Colégio SESI UMUARAMA Ensino Médio OFICINA É BOM SER DO BEM APOSTILA DE FILOSOFIA 2º BIMESTRE UMUARAMA/PR CIÊNCIA E TECNOLOGIA 1 ERA MODERNA: A ERA DAS CIÊNCIAS Para compreendermos a ciência em si, devemos entendê-la a partir de uma perspectiva histórica: a era Moderna. Vejamos algumas considerações: A ciência teve origem no início da Era Moderna (século XVI). Os fundadores da ciência moderna são: Bacon, Copérnico, Galileu e Newton. Eles fazem parte do movimento “Revolução Científica”. Na Antiguidade houve pesquisas científicas ou elementos de ciências, mas eles surgiam esporadicamente, mais como resultado da ação prática do homem sobre a natureza. No tocante ao desenvolvimento científico na Antiguidade, merecem destaques as culturas egípcia e grega. Os gregos desenvolveram estudos científicos em várias áreas: Matemática (Pitágoras, Euclides, etc.), Astronomia (Ptolomeu), Física (Arquimedes), Medicina (Hipócrates). Mas os gregos privilegiaram a Filosofia. A Idade Média representa uma interrupção no desenvolvimento científico; praticamente nada foi criado no que se refere à pesquisa da natureza. Para os medievais, as duas grandes ciências eram a Teologia e a Filosofia (Philosophia ancilla Theologiae). A isso se somavam as artes, a música e a poesia. No início da Idade Moderna (Renascimento – século XVI) ocorre uma série de transformações, que favorecem a retomada do desenvolvimento científico. O principal fator foi a redescoberta da cultura grega. A mudança cultural ocorre no sentido do retorno à razão e no retorno à natureza: a razão aplicada à natureza. O progresso cada vez mais acelerado das ciências deveu-se, sobretudo, ao desenvolvimento do método cientifico ou método experimental (Bacon, Galileu, Newton). A metodologia moderna apóia-se, sobretudo, em dois pilares: Matemática e experimentação. A matemática é a linguagem da ciência moderna, a linguagem de suas representações e seus conceitos; a ciência moderna perfez a “redução quantitativa da realidade”. A matemática é a linguagem de precisão, instrumento principal da ciência. A ciência está escrita neste imenso livro que continuamente está aberto diante de nossos olhos (estou falando do universo), mas que não se pode entender os caracteres em que está escrito. Ele está escrito em linguagem matemática e seus caracteres são círculos, triângulos e outras figuras geométricas, meios sem os quais é impossível entender humanamente suas palavras: sem tais meios, vagamos inutilmente por um escuro labirinto. (Galileu Galilei) O real da ciência é o que se pode medir. (Max Planck) O outro pilar da ciência moderna é a experimentação. Experimentação é a reprodução de um fenômeno para constatar a sua regularidade. A experimentação torna-se para a ciência moderna o único critério de verdade e certeza objetiva. Foi preciso fazer uma seleção entre as representações possíveis do mundo para considerar apenas as representações matematizáveis. Surge, então, a Matemática como linguagem das representações científicas, como a forma de linguagem poética, onde cada expressão possui ao mesmo tempo múltiplos sentidos. A linguagem matemática, como sabemos, é a linguagem das relações quantificáveis entre grandezas, e cada uma das suas expressões possui um, e apenas um sentido. Para traduzir o mundo em linguagem matemática, o meio mais adequado é através de medidas. E só se pode medir aqueles aspectos da realidade que são quantificáveis, como, por exemplo, comprimento, largura, peso, etc. Aqueles outros aspectos, chamados qualitativos, como 2 cores, cheiros, gosto, sensações em geral, por pertencerem à esfera privada de cada indivíduo, muito dificilmente podem ser atribuídos univocamente à realidade do mundo exterior. Os aspectos quantitativos, ao contrário, podem ser medidos, isto é, comparados com um padrão publicamente convencionado, por exemplo, um metro, um quilograma, etc. Nesse caso, torna-se necessária uma experiência corpórea com os objetos, para poder medi-los, descrevendo-os matematicamente. (CUNHA, 1992, p. 90). Os pioneiros da Física Moderna (séculos XVI e XVII) foram: Copérnico, Galileu, Kepler (na área de Astronomia) e Galileu e Newton (na área da Física Mecânica). No século XVII desenvolveu-se a Química (Boyle e Lavoisier foram seus principais propulsores). Na passagem do século XVII ao século XIX afirmaram as ciências biológicas (Bichat, Gall, Lineu, Bernard, Darwin). No século XIX aparecem as chamadas “ciências humanas” (Psicologia, Sociologia, Pedagogia). São ciências que têm por objeto algum aspecto determinado da realidade humana. 2 O CONHECIMENTO CIENTÍFICO 2.1 Conhecimento pré-científico (senso comum) O modo de conhecer e agir sobre o meio de forma espontânea e irreflexa chamamos de “senso comum” ou conhecimento pré-científico. O senso comum é o conjunto de conhecimentos espontâneos, surgidos pela interação com o meio, adquiridos pela experiência de vida. Conhecimento vulgar é o conhecimento que nos fornece a maior parte das noções de que nos valemos em nossa existência cotidiana. O conhecimento científico ocupa campo muito menos de nosso viver comum. Grande parte de nossa vida se realiza somente graças ao conhecimento comum. Conhecimento vulgar não significa conhecimento errado ou errôneo, pois pode ser conhecimento autêntico; significa apenas conhecimento não verificado, não dotado de certeza. Que caracteriza o conhecimento vulgar? É um conhecimento que vamos adquirindo à medida que as circunstâncias o vão ditando, nos limites dos casos isolados... É um conhecimento fortuito de fatos, sem procura deliberada dos nexos essenciais que ligam a experiência...; é um conhecimento que se processa sem estabelecer nexos de semelhança ou de constância entre os fatos, para abrangelos em uma explicação unitária, em suas relações necessárias. (REALE, 1989, p. 42). 2.2 Conhecimento científico Quando um conhecimento se torna mais cuidadoso, mais reflexo, ele se torna científico. A ciência seria, então, o aperfeiçoamento do conhecimento comum. Acrescentar uma dose maior de inteligência no lugar da fantasia. Maior cuidado na observação, ceticismo diante das aparências, maior criatividade na procura das explicações: eis alguns procedimentos que transformaram o conhecimento comum em conhecimento científico. Como é que se processa o trabalho científico? O trabalho científico é sempre de cunho ordenatório, realizando uma ordem ou uma classificação e, necessária e concomitantemente, uma síntese, buscando os nexos ou laços que unem os fatos. O conhecimento científico, portanto, não conhecimento do particular em si, destacado, como algo que se não situe numa ordem de realidades ou de atos, mas conhecimento do geral, ou do particular em seu sentido de generalidade, ou em sua essencialidade categorial. Não é conhecimento fortuito, casual, mas, ao contrário, é um conhecimento metódico. É o método que faz a ciência. Conhecimento científico é aquele que obedece a um processo ordenatório da razão, garantindo-nos certa margem de segurança quanto aos resultados, a coerência unitária de seus juízos e a sua adequação ao real. O conhecimento vulgar pode ser certo – e muitas vezes o é – mas não possui a certeza da certeza, por não subordinar a verificação racional, ordenada, metódica. O conhecimento científico, ao contrário, é aquele que verifica os próprios resultados, pela ordenação crítica de seu processo. Não vamos, por hora, discorrer sobre os métodos, nem tratar 3 dos diferentes processos do conhecimento científico, limitando-nos a notar que este não pode prescindir da exigência metódica. O conhecimento vulgar é conhecimento casual, de casos; o conhecimento científico é conhecimento metódico e, em outro sentido, conhecimento casual. (REALE, 1989, p. 43). 