36 ESTADO DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO Centro Administrativo do Governo do Estado, Rodovia SC 401, Km 5, nº 4.600, Bloco 3 - 2º andar CEP 88032-000 Bairro Saco Grande, Município de Florianópolis/SC - Fone 48 – 3215-1390 Fax 48 – 3215-1331 Resumo Executivo 3.3 ARRANJO PRODUTIVO LOCAL ELETROMETAL-MECÂNICO DA REGIÃO DE JOINVILLE Renato Ramos Campos* Jeanine Batschauer** Renato Perecin Calheiros*** 3.3.1 Configuração territorial A aglomeração produtiva da indústria eletrometal-mecânica na região de Joinville, localizada no Nordeste de Santa Catarina, encontra-se vizinha de duas importantes áreas de concentração industrial, a região de Blumenau, também em Santa Catarina, e a região metropolitana de Curitiba no Paraná (respectivamente cerca de 68 Km e 347 Km). Este mesmo aglomerado localiza-se, majoritariamente, nos municípios de Joinville e Jaraguá do Sul, que juntos correspondem a aproximadamente 80% da população. A região é composta ainda pelos municípios de Araquari, Balneário Barra do Sul, Corupá, Garuva, Guaramirim, Itapoá, Massaranduba, São Francisco do Sul e Schroeder. A população economicamente ativa na região de Joinville, segundo os dados da RAIS (2003), é de 190.278 pessoas, sendo que Joinville e Jaraguá do Sul concentram 86% da população empregada com carteira assinada. Na região, cerca de 22,37% da mão-de-obra local está alocada na eletrometal-mecânica, com a participação de uma ampla gama de empresas dos mais diversos portes. Portanto podemos perceber que a indústria eletrometalmecânica tem uma forte participação na geração de empregos na região e principalmente nas cidades de Joinville e Jaraguá do Sul, que juntas empregam 40.292 pessoas. 3.3.2 Características da estrutura produtiva e do mercado consumidor Na trajetória histórica do processo de industrialização catarinense, a região de Joinville sempre se destacou por sua forte tradição industrial. Em decorrência de sua privilegiada localização geográfica e da existência de uma infra-estrutura física bem desenvolvida, Professor dos Cursos de Graduação e Pós-graduação – Mestrado - da Universidade Federal de Santa Catarina. Mestre em Economia da Universidade Federal de Santa Catarina. *** Graduando em Economia da Universidade Federal de Santa Catarina. * ** ESTADO DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO 37 Centro Administrativo do Governo do Estado, Rodovia SC 401, Km 5, nº 4.600, Bloco 3 - 2º andar CEP 88032-000 Bairro Saco Grande, Município de Florianópolis/SC - Fone 48 – 3215-1390 Fax 48 – 3215-1331 consolidaram-se na região, ao longo dos anos, diversos setores industriais como têxtil, materiais plásticos, alimentício, informática, dentre outros que contribuíram para a consolidação de uma estrutura industrial fortemente diversificada. O arranjo eletro-metal-mecânico possui uma densa estrutura produtiva local e grande heterogeneidade no tamanho das empresas, criando especializações por tamanho de empresas dentro dos diversos grupos de atividades. A diversificação é uma característica importante da estrutura industrial da região, onde se verifica a intensificação da especialização produtiva e a existência de complementaridades locais a partir da desverticalização dos grandes produtores, da instalação no local de fornecedores de insumos, de máquinas e equipamentos, de prestadores de serviços. Na estrutura produtiva local encontram-se empresas, sobretudo, de micro e pequeno portes especializadas nos segmentos de metalurgia básica, fabricação de produtos de metal - exclusive máquinas e equipamentos; fabricação de máquinas e equipamentos e equipamentos elétricos. O arranjo apresenta uma densa divisão do trabalho que inclui a grande maioria das atividades das indústrias eletrometal-mecânicas, com um grande número de empresas e elevada heterogeneidade no porte das mesmas. Esta densidade é resultado de externalidades que há mais de um século desenvolvem-se no arranjo, criando demandas locais que estimulam a complementaridade e a expansão simultânea no local dos variados segmentos destas indústrias. Por outro lado, os processos mais recentes de reestruturação produtiva das grandes e médias empresas, que terceirizam etapas de seus processos produtivos, incentivaram o desenvolvimento de grande número de MPEs no local. Dentre os segmentos observados no arranjo, a “Indústria Metalúrgica” ocupa maior absorção de mão-de-obra relativa ao setor eletro-metal-mecânico (17.624 Postos Formais de Trabalho), embora a Indústria