12 I. INTRODUÇÃO Graduei-me pala Universidade Federal de Goiás em 2002 e desde o primeiro ano de graduação me interessei por pesquisa, ingressando no programa denominado PET Programa Especial de Treinamento, o atual Programa de Educação Tutorial, que é dirigido para pesquisa, ensino e extensão, coordenado localmente por um tutor, com a participação de professores colaboradores. É financiado pela Secretaria de Ensino Superior (SESu) do Ministério da Educação e Cultura. O PET me proporcionou grande aprendizado, tanto em pesquisa quanto em organização de eventos científicos, além de contribuir financeiramente. Meu interesse por Saúde da Mulher surgiu em 2001, no quarto ano de graduação, com as disciplinas de Materno-Infantil e Saúde Coletiva. Período em que compreendi que a saúde da mulher deveria ir além do cuidado com o corpo físico e com a saúde reprodutiva, buscando visualizar a mulher em sua totalidade, sua cultura, crença, valores, estilo de vida, dentre outros. Durante os estágios curriculares, percebi o enfermeiro, em particular o que atuava em saúde coletiva, estava muito voltado para o atendimento a saúde reprodutiva da mulher. Este profissional acompanhava pré-natal, intercalando as consultas com o médico, realizava consultas ginecológicas e prescrevia medicações mediante protocolos e, geralmente, era responsável pela organização do planejamento familiar em sua unidade. Além disto, este profissional podia realizar atividades de educação em saúde junto as mulheres, todavia os temas apresentados nestas reuniões também estavam relacionados à saúde reprodutiva. Entretanto, o espaço das reuniões favorecia a discussão e o posicionamento das mulheres, permitindo uma reflexão das mesmas sobre si e sua saúde, além da troca de experiências. A partir destas observações, notei que havia lacunas no conhecimento da enfermagem em relação à saúde feminina, o enfermeiro realizava atividades importantes para a saúde da mulher, as quais são incentivadas pelo Ministério da Saúde e pelo gestor municipal de saúde. Entretanto, muitas vezes, este profissional não documentava sua prática, o seu atendimento às mulheres, não buscava transformar sua prática profissional em conhecimento científico. Além disso, o enfermeiro ficava muito preso à questão biológica e reprodutiva da mulher, por exemplo, na consulta ginecológica, geralmente era realizada somente a coleta de material para o exame preventivo. A questão emocional, social e cultural da mulher não era valorizada e avaliada. Como pesquisadora em aprendizado e futura profissional, propus a contribuir com a melhor qualidade na assistência à mulher. A partir deste momento, direcionei meus estudos para esta temática, produzindo três trabalhos científicos sobre gravidez de alto 13 risco e um sobre câncer de colo uterino, todos tendo como sujeito a própria mulher e todos apresentados em eventos científicos. Neste estudo, saúde é entendida segundo a Constituição Federal de 1988, artigo 196, ou seja, “como direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços de para sua promoção, proteção e recuperação”. Demonstrando que para ter saúde é necessário ter qualidade em todos os aspectos da vida. Neste sentido, foi utilizado o conceito de qualidade de vida de Minayo, Hartz e Buss (2000) Qualidade de vida é uma noção eminentemente humana, que tem sido aproximado ao grau de satisfação encontrado na vida familiar, amorosa, social e ambiental e à própria estética existencial. Pressupõe a capacidade de efetuar uma síntese cultural de todos os elementos que determinada sociedade considera seu padrão de conforto e bem-estar. O termo abrange muitos significados que refletem conhecimentos, experiências e valores de indivíduos e coletividades que a ele se reportam em variadas épocas, espaços e histórias diferentes, sendo, uma construção social com a marca da relatividade cultural. Utilizamos também o conceito de qualidade de vida apresentado no relatório de reunião sobre marco conceitual da promoção da saúde no Brasil, durante o Fórum Social Mundial, ocorrido em 2003, em Porto Alegre. Assim temos: A qualidade de vida, entendida como a satisfação das necessidades sociais e qualidade de vida e saúde, é derivada dos direitos fundamentais e direitos sociais, expressa na legislação de direitos e está ligada à sobredeterminação social no conceito de saúde. Ela inclui cinco dimensões: a individual, ligada a autonomia; a coletiva, relativa a equidade; a institucional, ligada a ação transetorial, baseada na integralidade; a ambiental, ligada a sustentabilidade, tendo como referência os ecossistemas humanos e as determinações da Agenda21; e a subjetiva, centrada na construção do imaginário coletivo em saúde. Neste trabalho, procuramos estudar a saúde da mulher, a qual é entendida como uma concepção que vai além de uma abordagem biológica, englobando dimensões como direitos humanos e questões relacionadas à cidadania. Considerando também os fatores sociais, econômicos, culturais e históricos. 14 O enfermeiro, ao atuar junto às mulheres deve buscar um cuidado humanizado, além de procurar visualizar a mulher em sua totalidade e não somente sua saúde reprodutiva. Após a graduação fui trabalhar no Programa Saúde da Família (PSF), a atual Estratégia Saúde da Família (ESF) no município de Piracanjuba-Goiás. Segundo o IBGE (2005a), este município possui 24 376 habitantes, sendo 12 594 homens e 11 782 mulheres. A taxa de alfabetização da população em 2000 foi de 85,9%. Este município possui dez estabelecimentos de assistência a saúde: uma Unidade Básica de Saúde (UBS), cinco Unidades de Saúde da Família, uma unidade de saúde na zona rural, um hospital municipal e dois hospitais particulares. O PSF foi implantado no município em 2000, com duas equipes de saúde. Hoje, possui cinco Unidades de Saúde da Família (USF) que estão localizadas na zona urbana e são responsáveis pela cobertura de 65,41% da população. Cada USF abriga uma equipe de saúde da família composta por um médico, um enfermeiro, um cirurgião dentista, um técnico em enfermagem, um auxiliar de consultório dentário, seis agentes comunitários de saúde, uma recepcionista e um auxiliar de serviços gerais. A UBS é referência para a população do setor central e da zona rural, os quais não possuem USF e possui dois médicos atendendo, sala de vacinas e laboratório funcionando. Como enfermeira de uma destas unidades atuei junto às mulheres. Trabalhava com pré-natal de baixo risco, planejamento familiar e controle do câncer de colo uterino e de mama. Trabalhava também com crianças (acompanhado o crescimento e desenvolvimento), com adolescentes (orientação coletiva e/ou individual sobre Doenças Sexualmente Transmissíveis e métodos contraceptivos), com educação em saúde em escolas, creches e centro de convivência de idosos (CCI). Os temas abordados nestes locais eram de acordo com a necessidade da clientela. A saúde da mulher na USF em que eu atuava estava direcionada, principalmente, para a saúde reprodutiva, uma vez que havia pré-natal, planejamento familiar e consulta ginecológica de enfermagem funcionantes. Havia dia específico apenas para consulta ginecológica, as demais atividades eram realizadas segundo a demanda da clientela. O Prénatal e o planejamento familiar estava a cargo tanto do enfermeiro quanto do médico, já a coleta de material para o exame preventivo era exclusiva do enfermeiro, durante a consulta ginecológica de enfermagem. Eu buscava prestar um atendimento humanizado a estas mulheres, tornando-as importantes no processo de cuidar de sua própria saúde e valorizandoas como pessoas. Isto refletiu de forma positiva, uma vez que as mulheres começaram a 15 relatar que naquela unidade o atendimento era diferenciado, o número de mulheres que buscavam-na aumentou, vinham mulheres de outras áreas de abrangência também. Durante meu trabalho na USF de Piracanjuba pude observar uma discrepância no comportamento das mulheres que pertenciam àquela área, quando a temática estava ligada ao atendimento à saúde feminina. Neste sentido, três fatores me chamaram a atenção: mulheres que não buscam atendimento; mulheres que buscam atendimento em excesso; e aquelas que buscam atendimento de forma regular. A faixa etária parece influenciar no comportamento feminino, as mulheres idosas sentiam-se inibidas a buscar a consulta ginecológica, por exemplo. Já as jovens buscam o serviço com naturalidade, na maioria das vezes. No primeiro fator, mulheres que não buscam atendimento relacionado à saúde da mulher. Este grupo é informado pelo Agente Comunitário de Saúde (ACS) da existência dos serviços prestados na USF e da importância em buscá-los, no entanto, não buscam a unidade. Quando questionadas pelos ACS de sua decisão de não buscar a unidade, referem falta de tempo, vergonha de se expor, medo de descobrir alguma doença, além de dizerem que não estão sentindo nada. No segundo fator, mulheres que buscam atendimento em excesso, as mulheres buscam certos atendimentos, como o exame preventivo, em intervalos menores que os indicados pelo Ministério da Saúde, sem indicação para novo exame. Quando questionadas relatavam que não sabiam ao certo quando realizar novo exame. Uma vez que estavam apresentado algum sintoma ginecológico, tais como, prurido, secreções vaginais anormais, dentre outros procuravam a unidade para agendar um novo exame preventivo, mesmo tendo feito o último há três meses e com resultados normais. No terceiro fator, mulheres que buscam atendimento de forma regular, estas mulheres realizam os exames de rotina e diante de sintomas novos buscam a unidade para saber qual melhor caminho a seguir. Outro aspecto que poderia estar explicando o comportamento feminino são os paradigmas da assistência, o tecnocrático, o humanista e o holístico, descritos por DavisFloyd (2001). No paradigma tecnocrático, ocorre a separação entre mente e corpo dos indivíduos e o corpo é comparado a uma máquina e o paciente a um objeto. O médico possui visão fragmentada do paciente, visando basicamente sua estrutura biológica, buscando a cura de doenças e o reparo de disfunções. Para isto o uso da ciência e tecnologia é supervalorizado, e o conhecimento médico sobre o quadro geral do paciente não é compartilhado com o mesmo de forma esclarecedora. 16 Já no paradigma humanista, o corpo e a mente encontram-se em constante comunicação. O corpo é comparado a um organismo, e o paciente é visto como sujeito. A relação médico-paciente ocorre de forma integrada, as informações, a tomada de decisões e as responsabilidades são compartilhadas entre o paciente e o médico. O diagnóstico é realizado tanto de dentro para fora quanto de fora para dentro, sendo que a tecnologia continua a ser utilizada em favor do paciente. O foco agora se encontra na prevenção de doenças. O paradigma holístico traz a conexão ente corpo, mente e espírito. O corpo é visto como um sistema de energia ligado a outros sistemas energéticos. Este paradigma entende o organismo como um todo e a doença como um desequilíbrio no campo energético. O diagnóstico acontece de dentro para fora, o indivíduo é o principal responsável pelo seu tratamento. Os profissionais envolvidos no tratamento são como guias para o encontro do equilíbrio. Nas USF de Piracanjuba-GO, o paradigma tecnocrata está muito presente e é responsável por uma visão fragmentada do ser humano, em particular das mulheres. Já a humanização é uma idéia que, ultimamente, vem sendo difundida pelo Ministério da Saúde, através do PNH, da PNAISM, PHPN, dentre outros, entretanto, a mudança de paradigma é uma tarefa lenta e não depende só do Ministério da Saúde, mas também dos gestores estaduais e municipais, das equipes de saúde e da própria clientela. No modelo humanista, como foi descrito anteriormente, ocorre uma aproximação entre profissional e cliente, este participa efetivamente de seu próprio tratamento. Na realidade das USF de Piracanjuba-GO há alguns profissionais que buscam trazer este tipo de atendimento para sua prática, a clientela demonstra boa aceitação por este modelo, sente-se importante e participativa. Entretanto, são casos isolados, não há uma política municipal neste sentido. Já o modelo holístico, que seria compreender o organismo como um todo, corpo-mente-energia, não está presente na prática profissional das USF do município. Diante dos fatores apresentados surgiu o interesse em estudar a representação social da mulher em relação ao ser mulher e à saúde feminina. A partir do momento em que se compreender a representação social que este grupo possui sobre si mesmo e sua saúde, partindo do seu entendimento como sujeito. Será mais fácil delinear caminhos que possam levar a um atendimento mais efetivo e de qualidade e com adesão desta clientela. Diante do exposto, tivemos os seguintes questionamentos: Qual a representação social da mulher sobre ser mulher e sobre a saúde feminina? Quais são as estratégias utilizadas por este grupo para a busca da saúde? 17 Nesta perspectiva, este estudo se enquadrou na linha de pesquisa Enfermagem e população: conhecimentos, atitudes e práticas em saúde. 1.1 OBJETIVOS Identificar a representação social da mulher sobre ser mulher e sobre a saúde feminina. Analisar as implicações destas representações na busca da saúde por este grupo da população. 1.2 CONTRIBUIÇÕES DO ESTUDO Este estudo busca contribuir com a população feminina, uma vez que permite ampliar o conhecimento relativo ao ser mulher, à saúde feminina e a busca da mesma por parte deste grupo populacional, tendo como foco a própria mulher, seu saber, sua prática, sua tomada de decisões relativas a sua saúde. Permitindo, assim, que suas expectativas e decisões fossem conhecidas e deste modo, possibilitando aos profissionais de saúde repensar sua prática profissional, de modo a melhorar a qualidade assistencial. Busca contribuir também com a profissão de enfermagem e demais profissões que cuidam da saúde da mulher. Uma vez que procura trazer novos aspectos relativos a mulher e sua saúde. Possibilitando a estes profissionais repensar sua forma de agir em relação ao grupo feminino, podendo auxiliá-los na tomada de decisões, junto á clientela estudada. Procura contribuir também com o município estudado e com a Política Nacional de Atenção Integral a Saúde da Mulher, a qual possui como princípios a humanização e a qualidade da atenção em saúde. Já que este estudo traz informações que considerem as experiências das mulheres com sua saúde e como este grupo busca saúde, possibilitando assim, sabermos onde está ancorado o conhecimento destas mulheres em relação a saúde. Deste modo, facilitando ao município estudado reestruturar sua estratégia de ação junto a este grupo populacional, de modo a atender aos princípios da PNAISM. Outro ponto importante do estudo é que este foi realizado numa cidade de médio porte no interior do Brasil, saindo assim, dos grandes centros urbanos e buscando trazer a realidade e o imaginário social de mulheres que vivem no interior, mas que tem muito a compartilhar. Não podemos nos esquecer que a maioria das cidades brasileiras é de pequeno ou médio porte, tornando assim importante a realização de estudos científicos nestas localidades. 