UTILIZAÇÃO DE DIFERENTES MÉTODOS DE COLORAÇÃO PARA A IDENTIFICAÇÃO DE COMPONENTES TISSULARES DO INTESTINO DELGADO DE SUÍNOS USE OF DIFFERENT STAIN METHODS FOR TISSULAR COMPONENTS IDENTIFICATION IN SMALL INTESTINE SECCIONS OF SWINE Francisco Carlos de Sousa1, Carlos Marcelo Viana de Sousa2, Samuel Ramos Silva2, Leonel Praciano Matos2, Fernando Maria Leite Pinheiro3, Dácio Ítalo Alves Teixeira4, José Roberto Feitosa Silva5 , Cláudio Cabral Campello6 RESUMO A coloração dos tecidos é uma etapa indispensável para que se possa estudar, eficientemente, cortes histológicos ao microscópio ótico e consiste em se corar, com diferentes cores, as estruturas celulares e intersticiais presentes nas secções obtidas por microtomia. O presente trabalho foi desenvolvido com o objetivo de identificar e estudar as estruturas constituintes da mucosa do intestino delgado de leitões por meio de diversos métodos de coloração aplicados sobre cortes histológicos seriados. Para tanto, amostras de intestino, obtidas de leitões com idades de 7 e 14 dias após o desmame, foram processadas para estudo histológico (fixadas em formaldeído tamponado, desidratadas em série alcoólica de concentração crescente, diafanizadas em xilol, impregnadas e incluídas em parafina), seccionadas seqüencialmente em micrótomo e submetidas à coloração com os métodos de HematoxilinaEosina (HE), PAS-Alcian Blue, métodos tricrômicos de Azan-Mallory e Gomori e histoquímica com lectinas conjugadas com fluoresceína. Os resultados obtidos demonstraram que o método de PAS-Alcian Blue foi o mais indicado para evidenciar o glicocálix da borda em escova do epitélio cilíndrico simples e as células caliciformes; a coloração com HE mostrou claramente o núcleo das células absortivas e dos linfócitos intraepiteliais, contrastando com o citoplasma, e também possibilitou a visualização das células caliciformes, mas não demonstrou a borda em escova; a coloração realizada com o tricrômico de Gomori não permitiu a identificação de nenhuma estrutura em particular; o corante de Azan-Mallory promoveu uma nítida diferenciação entre o núcleo e o citoplasma, evidenciou as fibras musculares e as hemácias em capilares presentes na lâmina própria dos vilos intestinais; a microscopia de fluorescência destacou a borda em escova. Nas lâminas de parede intestinal coradas com lectinas fluoresceinadas pôde-se observar a vascularização de baixo calibre, visível através da presença de hemácias fluorescentes. Palavras-chave: estudo histológico, intestino delgado, leitões. ABSTRACT The coloration of the tissues is an indispensable stage to study, efficiently, histological sections by light microscopy and it consists of blushing, with different colors, the cells and interstitial structures in the sections obtained by microtome. The present work was developed with the objective of to identify and to study the constituent structures of the mucous membrane of the small intestine of pigs through several coloration methods applied on seriate histological cuts. For so much, intestinal samples, obtained of piglets with 7 and 14 days after weaning, were processed for histological study (fixed in buffered formaldehyde, dehydrated in alcoholic series of growing concentration, cleared in xylene and embedded in paraffin), seccioned in microtome and submitted to coloration with the methods of Hematoxylin-Eosin (HE), PAS-Alcian Blue, trichrome methods of Azan-Mallory and Gomori and histochemical procedures with lectins conjugated with fluorescein. The results obtained demonstrated that the method of PAS-Alcian Blue was the most suitable to evidence the glicocalyx of the simple cylindrical epithelium brush border and the goblet cells; the coloration with HE showed clearly the nucleus of the absortive cells and the same structure of the intraepithelial lymphocytes, contrasting with the cytoplasm and it made possible the visualization of the