2.3 Ciência do ponto de vista formal A ciência é um conjunto de conhecimentos metodicamente adquiridos e sistematicamente organizados. Ao analisarmos a ciência a partir de sua perspectiva formal, devemos elencar os seguintes pontos: Método: palavra de origem grega (metá = com; hodós = caminho), designa um conjuntos de procedimentos em sucessão (etapas), previamente planejados, em vista de um fim previsto. Sistema: é a ordenação dos conhecimentos num todo integrado e unitário. Fazemos a ciência com fatos, assim como fazemos uma casa com pedras; mas a acumulação de fatos não é ciência, assim como um monte de pedras não é uma casa. (H. Poincaré) 2.4 Método experimental O método científico é uma técnica ou modo de proceder pelo qual o cientista adquire, de maneira segura, certos tipos de conhecimento. É uma sucessão de passos ou operações que vão desde a formulação de um problema (hipótese) até a incorporação, no patrimônio científico, do novo conhecimento. Estes passos ou operações podem ser escalonados da seguinte maneira: 1. Observação rigorosa. 2. Hipótese ou formulação do problema. 3. Tentativa de obtenção de um modelo. 4. Planejamento da verificação. 5. Submissão do modelo ou da hipótese a testes críticos – experimentação. 6. Comprovação dos resultados obtidos. 7. Comunicação dos resultados obtidos (dá-se a passagem da atividade para uma linguagem). (XAVIER TELES, 1985, p. 63). É importante ressaltar que a comunicação de resultados geralmente se dá sob a forma de leis, teorias ou hipóteses. 2.5 Classificação das ciências As ciências são classificadas hoje da seguinte forma: Ciências formais: ciências matemáticas ou lógico-matemáticas (aritmética, geometria, álgebra, trigonometria, lógica, física pura, astronomia pura, etc.). Ciências naturais: física, biologia, geologia, astronomia, geografia, física, paleontologia, etc. Ciências humanas ou sociais: psicologia, sociologia, geografia humana, economia, lingüística, arqueologia, história, etc. Ciências aplicadas: todas as ciências que conduzem à invenção da tecnologias para intervir na natureza, na vida humana e nas sociedades, como, por exemplo, direito, engenharia, medicina, arquitetura, informática, etc. Cada uma das ciências subdivide-se em ramos específicos, com nova delimitação do objeto e do método de investigação. Assim, por exemplo, a física subdivide-se em mecânica, acústica, óptica, etc.; a biologia em botânica, zoologia, fisiologia, genética, etc.; a psicologia subdivide-se em psicologia do comportamento, do desenvolvimento, psicologia clínica, psicologia social, etc. E assim sucessivamente, para cada uma das ciências. Por sua vez, os próprios ramos de cada ciência subdividem-se em disciplinas cada vez mais específicas, à medida que seus objetos conduzem a pesquisas cada vez mais detalhadas e especializadas. (CHAUÍ, 1995, p. 260-261). 4 3 FILOSOFIA E CIÊNCIA: DISTINÇÃO Campo Objeto Método Critério de Verdade Apoio Termo Abrangência Caráter Ciência realidade empírica fenômenos, fatos experimental experimentação matemática leis, teorias particularidade utilitário Filosofia____________ realidade meta-empírica sentidos e valores____ crítico-reflexivo______ evidência da razão___ lógica______________ cosmovisão, sistema__ universalidade______ vivencial 4 RELAÇÃO ENTRE FILOSOFIA E CIÊNCIA De modo geral, há três modos de se fazer Filosofia e, ao mesmo tempo, três modos de entender a relação entre Filosofia e Ciências: a Filosofia desconsidera as ciências, a Filosofia se identifica com as ciências e Filosofia e ciências devem estar em mútua referência. Vejamos uma a uma: 4.1 A Filosofia desconsidera as ciências É uma atitude de isolamento; a Filosofia se isola das ciências, não levando em conta a problemática científica. A Filosofia seria, aqui, a “ciência do espírito”, enquanto as ciências seriam “ciências da natureza”. 4.2 A Filosofia se identifica com as ciências É uma posição que considera que a Filosofia não tem conteúdo próprio e que todo o seu verdadeiro conteúdo está nas ciências. Tal posição é típica de alguns círculos ligados ao Positivismo (século XIX) e Neopositivismo (século XX). Essa posição, na realidade, propõe uma identificação total da Filosofia com as ciências (Filosofia = Ciência). O fundamento dessa posição positivista está na afirmação de que o conhecimento científico é o único válido e legítimo e que todo assunto ou pesquisa fora dessa alçada, é falso e vazio. Segundo Comte, a tarefa da filosofia é classificar as ciências, determinar os seus limites, julgar os progressos. A função da filosofia não é conhecer este ou aquele objeto particular (não é uma função cognitiva), mas dirigir as ciências em suas pesquisas. A sua função é normativa. (MONDIN, 1987c, p. 116). Para o neopositivismo contemporâneo, para o chamado Círculo de Viena, assim como para a Escola Analítica de Cambridge e todas as suas derivações, a Filosofia não é senão uma teoria metodológico-linguística das ciências, uma análise rigorosa da significação dos enunciados das ciências e de sua verificabilidade, visando, segundo alguns, purifica-las de “pseudo-problemas” (REALE, 1989, p. 12). 4.3 Filosofia e Ciências devem estar em mútua referência A Filosofia não se identifica com ciências: ela tem assuntos próprios que não são da competência das ciências. No entanto, a Filosofia deve estar em estreita interrelação (ou diálogo) com as ciências (oposição ao primeiro posicionamento). Existem na época contemporânea – época de extraordinário desenvolvimento científico – entrecruzamentos, interferências e implicações recíprocas entre a ciência e a Filosofia. Tanto as ciências não podem substituir a Filosofia, como a Filosofia não pode dispensar as ciências. As ciências geram questões filosóficas e a Filosofia deve estar em referência contínua às ciências. 