18 II. REFERENCIAL TEÓRICO Acredito ser interessante conhecermos um pouco sobre a história feminina. Procurei trazer alguns “flashes” da condição social da mulher desde a antiguidade até a atualidade, em diferentes localidades, a fim de demonstrar o papel ocupado pela mulher na sociedade. E também refletir sobre a influência histórica em relação a saúde da população feminina. Além disso, trouxemos também as mudanças ocorridas no sistema de saúde, a fim de atender ao novo mundo feminino que surgia. Trouxemos também informações sobre a Estratégia Saúde da Família, de modo a mostrar como deveria ser o funcionamento teórico desta estratégia. E por último fizemos um breve levantamento do que é Representações Sociais e como está surge num determinado grupo, a fim de favorecer o entendimento do leitor ao longo desta pesquisa. 2.1 BREVE HISTÓRICO SOBRE A MULHER E O SISTEMA DE SAÚDE A mulher foi vista desde a antiguidade até o final do século XIX como um ser destinado ao casamento, a procriação, ao cuidado com os filhos, casa e marido. Não sendo dona de seu próprio corpo e de sua sexualidade. Alves & Pitanguy (2003) relatam que na Grécia antiga a função primordial da mulher era a reprodução: gerava, amamentava e criava os filhos. Já em Roma antiga as mulheres não estavam satisfeitas com sua condição, faziam protestos junto ao Senado. No entanto, não foram atendidas em suas reinvidicações. Na idade média algumas mulheres tiveram alguns direitos em lei, trabalharam em algumas profissões e algumas freqüentaram Universidades (cursos de Medicina e Direito), exercendo a profissão. Entretanto as atividades desempenhadas por elas eram desvalorizadas financeiramente e não tinham prestígio social (ALVES & PITANGUY, 2003). No período Renascentista a mulher foi afastada da esfera pública e teve seus direitos reduzidos. O trabalho se valorizou como instrumento de transformação do mundo pelo homem. O trabalho feminino passou a ser depreciado, continuavam a trabalhar só que com menor remuneração e em atividades menos qualificadas. Não freqüentavam Universidades (ALVES & PITANGUY, 2003). Até aqui não havia preocupação efetiva com a saúde da mulher, esta era vista como desprovida de sexualidade e deveria ter quantos filhos pudesse conceber durante a vida. 19 Yalom (2002) relata que no final do século XIX, nos Estados Unidos, uma nova versão da sexualidade feminina começou a rebater a existente. O conhecimento sobre dispositivos anticoncepcionais penetrou na sociedade e tornou-se popular, bem como as informações sobre estes. A justificativa mais comum para a reprodução limitada era de que era bom tanto para a mãe quanto para o filho. Passou-se a discutir controle de natalidade como meio de preservar a saúde da mulher e da criança e evitar superpopulação. Alves & Pitanguy (2003) relatam que no início do século XX as mulheres brasileiras conseguiram que algumas de suas reinvidicações fossem atendidas. Adquiriram o direito de votar, serem votadas, ingressarem nas instituições escolares e participarem do mercado de trabalho. Começaram a questionar as raízes culturais das desigualdades existentes, perceberam que a diferenciação de papéis se baseava mais no social do que no biológico. Frentes de lutas foram organizadas por estas mulheres, estavam relacionadas principalmente à sexualidade e violência, à saúde, à ideologia e a formação profissional. No Brasil, a saúde da mulher foi incorporada às políticas nacionais de saúde nas primeiras décadas do século XX, sendo limitada, nesse período, às demandas relativas à gravidez e ao parto. Os programas materno-infantis, elaborados nas décadas de 30, 50 e 70, traduziam uma visão restrita sobre a mulher, baseada em sua especificidade biológica e no seu papel social de mãe e doméstica, responsável pela criação, pela educação e pelo cuidado com a saúde dos filhos e demais familiares (BRASIL, 2004a). Estes programas foram vigorosamente criticados pelo movimento feminista, devido a perspectiva reducionista com que tratavam a mulher, que tinha acesso a alguns cuidados de saúde no ciclo gravídico-puerperal, ficando sem assistência na maior parte de sua vida. As mulheres organizadas reivindicavam, portanto, sua condição de sujeitos de direito, com necessidades que extrapolam o momento da gestação e parto, demandando ações que lhes proporcionassem a melhoria das condições de saúde em todas os ciclos de vida. Ações que contemplassem as particularidades dos diferentes grupos populacionais, e as condições sociais, econômicas, culturais e afetivas, em que estivessem inseridos. (BRASIL, 2004a). Com o exposto, notamos que a função reprodutiva da mulher esteve em foco durante muitos séculos e que ainda hoje, no século XXI, não é tão diferente, mesmo tendo novo discurso, a prática em saúde demonstra uma preocupação maior com a saúde reprodutiva feminina, muitas vezes, sem plena consciência desta realidade. Para continuarmos relataremos um pouco sobre a mulher na atualidade e sobre o que o sistema de saúde dita para ela. 20 As reinvidicações das mulheres resultaram em grandes transformações no mundo feminino, tanto no que se refere à sexualidade e saúde, quanto nas ideologias, formação profissional e mercado de trabalho. O sistema de saúde teve que modificar para atender a estas reinvidicações. Deste modo, foi elaborado em 1984, pelo Ministério da Saúde o Programa de Assistência Integral a Saúde da Mulher (PAISM). Este programa tem como princípio prestar assistência a mulheres em todas as fases de sua vida, da adolescência ao climatério. Orienta para as patologias mais comuns existentes na população feminina, com ações voltadas a sexualidade, ao acompanhamento pré-natal, parto, puerpério, assistência clínica-ginecológica, controle do câncer de colo-uterino e de mama, controle de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST), planejamento familiar e climatério. O PAISM inclue ações educativas, preventivas, de diagnóstico, tratamento e recuperação, englobando a assistência à mulher em clínica ginecológica, no pré-natal, parto e puerpério, no climatério, em planejamento familiar, DST, câncer de colo de útero e de mama, além de outras necessidades identificadas a partir do perfil populacional das mulheres (BRASIL, 1984). A partir de 1990, o PAISM vem sendo influenciado, a partir da proposição do Sistema Único de Saúde (SUS), pelas características da nova política de saúde, pelo processo de municipalização e principalmente pela reorganização da atenção básica, por meio da Estratégia Saúde da Família. Em 2002, Ministério da Saúde editou a Norma Operacional de Assistência à Saúde (NOAS-SUS 01/2002), que ampliou as responsabilidades dos municípios na Atenção Básica, estabeleceu o processo de regionalização como estratégia de hierarquização dos serviços de saúde e de busca de maior equidade; criou mecanismos para o fortalecimento da capacidade de gestão do SUS e procedeu à atualização de habilitação de estados e municípios. A NOAS 01/2002 colocou como responsabilidades e ações estratégicas mínimas de atenção básica à saúde da mulher o pré-natal, a prevenção do câncer de colo de útero e o planejamento familiar. Em 2004, o PAISM tornou-se a Política Nacional de Atenção Integral a Saúde da Mulher (PNAISM), possuindo um plano de ação de 2004-2007. Este plano deve contemplar a realidade de cada município, respeitando suas especificidades epidemiológicas e culturais e sua inserção nos diversos níveis de gestão definidos pela Norma Operacional de Assistência à Saúde (NOAS). A PNAISM possui como princípios a humanização e a qualidade da atenção em saúde e tem o SUS como diretriz. Para Mantamala apud Brasil (2004a), a qualidade da 21 atenção deve estar referida a um conjunto de aspectos que englobam as questões psicológicas, sociais, biológicas, sexuais, ambientais e culturais. Isso implica em superar o enfoque biologicista e medicalizador hegemônico nos serviços de saúde e a adoção do conceito de saúde integral e de práticas que considerem as experiências das usuárias com sua saúde. Neste sentido, humanizar e qualificar a atenção em saúde é aprender a compartilhar saberes e reconhecer direitos. A atenção humanizada e de boa qualidade implica no estabelecimento de relações entre sujeitos, seres semelhantes, ainda que possam apresentar-se muito distintos conforme suas condições sociais, raciais, étnicas, culturais e de gênero. A humanização da atenção em saúde é um processo contínuo e demanda reflexão permanente sobre os atos, condutas e comportamentos de cada pessoa envolvida na relação. É preciso maior conhecimento de si, para melhor compreender o outro com suas especificidades e para poder ajudar sem procurar impor valores, opiniões ou decisões. Um dos elementos para atingir estes princípios é o acesso da população feminina às ações e aos serviços de saúde nos três níveis de assistência: primário, secundário e terciário. Como foi descrito, no século XX ocorreram grandes transformações na vida da população feminina, surgindo um novo tipo de mulher, chamada neste estudo de nova mulher. Riechelmann (1998) afirma que a nova mulher é dona de si e participa no sistema econômico de produção, embora continue com as responsabilidades do trabalho doméstico, tendo, assim dupla jornada de trabalho. Esta nova mulher possui o controle sobre sua sexualidade, tanto em relação ao prazer quanto à maternidade. Entretanto, convivendo no mesmo cenário desta nova mulher continua a existir a mulher tradicional, que carrega consigo os ideais de mulher como mãe, esposa, e boa dona de casa. Segundo Riechelmann (1998) este tipo de mulher é desvalorizada em relação ao homem, uma vez que é vista como menos inteligente e capaz que este. Ela existe em função do conforto e do prazer masculino e de gerar seus herdeiros. Não é dona de sua sexualidade a qual pertence a seu marido. Limita-se ao ambiente doméstico. Para estas mulheres trabalhar fora do lar é sinônimo de ausência de um homem na sua vida. O sistema de saúde e, principalmente, a Unidade de Saúde da Família (USF) precisam estar preparados para atender aos perfis de mulheres existentes, nesta perspectiva procurar entender as representações sociais destas mulheres sobre ser mulher e sua saúde e como cada uma busca cuidar da própria saúde é essencial. 22 2.2 A ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA: ARCABOUÇO TEÓRICO A Estratégia Saúde da Família (ESF), surgiu em 1994, sob a denominação de Programa Saúde da Família (PSF), como um programa do Ministério da Saúde. Desde então, a ESF tem sido uma das prioridades do governo federal. Será utilizada, neste trabalho, a denominação ESF, mas no que se refere a documentos e textos de outros autores, será caracterizado da mesma forma em que aparece nos mesmos. O Ministério da Saúde (2001), define o PSF como uma estratégia que prioriza as ações de promoção, proteção e recuperação da saúde dos indivíduos e da família, do recémnascido ao idoso, sadios ou doentes, de forma integral ou contínua. O Ministério da Saúde (2001) afirma também que o PSF tem o objetivo de reorganizar a prática assistencial em novas bases e critérios, em substituição ao modelo tradicional de assistência, orientado para a cura de doenças e centrado no hospital. A atenção está centrada na família, entendida e percebida a partir de seu ambiente físico e social. A estratégia Saúde da Família reafirma e incorpora os princípios básicos do Sistema Único de Saúde (SUS): universalização, descentralização, integralidade e participação da comunidade. Esta estratégia está estruturada a partir da Unidade de Saúde da Família (USF) uma unidade pública de saúde, com equipe multiprofissional que assume a responsabilidade por uma determinada população, a ela vinculada, onde desenvolve ações de promoção da saúde, prevenção, tratamento e reabilitação dos agravos. A Unidade de Saúde da Família atua baseada nos seguintes princípios: Caráter substitutivo: não significa a criação de novas estruturas de serviços, exceto em áreas desprovidas, e sim a substituição das práticas convencionais de assistência por um novo processo de trabalho, cujo eixo está centrado na vigilância à saúde. Integralidade e hierarquização: a Unidade de Saúde da Família está inserida no primeiro nível de ações e serviços do sistema local de saúde, denominado atenção básica. Deve estar vinculada à rede de serviços de forma que se garanta atenção integral aos indivíduos e famílias e seja assegurada a referência e contra-referencia para os diversos níveis do sistema, sempre que for requerida maior complexidade tecnológica para a resolução de situações ou problemas identificados na atenção básica. Territorialização e adscrição da clientela: trabalha com território de abrangência definido e é responsável pelo cadastramento e acompanhamento da população adscrita 23 a está área. Recomenda-se que uma equipe seja responsável pelo acompanhamento de no máximo 4500 pessoas. Equipe multiprofissional: a equipe de Saúde da Família é composta minimamente por médico generalista ou médico da família, um enfermeiro, uma auxiliar de enfermagem e de quatro a seis agentes comunitários de saúde (ACS). O número de ACS varia de acordo com o número de pessoas sob a responsabilidade da equipe – numa proporção média de um agente para 550 pessoas acompanhadas. Outros profissionais poderão ser incorporados a Unidade de Saúde da Família ou em equipes de supervisão, de acordo com as possibilidades e necessidades locais. Cada Unidade pode atuar com uma ou mais equipes de saúde, dependendo da concentração de famílias do território de sua abrangência. Cada equipe deve estar preparada para: Conhecer a realidade das famílias pelas quais é responsável, por meio do cadastramento destas e do diagnóstico de suas características sociais, demográficas e epidemiológicas; Identificar os problemas de saúde prevalentes e situação de risco aos quais a população está exposta; Elaborar, com a participação da comunidade, um plano local para o enfrentamento dos determinantes do processo saúde-doença; Prestar assistência integral, respondendo de forma contínua e racionalizadora a demanda organizada ou espontânea, na Unidade de Saúde da Família, na comunidade, no domicílio e no acompanhamento ao atendimento nos serviços de referência ambulatorial; Desenvolver ações educativas e intersetoriais para o enfrentamento dos problemas de saúde identificados. Cada profissional possui atribuições especificas dentro do PSF, especificaremos aqui somente as atribuições do médico, tendo em vista o enfoque dado a este profissional pelas mulheres entrevistadas neste estudo, e do enfermeiro, uma vez que este estudo procura trazer contribuições para a área da enfermagem. 