goblet cells, but it did not demonstrate the brush border; the coloration accomplished with the trichrome of Gomori did not allow the identification of any special structure; the method of Azan-Mallory promoted a clear differentiation between the nucleus and the cytoplasm, evidenced the muscular fibers and the erithrocytes in capillary presents within the intestinal villi; the fluorescence microscopy detached the brush border. Low caliber blood vessels were seen in the intestinal wall blushed with lectins bound to FITC mainly because of the presence of fluorescent erithrocytes. Keywords: histological study,1small intestine, piglets. 1 Estudante de graduação em Medicina Veterinária. Monitor da Disciplina de Histologia Veterinária. Estudante de graduação em Medicina Veterinária. Estagiário do Laboratório de Histologia. 3 Mestre. Doutorando em Zootecnia (UFC). Professor da Universidade do Vale do Acaraú (UVA). 4 Mestre. Professor da Faculdade de Veterinária da Universidade Estadual do Ceará. 5 Doutor. Professor do Centro de Ciências da Universidade Federal do Ceará. 6 Doutor. Professor da Faculdade de Veterinária da Universidade Estadual do Ceará. Orientador. 2 INTRODUÇÃO A coloração dos tecidos é uma etapa indispensável para que se possa estudar eficientemente cortes histológicos ao microscópio ótico e consiste em se corar, com diferentes cores, as estruturas celulares e intersticiais presentes nas secções obtidas por microtomia (Junqueira e Junqueira, 1983). A importância do processo de coloração em histologia reside no fato de que as partes constituintes das células e da matriz extracelular são usualmente transparentes e, a menos que exista uma considerável diferença nos seus índices de refração, elas não são facilmente distinguíveis umas das outras (Sheehan e Hrapchak, 1973). Para que se possa obter suficiente contraste de coloração nos cortes histológicos comuns, em geral são empregadas combinações de corantes ácidos e básicos (Geneser, 2003). Os corantes ácidos ou aniônicos ligam-se às estruturas com carga predominante positiva, isto é, catiônicas, básicas, chamadas então de acidófilas. Os corantes básicos ou catiônicos ligam-se às estruturas com carga predominante negativa, isto é, aniônicas, ácidas, denominadas assim de basófilas (Cormack, 2003). Contudo, alguns métodos de coloração como o tricrômico de Mallory, utilizam diversos corantes ácidos, que coram diferentes estruturas teciduais (Geneser, 2003). Muito freqüentemente, na rotina de um laboratório de histologia ou histopatologia, utilizase o método de coloração por Hematoxilina e Eosina (HE) como principal recurso para a diferenciação de constituintes tissulares com vistas ao seu estudo microscópico (Prophet, 1994). No entanto, embora este método seja adequado para a visualização de núcleos celulares (com seus diferentes padrões no estado de condensação da cromatina), citoplasma e limites intercelulares, não constitui uma ferramenta apropriada quando se pretende investigar estruturas particulares como o sistema vascular de baixo calibre nos tecidos, fibras do tecido conjuntivo, células secretoras de glicoproteínas e proteoglicanas, etc. O intestino delgado (lat. Intestinus, víscera) é um órgão tubular que se estende do piloro gástrico até a válvula ileocecal, de onde começa o intestino grosso. Apresenta-se subdividido em três segmentos: duodeno, jejuno e íleo (Geneser, 2003). A análise da superfície interna desta parte do sistema digestivo mostra a existência de uma série de dobras ou pregas, em geral paralelas entre si, percorrendo um trajeto circular oblíquo ao longo do tubo. Essas dobras incluem a mucosa e parte da submucosa. A membrana mucosa do intestino delgado apresenta numerosas projeções digitiformes denominadas vilos ou vilosidades intestinais. Entre as bases destas abrem-se as glândulas intestinais (ou criptas de Lieberkühn) que se aprofundam na lâmina própria