5 Assim, uma cosmovisão – exigência dos momentos hodiernos – deve ser, ao mesmo tempo, científica e filosófica. A ciência gera questionamentos que não são científicos e que ela mesma não pode resolver. Dessa maneira, o saber científico é um saber operativo e utilitário. As ciências e a tecnologia são um meio para fins da humanidade. Mas estes fins a ciência não está capacitada a propor (e aqui entra em cena a Filosofia). Mesmo se todos os problemas científicos estivessem solucionados, as questões verdadeiramente humanas não seriam sequer tocadas. (L. Wittgenstein). A Filosofia, então, tem uma função fundamentadora e crítica com relação às ciências, como bem salienta o texto A função da Filosofia: Uma das funções da filosofia é analisar os fundamentos da ciência. O próprio cientista já está, na verdade, colocando questões propriamente filosóficas quando se pergunta em que consiste o conhecimento científico, qual o seu alcance, qual a validade do método que utiliza e qual é sua responsabilidade no que se refere às consequências das descobertas. Por isso, é importante que o cientista se disponha a filosofar, a fim de investigar os pressupostos e as implicações do seu saber. Além disso, a filosofia busca recuperar a visão da totalidade, perdida diante da multiplicação das ciências particulares e da valorização do mundo dos “especialistas”. É a filosofia que, diante do saber e do poder, avalia se estes estão a serviço do homem ou contra ele, isto é, se servem para seu crescimento espiritual ou se o degradam, se contribuem para a liberdade ou para a dominação. Assim, é preciso questionar a ideologia do progresso que justifica as ilusões e preconceitos do homem “civilizado” por este se julgar superior a qualquer outro. Não é em nome do progresso que as tribos indígenas têm sido sistematicamente expulsas dos seus territórios? E não seria o caso de perguntar quais são os valores do homem “urbano e civilizado” que é individualista, sofre de solidão e tem sido vítima dos descontroles do progresso, como a poluição ambiental? Diante de tais questões, não há como sustentar a neutralidade da ciência. A bomba atômica não pode ser considerada apenas como resultado do sabe sobre a energia atômica, nem como simples técnica de produzir explosão. Trata-se de um saber e de uma técnica que dizem respeito à vida e à morte de seres humanos. Como tal, cabe ao cientista a responsabilidade social de indagar a respeito dos fins a que se destinam suas descobertas. E não é possível alegar isenção, uma vez que a produção científica não se realiza fora de um determinado contexto social e político, cujos objetivos a serem alcançados estão claramente definidos. As altas cifras necessárias ao encaminhamento das pesquisas supõem o apoio financeiro das instituições públicas e privadas, que evidentemente subvencionam os trabalhos que mais lhes interessam. Pode-se falar que, por muito tempo, houve uma “indústria da guerra”, alimentando a “corrida armamentista” e exigindo o constante desenvolvimento da ciência e tecnologia no campo militar. O papel da filosofia consiste, portanto, em analisar as condições em que se realizam as pesquisas científicas, investigar os fins e as prioridades a que a ciência se propõe, bem como avaliar as consequências das técnicas utilizadas. Resta lembrar que, no desempenho desse papel, o filósofo não tem respostas prontas, nem um saber acabado. Não caberia ao filósofo nortear, de forma onipotente, os rumos da ciência. A filosofia deve caminhar ao lado dos cientistas e técnicos a fim de que a abordagem específica que ela é capaz de fazer os auxilie a não perder de vista que a ciência e a técnica são apenas meios e devem estar a serviço da humanidade. (ARRUDA ARANHA; PIRES MARTINS, 1992, p. 101-102). 6 LIMITES DO CONHECIMENTO, RACIONALISMO E EMPIRISMO 1 O CONHECIMENTO COMO QUESTÃO FILOSÓFICA A filosofia, no correr dos séculos, se preocupou com o conhecimento, formulando a esse respeito várias questões: Qual a origem do conhecimento? Qual a sua essência? Quais os tipos de conhecimento? Qual o critério da verdade? É possível o conhecimento? (ARANHA; MARTINS, 1985, p. 96). São, portanto, várias as questões que se pode colocar sobre o conhecimento e que são assunto da Filosofia. Citamos como exemplos: Espécies de conhecimento: o conhecimento é um só ou pode ser diferenciado em tipos? Existe só uma espécie de conhecimento ou mais de uma? Natureza do conhecimento: o que é conhecer? Conhecer é reproduzir ou criar a realidade? Alcance do conhecimento: até onde alcançam os nossos conhecimentos? Conhecemos só o que podemos perceber pelos sentidos ou podemos conhecer algo além da percepção dos sentidos? Validade e verdade do conhecimento: quais são os critérios da verdade? Como distinguir a verdade da falsidade? São essas e outras questões filosóficas sobre o conhecimento que são tratadas numa disciplina chamada “Teoria do Conhecimento” ou “Gnosiologia”. 2 CONHECIMENTO: UM PEQUENO PANORAMA HISTÓRICO Embora o problema do conhecimento tenha preocupado os filósofos desde a Antiguidade, somente a partir da Idade Moderna a teoria do conhecimento adquiriu grande importância, passando a ser tratada como uma das disciplinas centrais da filosofia. Para esse processo de valorização da teoria do conhecimento contribuíram, de forma decisiva, as obras do filósofo francês René Descartes (1596-1650), do filósofo inglês John Locke (1632-1704) e do filósofo alemão Immanuel Kant (17241804). (COTRIM, 1993, p. 70). 2.1 Platão Para Platão, o conhecimento é uma recordação, pois conhecer é recordar. O verdadeiro conhecimento é inato em nós, não precisamos confiar em nossos sentidos para obter conhecimento sobre o mundo. O verdadeiro conhecimento é formado por conceitos (idéias que já estão em nossa mente), e não por informações (idéias que chegam até nós por meio dos sentidos). (RAEPER, W.; SMITH, L. Introdução ao estudo das Ideias. p. 19) 2.2 Aristóteles Aristóteles contesta Platão, afirmando que nossa alma (mente) não possui nenhum conhecimento ou idéias inatas (somos uma “tabula rasa”). Todo conhecimento é adquirido pela experiência sensorial (nihil est in intellectu quod prius in sensibus non erat). Temos, além dos sentidos, uma faculdade superior: a inteligência, que elabora o material dos sentidos e forma um outro tipo de conhecimento: o conhecimento intelectual (ou intelectivo). O trabalho básico da inteligência é a abstração: da imagem individual a inteligência tem o poder de captar uma idéia universal (o conceito). Em seguida, a inteligência liga conceitos em juízos, raciocínios, etc.; isso se chama ciência, obra do intelecto. 7 2.3 Racionalismo Aqui estamos no século XVII. O racionalismo é uma volta ao platonismo. A inteligência possui idéias próprias, inatas e independentes da experiência sensorial (ideias matemáticas, da alma, de Deus, etc.). Essas idéias são o fundamento da verdadeira ciência e não a experiência sensorial, que não é confiável. 2.4 Empirismo Corrente filosófica dos séculos XVII e XVIII que propõe uma volta ao aristotelismo. Não há idéias inatas, todo o conhecimento provém da experiência sensorial. A única fonte de conhecimento é a experiência dos sentidos. 2.5 Kant Pensador alemão do século XVIII, pretende ser uma síntese entre o Racionalismo e o Empirismo. Para ele, não há idéias inatas, mas categorias da mente, pelas quais elaboramos o material da experiência sensorial. Por exemplo: as categorias de “espaço” e “tempo” são próprias da mente. Essas categorias elaboram o material indeterminado (“fenômeno”), que vem da experiência dos sentidos: em si, sem o material dos sentidos, as categorias são “vazias”, não têm conteúdo nenhum, são apenas “formas” para elaborar o material dos sentidos; por outro lado, o fenômeno (material dos sentidos) se não for elaborado pelas “categorias”, não é compreendido. O conhecimento, portanto, é, ao mesmo tempo, objetivo (porque seu conteúdo vem de fora: o “fenômeno”) e subjetivo (porque a mente acrescenta algo de si, “enquadra” o material dos sentidos). O nosso conhecimento só provém dos sentidos (“fenômenos”), mas estes “fenômenos” são elaborados pela inteligência. A inovação de Kant consiste em afirmar que a realidade não é um dado exterior ao qual o intelecto deve se conformar, mas, ao contrário, o mundo dos fenômenos só existe na medida em que “aparece” para nós e, portanto, de certa forma participamos da sua construção. (ARANHA & PIRES, 1985, p. 178). Tal como Copérnico dissera que não é o Sol que gira em torno da Terra, mas é esta que gira em torno daquele, também Kant afirma que o conhecimento não é o reflexo do objeto exterior: é o próprio espírito que constrói o objeto do seu saber. Nesse sentido, dizemos que Kant realizou uma “revolução copernicana”. (ARANHA; PIRES, 1985, p. 179). Outra afirmação de Kant: o nosso conhecimento se limita aos “fenômenos”: conhecemos as coisas tal como elas se apresentam aos sentidos. Não podemos conhecer as coisas como são em si, independentemente de nós (o “noumenon”). Muito menos há conhecimento de objetos que não são fenomênicos (negação da Metafísica como ciência). 