24 Atribuições do médico: Realizar consultas clínicas aos usuários da sua área adstrita; Executar as ações de assistência integral em todas as fases do ciclo de vida: criança, adolescente, mulher, adulto e idoso; Realizar consultas e procedimentos na USF e, quando necessário, no domicílio; Realizar as atividades clínicas correspondentes ás áreas prioritárias na intervenção na atenção Básica, definidas na Norma Operacional da Assistência à Saúde - NOAS 2002; Aliar a atuação clínica à prática da saúde coletiva; Fomentar a criação de grupos de patologias especificas, como de hipertensos, de diabéticos, de saúde mental, dentre outros; Realizar o pronto atendimento médico nas urgências e emergências; Encaminhar aos serviços de maior complexidade, quando necessário, garantindo a continuidade do tratamento na USF, por meio de um sistema de acompanhamento e referência e contra-referência; Realizar pequenas cirurgias ambulatórias; Indicar internação hospitalar; Solicitar exames complementares; Verificar e atestar óbito. Atribuições do enfermeiro: Executar as ações de assistência integral a criança, ao adolescente, ao adulto, a mulher, ao trabalhador e ao idoso; Desenvolver ações para capacitação dos ACS e auxiliares de enfermagem, com vistas ao desempenho de suas funções junto ao serviço de saúde; Promover a qualidade de vida e contribuir para que o meio ambiente torne-se mais saudável; 25 Realizar cuidados diretos de enfermagem nas urgências e emergências clínicas, fazendo a indicação para a continuidade da assistência prestada; Realizar consultas de enfermagem, solicitar exames complementares, prescrever/transcrever medicações, conforme protocolos estabelecidos nos programas do Ministério da Saúde e disposições legais da profissão; Planejar, gerenciar, coordenar, executar e avaliar a Unidade de Saúde da Família, levando em conta as reais necessidades de saúde da população adscrita; Aliar a atuação clínica à prática de saúde coletiva; Realizar as atividades correspondentes ás áreas prioritárias de intervenção na atenção Básica, definidas na Norma Operacional da Assistência à Saúde - NOAS 2002; Discutir de forma permanente, junto à equipe de trabalho e comunidade, o conceito de cidadania, enfatizando os direitos de saúde e as bases legais que os legitimam. Através do que foi exposto, podemos observar que a ESF, possui uma proposta maravilhosa, na qual prioriza a promoção, proteção e recuperação da saúde dos indivíduos e da família, além de buscar novas práticas assistenciais, centrada na família. Tentando superar o modelo tradicional, voltado para a cura de doenças e hospitalização. Agora o que precisamos saber é como esta estratégia tem funcionado na prática de cada município. Este estudo, ao utilizar uma USF no interior de Goiás como cenário mostrou, em linhas gerais, como ocorre este funcionamento. 2.3 CONHECENDO UM POUCO SOBRE REPRESENTAÇÕES SOCIAIS A Teoria das Representações Sociais (TRS) teve início na década de 1960, discussão proposta por Moscovici, que se fundamentou em outras teorias para desenvolvê-la. Moscovici se apoiou no conceito de representações coletivas de Durkheim. Moscovici remodelou o conceito de representações coletivas a partir de duas vertentes. A primeira, baseada em Piaget, no estudo de representação de crianças, no qual a criança intercambia o signo e o significado e a imaginação aparece como um dos modos do pensamento social. A outra vertente baseou-se na teoria sexual das crianças, desenvolvida por Freud que traz elementos como a internalização, que infunde realidade e imagens e símbolos que deixam marcas em nossas vidas a partir da infância (ESCUDEIRO, 1997). 26 Surge assim o conceito de representações sociais na Psicologia Social, o qual seria, futuramente, utilizado por outras áreas do conhecimento, dentre elas a enfermagem. O termo representações sociais designa tanto um conjunto de fenômenos quanto o conceito que os engloba e a teoria construída para explicá-los. Conceituar representações sociais não é uma tarefa fácil, devido a própria complexidade da noção da mesma. Moscovici (2004) não apresenta uma definição precisa das representações sociais. Entretanto este autor comenta que representações sociais são um conjunto de conceitos, proposições e explicações originado na vida cotidiana no curso de comunicações interpessoais. São equivalentes, em nossa sociedade, dos mitos e sistemas de crenças das sociedades tradicionais, podem também ser vistas como a versão contemporânea do senso comum. Jodelet (2005) refere que o conceito de representação social designa uma forma específica de conhecimento, o saber do senso comum, cujos conteúdos manifestam a operação de processos generativos e funcionais socialmente marcados. De modo mais amplo, designa uma forma de pensamento social. Moscovici (2004) nos diz que a estrutura de cada representação possui duas faces, a face figurativa e a face simbólica. A primeira, um polo passivo da estampagem do objeto, expressão e de uma produção do sujeito. E a segunda, um polo ativo da escolha do sujeito. Esta estrutura busca destacar uma figura e ao mesmo tempo, carregá-la de um sentido, inscrever o objeto em nosso universo, isto é, naturalizá-lo e fornecer-lhe um contexto inteligível, isto é, interpretá-lo. Moscovici (2004) formula a hipótese de que cada universo tem três dimensões: a informação, a atitude e o campo de representação ou imagem. A informação está relacionada com a organização dos conhecimentos que um grupo possui a respeito de um objeto social. O campo da representação ou imagem transporta-nos à idéia de imagem, de modelo social, ao conteúdo concreto e limitado das proposições a um aspecto preciso do objeto e pressupõe organização, ordenação e hierarquização dos elementos que configuram o conteúdo representado. A atitude permite a orientação global em relação ao objeto da representação social, logo uma pessoa se informa e se representa após ter adotado uma posição. Moscovici (2004) evidenciou dois processos pelos quais uma ciência penetra numa sociedade, mostrando como o social transforma um conhecimento em representação e da forma pela qual essa representação transforma o social. São a objetivação e a ancoragem. A objetivação faz com que se torne real um esquema conceitual. Traz para a observação o que era apenas símbolo. Objetivar é materializar significações. 27 Durante a objetivação ocorre a naturalização e a classificação. A naturalização torna o símbolo real, trazendo-o para o concreto. Já a classificação é quando as pessoas fazem escolhas entre sistemas de categorias, localizando e fixando condutas ordenando-as. Dando a realidade um ar simbólico (MOSCOVICI, 2004). A ancoragem refere-se a integração cognitiva do objeto representado no sistema de pensamento pré-existente e às transformações advindas. Ou seja, é o enraizamento social da representação social e de seu objeto (MOSCOVICI, 2004). O processo de ancoragem aliado com a objetivação articula a função cognitiva de integração da novidade com a função de interpretação da realidade e com a função de orientação das condutas e das relações sociais (MOSCOVICI, 2004). Moscovici (2004) relata que a ancoragem possui três aspectos: a atribuição de sentido, a instrumentalização do saber e o enraizamento no sistema de pensamento. No primeiro aspecto, a atribuição de sentido ocorre a partir dos valores de uma sociedade e dos seus grupos, que vão criar em torno de um objeto significações. No segundo aspecto, a instrumentalização do saber busca compreender como os elementos da representação penetram na constituição das relações sociais. O enraizamento no sistema de pensamento, o terceiro aspecto, é o novo tornar-se familiar, utilizando para isto as idéias, crenças e conceitos já existentes. Tornando-se, assim, parte da realidade social. As representações sociais são objetos cujos estudos restabelece á Psicologia Social suas dimensões históricas, social e cultural, pelos laços que as unem à linguagem, ao universo ideológico, do simbólico e do imaginário social e por seu papel no encaminhamento das condutas e das práticas sociais (ESCUDEIRO, 1997). As representações sociais são utilizadas em outras áreas do conhecimento, que buscam compreender a realidade social de determinados grupos sociais em relação a algum objeto. A enfermagem é uma destas áreas, vem utilizando as representações sociais em alguns de seus estudos científicos. Neste sentido nos estamos utilizando as representações sociais na tentativa de identificar o significado de ser mulher e da saúde para um determinado grupo de mulheres, no interior de Goiás. Como mostramos anteriormente, a mulher tem ocupado novos espaços no mundo contemporâneo e a saúde também tem evoluído seu conceito. Mas como está enraizado o pensamento destas mulheres em relação a esta temática, o que é familiar para este grupo. Acreditamos que estas representações interferem nas estratégias utilizadas por estas mulheres na busca da saúde e na qualidade assistencial, tornando-se assim, um bom caminho para mudanças efetivas. 28 III. TRAJETÓRIA METODOLÓGICA O estudo foi pautado numa abordagem qualitativa, com enfoque nas representações sociais colocadas por Moscovici e Jodelet. A pesquisa qualitativa permite compreender o problema no meio em que ele ocorre, sem criar situações artificiais que mascaram a realidade, ou que levam a interpretações e generalizações equivocadas (GAUTIER, 1998). O estudo qualitativo lida com o aspecto da complexidade humana explorando-a diretamente. Enfatiza a compreensão da experiência humana como é vivida, coletando e analisando materiais narrativos e subjetivos (POLIT, BECK e HUNGLER, 2004). Já a representação social designa uma forma específica de conhecimento, o saber do senso comum, cujos conteúdos manifestam a operação de processos generativos e funcionais socialmente marcados. De modo mais amplo, designa uma forma de pensamento social (JODELET, 2005). A representação social é equivalente, em nossa sociedade, aos mitos e sistemas de crenças das sociedades tradicionais, podem também ser vistas como a versão contemporânea do senso comum (MOSCOVICI, 2004). 3.1 CENÁRIO O estudo foi realizado numa Unidade de Saúde da Família (USF), selecionada aleatoriamente no município de Piracanjuba-GO. A USF foi escolhida como cenário por possuir território de abrangência definido e ser responsável pelo cadastramento e acompanhamento da população adscrita a área. Permitindo, desta forma, que os sujeitos do estudo pertençam a uma mesma localidade com condições sócio-econômicas semelhantes. A USF selecionada possui 965 famílias cadastradas, somando um total de 2986 pessoas. Dentre está população há 19 gestantes, 55 crianças, 80 diabéticos e 453 hipertensos acompanhados. Esta USF Abrange seis setores, sua sede é uma casa que foi reformada e reestruturada para ser uma USF. Está localizada de forma estratégica, permitindo acesso fácil da população de qualquer um dos setores abrangidos. Esta unidade está estruturada fisicamente da seguinte forma: possui muros nas laterais e a frente com grades, com dois portões, que dão acesso a uma área que contorna a unidade. A área lateral direita serve como sala de espera para consulta clínica com o médico ou enfermeira, enquanto a área lateral esquerda funciona como sala de espera para atendimento odontológico. Ambas as áreas 29 possuem banquetas de cimento com cerâmica, que são utilizados pela clientela como assento. Entrando pelo lado direito, no final da área encontra-se a recepção, onde é marcada a consulta, solicitado aferição de pressão arterial, glicemia, etc. A recepção dá acesso a um banheiro público, a uma copa, ao consultório médico, a sala de procedimentos técnicos de enfermagem e ao consultório de enfermagem. Entre a recepção e o consultório de enfermagem há banheiro para funcionários. A sala de procedimentos técnicos de enfermagem dá acesso a sala de curativos. Entrando pelo lado esquerdo, há o consultório dentário com acesso com as demais dependências da unidade através da copa, somente para funcionários. O horário de funcionamento da unidade é de 07:00h às 11:00h e de 13:00 às 17:00h, de segunda a sexta feira. Ficando fechada aos finais de semana, feriados e no horário de almoço, 11:00 às 13:00h. A equipe desta USF é composta por um médico, uma enfermeira, uma cirurgiãodentista, uma técnica de enfermagem, uma auxiliar de consultório dentário, uma auxiliar de limpeza, uma recepcionista e seis agentes comunitários de saúde. As principais atividades desenvolvidas pela equipe de saúde desta USF são: Atendimento clínico do médico, cirurgião-dentista e do enfermeiro; Visitas domiciliares; Atividades educativas e preventivas em instituições como escolas, creches, etc.; Atividades educativas na própria unidade, com gestantes, hipertensos, diabéticos, idosos, mulheres, etc. Exame de prevenção do câncer do colo uterino pela enfermeira. As principais atividades desenvolvidas com as mulheres nesta unidade são: Abertura do cartão da mulher, para acompanhamento da mesma (anexo A); Realização da consulta de pré-natal pelo médico, com realização do cadastro no SISPRENATAL pela enfermeira na primeira consulta; Reunião mensal com as gestantes, com distribuição de brindes, lembrancinhas e enxoval no final da gravidez para aquelas gestantes que compareceram a todas as reuniões. Estas reuniões são realizadas com todas as gestantes do município, uma vez por mês. Conta com a participação das cinco USF e do PACS (zona rural), com organização da Secretaria Municipal de Saúde, na figura do coordenador da ESF e com apoio da Secretaria de Assuntos Sociais; Realização do exame preventivo do câncer do colo uterino pela enfermeira; 30 Distribuição de informativos sobre prevenção do câncer do colo uterino e de mama; Planejamento familiar através da distribuição de contraceptivo oral e/ou preservativo; Controle de DST através da distribuição de preservativos e tratamento dos doentes. 