até o nível da muscular da mucosa (George, 1985). O epitélio de revestimento da mucosa intestinal é do tipo prismático simples sendo formado por células absortivas (enterócitos, caracterizado pela presença de uma condensação em sua superfície apical — os microvilos formando uma borda estriada), células caliciformes (produtoras de muco, constituído por glicoproteínas, cuja principal função é lubrificar e proteger o epitélio intestinal), células enteroendócrinas (constituintes do sistema neuroendócrino difuso), células M (atuam interiorizando antígenos, sendo importantes para as funções do sistema imunitário do intestino) e células de Paneth (típicas células exócrinas com grânulos de secreção acidófilos contendo lisozima) (Ratineau et al., 2001; Ettarh e Carr, 1997). A lâmina própria é constituída por tecido conjuntivo frouxo ricamente vascularizado e ocupa a porção central das vilosidades e os espaços entre as glândulas intestinais, sendo comum nesta camada de tecido a presença de folículos linfáticos solitários. A muscular da mucosa é constituída de duas camadas de músculo liso. A camada seguinte da parede é a submucosa, a qual constitui-se de tecido conjuntivo frouxo contendo vasos sanguíneos e linfáticos. Nela são encontrados nervos e células ganglionares que, conjuntamente, formam o plexo submucoso ou de Meissner (Junqueira e Carneiro, 2004). Disposta seqüencialmente está a túnica muscular, que se apresenta formada por fibras musculares lisas orientadas em dois planos, o circular interno e o longitudinal externo, entre os quais localizam-se fibras nervosas e gânglios do plexo mioentérico ou de Auerbach. Externamente, encontra-se a serosa. Esta se compõe de um tecido conjuntivo frouxo, recoberto por epitélio pavimentoso simples correspondente ao peritônio visceral (Cormack, 2003). A digestão intestinal tem início quando os conteúdos do estômago são influenciados pelo suco pancreático, bile e secreções intestinais e continua por todo o comprimento do intestino delgado. O desempenho dessa função exige quantidades volumosas de enzimas digestivas, juntamente com um grande suprimento de muco para proteger as células epiteliais de autodigestão, lesões mecânicas e compostos irritantes. As enzimas são fornecidas por células especiais da mucosa e submucosa, bem como por glândulas que se situam fora do intestino e estão a ele ligadas por ductos, tais como o fígado e o pâncreas. O muco é produzido pelas glândulas da submucosa e por células caliciformes (Stinson e Calhoun, 1982). Diversos tipos de protocolos de coloração têm sido empregados nas pesquisas envolvendo descrição morfológica de cortes histológicos de intestino delgado. Ettarh e Carr (1997) realizaram estudo morfológico do epitélio da mucosa entérica em ratos diabéticos corando os cortes com azul de metileno e fucsina básica para a identificação individualizada dos diferentes tipos celulares. Méndez et al., (2001) utilizaram três métodos de coloração para identificação de mucossubstâncias presentes em cortes de diferentes porções do trato intestinal de frangos: PAS para o estudo de mucossubstâncias neutras, a combinação dos métodos PAS e Alcian Blue com pH igual a 2,5 para mucossubstâncias ácidas e a mesma combinação, mas com pH igual a 1,0, para as mucossubstâncias sulfatadas. Zeng et al., (2003) e Jidong et al., (2004), trabalhando com intestino delgado de ratos, utilizaram a técnica de picrosirius red para a análise do colágeno e a de HE para observações histológicas gerais. Dilkin et al., (2004) pesquisaram as lesões causadas por intoxicação com fumonisinas submetendo cortes de intestino delgado de suínos à coloração com PAS (ácido periódico e reativo de Schiff), com coloração de fundo pela hematoxilina para a evidenciação do muco neutro. Seixas Filho et al., (2001) utilizaram a técnica de coloração histoquímica de impregnação pela prata com a finalidade de verificar a