SOCIEDADE BRASILEIRA DE TERAPIA INTENSIVA INSTITUTO BRASILEIRO DE TERAPIA INTENSIVA MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA Implantação da Sistematização da Assistência de Enfermagem na Unidade de Terapia Intensiva em um hospital público do município de Ilhéus - Ba ROSANY CRISTINA S BORGES FONTES RESUMO No presente estudo de revisão de literatura realizou-se uma leitura reflexiva dos artigos publicados em periódicos nacionais indexados pelo LILACS, que objetiva analisar a Implantação da Sistematização da Assistência de Enfermagem - SAE em uma Unidade de Terapia Intensiva – UTI em um hospital público do município de Ilhéus, identificando as etapas da estruturação e planejamento deste processo. Na análise foi possível perceber que para planejar a implantação da sistematização é preciso conhecer a estrutura institucional, aspectos funcionais, facilidades e demanda e que o apoio ou ausência deste por parte de membros da equipe podem favorecer ou prejudicar o processo de implantação da SAE. E ainda, que a SAE garante a qualidade da assistência, direciona e possibilita o desenvolvimento científico da enfermagem. Palavras-chave: sistematização, assistência, enfermagem, processo de enfermagem. INTRODUÇÃO A contemporaneidade da enfermagem iniciou-se a partir de Florence Nightingale que adota uma prática baseada em conhecimentos científicos. Gradativamente as práticas de uma assistência baseada em caridade e intuição vão sendo substituídas por teorias de enfermagem que organizam e sistematizam as atividades profissionais, gerando conhecimento que as subsidiarão. No Brasil, o histórico de enfermagem foi introduzido por volta de 1965 pela enfermeira Wanda de Aguiar Horta. Nessa época recebeu a denominação de anamnese de enfermagem e, por ter conotação com anamnese médica, foi adotado o termo, histórico de enfermagem1. O histórico de enfermagem também é denominado investigação de enfermagem, que constitui a primeira fase do Processo de Enfermagem, pode ser descrito como um roteiro sistemático para coleta e análise e dados significativos do ser humano, tornando possível a identificação dos seus problemas. O modelo mais conhecido e seguido para implantação do Processo de Enfermagem (PE) é o proposto por Horta, o qual contém as seguintes fases: Histórico de Enfermagem, Diagnóstico de Enfermagem, Plano Assistencial, Prescrição de Enfermagem e Evolução de Enfermagem. O número de fases variam de 4 a 6 de acordo com autores. Já Beteghelli classificou as fases em: investigação (coleta sistematizada de dados dos pacientes e seus respectivos problemas); diagnósticos de enfermagem (identificação de problemas pela análise dos dados coletados); planejamento (determinação dos resultados desejados, objetivos e identificação das intervenções para alcançar resultados); implementação (colocação do plano em ação) e avaliação (determinação do sucesso no alcance dos resultados e decisão quanto às mudanças a serem feitas) 2. As diferentes etapas do PE não se sobrepõem, elas se inter-relacionam e envolvem um contínuo processo de raciocínio e julgamento crítico que determina as ações de enfermagem. O plano de cuidado adequadamente utilizado é capaz de guiar e favorecer a continuidade do cuidado na assistência de enfermagem, por meio da facilidade da comunicação entre enfermeiros e outros profissionais que prestam os cuidados. O método utilizado na prática clínica para sistematizar a assistência de enfermagem é o processo de enfermagem. Este é um método de tomada de decisões de forma deliberada que se apóia nos passos do método científico. A Sistematização da Assistência de Enfermagem - SAE vem sendo utilizada em algumas instituições de saúde como uma metodologia assistencial por meio do Processo de Enfermagem, o qual pode ser entendido como a aplicação prática de uma teoria de enfermagem na assistência aos pacientes. As literaturas apontam que há uma evolução crescente