3.2 SUJEITOS DO ESTUDO Minayo (2004) afirma que os sujeitos de um estudo qualitativo são pessoas, em determinada condição social, pertencentes a determinado grupo social com crenças, valores e significados. Deste modo, foram entrevistadas trinta e três mulheres que estavam na USF selecionada no dia em que as entrevistas foram realizadas. Entretanto três mulheres foram retiradas do estudo, devido a falha técnica do gravador que não computou a gravação de suas entrevistas. Assim, tivemos efetivamente trinta entrevistas para trabalharmos. 3.3 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO Foram incluídas no estudo mulheres que estavam presentes na USF selecionada, nos dias em que foram realizadas as entrevistas. As mulheres entrevistadas são adscritas a USF e aceitaram participar do estudo, após serem esclarecidas de que se tratava o estudo e assinarem o Termo de Consentimento e Livre Esclarecido. 3.4 ASPECTOS ÉTICOS Na cidade em que foi realizado o estudo não possui Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), o estudo foi avaliado pelo CEP da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, obtendo sua aprovação sob o nº 002/2006-2. (anexo B). A Secretária de Saúde do Município e o Coordenador do PSF de Piracanjuba-GO possuíam conhecimento sobre o estudo que foi realizado na USF do município, permitindo sua realização nesta localidade. Demonstraram interesse e satisfação pelo estudo ter sido realizado no município e acreditam que está pesquisa possa contribuir com a saúde local. Foi obedecida a Resolução 196/96, do Conselho Nacional de Saúde/Ministério da Saúde. O termo de consentimento e livre esclarecido (TCLE) utilizado encontra-se no apêndice B. 31 3.5 ENTRADA NO CAMPO E COLETA DE INFORMAÇÕES Antes da entrada no campo de coleta de informações, visitei a Secretaria Municipal de Saúde, no dia 10 de julho de 2006, e me apresentei ao Coordenador da Estratégia Saúde da Família de Piracanjuba-GO, entregando-lhe uma cópia do projeto de pesquisa e esclarecendo de que se tratava o trabalho. Este se mostrou solícito e prestou informações de algumas atividades que foram ou estavam sendo realizadas nas USF em relação a saúde da mulher, me forneceu material impresso sobre todas atividades desenvolvidas nas cinco USF do município, bem como a composição de cada equipe, os setores abrangidos e o número de famílias acompanhadas por cada unidade. Nesta ocasião, escolhemos a USF na qual seria realizado o estudo. A primeira visita ao campo aconteceu no dia 12 de Julho de 2006, as 07:50h. Encontrei a unidade quase sem nenhuma clientela, havia clientes somente para atendimento odontológico. Apresentei-me a enfermeira e expus o motivo de minha presença na unidade, fui apresentada por ela aos demais funcionários. Descobri que a unidade estava sem clientela porque o médico encontrava-se de férias. Por sua vez, havia poucos clientes para serem atendidos pelo cirurgião dentista, pois o mesmo entraria de férias na próxima semana, estava apenas terminando o tratamento de quem já havia começado. Soube também que o médico recomeçaria as consultas no dia 17 de julho de 2006, assim, deixei acertado com a equipe daquela unidade que começaria a coleta de informações no dia em que o médico voltasse a trabalhar, ou seja, em 17 de julho de 2006. Deste modo iniciei a coleta de informações no dia combinado, as 08:00h. A mesma foi realizada através de um roteiro de caracterização, de uma dinâmica e de uma entrevista semi-estruturada com as mulheres participantes, individualmente. A coleta de informações foi encerrada no dia 28 de agosto de 2006, com total de trinta e três participantes, na medida em que os dados já estavam saturados. A abordagem às mulheres e a coleta de informações foram feitas na sala de espera, no período anterior ou posterior a consulta, ou enquanto aguardavam um familiar ou amigo que estava consultando. A sala de espera foi o local de escolha das próprias entrevistadas, no momento da coleta de informações, ficávamos afastadas do restante do grupo, a fim de conferir privacidade às falas da entrevistada. Primeiramente, eu me apresentava a elas, expunha do que se tratava o estudo, da importância da participação da mesma, bem como o sigilo, o anonimato e a não obrigatoriedade da participação das mesmas, caso se interessassem em participar entregava- 32 lhes o TCLE e explicava a sua importância, após a assinatura deste por mim e por ela e a entrega de uma via à mulher interessada em participar, sentávamos num local mais afastado do grupo e começávamos a coleta de informações que estava dividido em três momentos: 3.5.1) a caracterização; 3.5.2) a dinâmica; e 3.5.3) a entrevista. 3.5.1 O primeiro momento... A caracterização As informações contidas na caracterização foram colhidas através de um roteiro estruturado, buscando trazer informações relevantes para traçar o perfil sócio-econômico das participantes do estudo. As informações contidas foram referentes a idade, escolaridade, estado civil, chefe de família, ocupação, renda própria, renda familiar, número de partos e meios de comunicação aos quais as entrevistadas têm acesso. O roteiro foi preenchido por mim em ficha individual após questioná-la sobre cada item. O mesmo foi identificado com um número, o qual foi utilizado tanto para a dinâmica, quanto para a entrevista. A participante também recebeu o número de sua entrevista no TCLE, caso desistisse de participar do estudo deveria fornecer este número para serem excluídas as informações fornecidas pela mesma. (apêndice A). 3.5.2 O segundo momento... A dinâmica No segundo momento, foi realizada uma dinâmica individual com cada participante, a fim de que esta refletisse sobre sua condição como mulher e sobre sua saúde.Utilizamos para esta dinâmica o seguinte material: Uma rosa com caule sem espinhos, vermelha, artificial e muito semelhante a uma rosa verdadeira (foto 01); Espinhos de laranjeira, longos, resistentes e pontiagudos (foto 02); Uma rosa com caule cheio de espinhos, vermelha, artificial e com grande semelhança a uma rosa verdadeira (foto 03); Gravador com fita. 33 Veja nas fotos abaixo as rosas e os espinhos utilizados na dinâmica. Foto 01: Rosa sem espinho Foto 02: Espinhos Foto 03: Rosa com espinho A rosa sem espinhos foi escolhida para ser utilizada na dinâmica por possuir a conotação de beleza, suavidade, harmonia, algo que é puro, sem maldade e sofrimento. Já o espinho é o oposto, é algo que é duro, pontiagudo, machuca, fere e traz sofrimento. E por fim, a rosa com espinho é a mistura de ambos, possui sua beleza, mas pode causar sofrimento a qualquer momento. Neste mesmo caminho, o “Dictionary of simbolism” (2001), através da palavra “rose”, nos revela que na mitologia, as primeiras rosas vermelhas surgiram do sangue de Adonis pelo amor de Aphrodite; assim, elas têm se tornado o símbolo do amor, e freqüentemente ressurreição. Já no simbolismo católico, a rosa vermelha representa o sangue de Jesus derramado na cruz. Ela também tem se tornado o símbolo do amor terreno, uma tradição que continua até hoje. As rosas podem representar a Virgem Maria, e assim a virgindade, ou fertilidade e paixão. Elas também podem ser a beleza e perfeição, felicidade e graça, e ainda a sensualidade e a sedução. Por outro lado, o espinho (“thorn”) denota pecado, tristeza, mágoa, dor e privação, o espinho é um dos mais antigos símbolos no mundo. Junto com a rosa, ele representa dor e prazer. O espinho é um emblema da paixão de Cristo, com a coroa de espinhos. A dinâmica buscou através de uma figura (rosa ou espinho), trazer a face simbólica associada à mesma no que se refere ao ser mulher e à saúde feminina. Foi realizada da seguinte forma: primeiramente foi mostrado à mulher entrevistada a rosa sem espinhos, depois o espinho e por último a rosa cheia de espinhos. Em seguida foram feitos os seguintes questionamentos: 34 Para você, ser mulher é rosa (apontava para a rosa sem espinhos), é espinho (indicava o espinho) ou é rosa cheia de espinhos (mostrava a rosa com espinhos)? Após a entrevistada realizar sua escolha, foi questionada do porque de sua escolha. E a saúde da mulher para você, é rosa, é espinho ou é a rosa com espinhos? Também foi questionado o porquê de sua escolha. A resposta fornecida pelas mulheres participantes foi gravada e transcrita posteriormente. 3.5.3 O terceiro momento... A entrevista Após a dinâmica, foi realizada a entrevista, seguindo-se um roteiro semiestruturado constituído por quatro questionamentos: O que é saúde da mulher para você? Do seu ponto de vista, sua saúde como mulher está sendo bem cuidada? De que forma? Quando você tem algum problema, relacionado a sua saúde da mulher, onde ou com quem você busca ajuda? Resolve seu problema? De que forma? A priori, muitas participantes demonstraram certa dificuldade de estarem expondo e ordenando seu pensamento, deste modo a partir daquilo que elas foram relatando, foram elaborados novos questionamentos, a fim de extrair o máximo de informações sobre o assunto e sempre que terminavam sua resposta, eu perguntava, além disto que você falou, você acha que tem mais alguma que você considera importante estar falando. Todas as entrevistas foram gravadas e transcritas posteriormente. Os três momentos apresentados, caracterização, dinâmica e entrevista, duravam cerca de 20 minutos, ao todo, por participante. Foi utilizado para registrar a dinâmica e a entrevista, um gravador e 04 fitas de 46 min. cada. A transcrição foi realizada na mesma semana em que se realizaram as entrevistas. 35 IV. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DAS INFORMAÇÕES As informações foram apresentadas através de gráficos e de forma dissertativa. Foi utilizada a análise de conteúdo, como forma de interpretação das informações fornecidas pelas depoentes. Bardin (2004), define análise de conteúdo como um Conjunto de técnicas de análise das comunicações, visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição de conteúdos de mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (varáveis inferidas) destas mensagens. A unidade de registro utilizada foi o tema, que está ligado a afirmação sobre um determinado assunto e busca descobrir os núcleos de sentido que compõem uma comunicação cuja presença ou freqüência signifiquem alguma coisa para o objetivo visado. Neste caminho foram elaborados três quadros sínteses que trazem os temas utilizados, bem como a freqüência das unidades de significação. Estes quadros foram estruturados a partir da dinâmica individual e das entrevistas com as mulheres participantes e serviram de subsídio para a organização das categorias do estudo. A codificação foi realizada fazendo-se o recorte do tema, ou seja, ser mulher (rosa ou rosa com espinho), saúde da mulher (saúde, rosa, rosa com espinho e espinho) e busca da saúde (cuidar da saúde, ir ao médico, ir ao posto de saúde, buscar um familiar ou amigo). Em seguida foi realizada a enumeração baseada na freqüência de aparição da unidade de registro (A1, A2, B1, e assim por diante) e por fim a classificação, considerando as unidades com maior representação das características do conteúdo, surgindo assim as categorias. Os quadros sínteses encontram-se incorporados às categorias as quais deu origem, a fim de possibilitar melhor compreensão do leitor em relação aos dados encontrados. Deste modo, a apresentação e análise das informações encontram-se organizadas da seguinte forma: primeiramente, temos a apresentação da caracterização, na seqüência apresentamos as três categorias que emergiram da dinâmica e da entrevista, que são: 1) “Ser mulher... Gerar a vida, cuidar da vida”; 2) “Saúde da mulher é saúde, delicada e necessita de cuidado”; 3) “Entre a busca da saúde e resolutividade”. 36 4.1 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DAS INFORMAÇÕES REFERENTES À CARACTERIZAÇÃO DAS PARTICIPANTES As informações referente a caracterização das mulheres participantes foram apresentadas em forma de nove gráficos, a fim de permitir melhor visualização das informações prestadas pelas depoentes. Estas informações são referentes a faixa etária, a escolaridade, ao estado civil, a atividade desenvolvida pela mulher entrevistada, a renda própria, ao chefe da família, a renda familiar, ao número de partos e meios de comunicação a que estas mulheres têm acesso. Conhecer estas informações torna-se necessário para que possamos traçar um perfil sócio-econômico das mulheres participantes, colaborando deste modo com a análise das informações e as considerações finais. Além disso, Moscovici (2004) coloca que as representações sociais se referem ao modo pelo qual as pessoas, apreendem os acontecimentos da vida cotidiana, dos dados do ambiente, das informações que circulam. Esse conhecimento espontâneo, conhecido como senso comum, se constitui a partir da experiência de cada um, bem como de informações, saberes, modelos de pensamento, que recebemos e transmitimos pela tradição, educação e comunicação social. Nesta perspectiva, o perfil sócio-econômico das participantes do estudo pode interferir diretamente em suas representações sociais, afinal está relacionado ao modo pelo qual estas mulheres apreendem as informações que as rodeiam. Assim temos: gráfico 01: Distribuição segundo a faixa etária 13% 23% 13% 28% 21 a 30 anos 31 a 40 anos 41 a 50 anos 51 a 60 anos 61 a 70 anos 23% Fonte: Formulários com informações de 30 mulheres numa USF em Piracanjuba-GO, 2006. 