8 CONCEPÇÃO DE BELEZA, BELO ARTÍSTICO x BELO NATURAL 1 A EMOÇÃO HUMANA E O BELO A vida do homem não se restringe à prática utilitária, a apenas agir e transformar a natureza. O mundo e a realidade tocam não só a inteligência do homem, mas também as suas emoções. O mundo, a natureza, antes de ser objeto do conhecimento e da atividade prática, é objeto de percepção e de contemplação. O mundo, no conjunto de seus objetos e seres, tange uma vasta gama das emoções humanas: admiração, prazer, dor, alegria, temor, tristeza, perplexidade... Desde os seus primórdios, o homem não apenas contemplou e encantou-se com a natureza, mas procurou expressar as suas emoções através de diversos meios, como também criar objetos que de certa forma reproduzissem e imitassem a beleza do mundo. É a criação artística: pintura, música, dança...expressões tão antigas quanto o próprio homem. Desde sempre, a arte é um dos segmentos constantes da cultura e da civilização humana (ao lado da ciência, da Filosofia e da religião...) 1.1 A Filosofia, as emoções humanas e a expressão artística A Filosofia, desde o seu início, incluiu a vida emocional e a expressão artística como objeto de sua reflexão. Aristóteles, por exemplo, dividiu a Filosofia em três partes: Filosofia teórica (ciência, saber), Filosofia prática (ação, ética) e Filosofia poética, a qual trata da engenhosidade e da criação humanas. Arte “poética” é o nome de uma obra aristotélica sobre as artes da fala e da escrita, do canto e da dança: a poesia e o teatro (tragédia e comédia). A palavra “poética” é a tradução para “poeisis”, portanto, para “fabricação”. A arte poética estuda as obras de arte como fabricação de seres e gestos artificiais, isto é, produzidos pelos seres humanos. (CHAUÍ, 1995, p. 321). Segundo a filosofia grega, o tema da arte, da expressão e criação artística recorre em toda a história em todas as suas etapas. 2 ESTÉTICA 2.1 Estética: conceituação A palavra “estética” provém do grego (aisthesis = sentido, percepção sensível) e significa uma “experiência” ou “percepção pelos sentidos”; é neste sentido, a palavra é usada por Kant, um dos filósofos que mais trabalhou a questão estética. A Estética em Kant é parte da gnosiologia (Estética Transcendental) que teoriza sobre a sensibilidade, a percepção sensível (Kant trata, porém, da estética no sentido normal na obra “Crítica do Juízo”) Hoje a idéia mais aceita sobre estética é do alemão Alexander Baumgarten: estética é a “percepção do belo” ou “teoria do belo”. Baumgarten reconheceu no seu campo semântico os seguintes aspectos: a presença de certos objetos melhor dotados, bem organizados nas suas formas, capazes de se dirigirem simultaneamente a todas as faculdades internas do homem, aos sentidos e ao espírito – objetos que correspondem à noção de beleza; a presença de uma experiência portadora de uma fruição desinteressada, prazer estético; a existência de uma atividade humana que tinha como finalidade a 9 produção deste tipo de objetos belos e específicos da experiência estética – a arte. (MORAIS, C. Estética in Logos: Enciclopédia Luso-Brasileira de Filosofia, volume 02, coleção 270) 2.2 Arte: conceituação Para a pensadora norte-americana Suzanne Langer, a arte pode ser definida como a prática de criar formas perceptíveis expressivas do sentimento humano. Analisemos, então, o conteúdo essencial dos termos dessa definição: “Prática de criar”: a arte é produto do fazer humano. Deve combinar a habilidade desenvolvida no trabalho (prática) com a imaginação (criação). “Formas perceptíveis”: a arte se concretiza em formas capazes de serem percebidas por nossa mente. Essas formas podem ser estáticas (uma obra arquitetônica, uma escultura) ou dinâmica (uma música, dança). Qualquer que seja sua forma de expressão, cada obra de arte é sempre um todo perceptível, com identidade própria. A palavra “perceptível” não se refere às formas captadas apenas pelos sentidos exteriores, mas também pela imaginação. Um romance, por exemplo, é usualmente lido em silêncio, com os olhos, porém, não é feito para a visão, como o é o quadro; e conquanto o som represente papel vital na poesia, as palavras, mesmo sem poema, não são estruturas sonoras como na música. “Expressão do sentimento humano”: a arte é sempre a manifestação (expressão) dos sentimentos humanos. Esses sentimentos podem revelar a emoção diante daquilo que amamos ou a revolta em face dos problemas que atingem uma sociedade. Sentimentos de alegria, esperança, agonia ou decepção diante da vida. A função primordial da arte, para Suzanne Langer, é objetivar o sentimento de modo que possamos contemplá-lo a entendê-lo. É a formulação da chamada “experiência interior”, da “vida anterior”, que é impossível atingir pelo pensamento discursivo. (COTRIM, 1993, p. 295). 2.3 Estética e Filosofia da Arte: esclarecimento de conceitos Alguns pensadores identificam os termos “Filosofia da Arte” e “Estética”, mas outros os distinguem da seguinte maneira: Filosofia da Arte: seria a especulação metafísica especificamente sobre a criação artística. Estética: um tratado mais amplo sobre a beleza, sobre as condições do belo (uma vez que o belo existe além das obras de arte, na natureza, por exemplo). Estética – ciência da arte: na linguagem corrente, estética pode significar um estudo científico (histórico, sociológico, etc.) das manifestações artísticas. Crítica da arte: é a análise e juízo das obras de arte a partir de princípios e padrões da própria arte, de seus setores específicos. Exemplo: crítica literária, crítica musical, crítica do cinema... 