e contínua em direção a uma assistência integral ao paciente e todas as teorias elaboradas tem como objetivo, prestar uma assistência sistematizada, planejada, organizada e com ações registradas pela enfermeira. Apesar do Processo de Enfermagem ter sido implantado no Brasil desde a década de 70, somente em 2002 a Sistematização da Assistência de Enfermagem recebeu apoio legal do COFEN, pela Resolução n° 272, para ser implementada em âmbito nacional nas instituições de saúde pública e privada do Brasil1. E, é ainda uma orientação da lei do exercício profissional da enfermagem (Lei 7.498 de 25 de junho de 1986). Além disso, sua implantação se torna uma estratégia na organização da assistência de enfermagem nas instituições, atendendo, assim, aos requisitos do Manual Brasileiro da Acreditação Hospitalar. A imagem transmitida pelo hospital aos seus clientes depende não só da estrutura física e material como principalmente do conjunto de práticas e ações da enfermagem, uma vez que a qualidade está diretamente ligada ao desempenho do cuidador, seus conhecimentos, atitudes e habilidades. Uma das formas utilizadas de garantir a qualidade dos cuidados prestados é estabelecer normas e rotinas bem como a supervisão continuada da assistência 3. A enfermeira, como gerente da assistência de enfermagem que trabalha com a Sistematização da Assistência, é capaz de identificar precocemente as Necessidades Humanas Básicas afetadas, formular um diagnóstico de enfermagem, elaborar um plano de cuidado, implementá-lo e avaliar sua aplicabilidade. Com a utilização dessa metodologia podemos proporcionar qualidade no atendimento, direcionar a assistência, individualizar o cuidado, além de promover o reconhecimento da equipe de enfermagem. No entanto, os hospitais ainda não atendem a esta normatização. Os enfermeiros ainda não incorporaram à sua prática um processo sistematizado de assistência voltado às necessidades individuais de um paciente ou comunidade 4. Diante do exposto propomos para o presente estudo analisar a implantação da SAE em uma UTI identificando as etapas da estruturação deste processo. METODOLOGIA Esse estudo trata-se de uma pesquisa bibliográfica, que compreende um levantamento de uma revisão profunda, abrangente e crítica de publicações. As fontes bibliográficas consultadas incluíram livros textos sobre a SAE e os sites de pesquisa LILACS, MEDLINE e BDENF. Para proceder à busca nos sites citados, utilizaram-se como palavras-chave: sistematização, assistência, enfermagem, processo de enfermagem. Foram selecionados os artigos de revistas de enfermagem brasileiras indexadas a partir de 1990, considerando que foi no final de 1980 que o tema começou a ser estudado. Para análise dos artigos selecionados fundamentou-se em abordagem de pesquisa qualitativa e quantitativa, as quais são perspectivas complementares quando almeja aproximar-se de uma realidade com a finalidade de conhece-la5. Buscou-se analisar os aspectos que, segundo os autores pesquisados, apresentavam vantagens, problemas, fases para implementação, limites. De posse do material compilado, foi iniciada uma leitura exploratória com a finalidade de selecionar o material que atendesse ao objetivo proposto. Na seqüência foi realizada uma leitura objetiva e analítica dos textos selecionados. Foram encontrados 58 trabalhos sobre o tema, sendo selecionados 12 para estudo. Os trabalhos selecionados obedeceram aos seguintes critérios: ter sido publicados em periódicos científicos de enfermagem, ser relativamente recente e ter aspectos relevantes que mereçam consideração durante um processo de implantação da SAE em qualquer instituição de saúde. RESULTADOS E ANÁLISE Quanto às publicações, observou-se um crescente aumento dos estudos referentes ao assunto a partir de 1990. Pois, na década de 80, o processo de enfermagem passou a ser motivo de maior preocupação para os enfermeiros devido à aprovação da