Mecânica gere a maior massa salarial (11,1%), diferentemente do encontrado no Brasil. Este último setor é fortemente caracterizado por empregados qualificados (11,4%) por terem nível superior, enquanto que os outros setores não passam de 8% da mão-de-obra que possui este nível de escolaridade. As altas taxas de mão-de-obra especializada na indústria eletrometal-mecânica da região de Joinville refletem as especificidades do setor, cuja distribuição no emprego é relativamente homogênea em comparação ao encontrado no Brasil. De um modo geral, o arranjo eletrometal-mecânico da região de Joinville apresenta uma taxa salarial elevada em comparação à praticada no restante do país devido a sua participação no emprego, a qual necessita cada vez mais de empregados especializados. Conforme os dados da RAIS, em torno de 30% dos salários pagos para os ESTADO DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO 38 Centro Administrativo do Governo do Estado, Rodovia SC 401, Km 5, nº 4.600, Bloco 3 - 2º andar CEP 88032-000 Bairro Saco Grande, Município de Florianópolis/SC - Fone 48 – 3215-1390 Fax 48 – 3215-1331 trabalhadores da região são da indústria eletrometal-mecânica, ou seja, do total dos salários pagos para os trabalhadores com carteira assinada na região de Joinville (R$ 175.733.823,56), aproximadamente R$ 51.687.249,28 são dirigidos aos trabalhadores da indústria eletrometalmecânica. A densa estrutura produtiva da região de Joinville, ao criar espaço para as intensas relações dentro do seu território constitui-se num importante mercado para muitas empresas que procuram se estabelecer na economia local. Essa densa estrutura produtiva mostra o papel relevante do território também como fonte de fornecimento de produtos ou serviços para o conjunto de empresas no arranjo. Entretanto, a existência de elevada heterogeneidade no tamanho das empresas implica assimetrias nas transações comerciais realizadas no local. No âmbito do arranjo, as distintas especializações e complementaridades produtivas entre os diversos segmentos da eletrometal-mecânica definem o local como um importante espaço para a oferta de bens e serviços demandados por todas as empresas da região. Essas relações comerciais que ocorrem no interior da estrutura produtiva podem ser comprovadas pela dinâmica interindustrial que condiciona as interações locais. Essa dinâmica produtiva local se dá num ambiente que cria significativas vantagens decorrentes da proximidade e da organização territorial da produção. Dentre as externalidades proporcionadas pelo local que intensificam as interações entre os agentes no espaço de produção, destacam-se, além da infra-estrutura física, a proximidade com clientes e fornecedores que favorece as relações de trocas de informações técnicas, a disponibilidade de mão-de-obra qualificada e o acesso a serviços técnicos especializados. No arranjo produtivo local, as relações de subcontratação sugerem a existência de três tipos de redes1. O primeiro tipo corresponde às redes de subcontratação para o fornecimento de materiais diretos2 às grandes e médias empresas (incluem-se aqui as empresas envolvidas com subcontratação de atividades como fornecimento de insumos e componentes e desenvolvimento de produto). O segundo tipo diz respeito às redes que fornecem materiais indiretos3 e prestam serviços industriais para as grandes e médias empresas. Consideram-se aqui as subcontratações de etapas do processo produtivo e dos serviços produtivos especializados. O terceiro tipo refere-se às redes formadas por MPEs mediante a subcontratação de diversas atividades e produtos. 1 A análise detalhada das redes de empresas no arranjo produtivo da eletrometal-mecânica encontra-se em Stallivieri, F. (2004). 2 Materiais diretos são peças, componentes e/ou subsistemas que são integrados ao produto final. 