2.4 Arte: caracterização A palavra arte vem do latim ars e corresponde ao termo grego techne, técnica, significando: o que é ordenado ou toda espécie de atividade humana submetida a regras. Em sentido lato, significa habilidade, destreza, agilidade. Em sentido estrito, instrumento, ofício, ciência. Seu campo semântico se define por oposição ao acaso, ao espontâneo e ao natural. Por isso, em seu sentido mais geral, arte é um conjunto de regras para dirigir uma atividade humana qualquer. Nessa perspectiva, falamos em arte médica, arte política, arte bélica, retórica, lógica, poética, dietética. Platão não a distinguia das ciências nem da Filosofia, uma vez que estas, como a arte, são atividades humanas ordenadas e regradas. A distinção platônica era feita entre dois tipos de artes ou técnicas: as judicativas, isto é, dedicadas apenas ao conhecimento, e as dispositivas ou imperativas, voltadas para a direção de uma atividade, com base no conhecimento de suas regras. Aristóteles, porém, estabeleceu duas distinções que perduraram por séculos na Cultura ocidental. Numa delas distingue ciência-Filosofia de arte ou técnica: a primeira refere-se ao necessário, isto é, ao que não pode ser diferente do que é, enquanto a segunda se refere ao contingente ou ao possível , portanto, ao que pode ser diferente do que é. Outra distinção é feita no campo do próprio possível, pela diferença entre ação e fabricação, isto é, entre praxis e poiesis. A política e a ética são ciências da ação. As artes ou técnicas são atividades de fabricação. Plotino completa a distinção, separando teoria e prática e distinguindo as técnicas ou artes cuja finalidade é auxiliar a Natureza – como a medicina, a agricultura – daquelas cuja finalidade é fabricar um objeto com os materiais oferecidos pela Natureza – o artesanato. Distingue também um outro conjunto de artes e técnicas que não se relacionam com a Natureza, mas apenas com o próprio homem, para torná-lo melhor ou pior: música e retórica, por exemplo. 10 A classificação das técnicas ou artes seguirá um padrão determinado pela sociedade antiga e, portanto, pela estrutura social fundada na escravidão, isto é, uma sociedade que despreza o trabalho manual. Uma obra, As núpcias de Mercúrio e Filologia, escrita pelo historiador romano Varrão, oferece a classificação que perdurará do século II d.C. ao século XV, dividindo as artes em liberais (os dignas do homem livre) e servis ou mecânicas (próprias do trabalhador manual). São artes liberais: gramática, retórica, lógica, aritmética, geometria, astronomia e música, compondo o currículo escolar dos homens livres. São artes mecânicas todas as outras atividades técnicas: medicina, arquitetura, agricultura, pintura, escultura, olaria, tecelagem, etc. Essa classificação diferenciada será justificada por santo Tomás de Aquino durante a Idade Média como diferença entre as artes que dirigem o trabalho da razão e as que dirigem o trabalho das mãos. Ora, somente a alma é livre e o corpo é para ela uma prisão, de sorte que as artes liberais são superiores às artes mecânicas. As palavras mecânica e máquina vêm do grego e significam estratagema engenhoso para resolver uma dificuldade corporal. Assim, a alavanca ou a polia são mecânicas ou máquinas. Qual é o estratagema astucioso? Fazer com que alguém fraco realize uma tarefa acima de suas forças, graças a um instrumento engenhoso. Uma alavanca permite deslocar um peso que uma pessoa, sozinha, jamais deslocaria. A técnica pertence, assim, ao campo dos instrumentos engenhosos e astutos para auxiliar o corpo a realizar uma atividade penosa, dura, difícil. A partir da Renascença, porém, trava-se uma luta pela valorização das artes mecânicas, pois o humanismo renascentista dignifica o corpo humano e essa dignidade se traduz na batalha pela dignidade das artes mecânicas para convertê-las à condição de artes liberais. Além disso, à medida que o capitalismo se desenvolve, o trabalho passa a ser considerado fonte e causa das riquezas, sendo por isso valorizado. A valorização do trabalho acarreta a valorização das técnicas e artes mecânicas. A primeira dignidade obtida pelas artes mecânicas foi sua elevação à condição de conhecimento, como as artes liberais. A segunda dignidade foi alcançada no final do século XVII e a partir do século XVIII, quando distinguiram-se as finalidades das várias artes mecânicas, isto é, as que têm como fim o que é útil aos homens – medicina, agricultura, culinária, artesanato – e aquelas cujo fim é o belo – pintura, escultura, arquitetura, poesia, música, teatro, dança. Com a idéia de beleza surgem as sete artes ou as belas-artes, modo pelo qual nos acostumamos a entender a arte. A distinção entre artes da utilidade e artes da beleza acarretou uma separação entre técnica (o útil) e arte (o belo), levando à imagem da arte como ação individual espontânea, vinda da sensibilidade e da fantasia do artista como gênio criador. Enquanto o técnico é visto como aplicador de regras e receitas vindas da tradição ou da ciência, o artista é visto como dotado de inspiração, entendida como uma espécie de iluminação interior e espiritual misteriosa, que leva o gênio a criar a obra. Além disso, como a obra de arte é pensada a partir de sua finalidade – a criação do belo -, torna-se inseparável da figura do público (espectador, ouvinte, leitor), que julga e avalia o objeto artístico conforme tenha ou não realizado a beleza. Surge, assim, o conceito de juízo de gosto, que será amplamente estudado por Kant. Gênio criador e inspiração, do lado do artista (fala-se nele como “animal incomparável”); beleza, do lado da obra; e juízo de gosto, do lado do público, constituem os pilares sobre os quais se erguerá, como veremos adiante, uma disciplina filosófica: a estética. Todavia, desde o final do século XIX e durante o século XX, modificou-se a relação entre arte e técnica. Por um lado, como vimos ao estudar as ciências, o estatuto da técnica modificou-se quando esta se tornou tecnologia, portanto, uma forma de conhecimento e não simples ação fabricadora de acordo com regras e receitas. Por outro lado, as artes passaram a ser concebidas menos como criação genial misteriosa e mais como expressão criadora, isto é, como transfiguração do visível, do sonoro, do movimento, da linguagem, dos gestos em obras artísticas. As artes tornam-se trabalho da expressão e mostram que, desde que surgiram pela primeira vez, foram inseparáveis da ciência e da técnica. Assim, por exemplo, a pintura e a arquitetura da Renascença são incompreensíveis sem a matemática e a teoria da harmonia e das proporções; a pintura impressionista, incompreensível sem a física e a óptica, isto é, sem a teoria das cores, etc. A novidade está no fato de que, agora, as artes não ocultam essas relações, os artistas se referem explicitamente a elas e buscam nas ciências e nas técnicas respostas e soluções para problemas artísticos. A arte não perde seu vínculo com a idéia de beleza, mas a subordina a um outro valor, a verdade. A obra de arte busca caminhos de acesso ao real e de expressão da verdade. Em outras palavras, as artes não pretendem imitar a realidade, nem pretendem ser ilusões sobre a realidade, mas exprimir por meios artísticos a própria realidade. O pintor deseja revelar o que é o mundo visível; o músico, o que é o mundo sonoro; o dançarino, o que é o mundo do movimento; o escritor, o que é o mundo da linguagem; o escultor, o que é o mundo da matéria e da forma. 