37 Observando o gráfico acima podemos verificar que as participantes do estudo encontravam-se, principalmente, na faixa etária entre 31 e 40 anos (28%), seguida pelas faixas etárias de 41 a 50 anos (23%) e 51 a 60 anos (23%). Note que a maioria das mulheres entrevistada (74%) nasceu num período entre os anos de 1946 e 1975, o que significa que pertenciam a um momento histórico de transformação, ao mesmo tempo em que surgiam as novas idéias, tais como, direitos para as mulheres, abertura do mercado de trabalho, dentre outros. Havia também a forte influência do modelo de mulher ideal: mãe e esposa, dedicada ao lar e à família, inclusive a educação dos filhos e cuidados com velhos e doentes da família. gráfico 02: Distribuição segundo a escolaridade 17% 10% nenhuma 7% ens. Fund. Inc. 3% ens. Fund. ens. Méd. inc. Ens. Med. 63% Fonte: Formulários com informações de 30 mulheres numa USF em Piracanjuba-GO, 2006. De acordo com o gráfico acima, podemos observar que 63% das entrevistadas encontram-se com escolaridade referente a ensino fundamental incompleto, sendo que muitas destas não chegaram a completar quatro anos de estudo, conforme relataram as mesmas. Observe também que 10% destas mulheres não possuem nenhuma escolaridade. Estes dados também podem estar relacionados com a faixa etária e com nível sócio econômico das entrevistadas, uma vez que as mulheres da década de 1940, 1950 e 1960 não eram incentivadas a estudar, precisavam saber o suficiente para serem boas esposas e mães e contribuírem com a boa educação dos seus filhos. Também não havia o interesse em se educar mulheres de classes menos favorecidas, idéia que foi difundida durante o século XIX, persistindo durante o século XX. Neste caminho, Vieira (2002) relata que a idéia de se educar as mulheres para transformá-las em educadoras fez parte do projeto de higienização da sociedade, do século XIX, cujo discurso médico oficial era que o objetivo principal da educação das mulheres seria 38 para formar mães educadoras e boas reprodutoras. Entretanto, este discurso visava uma elite que necessitava preservar-se, evitando as doenças e a mortalidade, principalmente infantil. gráfico 03: Distribuição segundo estado civil 6% 10% solteira casada 29% divorciada separada 3% 46% estável viúva 6% Fonte: Formulários com informações de 30 mulheres numa USF em Piracanjuba-GO, 2006. O gráfico 03 nos revela que a maioria das mulheres entrevistadas são casadas (46%) ou encontram-se numa situação conjugal estável (29%). Situações que somadas representam 75% das mulheres. Evidenciando a valorização de se ter um homem em casa. Muitas das mulheres em situação estável são separadas ou divorciadas que partiram para o segundo relacionamento, sem necessariamente ter que oficializar sua união. Houve um tempo (antiguidade até século XIX) em que as mulheres usaram o título de esposa como um rótulo de honra. As mulheres se casavam pela situação econômica, para fortalecer alianças familiares, ter filhos, combater a solidão, para ser como todas as outras mulheres. Hoje em dia, o casamento não é o único caminho para os prazeres sexuais e domésticos, já que as mulheres e homens solteiros vivem juntos abertamente como jamais aconteceu. Não é nem mesmo a passagem indispensável para a maternidade, tendo em vista o aumento de nascimentos de bebês fora do casamento (YALOM, 2002). 39 Gráfico 04: Distribuição segundo a atividade desenvolvida pela entrevistada 13% 20% 3% cuida do lar func. Púb. Mun. 54% Doméstica autônoma 10% Func. Comércio Fonte: Formulários com informações de 30 mulheres numa USF em Piracanjuba-GO, 2006. Podemos verificar no gráfico 04 que 54% das entrevistadas dedicam-se a cuidar do lar e as demais entrevistadas (46%) realizam alguma atividade remunerada, tais como, doméstica, autônoma, funcionária pública municipal, dentre outras. Entretanto, continuam com a responsabilidade de cuidar de seus lares e de sua família. É importante ressaltar que a maioria das mulheres que se dedica exclusivamente ao lar também é casada ou encontra-se numa situação conjugal estável. Deste modo, podemos verificar a influência da visão que se tinham das mulheres casadas desde o tempo bíblico até a década de 1950, que era responsabilidade do marido sustentar a sua esposa, que em troca deveria oferecer sexo, gerar filhos e realizar as tarefas domésticas. Por outro lado, nos dias atuais, a maioria dos casais se casa esperando que ambas as partes ajudem na economia familiar. Desde que as dificuldades de sobrevivência de uma família com apenas um salário aumentaram, a família em que os dois trabalham tornou-se uma regra (YALOM, 2002). 40 Gráfico 05: Distribuição segundo a renda própria 20% pensão ou aposentadoria trabalho 33% não possui renda 47% Fonte: Formulários com informações de 30 mulheres numa USF em Piracanjuba-GO, 2006. Conforme o gráfico 05, a renda das mulheres entrevistadas é proveniente de seu próprio trabalho (47%) ou de pensão ou aposentadoria (20%), entretanto 33% destas mulheres não possuem nenhuma renda, dependendo financeiramente de seus companheiros, reforçando a idéia histórica de que a esposa deve ser sustentada pelo marido, presente ainda nos dias atuais. gráfico 06: Distribuição segundo a condição de chefe de família 33% esposo A própria mulher 67% Fonte: Formulários com informações de 30 mulheres numa USF em Piracanjuba-GO, 2006. O gráfico 06 nos mostra que a mulher considera como chefe de família o esposo (67%) ou a ela mesma (33%), quando considera a si mesma como chefe da família, geralmente é sozinha, viúva e/ou aposentada ou recebe pensão. Entretanto 8% das mulheres casadas ou em situação estável consideram a si mesmas como chefe da família. 41 Segundo o IBGE (2005b), o chefe de família ou pessoa de referência é aquela pessoa responsável pela família ou que assim fosse considerada pelos demais membros. Gráfico 07: Distribuição segundo a renda familiar 7% Até um salário min. 01 a 03 salários min. 03 a 05 salários min. 46% 47% Fonte: Formulários com informações de 30 mulheres numa USF em Piracanjuba-GO, 2006. O gráfico 07 nos informa qual é a renda familiar das participantes, ou seja, a soma dos rendimentos mensais dos componentes da família, que coabitam o mesmo domicílio. Deste modo, descobrimos que a renda familiar de 47% das participantes encontra-se entre um e três salários mínimos, enquanto 46% não chega a um salário e apenas 07% possuem renda acima de três salários mínimos. Gráfico 08: Distribuição segundo número de partos com nativivos 7% 13% 34% Nenhum Um Dois 23% Três > ou = a quatro 23% Fonte: Formulários com informações de 30 mulheres numa USF em Piracanjuba-GO, 2006. O gráfico 08 nos mostra que 34% das mulheres entrevistadas tiveram quatro ou mais partos, cujos filhos nasceram vivos. Enquanto as demais tiveram três (23%), dois (23%) 42 ou um filho (13%). Apenas 7% das depoentes nunca tiveram filhos ou perderam-no antes do nascimento. Através deste gráfico, notamos que 93% das mulheres passaram pela experiência de serem mães. Esta paridade pode estar relacionada a faixa etária das mulheres participantes e ao acesso aos métodos contraceptivos, além da idéia de que mulher casada tem que ser mãe. Mulheres com faixa etária mais elevada, teriam tido maior dificuldade no acesso aos métodos contraceptivos, tendo assim muitos filhos, e poderia haver ainda no imaginário destas mulheres a idéia de que a maternidade era um dever da mulher. Uma idéia construída ao longo de muitos séculos, não se desfaz rapidamente. Gráfico 09: Distribuição segundo os meios de comunicação em massa a que tem acesso 10% 8% 38% Rádio T.V. Jornal Revista 44% Fonte: Formulários com informações de 30 mulheres numa USF em Piracanjuba-GO, 2006. Podemos observar no gráfico 09 que os meios de comunicação em massa que as mulheres participantes do estudo tem maior acesso são o televisor (44%) e o rádio (38%). Apenas 10% lêem algum tipo de revista e 08% lêem ou já leu algum jornal. Segundo Mayo apud Amaral (2005), a televisão é o mais importante veículo de apreensão da realidade, ultrapassando instituições como a família, a igreja e a escola. Amaral (2005) relata que as pessoas tendem a acreditar naquilo que recebem dos meios de comunicação de massa como verdades absolutas, enquanto os jornalistas se esforçam para fazê-las crer que não há outras maneiras de interpretar os fatos senão aquelas que eles apresentam. Entretanto, os teóricos da construção social da realidade pensam que a mídia tem importante papel na forma como as pessoas “absorvem” o mundo. 43 Os espectadores dependem cada vez mais da mídia para formar suas imagens de realidade, em especial daquela realidade que não podem ver diretamente. Como as representações midiáticas não são automaticamente transportadas para o conhecimento dos destinatários, deve-se sempre considerar como variável a competência no tratamento das informações. Diferentes espectadores vão receber as mesmas informações de formas diversas (WOLF, 2003). Neste sentido, podemos acreditar que estas mulheres de alguma forma sofrem influência da mídia televisiva e falada no processo da formação de suas representações sociais sobre ser mulher, saúde e a busca da saúde. A escolha deste tipo de mídia pode estar atrelada a baixa escolaridade destas mulheres. 4.2 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DAS CATEGORIAS A partir das informações colhidas na dinâmica e na entrevista emergiu três categorias: 4.2.1) “Ser mulher... Gerar a vida, cuidar da vida”; 4.2.2) “Saúde da mulher é saúde, delicada e necessita de cuidado”;4.2.3) “Entre a busca da saúde e resolutividade”. 4.2.1 Ser mulher... Gerar a vida, cuidar da vida O quadro síntese abaixo mostra as representações sociais sobre ser mulher, a partir do ponto de vista de trinta mulheres do interior de Goiás. A partir destas informações emergiu esta categoria que teve como eixo a rosa e a rosa com espinho, norteadas em duas subcategorias: “O ser mulher rosa” e “O ser mulher rosa com espinho”. Quadro 1: Síntese das representações sociais sobre ser mulher do ponto de vista das depoentes Representações Sociais sobre ser mulher do ponto de vista de 30 mulheres depoentes A - Ser mulher é rosa (67%) Rosa significa: -Satisfação de ser mulher, mãe, esposa e dona de casa (A1); -Consideram-se essenciais na família e no lar (A2); -Dificuldades e preocupações (A3); -Outros (delicadeza, tranqüilidade, bondade) (A4). B - Ser mulher é rosa com espinho (33%) Rosa com espinho significa: -Dualidade (B1); -Insatisfação pessoal (B2); -Preocupações, responsabilidades, submissão e preconceitos (B3). 44 4.2.1.1 O ser mulher rosa Esta subcategoria emergiu a partir da dinâmica individual, na qual 67% das mulheres objetivaram o ser mulher na figura da rosa e tiveram suas representações ancoradas no fato de atribuírem a si mesmas um sentido histórico-social construído. Ser mulher é rosa, porque é tudo de bom, eu gosto de ser mulher, ser mãe, ser uma boa dona de casa, boa esposa (Jasmim). É rosa, porque eu gosto de ser mulher. Uma mulher no caso pode gerar, dar a vida, ser mãe, e se fosse homem não poderia. O principal mesmo é isso, a possibilidade de ser mãe (Sempre viva). É rosa, a gente mulher é muito, não sei explicar, pra mim é ser uma dona de casa, responsável, ter suas obrigações. É muito bom, a gente mulher dedica em casa, aos filhos, ser mulher mesmo, uma dona de casa. Eu penso que é bom, pelo menos eu acho bom, muito bom (Vitória-Régia). Rosa, porque ninguém quer nada cheio de espinho. [...] Pra mim foi muito bom ter nascido mulher, vida de homem é uma vida muito difícil, custoso os serviço deles, Deus me livre. Mulher, o serviço dela, trabalha muito, mas é mais tranqüilo. Eu acho bom ter filhos, difícil é a hora de por pra fora, esse é mais custoso porque a gente sofre muito, mas passou também, né (Flor-delis). Rosa, porque a mulher tem tudo que precisa dela. Tudo que vai fazer precisa da mulher. Os filhos precisam, o lar precisa, sempre ela em primeiro lugar. Ela que comanda tudo (Malva). Rosa, porque a rosa, a mulher ela faz de tudo em casa, então, lá em casa sou eu que cuido de todo mundo, eu é que olho, pra mim eu sou rosa lá. Eu cuido do meu esposo, eu cuido da minha filha, então todo serviço, é mais é eu (Flor-de-lotus). Estas mulheres sentem-se essenciais sendo mães, esposas e pessoas que organizam a estrutura doméstica, enfim cuidam da família. Além disso, é uma satisfação pessoal para este grupo desempenhar estas funções. Este papel feminino foi historicamente e 45 socialmente construído ao longo dos séculos e possui forte influência ainda nos dias atuais, principalmente nas cidades interioranas. Deste modo, as representações sociais colocadas por estas mulheres podem estar relacionadas ao fator cultural e social a que este grupo esteve exposto desde o nascimento até atingirem a idade adulta. Como foi mostrado no gráfico 01: 74% das entrevistadas nasceram entre os anos de 1946 e 1975, tendo grande possibilidade de terem sido educadas num regime tradicional, no qual as mulheres eram condicionadas a serem apenas mães devotadas e trabalhadoras do lar. As mães aceitavam a responsabilidade pela criação de crianças psicologicamente saudáveis, além de cuidar de suas necessidades físicas rotineiras, dedicando-se, assim em tempo integral, isto no período pós-guerra mundial (ROCHACOUTINHO, 1998). Reforçando esta idéia, Vasconcelos e Neder (2004) nos trazem que a cultura tem criado expectativas diferenciadas para ambos os sexos. O sexo feminino está associado a idéia de submissão, docilidade, contemplação, sensibilidade, além de outras características, atribuições e exigências que a sociedade delega à mulher. Trata-se de delegar, pois, essas características da identidade femininas, são uma construção social. As mulheres aprendem desde de início das suas vidas, que ser mulher é exercer funções associadas à maternidade, a cuidar da casa, do marido, das crianças. Pravaz (1981) refere que seja qual for o estilo de mulher, doméstica, sensual ou combativa, este se configura no interjogo entre as características político-culturais e econômico-sociais de sua formação. As características da mulher são as respostas às tarefas que realiza e para as quais está sendo educada. Trata-se