3 Materiais indiretos são aqueles utilizados durante os processos produtivos, como moldes e ferramentas, por exemplo. ESTADO DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO 39 Centro Administrativo do Governo do Estado, Rodovia SC 401, Km 5, nº 4.600, Bloco 3 - 2º andar CEP 88032-000 Bairro Saco Grande, Município de Florianópolis/SC - Fone 48 – 3215-1390 Fax 48 – 3215-1331 No inicio da década de 90, as pequenas empresas vendiam quase a totalidade de seus produtos para fora do arranjo da região, sendo que 20% de seus produtos eram exportados. Mas houve uma reversão desta tendência no ano 2000, no qual o mercado local começa a ter uma maior relevância sobre as vendas, tornando-se importante ressaltar que o aumento das vendas localmente não se deu através de uma diminuição das exportações, mas sim da diminuição das vendas para o mercado nacional. A indústria eletrometal-mecânica catarinense conta com a presença de importantes empresas líderes em seus diversos segmentos de atuação, estando grande parte das mesmas concentrada nos municípios de Joinville e Jaraguá do Sul. Na região estão localizadas empresas que assumem posição de destaque internacional na produção de refrigeradores [Multibrás], motores e geradores elétricos [Weg], elementos de fixação [Ciser], dentre outros. Além dessa gama de segmentos, encontra-se ainda na região a quinta maior empresa de fundição do mundo [Tupy], bem como a primeira na fabricação de compressores herméticos [Embraco] e outra na fabricação de equipamentos e instrumentos odontológicos [Kavo do Brasil]. O movimento de ampliação da inserção internacional das empresas catarinenses se confunde com o das principais empresas líderes instaladas na região de Joinville, por exemplo, a Weg e a Embraco, onde o processo de reestruturação já mencionado levou a primeira a ser um dos maiores fabricantes mundiais de motores elétricos. A Embraco adotou a estratégia de internacionalização da produção e distribuição, sendo atualmente a maior fabricante mundial de compressores herméticos para refrigeração, destacando-se pela instalação de unidades fabris e subsidiárias comerciais em inúmeros países, revelando que sua estratégia a posicionou próxima dos seus clientes em mercados importantes. 3.3.3 Aparato institucional A estrutura institucional local é bastante ampla e diversificada, com grande variedade de funções. O desenvolvimento das organizações voltadas para a coordenação empresarial remonta ao início do século XX com o surgimento das associações comerciais e industriais dos municípios de Joinville e Jaraguá do Sul (ACIJ e ACIJS). Mas é na década de 40, com o estabelecimento da entidade representativa dos trabalhadores, e a implantação no local do SENAI, principal órgão de treinamento de mão-de-obra para a indústria, que tem início o adensamento da estrutura institucional. Nos anos 60 e 70 se consolidam no local as funções de coordenação e ensino e treinamento com a implantação das organizações classistas patronais e ESTADO DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO 40 Centro Administrativo do Governo do Estado, Rodovia SC 401, Km 5, nº 4.600, Bloco 3 - 2º andar CEP 88032-000 Bairro Saco Grande, Município de Florianópolis/SC - Fone 48 – 3215-1390 Fax 48 – 3215-1331 de trabalhadores e das principais escolas e faculdades. Na segunda metade da década de 80 e nos anos 90, com a implantação do Instituto Superior Tupy e do Midiville, há uma ampliação da função de ensino e treinamento. Em tal estrutura destaca-se ainda a existência de organizações direcionadas tanto ao crédito, como o Banco do Brasil (BB), Caixa Econômica Federal (CEF) e Banco de Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina (BADESC), como àquelas cujas ações são forçadas na promoção e apoio à indústria, como o Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) com agências em Joinville e Jaraguá do Sul. Além dessas organizações voltadas a assessorar os produtores locais, ressalta-se a atuação das prefeituras municipais, responsáveis pela implantação de uma importante infra-estrutura física na região, através da provisão e melhoria dos bens e serviços públicos. Embora a estrutura institucional local tenha se desenvolvido simultaneamente ao arranjo produtivo, não é exclusiva das indústrias eletrometal-mecânicas. Em virtude da diversidade da estrutura industrial local, ela não atende as necessidades específicas ao arranjo e volta-se às diversas atividades produtivas na região no que se refere à função de coordenação exercida pelas associações empresarias. Outro aspecto da estrutura institucional no tocante à função de coordenação é que esta privilegia as atividades de representação do conjunto das empresas frente a outros agentes. Se tal atividade é pública por sua natureza e pode criar espaços para a ação coletiva, não decorrerá, necessariamente, desta atividade a ação cooperativa entre os agentes. Enfatiza-se aqui, portanto, que esta atividade não substitui ações de coordenação voltadas para as articulações cooperativas entre os atores do arranjo, pois estas sim são primordiais para o estabelecimento de vínculos consistentes entre os agentes do