Conflitos Internacionais - Política Externa - amaralwilker

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Política Internacional - Conflitos Internacionais do século XVII ao XXI (1ªParte)
Os conflitos podem ser ordenados, segundo sua origem e desenvolvimento. Nos séculos
passados foram vistos embates armados, que tiveram motivações:
A) Religiosa;
B) Dinástica;
C) Territoriais;
E) De libertação nacional (iniciados com as guerrilhas);
F) Étnicas;
A Guerra dos Trinta Anos (1618-1648)
Durante anos, a pior da guerra da Europa foi a Guerra dos Trinta Anos, que gerou u
retrocesso de 200 anos para a Alemanha. O total de mortos desta guerra foi de 4 milhões,
diminuindo a população européia de 20 milhões para 16 milhões de habitantes, além de perdas
totais em rebanhos e colheitas. O período do conflito e que se seguiu após o mesmo foi conhecido
como o período de estagnação.
A motivação aparecia como uma luta religiosa entre rebeldes protestantes e católicos, que
estavam dispostos a qualquer custo em manter a autoridade religiosa e política do Imperador do
Sacro Império Romano Germânico. O final da guerra mostrou um novo tipo de regulamentação
nas relações internacionais, em que o principio do interesse nacional substituiu a confissão
religiosa. Um dos exemplos pragmáticos disto foi a entrada da França ao lado dos protestantes,
uma vez que esta estratégia estava de acordo com o interesse nacional francês. Assim, poderia
anexar o território da Alsácia e da Lorena, além de enfraquecer o principal inimigo dos Bourbons:
os Habsburgos da Áustria e da Espanha.
O final da guerra trouxe também não apenas o novo equilíbrio de poder, mas uma nova
regra do jogo das relações internacionais. Desta forma, os Tratados de Westphalia são vistos
como o marco da construção da ordem européia moderna, sendo que a razão do Estado
sobrepujará os princípios religiosos medievais da soberania universal do Papado, que tinham sido
a base das grandes monarquias nacionais.
O inicio da guerra passou da guerra civil alemã à condição de conflito internacional. De
um lado, a dinastia dos Habsburgos se aliando aos Estados alemães católicos e, por laços de
parentesco e afinidade política e religiosa, à Espanha. Apoiavam esta facção a Polônia e o Papado.
A aliança católica chegou, em determinados momentos do conflito, em sonhar em eliminar a
heresia protestante do continente. Em determinados momentos, a coalizão católica recebeu apoio
dos calvinistas de Brademburgo e dos luteranos da Saxônia. O bloco protestante composto por
rebeldes da Boêmia e de diversas regiões do espaço alemão foi apoiado pela Dinamarca, Suécia,
Países Baixos, Grã-Bretanha e França católica. Embora, o motivo desta aliança fosse lutar pela
liberdade da Alemanha e pelo direito dos protestantes, mostrou também a capacidade bélica da
Suécia e França decidirem o conflito. A França até aquele momento vinha apenas financiando
seus aliados. O governo francês pragmaticamente estabeleceu relações com o principal Estado
católico alemão, a Baviera, e com os principais Estados protestantes, como a Saxônia. Passava a
descaracterizar o conflito como religioso. Começava o plano da França de neutralizar o poderio
espanhol e austríaco, que estavam nas mãos dos Habsburgos, que procuravam estabelecer o poder
universal.