das habilidades e qualidades requeridas pelas funções a desempenhar, de acordo com os valores ideológicos dominantes em cada período histórico e social. Esta autora ressalta ainda que cada mulher traz em si o inédito, o original e o criativo sendo possível outra leitura das circunstâncias em que foi educada, não sendo um determinismo. As palavras de Plavaz demonstram que os valores ideológicos dominantes de cada período influenciam o estilo de cada mulher, entretanto isto não é uma regra, as mulheres podem escolher seu próprio caminho, mesmo que este não esteja dentro dos padrões esperados. A maioria das depoentes deste estudo encontrou no ser mulheres tradicionais, a razão de suas vidas, demonstraram através de suas falas satisfação com sua condição. A mídia pode estar influenciando a representação destas mulheres em relação ao ser mulher, é comum ver nas telenovelas mulheres desempenhando papel doméstico, 46 cuidando dos filhos, educando-os, principalmente as mulheres pertencentes à classe socioeconômica menos favorecida. Em relação à maternidade, Simões e Souza (2002) relatam que no Brasil a reprodução sob a ótica masculina sempre teve um valor social e cultural relevante, estando toda a sociedade voltada para este fim. O ter filhos para as mulheres era uma forma de obter status. Neste sentido, a maternidade possui um valor social e cultural importante para as mulheres deste estudo, uma vez que se sentem valorizadas sendo mães, algo que consideram exclusivo do ser feminino. “O principal mesmo é isso, a possibilidade de ser mãe” (Sempre viva). Principalmente para mulheres pertencentes a um nível sócio-econômico desfavorecido, com baixa escolaridade, casadas e dependentes do marido. A maternidade neste contexto ganha destaque. Além disso, as mulheres entrevistadas pertencem a uma cidade interiorana, em Goiás, onde os costumes e as tradições possuem muito valor e busca-se transmiti-los de uma geração à outra. Com o passar do tempo, estes costumes vão se modificando e o modo como as mulheres vêem a si mesmas também, entretanto este é um processo lento, depende de fatores sociais, políticos e econômicos. 4.2.1.2 O ser mulher rosa com espinho Nesta subcategoria 33% das mulheres entrevistadas objetivaram o ser mulher na imagem da rosa com espinhos, sugerindo uma dualidade de sentidos a sua condição como mulher e até mesmo uma insatisfação em relação às atividades que exerce. Rosa com espinho, a rosa em si que é a rosa ela é bonita, mas tem que ter os espinhos, porque a vida é cheia de altos e baixos, cheia de espinhos. Porque a vida da gente, principalmente do casal, tem a parte boa e tem a parte ruim também. E a gente, principalmente mulher tem que ser mais submissa para ir para frente (Flor de laranjeira). Rosa com espinho, porque a vida da mulher é isso. São muitos espinhos, filho, por exemplo, é muito bom, mas é espinho. Depois que a gente tem filho não tem sossego mais, acabou, é preocupação direto. A vida financeira, o país em que a gente vive, tudo isso é cheio de espinho. Eu gostaria que a mulher pudesse ter condições de se dedicar só ao lar, não ter que trabalhar. [...] só no lar você não fica a toa (Íris). 47 Rosa com espinho, acho que a mulher passa mais dificuldade que o homem, tem mais responsabilidade, trabalha mais que o homem. [...] É uma vida corrida, [...] O homem trabalha no serviço mais pesado, mas em casa, ele tem descanso e a gente já não tem. Ela luta até... É a última a dormir. A mulher é a primeira a acordar e a última a dormir (Dália). Pra ser mulher parece que é uma rosa com espinho, muito complicado a mulher. [...] Ela sofre muito. Sofre quando é pra ser mãe, antes de ser mãe já sofre. [...] Tem muitos outros sofrimentos, a preocupação com casa, com os filhos, com família e com a gente mesmo, com a saúde da gente e tudo (Flordo-pequi). Rosa com espinho. Porque a gente passa tanta dificuldade. Tanto preconceito, principalmente a gente que é sozinha. E é difícil, [...] é dificuldade financeira, de cuidar de filhos, cuidar das coisas sozinha e morar sozinha, são muitas as dificuldades (Magnólia). A dualidade apresentada pelas mulheres encontra-se na idéia de oposição: altos e baixos da vida e do casamento, os filhos que ao mesmo tempo trazem alegrias e preocupações. Já a insatisfação feminina relaciona-se com o excesso de trabalho e de responsabilidades. Vale a pena lembrar que a maior parte destas mulheres é casada ou possui situação conjugal estável, é mãe, geralmente dois ou mais filhos, boa parte possui dupla jornada de trabalho (46%) e renda familiar baixa. Somente o perfil sócio-econômico destas mulheres demonstram as dificuldades que as mesmas devam passar, devido ao número de responsabilidades que possuem associadas a dificuldade financeira. Bardwick (1981) relata que o casamento, a maternidade e o trabalho são compromissos que unem as mulheres a realidade, porque as forçam a agir sobre problemas e situações reais, dando-lhes a sensação de terem a sua identidade e a sua maturidade garantidas. Entretanto, ao serem forçadas a agir sobre problemas e situações reais, surgem conflitos na vida destas mulheres, estas podem passar a se sentirem preocupadas, e com responsabilidades demais, passando a ter sentimentos ambíguos. Isto fica evidente nos depoimentos colocados por nossas rosas com espinhos. 48 Por outro lado, a posição social que a mulher atual ocupa, traz sentimentos e dificuldades de se reconhecerem socialmente e profissionalmente, vivendo uma eterna dialética: ao serem excelentes profissionais no trabalho, sentem-se fracassadas como esposas e como mães, caso contrário quando a dedicação é exclusiva para a maternidade e para a vida matrimonial sentem-se fracassadas como mulheres emancipadas. (VASCONCELOS E NEDER, 2004). Neste sentido, verificamos através da fala de uma das mulheres a preocupação em relação a dupla jornada de trabalho, e a incerteza de desempenhar bem os dois papéis, profissional e doméstico. Assim temos: “Eu gostaria que a mulher pudesse ter condições de se dedicar só ao lar, não ter que trabalhar, só no lar você não fica a toa” (Íris). Esse sentimento de fracasso, por parte das mulheres que trabalham, pode estar relacionado à própria representação social em relação ao papel social da mulher construído ao longo da história. Continua presente ainda no imaginário social da população que a mulher tem que ser excelente esposa e mãe, independente das outras funções que exerce, isto faz com que muitas mulheres se sintam insatisfeitas. Além disso, as mulheres entrevistadas perceberam dificuldades que vão além da vida profissional, familiar e doméstica, como a dificuldade financeira e o preconceito a que podem estar sujeitas quando escolhem trilhar um caminho não convencional. Nesta perspectiva, Safer (1997) sugere que a vida da mulher pode ter dimensões ampliadas no mundo contemporâneo, mas ser diferente, apesar de ser enriquecedor, pode deixar marcas. Do mesmo modo, a sociedade tende a negar o preço que as mães pagam e a idealizar os sacrifícios que fazem, sendo interpretado como parte do instinto feminino, portanto natural. A colocação de Safer é reforçada pela fala de uma participante: “Porque a gente passa tanta dificuldade, tanto preconceito, é dificuldade financeira, de cuidar de filhos, cuidar das coisas sozinha e morar sozinha” (Magnólia). Indicando que a escolha de viver sozinha e cuidar dos filhos, não é tarefa fácil. Além disso, a mulher não tem o reconhecimento social em relação a criação dos filhos, que é ainda considerado um dever da mulher. Através desta categoria, pudemos descobrir as representações sociais de ser mulher para mulheres pertencentes a uma cidade de médio porte no interior de Goiás. Representações que emergiram a partir do sentido que estas mulheres deram a rosa e ao espinho, carregando-os de um sentido, dando-lhes um contexto, enfim interpretando-os a partir de sua experiência como mulheres do interior. 49 Guillén (2000) refere que as coisas possuem um valor polar, a todo valor positivo se opõe um valor negativo e entre estes extremos existe uma gama infinita de estágios intermediários. Uma coisa pode ser mais ou menos apreciada ou mais ou menos desapreciada. Os seres humanos têm outros valores específicos, o espiritual ou chamado próprio das pessoas, como os lógicos (verdadeiro e falso), os éticos (bom e mal) e os estéticos (bonito e feio). Não se pode viver sem valorizar, sem considerar as coisas como caras ou baratas, boas ou más, verdadeiras ou falsas. Valorizar é uma condição da existência humana. As mulheres participantes deste estudo em Piracanjuba-GO deram um valor ético e simbólico em relação ao ser mulher, considerando bom ou mal, ou mais ou menos bom ou mais ou menos mal, a condição de ser mulher. Enfim, relataram sobre os valores atribuídos ao ser mulher e a si mesmas como mulheres, a partir de sua vivência e experiência, tendo como símbolo a rosa e o espinho. Mostraram através de suas falas, onde está enraizado seu imaginário social em relação ao ser mulher, numa condição considerada tradicional nos dias atuais, mas que continua familiar para estas mulheres. As novas concepções de ser mulher ainda não ancoraram no imaginário destas mulheres, não se tornaram familiar ainda, não aparecendo nas falas das mesmas. 50 4.2.2 Saúde da mulher é saúde, delicada e necessita de cuidado A partir do quadro 2, mostrado abaixo, emergiu esta categoria norteada a partir do eixo saúde e dos significados atribuídos a esta saúde pela grupo de mulheres estudado. Este quadro foi elaborado a partir da dinâmica individual e do primeiro questionamento da entrevista. Quadro 2: Síntese das representações sociais sobre saúde da mulher do ponto de vista das depoentes Representações Sociais sobre saúde da mulher do ponto de vista de 30 mulheres depoentes A – Saúde da mulher é saúde (50%) Saúde é: -Bem estar (A1); -Não ter doenças (A2); -Cuidar, indo ao médico e fazendo exames (A3); -Transição (Mistura de representações) (A4). B – Saúde da mulher é rosa (28,3%) Rosa significa: -Saúde é essencial (B1); -Saúde é delicada (B2); -Saúde necessita de cuidado (B3); -Saúde (não ter doença ou complicações) (B4). C – Saúde da mulher é rosa com espinho Rosa com espinho significa: (16,7%) -Doenças (C1); -Necessidade de mais cuidados devido à fisiologia feminina (C2). D – Saúde da mulher é espinho (5%) Espinho significa: -Doença (D1). Nesta categoria as mulheres objetivaram a saúde da mulher sem distinguir os conceitos de saúde e saúde da mulher, para este grupo só existe a saúde. Rosa, porque tendo uma saúde boa e a vida boa é uma flor. A saúde boa é ter uma boa alimentação, uma tranqüilidade em casa, os amigos (Jasmim). Desde que a pessoa saiba se cuidar é uma rosa sem espinho. Se ela não tem amor com próprio corpo se torna uma rosa com espinho. Nos mulheres somos muito delicadas e a nossa saúde se você não saber cuidar dela, aí você poder ter doença, [...]. Então eu estou sempre cuidando da minha saúde (Orquídea). 51 A saúde é a saúde mesmo, a gente não ter essas doenças. A doença que a gente tem as vezes é uma gripe. No meu caso mesmo, eu já tive esses partos normais (sete) e só um foi no hospital e eu não tenho nada, não tenho nada no útero, eu faço prevenção e não tenho nada (Begônia). Saúde é a gente poder levantar cedo e dizer estou boa, não sentir nada. A gente falar vou ali e a gente vai, e a saúde é isso, a gente estar bem boa, um dia, dois... Todo mundo senti uma dorzinha, é normal, mas dizer estou boa, vou trabalhar, vou fazer isso estou boa, é saúde (Petúnia). Eu penso que a gente tem que se cuidar para ficar melhor. Se a gente tem um probleminha tem que ir no médico. Tem que ter freqüência. Eu penso assim, o que faz eu ter saúde é ir ao médico. Tomar um remédio, quando precisa e cuidar direitinho (Hortência). Saúde é a gente cuidar da gente, ter higiene com o corpo, sempre estar limpinho. [...] Em casa ter asseio com as coisas, com as coisas de comer. Se a gente tiver um filho, ter asseio com a criança. [...] Eu mesma sou muito asseada, gosto das coisas tudo no asseio. Não gosto de porqueira. Eu sou assim (Girassol). A saúde? A saúde da gente é a gente ta feliz com a gente mesma, praticar exercício, rir, estar alegre, de bem consigo mesmo, aí a gente tem uma saúde. Se a gente está feliz tudo vai bem. O otimismo vai longe (AmorPerfeito). Você fala saúde, saúde? É poder trabalhar, não sentir nada no organismo, eu acho assim, é uma saúde, é uma coisa completa, poder trabalhar não sentir nada, é ser feliz (Violeta). É a gente se cuidar, psicologicamente, o exterior também. Estar de bem com a vida (Flor-de-lotus). As representações sociais sobre saúde podem estar relacionadas ao modo pelo qual estas mulheres apreendem as informações que circulam sobre saúde, somadas a suas experiências, saberes, tradições e educação. 