distribuição das células enteroendócrinas nos diferentes segmentos dos intestinos médio, posterior (ou reto) e cecos pilóricos de peixes ósseos. O estudo dos diversos componentes do intestino delgado requer, muitas vezes, a combinação de múltiplas técnicas de coloração complementares paralelas, a fim de que se possa investigar eficazmente a estrutura histológica completa deste segmento do sistema digestório. O presente trabalho foi desenvolvido com o objetivo de identificar e estudar as estruturas constituintes da mucosa do intestino delgado de leitões por meio de diversos métodos de coloração aplicados sobre cortes histológicos seriados, procurando indicar os métodos mais adequados para o estudo de cada estrutura em particular. MATERIAL E MÉTODOS Os animais utilizados no presente trabalho compreendem parte de um lote original de 80 leitões selecionados para experimento destinado à avaliação de ingredientes alternativos de origem animal e vegetal na dieta de suínos em crescimento. O grupo controle do referido experimento foi empregado nesta pesquisa. Os leitões, adquiridos comercialmente em granja suinícola, foram criados nas instalações do Setor de Suinocultura do Departamento de Zootecnia do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Ceará (CCA/UFC). Foram coletadas amostras de intestino delgado desses animais, as quais foram inicialmente fixadas em formaldeído a 10% tamponado por um período de 24 horas e então transferidas para recipientes contendo álcool etílico a 70% em água destilada, onde permaneceram por cerca de 72 horas. Em seguida, procedeu-se à desidratação das peças em série alcoólica de concentração crescente (80%, 90%, 95%, 2 100%), diafanização em xilol (2 2 h), inclusão em parafina histológica e realização de cortes seqüenciais em micrótomo (espessura de 5m). Por fim, as lâminas contendo secções de intestino delgado foram submetidas a coloração com os métodos de Hematoxilina-Eosina (HE), PAS-Alcian Blue ou pelos métodos tricrômicos de Azan-Mallory e Gomori, de acordo com o seguinte protocolo: 1.Desparafinização em xilol 2.Hidratação em série alcoólica de concentração decrescente (100%, 90%, 70% e água destilada) 3.Coloração: •HE: imersão em hematoxilina (35 segundos), azulecimento em água mineral (5 segundos), imersão em eosina (5 segundos), remoção do excesso em água destilada. •PAS-Alcian Bue: imersão em Alcian Blue (30min.), imersão em ácido periódico (15 min.), lavagem em água destilada, imersão em Reagente de Schiff (15 min.), lavagem em água corrente (5 min.), imersão em hematoxilina (25 segundos) , remoção do excesso em água destilada. •Tricrômico de Azan-Mallory: imersão no corante (Azul de anilina+Orange G+Fucsina ácida+ácido fosfotúngstico+água destilada) por 8 minutos. •Tricrômico de Gomori: imersão em hematoxilina (35 segundos), lavagem em água destilada, imersão no corante tricrômico de Gomori (Cromotropo C+Fast Green+ácido fosfotúngstico+ácido acético glacial+água destilada) por 18 minutos 4.Desidratação em série alcoólica de concentração crescente (70%, 90%, 100%) 5.Preparação para montagem (banho em xilol) 6.Montagem da lamínula em Bálsamo do Canadá Paralelamente, lâminas contendo cortes dos mesmos órgãos foram submetidas a tratamento com a lectina de Vatairea macrocarpa (VML) fluoresceinada. A lectina usada no experimento foi cedida pelo Laboratório de Moléculas Biologicamente Ativas, BioMol-Lab (UFC-CE) após ser isolada e purificada conforme descrito por Cavada et al. (1998). O processo de marcação da lectina com fluoresceína isotiocianato obedeceu ao seguinte protocolo: alíquotas contendo 1mg da lectina acrescida do monossacarídeo inibidor (1,0M) foram dissolvidas em 2,0 mL de solução de conjugação (1,5 mL de tampão carbonato/bicarbonato de sódio 0,2M; pH 9,3, contendo 0,5 mL de etilenoglicol). Apos rápida agitação em vortex, 500µl de uma solução de FITC (0,05mg, em etilenoglicol) foi adicionada