As negociações envolveram 149 unidades políticas representadas, com várias
conferências realizadas em várias cidades. Por outro lado, os conflitos não cessavam, sendo que
Espanha e França lutaram até 1659. O mais importante fato da guerra foi o sistema internacional
dos Estados e o pressuposto de reciprocidades, um direito internacional com pactos regulando as
relações internacionais, com a livre navegação nos mares e o não comprometimento de civis e do
comércio pelas guerras. Os Estados deixam de se submeter as normas morais externas a eles
próprios e impõem uma lógica de dominação pragmática, que passou a ser conhecida desde então
pela expressão “razão de Estado”. As relações internacionais são secularizadas, isto é,
estabelecidas em função do reconhecimento da soberania do Estado, independentemente, da
confissão religiosa. A política passava a ser reconhecida pela legitimidade do Estado e na
constituição de um conjunto político de nações que se reconhecem como parte de um sistema em
que rege o direito internacional, derivado do modelo criado e formalizado a partir da Paz de
Westfália. Os Tratados de Westfália são compostos de um conjunto de 11 tratados. A anistia geral
foi proclamada e os vencedores receberam concessões territoriais, sendo que as Províncias
Unidas e a Confederação Suíça são confirmadas como países independentes. A França conquistou
seus objetivos anexando a Alsácia e a Lorena. A Suécia passou a dominar o Báltico, além dos
estuários dos rios Oder, Elba e Weser. Cerca de 300 Estados-membros do Império têm a soberania
fortalecida e aumenta consideravelmente o federalismo. Marcou também o aparecimento do
principal Estado alemão: a Prússia. No âmbito comercial, o Reno deveria permanecer aberto a
todas as nações para a navegação comercial.
Houve o armistício das guerras religiosas, causando também a derrota do Papado. Na
prática, passou a existir o “equilíbrio de poder”, estabelecido entre as nações européias,
garantindo uma Alemanha pluri-religiosa. O modelo do pacto federativo passou a inspirar as
relações entre as várias nações européias. O modelo estabelecido Tratado de Westfália foi
confrontado, pela primeira vez, em 1806, quando Napoleão invade a Prússia e aboliu o Sacro
Império. Por outro lado, houve ainda na Europa, pós-Westfália uma sucessão de conflitos:
- 1642-1660: o período mostra o choque entre monarquia e Parlamento dominado pelos
puritanos (calvinistas), o que leva a Inglaterra à guerra civil. Em 1649, o rei Charles I é decapitado,
nascendo a República Puritana, sob a liderança de Oliver Cromwell, que, em 1653, passa a
governar com mão de ferro até sua morte, após fechar o Parlamento. O filho de Cromwell, Ricardo,
sucede o pai, colocando a Inglaterra como potência européia, porém sem sustentação política a
República Puritana cai, sendo restaurada a monarquia com a Casa de Stuart, em 1660. Enquanto
tentava resolver seus conflitos no âmbito interno, a Inglaterra envolvia-se em ações militares no
continente. A Guerra Franco-Holandesa (1652-1678) opôs França, Inglaterra e Suécia de um lado
contra Holanda, Áustria e Espanha de outro, além de vários Estados do espaço alemão que lutaram
de ambos os lados. O motivo principal do conflito foi a ingerência francesa em assuntos internos
e externos holandeses. A França derrota a Holanda e a Áustria, enquanto os suecos são derrotados
pelas tropas de Bradenbugo. A paz não traz proveito para nenhum dos lados.
- 1688: o final do absolutismo inglês ocorre com a Revolução Gloriosa. Há a insatisfação
contra Jaime II, conhecido como protetor. Os parlamentares dão um golpe de Estado, destituindo
o monarca e oferecem a Coroa a Guilherme de Orange da Holanda, que, por sua vez, é caso com
Maria Stuart, a filha protestante de Jaime II. Um novo governo ascende, trocando a monarquia
absolutista pela monarquia constitucional, na qual o monarca se compromete a respeitar a
Declaração dos Direitos (Bill of Rights), que proibi o monarca de sustar leis, aumentar impostos e
manter exército sem consentimento parlamentar.
- Na Espanha, o debilitado Carlos II deixa para o sucessor um país com sérias dificuldades
de cunho separatista com as províncias buscando desligarem-se de Madri, problemas financeiros
de administração, que são crescentes. As riquezas vindas da América passam a enriquecer os países
vizinhos e deixam a metrópole espanhola empobrecida. A ascensão de Felipe V, da Casa de
Bourbon, ao trono espanhol busca colocar o país no rumo da unificação aos moldes franceses,
recuperar o poderio naval espanhol, que foi superado pelo da Inglaterra. As lutas da sucessão
espanhola se espalham pelas regiões limítrofes, levando um filho do monarca a assumir os tronos
da Sicília e Nápoles.