52 A saúde é um tema conhecido e difundido por todo o mundo, antigo quanto a própria história, entretanto cada cultura possui uma concepção diferenciada sobre o assunto. No Brasil, por exemplo, a saúde esta ainda muito ligada à medicina, tratamentos e especificidades, fazendo parte de um modelo conhecido como biomédico que contribui ao longo da história na difusão e universalização de como lidar e conceber a saúde. Neste sentido para ser mais bem compreendida, a saúde deve estar inserida numa cultura. Para Leddy e Pepper (1985) todos são influenciados pela cultura. Cada grupo cultural possui um modo de vida especial. O modo como as pessoas percebem e arcam com o processo saúde-doença são baseados em suas crenças culturais. Assim, cultura é um conhecimento compartilhado e aprendido em sociedade. Ela é a base para o agir e guia as formas pela qual se interpreta e percebe a saúde e a doença nas nossas escolhas para buscar o cuidado. Neste sentido, as representações sociais são conceitos culturalmente carregados, que adquirem sentido e significado pleno no contexto sociocultural e situacional onde manifestam (QUEIROZ, 2000). Nesta perspectiva, temos um grupo de mulheres, brasileiras, goianas e que vivem numa cidade interiorana, a maioria com idade igual ou maior a 31 anos, com pouca ou nenhuma escolaridade, mães, esposas, com dificuldades financeiras, mas que possuem acesso ao rádio e/ou ao televisor. Possuem acesso a USF, ao Centro de Saúde e também ao Hospital Municipal da cidade, todos financiados pelo SUS. Com modelo biomédico influente no sistema municipal. Este grupo de mulheres participou deste estudo, colocando seu entendimento sobre saúde. Buss (2000) refere que no Brasil e em outros países da América Latina, a péssima distribuição de renda, o analfabetismo e o baixo grau de escolaridade, assim como as condições precárias de habitação e o ambiente têm papel importante nas condições de vida e saúde. Estas mulheres consideram a saúde essencial para o bom andamento de suas vidas e algumas possuem no seu imaginário social a idéia de que saúde está relacionada ao bemestar, entendido como satisfação de suas necessidades e a qualidade de vida. Outras relacionam a saúde com a ausência de doenças, perpassando pela necessidade do cuidado associado a busca de serviços de saúde e da medicina. Mesmo tendo um grupo populacional semelhante a representação social de saúde não é a mesma, isto pode estar relacionado ao imenso número de informações sobre saúde que circulam sobre saúde. Estas mulheres podem ter sido influenciadas de diferentes formas, pelas 53 famílias e suas crenças culturais, igreja, escola, mídia, profissionais de saúde, dentre outros. Entretanto todos são influenciados pelas mudanças históricas e sociais que vão ocorrendo no mundo e chegam nas instâncias como igreja, mídia, escola, serviços de saúde, dentre outras, que as interpretam de uma forma e as passam para a população que as re-interpretam, de forma a tornar as novas informações familiares. Neste caminho, Servalho (1993) relata que a história das representações de saúde e doença foi sempre pautada pela inter-relação entre os corpos dos seres humanos e as coisas e os demais seres que os cercam. Elementos naturais e sobrenaturais habitam estas representações desde tempos imemoriais, provocando os sentidos e impregnando a cultura e os espíritos, os valores e as crenças dos povos. Este autor traça um caminho das representações sociais da saúde e da doença, começando nos primórdios, com crenças mágicas e sobrenaturais atribuídas a doença, perpassando pela questão religiosa de doença como punição, até o surgimento da concepção de que a saúde e a doença estavam ligadas ao corpo, a microorganismos, a contágio, dentre outros, originando a medicina moderna ocidental, centrada na doença, nos tratamentos e na tecnologia, enfim no modelo biomédico. Olhando pelo lado da doença, Canesqui (2003) reportando a vários autores afirma que na década de 1990 a percepção da doença dá-se através de alguns sinais e sensações corporais, indicativos de que algo impede o funcionamento normal do corpo (dor, febre, não dormir, não comer, fraqueza) e pela incapacidade de realizar as atividades cotidianas e de trabalhar, em qualquer modalidade assalariada ou não, assim vista por homens e mulheres. Nos depoimentos aparece a representação de saúde associada ao funcionamento normal do corpo e a capacidade de poder trabalhar, reportando também ao modelo biomédico de assistência. “[...] É poder trabalhar, não sentir nada no organismo, [...]” (Violeta). No Brasil, durante a 8ª Conferência Nacional de Saúde (CNS) (1986), a saúde foi colocada como resultante das condições de alimentação, transporte, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acessos a serviço de saúde. Além de um direito, garantido pelo estado. A oitava CNS contribuiu para a criação da lei orgânica de saúde e do SUS, modificando o acesso à saúde no Brasil, que passou a ser direito de todos e dever do estado. Através de um Sistema Único de Saúde, com princípios básicos de universalização, descentralização, integralidade e participação da comunidade. Com a lei orgânica buscou-se uma nova saúde pautada em direitos e acesso universal, entretanto na prática, não se consegui atingir esta saúde, visto as desigualdades sociais existentes no Brasil, o que há é uma saúde voltada para a classe desprestigiada 54 socialmente, que é a maioria, o surgimento de serviços superlotados com filas e demora no atendimento que continua pautado no modelo biomédico. Nas falas das mulheres participantes deste estudo não há representação social associada a direitos, entretanto algumas relatam sobre a qualidade no atendimento dos serviços públicos. Numa outra perspectiva, saúde é entendida como condição básica para a qualidade de vida, enquanto a doença ameaça a segurança e gera ansiedade. A doença envolve médicos e assistência, além de práticas culturais e significados compartilhados (GUALDA e BERGAMASCO, 2004). Estas autoras mostram um entendimento de saúde associando qualidade de vida, doença, assistência médica, cultura e significados, associando duas concepções numa só, nas falas de algumas das mulheres participantes também aparece está associação que foi chamada de transição. A seguinte fala reforça esta afirmação: “saúde é poder trabalhar, não sentir nada no organismo, [...] é ser feliz” (Violeta). Por último, a saúde pode ser entendida como produto de amplo aspecto de fatores relacionados com a qualidade de vida, incluindo um padrão adequado de alimentação, de habitação e saneamento; boas condições de trabalho, oportunidade de educação ao longo da vida, ambiente físico limpo, apoio social para as famílias e indivíduos, estilo de vida responsável; e cuidados adequados de saúde. (SUTHERLAND e FULTON apud BUSS, 2000). Esta noção de saúde colocada acima esta relacionada a qualidade de vida, entretanto as falas das mulheres trazem uma representação de saúde como bem-estar, associado a qualidade de vida de forma mais ampla, como ser feliz, estar de bem com a vida, praticar exercícios, estar bem consigo mesma, dentre outros. Reportando a noção de qualidade de vida descrita por Minayo, Hartz e Buss (2000), como uma noção eminentemente humana, que tem sido aproximado ao grau de satisfação encontrado na vida familiar, amorosa, social e ambiental e à própria estética existencial. A partir do que foi exposto, podemos dizer que as mulheres deste estudo possuem suas representações sociais sobre saúde ancoradas na ausência de doenças, no bem estar, incluindo a qualidade de vida e no acesso aos serviços de saúde. Contudo, é necessário descobrir quais são as estratégias utilizadas por este grupo para a busca a saúde e que efeitos tem surtido. 55 4.2.3 Entre a busca da saúde e a resolubilidade O quadro 3, visualizado abaixo, subsidiou a elaboração desta terceira categoria, sendo que a busca da saúde teve como eixo o cuidar e a busca ao médico e serviços de saúde, norteados para uma resolubilidade associada a consultas médicas, medicação e exames. Quadro 3: Síntese das Representações Sociais sobre a busca da saúde do ponto de vista das depoentes Representações Sociais sobre a busca da saúde do ponto de vista de 30 mulheres depoentes A – Busca da saúde é cuidar da Resolve com: saúde (44 %) -Consulta médica (A1); -Exame preventivo (Papanicolau) e outros exames (A2); - Hábitos saudáveis (exercício físico, boa alimentação, não fumar, não ter preocupação) (A3); -Medicação (prescrita ou não) (A4). B – Busca da saúde é ir ao médico Resolve com: (29,5%) - Medicação (B1); - Exames (B2); - Aconselhamento (B3). C – Busca da saúde é ir ao posto de Resolve com: saúde (USF) (16,2%) - Consulta Médica (C1). D – Busca da saúde é buscar um Resolve com: familiar ou amigo (10,3%) - Encaminhamento para o médico (D1). Nesta categoria, as mulheres entrevistadas objetivaram a busca da saúde centrada no cuidar, no médico, nas unidades de saúde e na família. No imaginário social deste grupo, a resolutividade está ancorada em consultas médicas, tratamento medicamentoso e exames. Olha, eu busco aqui, com o médico, no posto, a gente é cadastrado aqui e busca só aqui mesmo. Resolve, com o medicamento, ele passa assim pra gente e bebe direitinho (Begônia). Da minha parte, eu faço prevenção de seis em seis meses, não sei se é todo ano, eu faço porque eu morro de medo. Qualquer sintominha eu vou no médico, até demais pro meu gosto [...]. Já fiz caminhada e tudo que é de boca, alimentação, tudo eu faço, não como comida muito gordurosa. Essas coisas (Tulipa). 56 Eu venho no médico, porque se eu ficar tomando remédio, chazinho em casa eu vou poder estar desencadeando uma coisa que não deveria, então pra começar eu sou freguesa daqui. Eu estou sempre procurando, qualquer coisa que sentir fora do normal eu venho aqui. Quando preciso de remédio, ele receita pra mim. Quando não preciso, ele me dá um conselho (Orquídea). Sempre com o médico. Todas as vezes resolve, com medicamentos, exames (Malva). Sempre são os filhos que me ajudam. Eles dão andamento para o médico pra gente (Lírio). Eu sempre cuido da minha saúde. Eu faço prevenção regularmente, se eu sinto alguma coisa, vou logo saber o que é, no médico para saber o que está acontecendo (Azaléia). Uai, eu tento cuidar, se eu sinto qualquer um probleminha eu vou no médico. Sempre eu estou vindo aqui no médico. Não fico sem ir, se eu sinto uma dorzinha eu vou. Estou sempre procurando cuidar, né (Hortência). Eu venho no médico, cuido dos meus problemas, venho saber como está meu corpo. Faço meus exames, tudo para ver como está. Cuido do meu corpo bem cuidadinho. Faço exame de prevenção, esses exames assim. Eu tenho problema de pressão, tomo remédio pra pressão e direto eu venho para ver como está (Girassol). Faço exame de prevenção, era de seis em seis meses, agora é de ano em ano, vou ao médico, faço revisão completa, exame de sangue, urina, fezes, vou ver se tenho diabetes, colesterol. Faço minha caminhadinha de vez em quando (Margarida). Eu cuido de mim assim, procuro não passar raiva, não me preocupar demais. Já é um pouco, né, da saúde da gente. Mas o necessário mesmo, procurar o médico e fazer exames tudo certinho, eu não faço (Flor-do-pequi). 57 A partir dos depoimentos podemos verificar a forte influência do modelo biomédico na representação social deste grupo de mulheres. Isto pode estar relacionado ao modo como muitas destas mulheres entendem saúde, ou seja, ausência de doenças e acesso a serviços médicos. Entretanto, ao afirmarem buscar saúde, baseado no modelo biomédico, contradizem a afirmação de outras participantes que associaram saúde ao bem-estar e a qualidade de vida. Possuem um discurso de saúde, por outro lado agem baseadas em outro modelo, demonstrando desta forma o enraizamento do modelo biomédico nesta população. A hegemonia do modelo biomédico, nesta comunidade, é reforçada pela ausência da clientela na USF, ocasionada pela ausência do médico na mesma. O grande prestígio simbólico da biociência impõe que dos médicos e sua quimioterapia e cirurgia deva sair a cura de todos os males dos doentes. Isso se traduz na prática clínica em medicalização crescente de quaisquer sintomas e incômodos e diminuição progressiva e contraprodutiva da autonomia das pessoas em saúde (ILLICH apud TESSER e LUZ, 2002). Neste sentido, o grupo estudado demonstra dependência e valorização do atendimento médico, desvalorizando seus próprios cuidados em relação a sua saúde, quando não relaciona o cuidado ao saber da medicina. A seguinte fala demonstra isto: “Eu cuido assim, procuro não passar raiva [...], mas o necessário mesmo, procurar o médico e fazer uns exames eu não faço” (Flor-do-pequi). Em relação ao modelo biomédico, Guedes, Nogueira e Camargo Jr. (2006) relatam que o objetivo do médico é identificar a doença e a sua causa. Basta remover a causa para que haja a cura da doença. Doença e lesão estabelecem uma relação de co-dependência, uma necessita da outra para existir. Essa díade aparece tão fortemente nas representações do saber médico que se estabeleceu um conjunto de proposições implícitas norteadoras à prática do médico, a teoria das doenças: As doenças são coisas, de existência concreta, fixa e imutável, de lugar para lugar e de pessoa para pessoa, as doenças se expressam por um conjunto de sinais e sintomas, que são manifestações de lesões, que devem ser buscadas por sua vez no âmago do organismo e corrigidas por algum tipo de intervenção concreta. Os depoimentos também apontaram a USF como o principal local de busca da saúde, entretanto, este grupo está voltado para o atendimento médico, não valorizam a equipe como um todo. Mudou-se a porta de entrada no sistema de saúde, entretanto o modelo assistencial continua o mesmo. Dados do IBGE (2003) revelam que os postos de saúde são referidos com mais freqüência como serviço de uso regular das mulheres e de pessoas de baixa renda. 