Lei do Exercício Profissional, que atribui privativamente ao enfermeiro a prescrição de enfermagem. O processo de enfermagem possui um enfoque holístico e assegura que as intervenções dos enfermeiros sejam elaboradas para o indivíduo e não apenas para a doença. Além de apressar o diagnóstico e tratamento dos problemas de saúde potenciais e vigentes reduzindo a incidência e período de hospitalização, melhorar a comunicação entre seus pares e equipe de saúde, prevenir erros, omissões e repetições desnecessárias, obtendo assim, resultados satisfatórios1. Alguns artigos destacaram a contribuição da SAE para a ocorrência do cuidado integral ao paciente por ser um processo articulado que assegura a continuidade da assistência e o paciente internado na UTI requer uma assistência de enfermagem especializada e contínua. O plano de cuidado quando utilizado adequadamente é capaz de guiar e favorecer a continuidade do cuidado na assistência por meio da facilidade na comunicação entre enfermeiros e outros profissionais que prestam os cuidados2. Todos os artigos foram unânimes quanto à importância da necessidade e os benefícios que a Sistematização da Assistência de Enfermagem traz para os serviços de saúde e para o paciente. Também as dificuldades encontradas durante o processo de implantação, foram as mesmas: *Escassez de enfermeiros nos hospitais, gerando uma distribuição e utilização deficientes com sobrecarga de serviço e atividades burocráticas; *Número insuficiente de Auxiliares e Técnicos, gerando sobrecarga de serviço que interfere na qualidade da assistência prestada e registros inadequados; * Falta das práxis com a SAE, muito dos enfermeiros só tem contato com a SAE na formação acadêmica; * Déficit de material: insumos e permanentes ou de forma escassa, levando ao improviso; * Falta de interesse por parte das instituições em capacitar os profissionais; * Falta de motivação profissional; * Falta de sensibilização por parte de alguns profissionais; * Ausência de protocolos e rotinas de enfermagem, que facilitaria a implantação da SAE e a interação da equipe 2, 4, 6, 7, 8. Quanto às etapas do processo de estruturação e implantação da SAE, nas instituições hospitalares percebemos que foi usada como estratégia durante o processo de implantação a gestão participativa, com reuniões e envolvimento de toda a equipe; enfermeiros gerentes e assistentes, educação continuada e demais seguimentos para sensibilizar e conscientizar os técnicos e auxiliares mobilizando toda a equipe para elaboração de um modelo assistencial, dentre eles o mais citado foi o de Wanda Horta 2, 3, 4, 9. Além da elaboração de um modelo assistencial, deve ser levado em conta: A realidade hospitalar - Cada hospital e até setor apresenta peculiaridades no que diz respeito às facilidades e dificuldades apresentadas, portanto no planejamento para implantação da SAE é importante que seja feito um levantamento do sistema com um todo; Política de gestão institucional - Atualmente surgem iniciativas de incorporação de novos modelos de gestão dentro de diversas organizações caracterizadas por uma participação mais ativa dos diversos atores que fazem parte da instituição, permitindo a enfermagem vislumbrar uma participação mais efetiva, facilitando a implantação da SAE 6; Estrutura organizacional - conhecer qual a missão, filosofia e objetivos da instituição para que a assistência de enfermagem seja coerente com o sérvio de enfermagem; Estrutura física das unidades - com espaço ou bancada para planejar a assistência e elaborar o plano de cuidado; Número de enfermeiros, auxiliares e técnicos – O recurso humano é um dos fatores mais relevantes na operacionalização da SAE, tanto no aspecto quantitativo como no qualitativo; Elaborar Impressos - Instrumento importante para registrar as fases da SAE que deve ser arquivado ao prontuário. Estes impressos serão adequados à teoria de enfermagem escolhida, e