- A Europa está convulsionada por uma série de guerra e ligações entre países para as ações
militares. Tem-se conflitos por todo o continente, que são de origem dinástica ou demarcatória. A
guerra entre Dinamarca e Suécia (1675-1679) opôs os dois países por questões territoriais, uma
vez que a Dinamarca queria recuperar suas províncias tomadas por suecos. O conflito estende-se
ao espaço alemão. A França se aliará à Suécia para invadir a Dinamarca, fazendo com que a Suécia
saia da guerra sem perda de território.
- A Guerra do Palatinado (1688-1697) : Sob a pressão de Luís XIV para ocupar o
Palatinado, Áustria, Espanha e Suécia se unem para manter a unidade alemã, recebem, no momento
em que a guerra irrompe, a ajuda da Inglaterra, da Holanda e de Savóia. A França perde o conflito
em uma derrota completa, enquanto a região do Palatinado é devastada. Por outro lado, a França
quer se livrar dos problemas da sucessão espanhola.
- No norte, a Suécia enfrenta sozinha, entre 1700-1721, a Dinamarca, Noruega, PolôniaSaxônia, Prússia e Rússia. As ações irrompem com uma operação relâmpago sueca contra a
Dinamarca, que busca estabelecer a paz imediatamente, que é aceita pela Suécia. O conflito
estabelece a Suécia como potência no Báltico e traz a Rússia como um novo ator para o cenário
europeu.
- Apesar da sucessão de conflitos, a Europa assiste à irradiação intelectual e artística da
França, ao fortalecimento da monarquia austríaca na região do Danúbio, à preponderância inglesa
nos mares e à ascensão d Prússia e da Rússia na política internacional do continente, assim como
nas ações militares. Por outro lado, é crescente a perda de poder e de territórios do Império
Otomano, que desde 1699 a 1718, entregam a Transilvânia, e a Hungria para a Áustria, além da
Sérvia e uma parcela da Valáquia. Este decréscimo de poder contraria a posição otomana até 1740,
quando era considerado um império poderoso, porém o sultão ainda assegura posições estratégicas
como a maior parte da península balcânica, as ilhas do Mar Egeu e possessões dentro da Europa
Central como a outra parte da Valáquia e a Moldávia, na Romênia.
- A Guerra da Sucessão Espanhola (1702-1714): Envolve Inglaterra, Áustria e Holanda, de
um lado, e França, Espanha, Savóia, Bavária e Portugal de outro. Por outro lado, ao longo do
conflito Portugal e Savóia trocam de lado opondo-se à França. A causa da guerra foi a tentativa de
Felipe de Anjou, francês, de ascender ao trono espanhol, porém os Habsburgos acreditam que isto
é privilégio deles. A derrota da França retira parcelas do seus territórios, no continente são cedidos
à Holanda, enquanto parcelas do Canadá francês são ocupadas pela Inglaterra. Em meio este
conflito, são assinados os tratados de Utrecht (1713-1714), que é um marco importante para a
Europa, estabelecendo que nenhuma potência continental poderia se impor sobre os territórios
europeus continentais e isso vale também para França e Áustria.
- A Guerra da Sucessão Austríaca (1740-1748): O conflito opôs de um lado Áustria,
Inglaterra, Holanda e Rússia e, do outro, Bavária, Prússia, França, Espanha e Suécia.
Posteriormente, outros Estados alemães e italianos tomam parte no conflito em ambos os lados. O
motivo principal do conflito são as demandas de Carlos da Bavária contra os Habsburgos e o final
da linha sucessória masculina. A paz é estabelecida pela Prússia e Áustria, através da concessão
da Silésia à primeira, e há aceitação de Maria Tereza como rainha da Áustria.
- Embora seja mais conhecida pelos seus desdobramentos na América do Norte, a Guerra
dos Sete Anos produz desarranjos na política européia. O conflito de 1756 a 1763 trouxe o desejo
de Frederico o Grande de manter sua posição na Silésia contrariando uma forte posição
antiprussiana no continente, composta por Áustria, França, Rússia, Saxônia e Suécia. A Prússia é
aliada de Hannover e da Inglaterra. O conflito se encerra com a retirada da Rússia e da Suécia,
seguidas pela França. No computo geral, o equilíbrio de poder na Europa permanece o mesmo,
porém a Prússia coloca-se na condição de potência regional.