11 Para fazê-lo, recorrem às técnicas e aos instrumentos técnicos (como, aliás, sempre o fizeram, apesar da imagem do gênio criador inspirado, que tira de dentro de si a obra). Três manifestações artísticas contemporâneas podem ilustrar o modo como arte e técnica se encontram e se comunicam: a fotografia, o cinema e o design. Fotografia e cinema surgem, inicialmente, como técnicas de reprodução da realidade. Pouco a pouco, porém, tornam-se interpretações da realidade e artes da expressão. O design, por sua vez, introduz as artes (pintura, escultura, arquitetura) no desenho e na produção de objetos técnicos (usados na indústria e nos laboratórios científicos) e de utensílios cotidianos (máquinas domésticas, automóveis, mobiliário, talheres, copos, pratos, xícaras, lápis, canetas, aviões, tecidos para móveis e cortinas, etc.). As fronteiras entre arte e técnica tornam-se cada vez mais tênues: é preciso uma película tecnicamente perfeita para a foto artística e para o cinema de arte; é preciso um material tecnicamente perfeito para que um disco possa reproduzir um concerto; é preciso equipamentos técnicos de alta qualidade e precisão para produzir fotos, filmes, discos, vídeos, cenários e iluminação teatrais. A técnica de fabricação dos instrumentos musicais e a invenção de aparelhos eletrônicos para música; as possibilidades técnicas de novas tintas e cores, graças aos materiais sintéticos, modificando a pintura; as possibilidades técnicas de novos materiais de construção, modificando a arquitetura; o surgimento de novos materiais sintéticos, modificando a escultura, são alguns exemplos da relação interna entre atividade artística e invenção técnico-tecnológica. Em nossos dias, a distinção entre arte erudita e arte popular passa pela presença ou ausência da tecnologia de ponta nas artes. A arte popular é artesanal; a erudita, tecnológica. No entanto, em nossa sociedade industrial, ainda é possível distinguir as obras de arte e os objetos técnicos produzidos a partir do design e com a preocupação de serem belos. A diferença está em que a finalidade desses objetos é funcional, isto é, os materiais e as formas estão subordinados à função que devem preencher (uma cadeira deve ser confortável para sentar; uma caneta, adequada para escrever; um automóvel, adequado para a locomoção; uma geladeira, adequada para a conservação dos alimentos, etc.). Da obra de arte, porém, não se espera nem se exige funcionalidade, havendo nela plena liberdade para lidar com formas e materiais. (CHAUÍ, 1995, p. 317-319). 3 ESTÉTICA FILOSÓFICA: TEMÁTICA Ao abordarmos a questão estética, podemos fazê-la a partir de três vertentes: fenomenologia das emoções estéticas (o que estrutura que as emoções estéticas se dêem assim); a metafísica do belo (pelo que se caracteriza a beleza? Existe o belo universal?); os sentidos e funções da arte. 3.1 Função pedagógica da arte Alguns consideram que a arte tem por função formar e cultivar o espírito humano. Para Platão, Agostinho e Tomás de Aquino, a arte tem uma finalidade eminentemente pedagógica; por isso, recomendam apenas as obras de arte que sirvam à educação e condenam as que favorecem a corrupção. Platão, em “A República”, condena a comédia e a tragédia principalmente por dois motivos. Primeiro, porque os cômicos e os trágicos representam os deuses e os heróis, atribuindo-lhes baixezas e paixões, próprias da natureza humana e desse modo desvirtuam o sentido religioso. Segundo, porque, compondo as suas obras, não se baseiam sobre a razão, mas sobre o sentimento e fantasia; ao invés de servirem de ajuda à razão, agitam as paixões, provocando o prazer e a dor. Segundo Platão, uma só arte merece ser cultivada assiduamente: a música. Esta educa o belo e forma a alma à harmonia interior. (MONDIN, 1980, p. 143). 3.2 Função catártica da arte A arte é uma forma de purificação do espírito, um instrumento de domínio da sensibilidade humana. Para Aristóteles, Plotino e Schopenhauer, a arte possui um escopo essencialmente catártico; será cultivada enquanto ajuda a alma a libertar-se das paixões, a purificar-se, a elevar-se para contemplação. (MONDIN, 1980, p. 144). 12 3.3 Função metafísica da arte Esta é a função idealista da arte. Par Hegel, a arte é expressão do Absoluto em forma sensível, paralela às outras duas: Religião – representação; Filosofia – conceito/pensamento; Arte – intuição. Junto com a religião e a filosofia, a arte é a forma mais elevada da realização humana como espírito e sua identificação com o Espírito Absoluto. 3.4 Autonomia da Arte Hoje, essas finalidades secundárias da obra de arte (pedagógica, catártica, metafísica, metafísica) não despertam muitos consensos entre os filósofos. Geralmente, afirma-se, e a nossa ver de forma justa, que a arte possui uma função autônoma, que é fim a si mesma, como a ciência, a religião, a moral, a política, a economia... Produzindo a obra de arte, o artista supõe criar algo: quer nos colocar perante uma realidade nova. Sua criação, esta nova realidade, deve ser olhada frontalmente, por sua conta, sem a pretensão ou a preocupação de encontrar significados recônditos ou segundas intenções. Tudo o que o artista quis dizer é o quanto ele conseguiu manifestar. E aquilo que ele de fato conseguiu manifestar está ali diante de nós. (MONDIN, 1980, p. 144). 3.5 Arte e Moral Neste aspecto, existem duas posições contrárias: Uma corrente afirma a total autonomia da arte: a criação artística é independente da ética. A arte não pode ser julgada a partir de padrões morais. A arte é amoral, aquém do bem e do mal. Outra corrente (mais ligada à função pedagógica) afirma que o artista deve estar comprometido com os valores humanos e nisso também com os valores éticos. Para ser artista basta expressar bem os próprios sentimentos, enquanto o homem deve ser também moral, sábio e prático. Portanto, embora não estando sujeito à moral como artista, o artista está sujeito à moral como homem: “se arte está aquém da moral, não está do lado de cá nem do lado de lá, mas sob o seu império está o artista enquanto homem, que aos deveres do homem não pode escapar e a própria arte – a arte não é e não será nunca a moral – deve ser considerada como uma missão, exercida como um sacerdócio” (B. Croce). (MONDIN, 1980, p. 145-146). 13 DEMOCRACIA GREGA 1 FILOSOFIA GREGA: CONEXÃO ENTRE FILOSOFIA E POLÍTICA Existe uma ligação muito profunda entre Filosofia e Política na cultura grega. A organização mais complexa e sofisticada das “polis” gregas coincide, aliás, com o nascimento da Filosofia e é uma das condições de seu nascimento. Afirma um autor: O problema da cidade conduz à filosofia e a filosofia, por seu turno, conduz a reformas e à transformação da vida da cidade e dos seus fundamentos religiosos, éticos e sociais. A partir de vários pontos de vista e de várias maneiras, os filósofos tornaram-se assim os teóricos e críticos da polis. (AMADO et al.1988, p. 80). Toda a filosofia socrática tem um fundo político: as virtudes humanas (prudência, sabedoria, honestidade, justiça, etc.) sobre as quais Sócrates discute são as virtudes necessárias para a convivência na “polis”. 1.1 Platão: socialmente naturalmente classista Platão discorre sobre a vida em sociedade na “República” e nas “Leis”. Ele desenvolve uma concepção classista da sociedade – para ele um fato natural, decorrente da divisão das faculdades da alma. O governo pertence naturalmente à elite dos intelectuais. A cidade justa é governada pelos filósofos, administrada pelos cientistas (magistrados), protegida pelos guerreiros e mantida pelos produtores. Cada classe cumprirá sua função para o bem da polis, racionalmente dirigida pelos filósofos. Em contrapartida, a cidade injusta é aquela onde o governo está nas mãos dos proprietários – que não pensam no bem comum da polis e lutarão por interesses econômicos particulares de honra e glória. Somente os filósofos têm como interesse o bem geral da polis e somente eles podem governá-la com justiça. (CHAUÍ, 1995, p. 382). 