as especificidades das necessidades dos pacientes; Sensibilizar toda a equipe de enfermagem para a implantação da SAE - Deve fazer parte como estratégia para o plano de ação da chefia de enfermagem, pois toda a equipe deve estar envolvida e saber a importância do seu papel; Capacitação profissional - Com conhecimento científico embasado nas teorias e ter habilidades nas práticas; Preparo prático para a implementação da SAE - Neste momento, a enfermagem deve estar capacitada para a aplicação das etapas ou fases do Processo de Enfermagem (entrevista/investigação, exame físico, prescrição). CONCLUSÕES O estudo evidenciou que a implantação da SAE nas instituições hospitalares ou de saúde proporciona melhorias no cuidar, melhora a qualidade da assistência prestada ao passo que valoriza o trabalho do enfermeiro. Porém, para a implantação da SAE deve haver um levantamento com planejamento para estruturar o serviço, envolvendo e capacitando toda a equipe de enfermagem, pois a falta de capacitação técnica interfere na qualidade do serviço prestado. E a motivação da equipe resulta não só das condições de trabalho, coordenação de enfermagem como do apoio dos gestores que poderá se tornar ou não um obstáculo. REFERENCIA 1 - CAMPEDELLI, MC et al. Processo de enfermagem na Prática. São Paulo: Ática; 1989. 2 - LIMA, LR; SILVA, MM; OLIVEIRA, RC; CHIANCA, TCM. Proposta de instrumento para a coleta de enfermagem em uma unidade de terapia intensiva fundamentado em Horta. Revista Eletrônica de Enfermagem, vol 08, n° 03, p. 349 a 357, 2006. 3 - CUNHA, AP; OROFINO, CL. Serviço de enfermagem: um passo decisivo para a qualidade. Revista Nursing, vol 6, n° 0, p 25-30, maio 2003 4 - AZEVEDO, RCS; SOUZA, LC. A implantação e implementação da SAE na unidade intensiva e semi-intensiva de um hospital público. Revista Nursing, vol 12, nº 133, p 269-274, junho 2009. 5 - MINAYO, MCS; SANCHES, O. Quantitativo - Qualitativo: Oposição ou Complementaridade? Caderno de Saúde Pública, nº 9, p. 239-263, 1993. 6 - HERMIDA, PMV; ARAUJO, IEM. Sistematização da Assistência de enfermagem: subsídios para implantação. Revista Brasileira de Enfermagem. vol 59, nº 05, p. 675-679, set-out 2006. 7 - MATSUDA, ML; ÉVORA, MDY. Satisfação profissional em uma UTI adulto: subsídios para a gestão da equipe de enfermagem. Revista Nursing, vol 56, nº 06, jan. 2003. 8 - BARBOSA, PMK; PONDELLI, LRO; MAURICO, MM; NUNES, RCA. Diagnóstico e intervenções de enfermagem a pacientes internados na terapia intensiva. Revista Nursing, vol 59, nº 6, abril 2003. 9 - MARIN, MJS; MESSIAS, DC; OSTROSKI, LE. Sistematização em enfermagem: análise das publicações sobre Diagnostico de enfermagem no Brasil. Revista Nursing, Vol 73, nº 7, setembro 2004,. 10 - SILVA, SH; TAKITO, C; BARBIERE, DL. Implantação e desenvolvimento do processo de enfermagem no hospital-escola. Revista da Escola de Enfermagem USP. Vol 3, nº 3, p. 79-84, Abr Maio-Set 1990. 11 - PEDUZZI, M; ANSELMI, ML. O processo de trabalho de enfermagem: a cisão entre planejamento e execução do cuidado. Revista Brasileira de Enfermagem. Vol 55, nº 4, p 392 – 398, jul - ago 2002. 12 - DUARTE, APP; ELLENSOHN, LA. Operacionalização do Processo de Enfermagem em terapia intensiva neonatal. Revista de Enfermagem, UERJ. Vol 15, nº 4, p. 521-526, Out-Dez 2007. 13 - SPERANDIO, DJ; ÉVORA, YDM. Proposta para a implementação da assistência de enfermagem em unidade de terapia semi-intensiva. Revista Ciência, Cuidado e Saúde. Vol 3, nº 1, p. 99-104, Jan-Abr 2004. 14 - HORTA, WA. Processo de enfermagem. São Paulo: EPU; Ed da Universidade de São Paulo, 1979. 15 - ALFARO-LEFREVE, Rosalina. Aplicação do processo de enfermagem: promoção do cuidado colaborativo. 5ª Ed. Porto Alegre: Artemed, 2005 16 - GENTIL. A.C.; CM PASSOS; CAMPOS MD; COSTA RSM; CAMARGO. AT Implantação da sistematização da Assistencia de enfermagem no centro de teraopia intensiva do hospital João XXIII. São Paulo, 2006.