- 1756-1763: A Inglaterra e a França enfrentam-se na Guerra dos Sete Anos . A origem do
conflito é a rivalidade econômica e colonial franco-inglesa, que se espalha pelas Américas e Índia.
Possessões francesas são tomadas por colonos britânicos, no atual Canadá, gerando o revide de
tropas francesas, que têm como aliados tribos indígenas, que passam a atacar as possessões
britânicas. Os colonos de origem britânica procuram a proteção da Coroa Inglesa deixando de lado,
momentaneamente, os embates causados pelos atritos comerciais entre colonos e metrópole. A
Inglaterra vence o conflito e passa a consolidar suas posições na região, acarretando na perda do
Canadá, nas Américas, do Senegal, na África, e da sua possessão na Índia.
- 1768-1772: A Guerra da Libertação da Polônia mostra uma tentativa de se manter na
condição de escolher o sucessor do monarca polonês, Augusto III, evitando a ingerência russa. A
preferência recaia sob Stanislau Augusto, que seria garantida pelo avanço de tropas russas sobre o
território polonês, o que colocaria o reino como um simples fantoche do monarca russo. Nobres
católicos poloneses formam uma coalizão, em 1768, clamando por auxilio de outros países
europeus. A Áustria e a Prússia respondem ao apelo polonês, buscando, assim, evitar a queda de
Varsóvia em definitivo nas mãos russas. Por outro lado, em 1772, ficou claro que para evitar a
guerra total, a Polônia cedeu partes de seu território às três potências: Rússia, Prússia e Áustria.
- A Rússia volta-se para seus vizinhos exercendo a pressão através de uma condição bélica
adquirida por uma melhoria considerável do seu exército, incluído a modernização aos moldes
francês e inglês. A Suécia buscava desviar a atenção de seus problemas internos, desta forma
Gustavo III aproveita a pressão russa e leva o país ao atrito, conquistando vitórias navais,
conseguindo evitar as perdas de território, usuais no período, para o inimigo russo, encerrando o
conflito iniciado em 1788, que perdurou até 1790.
- 1776: A América do Norte está em crise desde a Guerra dos Sete Anos, acirrando os
ânimos entre colonos de origem britânica e aqueles já nascidos na colônia. O motivo principal é
carga de impostos cobrada pela Coroa Britânica. O estopim para o inicio dos combates foi a Lei
do Chá, que dá aos britânicos da Companhia Britânica das Índias Orientais, o monopólio sobre o
comércio do produto, prejudicando os comerciantes locais. A igualdade é solicitada pelos colonos
em 1774, através do Congresso Continental da Filadélfia. Em 1775, com a Batalha de Lexington,
há organização militar dos colonos e declaram guerra à metrópole. Espanhóis e franceses em
função de disputas com os ingleses oferecem ajuda aos colonos americanos, sendo prontamente
aceita. A Declaração de Independência é redigida por Thomas Jefferson, sendo promulgada em
04/07/1776. Em 1783, no Tratado de Versalhes, a Inglaterra reconhece a independência das 13
Colônias.
1804: Aquele ano marcou o início dos movimentos de independência das colônias
espanholas da América. O processo foi favorecido pela difusão de ideais liberais trazidas pela
Revolução Francesa, pela independência dos EUA, pela mudança no equilíbrio de poder na Europa
em conseqüência das guerras napoleônicas e pela alteração nas relações entre metrópole e colônia.
A maioria dos movimentos emancipacionistas é liderada por criollos, descendentes de espanhóis
nascidos na América, que exigem maior autonomia, liberdade comercial e igualdade com
espanhóis. Os criollos eram apoiados pelos ingleses, que tem interesse na liberação dos mercados
latino-americanos, principalmente os portos, principalmente os de Buenos Aires e Montevidéu.
As possessões espanholas, na América do Sul, desde 1804, já enfrentavam lutas pela
independência, que se agravaram com a situação da Espanha ocupada. O representante da corte
portuguesa, no Rio de Janeiro, Souza Coutinho, dirigiu-se a Buenos Aires a fim de oferecer
proteção às possessões espanholas na América. O enviado português alegou o perigo de invasão
por forças napoleônicas, porém aceitando a proteção portuguesa receberia o apoio da armada
britânica. A oferta foi rejeitada pelo cabildo de Buenos Aires que reafirmou sua obediência ao
monarca espanhol.