1.3 Aristóteles: o mentor do pensamento político Uma referência universal do pensamento social é a obra “A Política”, de Aristóteles. Ele constata a radical naturalidade e consubstancialidade da sociabilidade humana: “o homem é um animal político” (“anthropos zoon politikon”). O homem é, por natureza, um ser político, porque não é auto-suficiente e necessita de seu semelhante para se desenvolver e para sobreviver. Ele se distingue dos demais animais pelo fato de que estes, embora vivam em associação permanente, só constituem agrupamentos em função dos instintos. O ser humano é o único animal que fundamenta sua convivência com base no conceito do bem e do mal, do justo e do injusto, valores que só se realizam pela presença do Estado. Essas considerações deixam claro que a cidade é uma criação natural e que o homem é por natureza um animal social e um homem por natureza e não por mero acidente, não fizesse parte de cidade alguma seria desprezível ou estaria acima da humanidade e se poderia compará-lo a uma peça isolada do jogo de gamão. Agora é evidente que o homem, muito mais do que a abelha ou outro animal gregário, é um animal social. Como costumamos dizer, a natureza nada faz sem um propósito, e o homem (o único entre os animais que tem o dom da fala. Na verdade, a simples voz pode indicar a dor e o prazer e outros animais a possuem (sua natureza foi desenvolvida até o ponto de ter sensações do que é doloroso ou agradável e externa-las entre si), mas a fala tem a finalidade de indicar o conveniente e o nocivo e, portanto, também o justo e o injusto; a característica específica do homem em comparação com os outros animais é que somente ele tem o sentimento do bem e do mal, do justo e do injusto e de outras qualidades morais e é a comunidade de seres com tal sentimento que constitui a família e a cidade (polis). (ARISTÓTELES. Política, Livro I, capítulo 01) Quanto às formas de governo, Aristóteles aponta três, sem preferência pessoal: monarquia, aristocracia e democracia, que, no entanto, podem degenerar em tirania, oligarquia e anarquia. 14 15 BIOÉTICA 1 QUANDO FALAMOS EM BIOÉTICA, AFINAL DE CONTAS, ESTAMOS FALANDO DO QUÊ? (CONCEITO) Quando falamos em bioética, falamos de uma reflexão sistemática que visa defender a vida e sua dignidade. Essa reflexão está muito preocupada com os avanços técnico-científicos, sobretudo os ligados às ciências médicas, para que eles possam trazer o bem ao ser humano e não ferir seus princípios éticos e morais. A definição mais clássica de bioética e também a mais aceita é o da Encyclopedia of Bioethics de 1978: “bioética é o estudo sistemático da conduta humana, no âmbito das ciências da vida e da saúde; considerada à luz dos valores e princípios morais”. Esse conceito abrange todas as ciências relacionadas com a vida. A bioética vai refletir sobre problemas referentes ao início, ao viver e ao fim da vida humana, isto é, todas as técnicas que possam vir a interferir neste processo gerando conflitos éticos e morais, colocando em risco os valores humanos. A bioética deseja chegar a uma ética comum sobre uma base racional e secular sem desprezar aos valores das culturas, sobretudo os valores religiosos, que são parte fundamental do ethos de qualquer sociedade. A bioética seria parte da idéia do desejo de uma ética fundamental, secular e comum para todas as culturas da humanidade. Porém, esse sonho é muito difícil de ser alcançado, mas serve como um horizonte que faz o ser humano caminhar em sua direção dentro de uma evolução positiva. 2 COMO ESSE (DEBATE) QUE CONSIDERA OS PROBLEMAS RELACIONADOS FOI SE DANDO NA HISTÓRIA? EM OUTRAS PALAVRAS: COMENTE O NASCIMENTO DA BIOÉTICA. Podemos dizer que a reflexão bioética nasce na Grécia Clássica quando os filósofos começam a refletir sobre ética, um saber prático, como chamava Aristóteles. Essa reflexão entra no cristianismo com a moral cristã (tema de muitos teólogos, com destaque para Agostinho e Tomás de Aquino), segue na modernidade, mesmo com todo espírito crítico dos modernos e iluministas e chega mais próximo de nós com uma reflexão sobre a ética de forma mais fragmentada. É dentro dessa fragmentação que nasce a bioética tal com entendemos hoje, depois dos abusos de II Guerra Mundial, sobretudo das experiências escandalosas com seres humanos pelos nazistas nos campos de concentração. Durante a Guerra, muitas barbaridades ocorreram no âmbito da pesquisa e experiências com seres humanos, principalmente com os judeus, vítimas dos nazistas nos campos de concentração. Finalizada a Guerra, o mundo ficou chocado com as conseqüências trágicas, resultantes de muita frieza e derramamento de sangue. Para muitos foi nesse período de pósguerra que ocorreu o nascimento da bioética, época do desenrolar do processo de Nuremberg (1945-48) resultando na promulgação do Código de Nuremberg. Contudo, é no início da década de 60, com os acontecimentos da hemodiálise em Seatle-EUA, que acontece a gêneses da bioética (digamos oficialmente), mas o vocábulo bioética só surge em 1970, com um artigo intitulado The science of survival (A Ciência da Sobrevivência), escrito pelo oncólogo norteamericano Van Rensselear Potter, que, no ano seguinte, publica uma obra de referência inicial intitulada: Bioethics: bridge to the future (Bioética: ponte para o futuro); dando inicio à sistematização deste novo saber necessário à humanidade. A partir daí, a bioética se instala nos EUA, na década de 80 na Europa e nos países em desenvolvimento somente nos anos 90. No Brasil, a bioética demora a se instalar. No início da década de 1970, quando a bioética começa a ganhar características próprias nos EUA e na Europa, o Brasil vive um contexto de falta de liberdade sob o regime militar. No mundo acadêmico aconteciam debates sobre o assunto, até mesmo porque o regime fazia torturas, mas não ultrapassava esse ambiente restrito. Na segunda metade da década de 1980, com a 8a Conferência Nacional de Saúde, que propicia a Lei 16 Orgânica da Saúde e a implantação do SUS, temos reflexões bioéticas, pois princípios éticos aparecem como eqüidade. Contudo, o marco para o surgimento no Brasil foi a criação da Sociedade Brasileira de Bioética em 1992, que possibilitou a implantação definitiva da bioética por aqui e o seu desenvolvimento. Vale lembrar o 1° Congresso Brasileiro de Bioética, em 1996, realizado em São Paulo e organizado pela SBB. De lá para cá aconteceram 7 Congressos Brasileiros (o último realizado em setembro de 2007) e um Congresso Mundial ocorrido no Brasil em 2002 com ampla repercussão internacional, pois seu tema, Bioética, poder e injustiça, chamava atenção para uma reflexão bioética voltada para questões próprias do terceiro mundo. A bioética em sua reflexão parte de alguns princípios, surgido no primeiro mundo (EUA e Europa), que são consenso em todo mundo ocidental, são eles: princípio de beneficência, princípio de não male-beneficência, princípio de autonomia e princípio de justiça, mas o principialismo é insuficiente para as questões bioéticas do terceiro mundo marcado pela exclusão e pela pobreza. Esses princípios foram surgindo ao longo da História e hoje são aceitos; mas, atualmente, são muito questionados na América Latina, que necessita de uma bioética com padrões próprios, pois o principialismo é um modelo importado dos países do primeiro mundo, que não têm os problemas do mundo subdesenvolvido e, mesmos os semelhantes, são tratados de forma diferente, pois são culturas diferentes. Na América Latina, o desafio é elaborar uma bioética latino-americana com caráter libertador. Muita coisa está sendo feita nesse sentido. 