e a mistura submetida à agitação por 5h a 4°C ao abrigo da luz. Após incubação, a fração contendo o complexo lectina/FITC foi separada da FITC não conjugada por meio de cromatografia de exclusão molecular em coluna PD 10 (Pharmacia LKB – 9,0ml), previamente equilibrada com água Milli Q saturada com N-butanol 5%, com fluxo contínuo mantido por força da gravidade. Imediatamente antes da cromatografia, 450µl da solução de equilíbrio foram adicionados à amostra e, em seguida, aplicada a coluna. O pico I, que correspondia à fração lectina/FITC foi retirado com 3,5 mL de solução N-butanol 5%, enquanto que a FITC não conjugada foi eluída no Pico II com 10ml da mesma solução. A lectina fluoresceinada foi conservada sob forma liofilizada até que, imediatamente antes da utilização, esta foi diluída em solução salina 0,15M e mantidas protegidas da luz. Em seguida, a solução contendo a lectina marcada com FITC foi aplicada sobre lâminas contendo cortes histológicos desparafinizados e hidratados e estas foram incubadas em estufa a 37oC por 1 hora. Finalmente, as lâminas incubadas foram lavadas com NaCl 0,15M para remoção dos excessos de lectina e eliminação de ligações inespecíficas fracas. As imagens obtidas com microscópio trinocular Nikon Eclipse E-400 (aumento 40X) foram captadas por câmara digital Nikon Coolpix 5000 acoplada ao microscópio. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados obtidos encontram-se demonstrados nas FIGURAS 1 e 2. As imagens demonstraram que o método de Hematoxilina e Eosina (FIGURA 1A) foi útil para o reconhecimento da estrutura geral, permitindo a identificação dos limites entre o revestimento epitelial cilíndrico simples e o tecido conjuntivo frouxo da lâmina própria que preenche internamente os vilos. A delimitação entre as células do epitélio de revestimento foi feita, bem como a identificação de células caliciformes e de linfócitos intraepiteliais. Os cortes apresentaram a coloração típica conferida por este método, isto é, a hematoxilina corou em púrpura o núcleo das células absortivas e dos linfócitos intra-epiteliais, enquanto a eosina corou o citoplasma em rosa. As células caliciformes não foram coradas. A coloração com HE foi limitada para a evidenciação do glicocálix nos microvilos da borda em escova do epitélio intestinal, como também para o estudo do trajeto dos leitos capilares na lâmina própria dos vilos e das glicoproteínas armazenadas no citoplasma das células caliciformes. Nos cortes corados pelo método de PAS-Alcian Blue (FIGURA 1B) tornou-se evidente o glicocálix na borda em escova do epitélio cilíndrico simples, que se corou em roxo e as células caliciformes que foram coradas em azul forte. A lâmina própria dos vilos apresentou regiões de coloração azul pouco intensa entremeada com áreas de cor arroxeada. A coloração roxa do glicocálix e da lâmina própria pode ter sido um efeito combinado do Alcian Blue e do Reagente de Schiff, indicando a presença de mucopolissacarídeos neutros e ácidos na borda em escova e substância fundamental amorfa do tecido conjuntivo da lâmina própria. Não foi observado efeito de coloração exclusiva pelo método de PAS, o que teria se manifestado pela presença da cor magenta. Embora haja a possibilidade da não existência de substâncias mucopolissacarídicas exclusivamente neutras, alternativamente pode-se questionar se o Reagente de Schiff, notoriamente fotossensível, perdera suas propriedades de coloração. Ainda assim, o procedimento combinado de coloração com PAS-Alcian Blue tornou visíveis elementos que não haviam sido mostrados claramente pelo método de HE. No entanto, os limites intercelulares e a localização dos linfócitos intraepiteliais não foram feitos tão eficientemente quando do uso desta técnica histoquímica. O corante de Azan-Mallory (Figura 1C) promoveu uma boa diferenciação entre o núcleo (que se corou em azul escuro) e o citoplasma (corado em