Carlota Joaquina, espanhola de nascimento, buscou estabelecer suas pretensões sobre os
territórios espanhóis na América ao sul do RS. Em Buenos Aires, tentou aproximar-se de realistas,
assim como na Banda Oriental. No Uruguai, realistas e republicanos lutavam, Carlota apoiava os
primeiros, enquanto argentinos forneciam ajuda aos últimos.
Início da guerra entre Inglaterra e França, com a chantagem francesa a Portugal: captura de
bens ingleses em Portugal, exigência de pagamento de 16 milhões de francos ao governo francês.
Tratados de Badajoz (1801)-a localidade fica apenas a 7 km da fronteira portuguesa - e Madri
(1801). Napoleão iniciou sua campanha de anexações pela Europa, enfrentando resistência
britânica e de alguns estados alemães, liderados pela Prússia, aliada à Rússia e a Áustria.
1807: Exigência de obediência portuguesa, por parte da França, ao bloqueio naval à
Inglaterra. Assinatura de um acordo entre Inglaterra e Portugal, que seria fundamental para a
evacuação da família real do território, quando da invasão francesa de 1808.
Tratado de Fontaineblau foi assinado entre França e Espanha, demarcando a divisão do
território luso entre franceses e espanhóis. Ficava clara a intenção da Espanha em aliar-se a
Napoleão e admitir a sua política expansionista pela Europa. Seria pedida pela França a saída do
embaixador português, enquanto a Espanha faria o mesmo.
Em 26/05/1812, um armistício foi assinado entre Artigas, os lideres das Províncias Unidas
e os emissários brasileiros. O Uruguai era desocupado pelas tropas estrangeiras. Tropas argentinas
abandonam Montevidéu, porém os partidários de Artigas não conseguiram estabelecer a ordem,
acarretando na invasão brasileira, em 1817. Em 1821, a Cisplatina era formalmente parte do
território brasileiro. Com a ascensão de Pedro I à condição de monarca de um reino independente,
a Banda Oriental enfrentou a divisão das tropas brasileiras em seu território. Representantes
artiguistas argumentavam que a anexação deveria ser extinta, uma vez que o Brasil não era mais
parte integrante de Portugal.
Naquele mesmo ano, os EUA repeliam a última tentativa da Grã-Bretanha de tomar o
território estadunidense. O ataque foi repelido, mantendo os britânicos no Canadá.
1815: Com a derrota de Napoleão, a Europa, através de seus representantes, se reuniu no
Congresso de Viena para redefinir o mapa político do continente e do mundo. Sob a liderança da
Áustria, da Grã-Bretanha, da Prússia e da Rússia, os territórios napoleônicos foram redistribuídos
entre os países vencedores, restaurando dinastias e fronteiras alteradas pelas guerras napoleônicas.
A Santa Aliança era criada como uma organização política internacional com o objetivo de deter
novos movimentos revolucionários e impedir o desequilíbrio de poder entre as potências européias.
1830-1832: Os movimentos de caráter liberal e burguês, que começaram na França, se
espalharam pela Europa, ficando conhecidas como Revoluções Liberais. Na França, os distúrbios,
receberam o nome de Revolução de julho de 1830, explodiram revoltas populares depois que o rei
da casa de Bourbon, Carlos X, suspendeu a liberdade de imprensa e dissolveu o Parlamento. A
vitória da burguesia levou ao trono um membro da família Orléans: Luís Felipe I. A queda dos
Bourbons gerou uma onda de insurreições na Europa.
A Bélgica libertou-se da Holanda. Na Bélgica, os católicos das províncias belgas se
levantam contra os holandeses, após os dias de conflito, as forças holandesas evacuam Bruxelas,
que posteriormente, foi escolhida a capital da Bélgica independente. A Grécia tornou-se
independente da Turquia, após um embate iniciado em 1820. Em 1829, as potências européias
garantiram a independência grega. As lutas internas gregas cessaram quando as facções aceitaram
a escolha de Otto da Baviera como monarca da Grécia.
