das Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção (IN MMA nº 03/2003). Figura 3: Áreas de ocorrência de meros na Baía da Babitonga e oceano adjascente (Gerhardinger et al., 2009). (Fonte: ICMBio) 3 Duas espécies residentes de pequenos cetáceos coexistem na Baía da Babitonga, o botocinza (Sotalia guianensis) e a toninha (Pontoporia blainvillei) esta última incluída na Lista Oficial da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção (IN MMA nº 03/2003), sendo a única espécie de golfinho ameaçada no Brasil e considerada uma das espécies de cetáceos mais ameaçada no mundo (Figura 4). A Baía da Babitonga é a única região estuarina brasileira que abriga uma população residente de toninhas. As populações destas duas espécies habitam a baía ao longo de todo o ano para descanso, alimentação e reprodução (Cremer, 2007). Atualmente as áreas de concentração de ambas as espécies sobrepõe-se em grande parte, compreendendo principalmente a região central da baía, entre as ilhas do Araújo, Rita e Ilha Grande. Figura 4: Áreas de concentração de toninhas no interior da Baía da Babitonga (Cremer, M.J., 2007).(Fonte: ICMBio)