azul claro), evidenciou as fibras musculares (dados não mostrados) e elementos fibrosos do tecido conjuntivo. No entanto, sua principal utilidade foi a de destacar as hemácias em capilares presentes na lâmina própria dos vilos intestinais, que apareceram num tom de alaranjado a vermelho, permitindo a visualização de capilares que não puderam ser percebidos por meio de outros protocolos de coloração. A coloração realizada com o tricrômico de Gomori (Figura 1D) não permitiu, nos cortes realizados neste trabalho, a identificação de nenhuma estrutura celular ou extracelular em particular. O uso da microscopia de fluorescência mostrou a arquitetura geral do vilo intestinal e a borda em escova discretamente fluorescente, até mesmo nas lâminas controle, que foram apenas desparafinizadas, hidratadas e observadas ao microscópio com filtro azul (Figura 2A), mas nenhum tipo celular foi evidenciado. Nas lâminas de parede intestinal coradas com a lectina VML fluoresceinada (Figura 2B) pôde-se observar a presença de hemácias em vasos de pequeno calibre, as quais apareceram emitindo fluorescência. Curiosamente, a borda em escova e as células caliciformes não exerceram atração sobre as proteínas carboidrato-ligantes utilizadas. Uma possível explicação para a ausência de marcação de tipos celulares e de glicoproteínas com a lectina usada é que o carboidrato pelo qual esta tem afinidade (galactose) poderia não estar presente nas lâminas estudadas. O resultado obtido na microscopia de fluorescência usando lectina marcada com FITC se contrapõe à afirmação feita por Pusztai (1991), de que a lectina de soja (SBA), uma proteína com afinidade de ligação também por galactose (e N-acetil galactosamina), é capaz de se ligar a glicoproteínas situadas na superfície interna do intestino delgado, desencadeando diversos efeitos biológicos. É possível que a não ligação da VML com o epitélio intestinal tenha relação com a especificidade fina desta lectina, uma vez que houve preservação dos carboidratos nos cortes histológicos aqui estudados, como foi demonstrado pela coloração com PAS-Alcian Blue (Figura 1B). No entanto, esta observação leva a se questionar se a ligação estabelecida entre a SBA (lectina galactose-ligante) e o epitélio intestinal é de origem unicamente lectínica, já que a VML, com o mesmo tipo de afinidade, não se ligou ao epitélio intestinal de suínos no presente trabalho. Investigações mais aprofundadas e repetitivas precisarão ser feitas no intuito de esclarecer as razões pelas quais ocorreram esses fenômenos. CONCLUSÃO Com base nos resultados obtidos, pode-se concluir que o método de HE poderia ser considerado como método de eleição para o estudo da estrutura histológica geral dos vilos intestinais nos cortes empregados, podendo funcionar perfeitamente para a realização de medidas morfomicrométricas ou contagem de infiltrados linfocitários no tecido epitelial de revestimento. Se, por outro lado, a intenção é evidenciar estruturas como o sistema vascular de baixo calibre e sua distribuição no eixo longo dos vilos, a opção preferencial deve ser o método de Azan-Mallory . O uso de lectinas fluoresceinadas com afinidade específica por galactose não seria indicado para o estudo das lâminas de suínos utilizadas nesse trabalho, uma vez que, a despeito da presença confirmada de polissacarídeos nos corte histológicos, estas substâncias não forneceram sítios de ligação para as lectinas testadas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1 CAVADA, B. S., SANTOS, C. F., GRANGEIRO, T. B., NUNES, E. P., SALES, P. V. 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A C B D FIGURA 1.Cortes histológicos de intestino delgado de suínos corados com HE (A), PAS-Alcian Blue (B), Azan-Mallory (C) e Gomori (D) A B FIGURA 2.Cortes histológicos de intestino delgado de suínos observados em microscopia de fluorescência. A: controle; B: lâmina incubada com VML