Entre 1830 e 1831, eclodiu na Polônia uma série de manifestações nacionalistas, que foram
reprimidas pelos russos. Desde 1815, a Polônia mantinha uma união com a Rússia, porém o levante
do Exército Polonês se rebelou provocando o retorno das tropas russas, que derrotaram os
poloneses e colocando Varsóvia sob a ocupação russa.
Em 1832, ocorreram agitações no espaço alemão e italiano.
Em 1831, o rei Luís Felipe I criou a Legião Estrangeira, corpo militar formado por
voluntários estrangeiros e oficiais franceses, que foi a principal unidade que tomou parte da
invasão da Argélia. Passou a ser a principal força militar, a partir deste momento, para ocupação
de território ultramarinhos franceses.
1834-1839: A guerra da sucessão na Espanha provocou um conflito no país. A morte de
Ferdinando VII deixou o trono vago, em 1833, para sua filha Isabella, enquanto o irmão do
monarca morto, Don Carlos, se proclamou rei, nas províncias bascas, provocando uma longa
guerra civil. Os Carlistas obtiveram sucesso no início do conflito, porém em função de várias
deserções, em 1839, Don Carlos abandonou as armas refugiando-se na França com seus seguidores
próximos.
1838: A Grã-Bretanha assistiu ao nascimento dos sindicatos influenciados pelo
aparecimento de idéias socialistas e das revoluções liberais. A ascensão da rainha Vitória, em 1837,
governando até 1901, colocaria a Grã-Bretanha como a maior potência colonial, conquistando
novos territórios na Ásia, África e Oceania.
Entre 1839 e 1860, China e Grã-Bretanha se envolveram na Guerra do Ópio, quando a
Companhia Britânica das Índias Orientais mantinham um intenso comércio com os chineses,
comprando chá e vendendo ópio trazido da Índia. A decisão do governo imperial chinês de
suspender a importação deste produto produz o primeiro conflito, entre 1838-1842, a China foi
vencida, obrigada a pagar uma indenização e forçada a abrir cinco portos, transferindo, também, a
posse da Ilha de Hong Kong para a Grã-Bretanha. No segundo confronto, os britânicos tinham a
França como aliada e derrotam a China, que cedem outros portos para as nações vencedoras. Por
outro lado, as tentativas britânicas de tomarem outras regiões também foram vistas na América do
Sul. O fracasso da intervenção franco-britânica (1845-1850) na região do rio da Prata, contra Juan
Manuel Rosas, fortaleceu o governante platino com a vitória sobre as duas potências européias.
Nas Américas, o México e os EUA passaram a travar um conflito na fronteira. Quando o
Texas tornou-se parte dos EUA, em 1845, os mexicanos passaram a apresentar queixas e partiram
para o embate armado, em 1846. Em 1847, a Cidade do México era ocupada por tropas
estadunidenses e a paz foi concluída em 1848. O alvo das reclamações mexicanas era o Texas, que
os mexicanos julgavam ser parte de seu território. O México perdeu os territórios acima do Rio
Grande, o Novo México e a Califórnia, além de abdicar de todas as tentativas de reconquista do
Texas.
O Parlamento britânico, em 1845, estabeleceu a Bill Aberdeen, lei que pressiona os países
extinguir o tráfico negreiro de escravos, dando permissão à Marinha Real Britânica a aprisionar e
a afundar os navios negreiros no Oceano Atlântico.
A Europa, em 1848, foi tomada por uma série de conflitos, que começam na França em
função da falta de liberdade civil, que produzem uma reação contra a monarquia do país. Os
revoltosos proclamam a II República, instalando o governo provisório, de maioria burguesa após
a insurreição de fevereiro. Apesar da conquista da democracia, as condições de vida dos
trabalhadores continuavam ruins, apresentando poucas mudanças. Em junho, uma nova rebelião
estava instaurada e foi reprimida pelas tropas oficiais. A onda revolucionária foi chamada de
Primavera dos Povos atingindo simultaneamente outras nações européias, como Itália, Suíça e os
Estados Alemães. Em todos os locais, os movimentos foram duramente reprimidos.