58 Nesta perspectiva, a USF desta localidade não conseguiu atingir seu objetivo de reestruturar a prática assistencial, substituindo o modelo tradicional, centrado na cura de doenças e no hospital, por outro voltado para promoção da saúde. Não é fácil mudar um modelo quando o imaginário social desta população está voltado para a cura de doenças, nas falas nota-se que a busca à unidade e ao médico acontece mediante o aparecimento de algum sintoma, “se eu sinto alguma coisa, vou logo saber o que é, no médico para saber o que está acontecendo”(Azaléia). A maneira de se produzir saúde no Brasil, apesar dos princípios e diretrizes do SUS, ainda está impregnado pelo paradigma biomédico. A reforma do sistema de saúde ocorre na luta diária pela implementação do SUS, ocorre do ponto de vista macro-estrutural e organizacional, e pela transformação da prática cotidiana de cada profissional que constrói esse sistema. Reconhecemos que o Programa de Saúde da Família (PSF) possa se constituir um espaço importante de formação em serviço diferente da que está posta, acreditamos que o mesmo, apesar dos avanços, continua reproduzindo as limitações do modelo o qual estamos criticando (OLIVEIRA, AMORIM, OLIVEIRA, 2006). Franco e Merhy (2003) afirmam que o PSF aposta numa mudança centrada na estrutura e não nos microprocessos do trabalho em saúde, nos fazeres do cotidiano de cada profissional, que em última instância é o que define o perfil da assistência. Os autores colocam ainda que não há nada nas estratégias do PSF que garanta a ruptura com a dinâmica médico-centrada, do modelo hegemônico atual. Nas falas das mulheres, a idéia de promoção da saúde praticamente não aparece, algumas referem a necessidade de terem hábitos saudáveis, tais como boa alimentação, prática de exercícios, não fumar, dentre outros. Entretanto, estas falas surgiram de forma secundária, ao serem questionadas se além de buscar o médico faziam mais alguma coisa para cuidar de sua saúde. A via para medicalizar o corpo feminino foi a questão da reprodução, no século XIX, já se estabeleceu o interesse da sociedade na sobrevivência de mulheres e crianças, para formação de nações modernas, permitindo assim o processo de medicalização (VIEIRA, 2002). Nesta perspectiva, a medicalização do corpo feminino associa-se a representação social do ser mulher apresentada pelas mulheres participantes deste estudo, uma vez que cuidar dos filhos e da família foi destacado por estas mulheres. Deste modo, Nunes apud Vieira (2002) descreve que durante o processo de desenvolvimento da hegemonia médica, no século XIX, através do discurso médico higienista, delega a mulher um novo estatuto dentro 59 da família. A mulher que, na época colonial, estava submetida totalmente ao poder do marido, passa a ser valorizada como esposa e mãe, ganhando maior autoridade e responsabilidade pelo espaço doméstico. Essa mudança visa colocar a assistência aos filhos como atribuição materna, já que preservar a infância era uma das estratégias para o controle da mortalidade. O discurso médico produziu argumentos que buscou provar que a mãe é a pessoa mais adequada para cuidar das crianças. Nascida para o casamento e para a vida doméstica, o valor da mulher estava na sua condição maternal. Vieira (2002) afirma também que a medicalização se expande não apenas alicerçando as políticas públicas sejam elas de saúde demográfica, mas principalmente sendo construída e re-construída em sociedade, com suas promessas e expectativas. Ratificando, através da ciência, o feminino no contexto do desenvolvimento tecnológico, que se constrói como estratégia da modernidade. Associando-se assim ao próprio desenvolvimento das representações sociais, por parte do grupo populacional estudado, relacionado a saúde e a busca desta saúde e sua resolubilidade. 60 V. CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir dos resultados encontrados, identificamos o perfil sócio-econômico das mulheres participantes, a maioria com idade entre 31 e 70 anos, pouca escolaridade, casada ou em situação conjugal estável, dedica-se ao lar, possui renda própria, considera o esposo chefe da família, renda familiar de um a três salários mínimos, tem filhos e acesso ao televisor e ao rádio. Este perfil se relaciona com as representações sociais apresentadas por este grupo em relação ao ser mulher e a saúde e as implicações para a busca da saúde com sua resolubilidade. Em relação ao ser mulher, as participantes relacionaram suas representações sociais a condição de mãe, esposa e dona de casa, tanto de forma positiva, quanto dual. Demonstrando a forte influência histórico-social que permeou a vida das mulheres brasileiras durante séculos. Entretanto, estas mulheres não relacionaram o ser mulher com as conquistas, autonomia, liberdade e direitos adquiridos pelas mulheres durante o último século. A função da mulher construída histórica, social e culturalmente é tão forte neste grupo de mulheres que se encontra enraizado no imaginário das mesmas, nem mesmos as mulheres que possuem certa autonomia, como as chefes de família, as que trabalham com remuneração e com melhor escolaridade não possuem um discurso diferenciado. Esta representação social que o grupo de mulher em questão possui acerca do ser mulher influência o modo como as mesmas buscam saúde, associada ao modelo biomédico e a medicalização, uma vez que ambos apropriaram do corpo feminino através da maternidade, valorizando as mulheres como boas mães e reprodutoras, até mesmo incentivando a educação das mulheres (de classe elevada) para este fim. Apesar de terem sido feitas questionamentos sobre saúde da mulher, as falas destas mulheres reportam à saúde como um todo, que é representada pelo grupo como bemestar, ausência de doenças e um conceito de transição. Estas diferentes formas de representações sociais sobre saúde, relacionam-se as variadas informações que circulam sobre saúde, que vão sendo interpretadas e re-interpretadas pela população, em particular pelas mulheres. São informações que relacionam a saúde com religiosidade, com modelo biomédico, o qual valoriza a cura de doenças, com direito e com bem-estar e qualidade de vida. Entretanto, quando estas mulheres buscam saúde fica evidente a ancoragem de suas representações no modelo biomédico. As falas destas mulheres sempre levam a busca pelo médico na resolução do que elas chamam de problemas de saúde. A resolubilidade 61 baseia-se, principalmente, em tratamento medicamentoso e realização de exames. Mesmo aquelas que relacionaram saúde com bem-estar/qualidade de vida, ao buscar saúde reportam também ao modelo biomédico. A promoção da saúde e a prevenção não aparece de modo representativo em nenhuma fala relacionada a busca da saúde. Deste modo, a mudança de modelo dentro desta USF, não é tarefa fácil. Não é somente aproximar a unidade de saúde da população, aumentar o acesso das pessoas à saúde, mas é, sobretudo, modificar representações sociais que estão enraizadas no imaginário da população, não somente dos usuários do sistema de saúde, mas dos próprios profissionais de saúde, que em sua prática, muitas vezes reproduzem o modelo biomédico. Neste sentido, não é suficiente criar novas políticas de saúde, tais como a PNH, a PNAISM, dentre outras, mas é necessário modificar o modo como estes profissionais praticam saúde nas unidades. Neste cenário o enfermeiro possui uma importante missão, buscar praticar saúde de um novo modo e incentivar os ACS e demais profissionais de saúde a aderirem a uma nova prática de saúde. Um caminho para esta nova prática poderia ser o acolhimento que é uma diretriz do modelo tecnoassistencial, orientado nos princípios do Sistema Único de Saúde e propõe reorganizar o serviço, no sentido da garantia do acesso universal, resolubilidade e atendimento humanizado. O acolhimento associa o discurso da inclusão social, da defesa do SUS a um arsenal técnico potente, que vai desde a reorganização dos serviços de saúde, a partir do processo de trabalho, até a constituição de dispositivos auto-analíticos e autogestionários, passando por um processo de mudanças estruturais na forma de gestão da unidade. Nesta perspectiva o acolhimento pode ser utilizado como uma diretriz operacional, tentando inverter a lógica de organização e funcionamento da USF tendo como princípios: 1. Atender todas as pessoas que procurem a unidade, garantindo acessibilidade universal. Assim, a USF assume a função de acolher, escutar e dar resposta positiva, capaz de resolver os problemas de saúde da população. Com isso, os serviços criam possibilidades para restabelecimento de uma relação de confiança e apoio do usuário. 2. Reorganizar o processo de trabalho, de forma que este desloque seu eixo central do médico para uma equipe multi-profissional -equipe de Acolhimento-, que se encarrega da escuta do usuário, comprometendo-se a resolver seu problema de saúde. A consulta médica é requisitada, só para os casos em que ela se justifica. 62 3. Qualificar a relação trabalhador-usuário, que deve dar-se por parâmetros humanitários, de solidariedade e cidadania. O acolhimento pode modificar o processo de trabalho na unidade, uma vez que os profissionais não médicos passam a usar todo seu arsenal tecnológico, o conhecimento para a assistência, na escuta e solução de problemas de saúde trazidos pela população usuária. A equipe de saúde no acolhimento pode elaborar protocolos que definem as atribuições dos profissionais da equipe, diante dos problemas que mais se apresentam. Eles são uma referência técnica segura para os procedimentos no acolhimento. Os protocolos podem orientar para que o enfermeiro, por exemplo, prescreva vários exames e medicamentos, o que aumenta em grande medida a resolubilidade do enfermeiro na assistência, favorecendo o fluxo dos usuários. Por outro lado, este estudo contemplou apenas mulheres que estavam na USF por algum motivo, entretanto aquelas que não buscam atendimento não se encontram aqui representadas, não sabemos se uma mulher que possui resistência de buscar a unidade de saúde possui representações sociais diferenciada em relação ao ser mulher e à saúde. Para descobrirmos isto seria necessária a realização de nova coleta de informações, através de visita domiciliar, em busca destas mulheres. Sugerimos a realização de novas investigações relacionada a temática, nas outras USF do município, a fim de averiguar as representações sociais das mulheres do município, incluindo coleta de informações através de visita domiciliar, para abranger todos os grupos de mulheres. Este estudo, através de um grupo de mulheres, buscou entender sobre o ser mulher, sobre sua saúde e as estratégias que ela utiliza para buscar a saúde. Estas mulheres partiram de uma concepção micro, o ser mulher, perpassaram pelo entendimento de saúde e chegaram nas unidades de saúde e no atendimento baseado no modelo biomédico. Contribuindo para identificarmos e analisarmos onde está ancorada a representação social destas mulheres em relação a esta temática, com o intuito de agora podermos voltar ao cenário do estudo levando as contribuições deste estudo para o município, para a USF, para a saúde local e principalmente para as mulheres pertencentes àquela região. Uma vez que está evidente a hegemonia do modelo biomédico nesta localidade, é necessário um investimento nos recursos humanos em saúde da USF, no sentido de implementar novas práticas de saúde baseadas na humanização da assistência, como estratégia de modificar a atual situação de saúde local, visando a promoção da saúde e oferecendo maior 63 autonomia às mulheres desta localidade, como foi relatado o acolhimento pode ser um bom caminho. 64 REFERÊNCIAS ALVES, B.M; PITANGUY, J. O que é feminismo. 8 ed. Coleção primeiros passos. Rio de Janeiro: Abril Cultura/Brasiliense, 2003. AMARAL, R. M. do. Representações Sociais e discurso midiático: como os meios de comunicação de massa fabricam a realidade. Lâmina. Pernambuco, v. ?, n. 01 p.1-15, 2005. Disponível em: <http://www.ppgcomufpe.com.br/lamina/> Acesso em: 09 de out. 2006. BARDWICK, J. M. Mulher, sociedade, transição: como o feminismo, a liberação sexual e a procura da auto-realização alteraram nossas vidas. São Paulo: DIFEL, 1981. 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Idade da 1ª relação sexual: _____ Escolaridade: ( ) nenhuma ( ) ensino fundamental incompleto ( ) ensino fundamental ( ) ensino médio incompleto ( ) ensino médio ( ) superior incompleto ( ) superior Chefe da família: ( ) esposo ( ) ela mesma ( ) pais ( ) outro _______________. Ofício/profissão:____________________. Possui renda própria?________________. Renda familiar: ( ) até 01 salário mínimo ( ) 01 a 03 salários mínimos ( ) 03 a 05 salários mínimos ( ) mais de 05 salários mínimos. Tem acesso a quais meios de comunicação? ( ) rádio ( ) TV ( ) jornais ( ) revistas ( ) internet outro __________________ G___P____A____. Tipo de Parto: ( ) normal ( ) cesariano Estado Civil/situação conjugal: ( ) solteira ( )casada ( ) divorciada ( ) amasiada ( ) separada ( ) viúva ( ) outro __________. () 69 APÊNDICE B - Termo de consentimento e livre esclarecimento de pesquisa com seres humanos. Prezada Senhora: Você está sendo convidado (a) a participar de uma pesquisa sobre a representação social da mulher sobre a saúde feminina com objetivo de identificar a representação social da mulher sobre saúde feminina e analisar a partir destas representações sociais as implicações para a busca da saúde por esta população. A pesquisa será realizada nesta unidade de saúde, em Piracanjuba-GO. A coleta de informações será feita através de uma dinâmica e de entrevista, ambas ocorrerão no mês de julho de 2006. Já a redação final deste estudo está prevista para dezembro de 2006. Serão garantidos o sigilo e o anonimato a você. Para tanto solicitamos a vossa colaboração em participar desta dinâmica e entrevista que serão registradas através de gravador pela Enfermeira e aluna do curso de Pós-graduação, nível Mestrado da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto (EEAP)/UNIRIO Leila Borges Manso {fone: (21) 2239 2678/ (64) 3405 3295} e orientada pela Prof. Dra. Célia Antunes C. de Sousa. Esta dinâmica e entrevista somente serão realizadas após sua permissão e autorização, sendo que não incorrerá em nenhum ônus financeiro de sua parte, ou risco à sua saúde física, moral ou psicológica. Além de trazer aspectos novos em relação saúde da mulher. A participação ou não da coleta de informações não acarretará prejuízo em seu atendimento na unidade de saúde e as informações prestadas são confidenciais, coletadas para esta pesquisa, não serão compartilhadas com os membros da equipe de saúde ou com qualquer outra pessoa. Ao ser entrevistada você receberá uma cópia deste termo, constando meu telefone de contato no Rio de Janeiro e em Piracanjuba, e o número da entrevista. As entrevistas serão posteriormente transcritas e identificadas por nome de flores. Caso você queira se retirar do estudo basta informar o número de sua entrevista, para que seja identificada e retirada, isto poderá ocorrer a qualquer momento, sem penalização. Para tanto solicitamos sua assinatura, o que representará o seu aceite. ______________________________________________ Leila Borges Manso Aluna de Pós-graduação nível Mestrado, EEAP/UNIRIO. Consentimento da participação da pessoa como sujeito Eu,........................................................RG nº.................................Entrevista nº................... abaixo assinado concordo em participar voluntariamente do estudo como sujeito. Fui devidamente informada e esclarecida pelas pesquisadoras sobre os objetivos e os procedimentos da pesquisa, assim como os possíveis riscos e benefícios decorrentes da minha participação. Foi-me garantido o direito de retirar o meu consentimento a qualquer momento, sem que isto leve a qualquer penalidade. Local e data: __________________________________________________ Assinatura do participante________________________________________ 70 ANEXO A – Cartão da mulher, Piracanjuba-GO. 71 ANEXO B – Ata de parecer consubstanciado