3 A BIOÉTICA ESTABELECE CONTATO COM OUTRAS CIÊNCIAS OU ÁREAS DO SABER COM O OBJETIVO DE MELHOR DISCUTIR E AVALIAR AS QUESTÕES QUE DIZEM RESPEITO A ELA? A bioética é por natureza interdisciplinar, pois ela está preocupada em defender a vida, sobretudo a humana e sabemos que o ser humano não é uma máquina, mas um ser animado e com muitas dimensões, que envolve todas as áreas do saber. Portanto, é fundamental o contato da bioética com os outros saberes, até mesmo porque a bioética não é um saber preocupado em refletir sobre si mesmo, mas sobre a prática de todas as ciências, sobretudo as ligadas diretamente à vida humana, como as ciências médicas (hoje também a bioética preocupa-se muito com a vida animal e vegetal; há muitos estudos sobre bioética e meio-ambiente). A interdisciplinaridade faz parte da metodologia do estudo bioético. Manter um diálogo com as diversas disciplinas é extremante importante, porque a bioética não estuda sobre si mesma, mas sobre as implicações práticas da várias ciências da vida e junto a elas chegarem a soluções viáveis, respeitando a vida e levando o homem a uma evolução sadia e positiva. 4 QUAIS AS QUESTÕES OU PROBLEMAS RELEVANTES DISCUTIDOS PELA BIOÉTICA NA ATUALIDADE? Quando falamos em questões bioéticas imediatamente vem à mente das pessoas os problemas relacionados ao aborto e à eutanásia. Esses problemas são muito discutidos, pois são reais no mundo inteiro; mas, a bioética não se restringe a eles. Os problemas mais discutidos na bioética atualmente estão ligados ao avanço de novas tecnologias ligadas a tratamentos e a curas de doenças, ou seja, os dilemas bioéticos relativos ao grande avanço das ciências médicas e farmacológicas. Por exemplo: a técnica que permite fazer um diagnóstico genético graças ao mapeamento do genoma humano: como fica a questão do acesso a essa tecnologia?. O desenvolvimento de um novo medicamento para os portadores do HVI: como fazer que todos tenham acesso e que não seja algo exclusivo para quem em grande poder aquisitivo? As pesquisas com seres humanos também são um tema muito debatido, pois vale o célebre princípio de Kant: o homem sempre deve ser tido com fim e nunca com meio. Preocupa muito que nenhuma pesquisa traga malefício aos voluntários e que os países pobres não sejam celeiros de 17 pesquisa e que, posteriormente, sua população não possa usar o medicamento, pois é muito caro (nesse exemplo está uma questão econômica e social ligada à bioética). As questões clássicas sobre o aborto (muito debatida Brasil devido a grupos militarem pela sua regulamentação e a postura contrária da Igreja), a eutanásia, a distanásia e fertilização in vitro. Há grandes debates envolvendo os Direitos Humanos que têm ares de universalização, mas esbarram com os problemas das culturas fora do âmbito do mundo ocidental. Na América Latina há uma preocupação muito forte com as questões bioéticas ligadas aos problemas sociais, pois vivemos em uma realidade marcada pela injustiça, pela desigualdade e pela pobreza. Assim, a bioética feita aqui não pode ficar alheia a uma criança que morre na fila de um hospital esperando atendimento e à morte de pessoas na rua com fome e frio, por exemplo. Discute-se muito na América Latina sobre uma bioética de intervenção, como a bioética pode intervir nos problemas sociais para melhor defender a vida e sua dignidade. Daí vem o desafio de uma bioética latino-americana. 5 COMO SÃO ORGANIZADOS OS ESPAÇOS DE REFLEXÃO SOBRE BIOÉTICA? (POR EXEMPLO, AQUI NO BRASIL) Os espaços de reflexão sobre bioética geralmente são organizados de forma interdisciplinar nas universidades, nas instituições de saúde e em centros de pesquisas independentes. Um grande espaço de reflexão bioética são os comitês de ética e pesquisa, que estão presentes nos hospitais, universidades, secretárias de saúde e em qualquer meio que envolve pesquisa com seres humanos; pois, para se fazer uma pesquisa com seres vivos, no Brasil, é preciso obter a aprovação desses comitês dentro das normas da Resolução 196/96 do Ministério da Saúde. A reflexão bioética no Brasil está passando por um período muito fecundo. Há muitos ambientes para esse tipo de estudo. Há muitas universidades com núcleos de estudo em bioética, como a USP e o Centro Universitário São Camilo, em São Paulo; a UnB, em Brasília; a UFRS junto com o Hospital das Clínica de Porto Alegre; A Unisinos em São Leopoldo etc. Também há grupos organizados para essa reflexão e estudo com pesquisadores de ponta como a Sociedade Brasileira de Bioética, a Sociedade Brasileira de Teologia Moral, o Conselho Federal de Medicina... Porém, ainda faltam espaços de reflexão que incluam mais a população brasileira. A reflexão bioética no Brasil ainda é um estudo muito ligado à elite. As camadas populares não têm acesso. O que é um problema de toda educação universitária brasileira. Espero que essa atual preocupação em elaborar uma bioética própria para o nosso contexto considere essa questão. 6 BIOÉTICA E CRISTIANISMO: HÁ RELAÇÃO? Há uma relação, sem dúvida. Podemos dizer que á uma relação sob três aspectos: 1. Por parte do próprio Cristianismo, que, com a missão de anunciar o Evangelho e promover a vida em plenitude, como diz Jesus: “Eu vim para que todos tenham vida e vida em plenitude” (Jo, 10,10). A defesa da vida é um dos principais elementos da missão cristã. Movido por compaixão e misericórdia, como Jesus Cristo no Espírito, o cristão deve cuidar da vida humana, dom de Deus, portanto com uma dignidade intrínseca. Sendo assim, o Cristianismo não pode ficar alheio às reflexões bioéticas. Na Igreja Católica, destacam-se bons nomes dentro do debate bioético no mundo. No Brasil, destacamos os Padres Léo Pessini, Márcio Fabri dos Anjos e Roque Jungues, que muito contribuem para esse debate. A Igreja católica está preocupa com as questões ligadas à bioética, prova disso foi o tema da Campanha da Fraternidade desse ano, Fraternidade e defesa da vida, um tema bioético. 18 2. Por parte do povo: os valores do mundo ocidental estão pautados nos valores cristãos, que entraram no ethos dessa sociedade, por mais secularizados que estejam alguns países. Na América Latina, os valores cristãos constituem a base de sentido e de segurança existencial da população, sobretudo dos mais pobres, que se apegam à fé e aos seus valores. O Cristianismo está na base dos princípios morais e éticos do mundo ocidental. 3. Do ponto de vista de quem está preocupado com os problemas bioéticos não pode desprezar o Cristianismo, pois estaria cometendo um atentado contra a sociedade, que na sua grande maioria encontra uma base segura nos valores cristãos. Os valores do cristianismo estão na base do ethos da cultura ocidental, eles expressam uma relação direta entre bioética e cristianismo, que quem estuda bioética não poder deixar de lado. 19