Na Suíça, os embates começaram com a decisão do Governo Federal Suíço de usar a força
contra rebeldes dos cantões católicos provocou o levante, porém a ação militar impediu a
desagregação do território suíço. No espaço alemão, a Prússia manteve a ordem, porém, nos
territórios da Hungria e Schleswig-Holstein, os combates contra a Áustria e a Dinamarca foram
registrados, respectivamente, em larga escala. A Hungria lutava para se conter o avanço da Áustria,
enquanto os alemães de Schleswig-Holstein buscavam se libertar da Dinamarca. A crise com a
Dinamarca se agravou, quando tropas prussianas, por ordem da Confederação Germânica,
passaram a combater ao lado dos revoltosos, a retirada prussiana selou a sorte dos revoltosos, que
permaneceram sob o governo dinamarquês.
No continente europeu, ainda em 1848, foi publicado o Manifesto do Partido Comunista,
de autoria de Friedrich Engels e Karl Marx, que pregavam que a evolução histórica era concebida
através da luta de classe. No capitalismo, a oposição era feita entre a burguesia e a classe operária
e o manifesto conclamava o operariado à união e a tomar o poder, passando a ser traduzido em
vários idiomas e exercendo grande influência sobre os movimentos revolucionários e operários.
A ascensão da Rússia na Europa uniu Grã-Bretanha, França, Áustria, Sardenha e Império
Otomano contra os russos que se alastravam pelos Bálcãs, nas regiões dos mares Negro e
Mediterrâneo e mantinham uma relação ruim com os otomanos desde o apoio à independência
grega. A Guerra da Criméia ocorreu na península de mesmo nome, no território da atual Ucrânia,
e nos Bálcãs. Derrotada a Rússia devolveu o mar da Bessarábia, atual Ucrânia, e a foz do rio
Danúbio (atual Romênia) para a Turquia, ficando proibida de manter bases ou forças navais no
mar Negro, em 1854. Também foi obrigada a evitar pressões nos Bálcãs, onde mantinha relações
com populações de religião ortodoxa, insuflando inclusive rebeliões contra o Império AustroHúngaro.
No final da década, a Áustria e a França se enfrentam na Guerra Austro-Francesa. O
controle austríaco no norte do espaço italiano gerou o conflito entre a Áustria e a Sardenha, que
recebeu apoio francês, que secretamente buscou auxiliar na unificação deste espaço italiano. Após
as vitórias franco-sardas, os beligerantes decidem estabelecer a paz. A França receberia Savóia e
Nice, em 1860, e a concessão de Modena, Parma e Toscana à Sardenha, deixando de pertencerem
aos Estados Papais.
Em 1860, inicia-se a luta pela Unificação Italiana, como uma conseqüência direta do
conflito austro-francês (1859). O líder guerrilheiro Garibaldi com os “Camisas Vermelhas”
expulsou as tropas napolitanas da Sicília, ocupando Nápoles após um desembarque bem sucedido.
A Sardenha enviou tropas para intervir, quando o Exército Papal foi derrotado. A união das forças
de Garibaldi com as tropas da Sardenha derrotou a resistência de Nápoles, obrigando à assinatura
do tratado de paz que colocava a Itália unificada sob a regência de Vitor Emmanuel I, o “Rei da
Itália”.
Na América do Norte, os EUA enfrentavam a Guerra da Secessão, opondo o Norte
industrializado contra o Sul escravocrata, aristocrata, latifundiário e agrário. O conflito, que
mostrou os interesses antagônicos começou em 1861 perdurando até 1865. Os Estados do Sul, que
iniciaram o conflito, acabam derrotados ocasionando o fim da escravidão, porém a condição
imposta aos negros estadunidenses era, no final de da guerra, de marginalidade, sem nenhum
programa governamental de integração social, econômica e profissional. Houve a ocupação militar
do Sul até 1877, o que proporcionou a colocação da região de acordo com o planejamento
estabelecido pelo Norte. Enquanto os EUA enfrentavam o conflito interno, que gerou 600 mil
mortos e conseqüentes perdas na economia, como, por exemplo, o algodão, o México sofria uma
intervenção estrangeira patrocinada pela França, que opôs nacionalistas mexicanos republicanos e
monarquistas europeus aliados a simpatizantes mexicanos. Em 1863, usando disputas financeiras
como desculpa, Napoleão III enviou tropas para ocupar a Cidade do México, colocando no trono
mexicano o arquiduque austríaco Maximiliano, que chegou ao país em 1864, trazendo uma gama
variada de tropas para apoiá-lo, como belgas, turcos, austríacos e franceses. A Grã-Bretanha e
Espanha foram seduzidas pela demanda francesa, porém quando seus governantes e oficiais
perceberam a verdadeira manobra francesa, desistiram do apoio e retiram-se de volta à Europa. O
conflito no México terminou em 1867, com a retirada francesa e a execução do monarca, além de
recolocar o país sob regime republicano, embora não solucionasse os problemas internos e de
fronteira com os EUA.
A Desintegração da América Espanhola.
Entre 1750 a 1830, o sistema colonial na América Espanhola chegou ao seu fim. O
capitalismo mercantil, que projetou Espanha e Portugal como expoentes, se encerrava. No século
XVIII, chegava o capitalismo industrial com a liderança da Inglaterra e França, com regimes
liberais burgueses, fundamentados por idéias iluministas e com um novo pensamento econômico:
o liberalismo, que trazia no seu ideário as vantagens do comércio. Nesta etapa, Portugal e Espanha
foram ultrapassados por não poderem fornecer a demanda de produtos industrializados que suas
colônias demandavam. Tornaram-se inoperantes, inclusive para defendê-las. Isto fez com que,
aliado às influências externas, como a Independência do EUA (1776) e a Revolução Francesa
(1789), as colônias americanas se tornassem independentes.
O Processo de Independência na América Central.
Em 1823, a Capitânia Geral da Guatemala proclamou a independência, sendo a província
de Chiapas a única que aceitou a integração ao México. Pela Constituição de 1824, Guatemala, El
Salvador, Honduras, Nicarágua e Costa Rica criaram um Estado Federal, chamando-o de
Províncias Unidas da América Central, com congresso bicamaral instalado juntamente com a
Presidência na Cidade Guatemala. Os Estados confederados possuíam poderes Executivo,
Legislativo e Judiciário completamente autônomos, deixando as oligarquias locais no controle dos
territórios conforme seus interesses. Neste ambiente foi permitida a disputa entre liberais e
conservadores, sendo que estes eram os antigos realistas, ainda simpatizantes da monarquia
espanhola valorizando a tradição e o clericalismo. Por outro lado, os liberais visavam às mudanças
políticas e econômicas, defendendo o sistema federal, enquanto negavam os laços com o passado
colonial.
Os conservadores eram mais fortes na Guatemala, o que os aliou com o presidente Manuel
José Arce, que foi eleito por liberais. Em 1826, estoura a guerra civil, que poupou apenas a Costa
Rica, que votou pela separação provisória da Confederação. A vitória do exército liberal colocou
o hondurenho Francisco Morazán como ditador, que estabeleceu reformas modernizantes,
enquanto desenvolvia represálias contra os conservadores, restringindo o poder da Igreja.
O autoritarismo de Morazán desencadeou uma nova guerra civil, em 1837, o conflito foi
dominado por intervenções presidenciais, nas áreas provinciais, assim como conflitos localizados.
Em 1838, o Congresso tentou dar a soberania às Províncias Unidas, transferindo para o governo
central o controle dos postos de alfândega. Os Estados confederados se negaram a aceitar tal
imposição e, no mesmo ano, em abril, a Costa Rica abandona a Confederação, seguida pela
Nicarágua e Honduras. As Províncias Unidas deixam de existir em 1839.
Ficou claro, naquele momento, segundo o historiador John Lynch, que as estruturas
fortemente arraigadas não combinavam com mudanças legislativas. A substituição de tutela da
Igreja pelo Estado laico encontrou resistência, a integração do índio ao sistema do liberalismo
econômico não encontrou amparo na realidade, assim como a substituição do mercantilismo e do
protecionismo pelo livre comércio. As mudanças prometidas pelos liberais viriam da reforma
gradual, que seria a longo prazo sem benefícios imediatos.
Com a descoberta do ouro, em 1840, nos EUA, a América Central entrou na área de
influência estadunidense. Sem ferrovias para ligar o leste ao oeste dos EUA, a América Central
tornou-se ...
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