arranjo. Neste sentido, as organizações com função de coordenação têm um comportamento pouco efetivo no estímulo à cooperação, apesar de sua forte ação representativa. Reforçando esta avaliação, percebe-se que as atividades das organizações na função de coordenação, ao privilegiarem a ação de apoio individual às empresas, por meior da prestação de serviços, também pouco estimulam a ação cooperativa no âmbito do arranjo. A análise indica que os estímulos para as interações locais são muito mais decorrentes das características da estrutura produtiva do que de ações deliberadas das organizações que conformam a estrutura institucional na sua função de coordenação. Todavia, deve-se salientar a presença de algumas ações que sugerem um esforço inicial neste sentido. ESTADO DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO 41 Centro Administrativo do Governo do Estado, Rodovia SC 401, Km 5, nº 4.600, Bloco 3 - 2º andar CEP 88032-000 Bairro Saco Grande, Município de Florianópolis/SC - Fone 48 – 3215-1390 Fax 48 – 3215-1331 No caso desta aglomeração local, o ambiente conta ainda com a presença de uma estrutura de conhecimento parcialmente estruturada voltada mais às atividades de ensino e treinamento e menos capaz de realizar atividades de pesquisas tecnológicas no âmbito das indústrias eletrometal-mecânicas. Apesar das externalidades locais proporcionadas pela estrutura do conhecimento na sua função ensino e treinamento, como a existência de mão-deobra qualificada, difusão de informações técnicas e prestação de serviços especializados, pode-se notar que, em decorrência da frágil articulação com o setor produtivo, tal estrutura tem pouco reflexo sobre os processos de aprendizagem interativa e, conseqüentemente, sobre o desenvolvimento de capacidade inovativa no local. 3.3.4 Nível tecnológico e esforço para capacitação O dinamismo inovativo no âmbito do arranjo é condicionado pelo ritmo de incorporação tecnológica em produtos e processos nas empresas, o qual está diretamente associado a sua estratégia de aprendizagem. Os mecanismos de aprendizagem mais usuais são do tipo learning by doing, refletindo os significativos e constantes esforços internos feitos pelas empresas para o desenvolvimento de capacitações para inovar, ainda que este seja pouco estruturado organizacionalmente. Tais esforços indicam que as fontes mais importantes de informações estão na própria atividade produtiva e de comercialização realizada pelas empresas, demonstrando uma grande competência tecnológica destas para a absorção de informações e sua adaptação aos processos produtivos internos, proporcionando uma grande capacidade de imitação de produtos e processos produtivos. No interior do arranjo, são intensas as interações entre as empresas, gerando importantes estímulos aos processos de aprendizagem e às capacitações técnico-produtivas desenvolvidas no local. Simultaneamente, no local existem segmentos produtivos que apresentam distintas estratégias de aprendizagem para promover o desenvolvimento de capacidade inovativa. Nos segmentos menos dinâmicos, formados por micro e pequenas empresas que atuam no fornecimento de materiais indiretos e na prestação de serviços industriais, observam-se estratégias passivas baseadas em fontes locais de informação. Por outro lado, nos segmentos mais dinâmicos, formados por um grupo restrito de micro e pequenas empresas e por grandes empresas que atuam na fabricação de máquinas e ESTADO DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO 42 Centro Administrativo do Governo do Estado, Rodovia SC 401, Km 5, nº 4.600, Bloco 3 - 2º andar CEP 88032-000 Bairro Saco Grande, Município de Florianópolis/SC - Fone 48 – 3215-1390 Fax 48 – 3215-1331 equipamentos, os esforços para desenvolver capacidade para inovar são mais intensos materializados na endogeneização das atividades de pesquisa e desenvolvimento. Desse modo, pode-se verificar que, nas micro e pequenas empresas, essas capacitações decorrem das habilidades acumuladas pela experiência na esfera da produção e da disponibilidade de mão-de-obra qualificada. Nas empresas de maior porte, as principais fontes de informação para o desenvolvimento de produtos e processos são seus clientes e fornecedores. Os fluxos de informação para os processos de aprendizagem e para as atividades inovativas não se restringem somente ao nível interno das empresas, podem associar-se com fontes externas, por meio da interação com outras empresas usuárias ou fornecedoras dos produtos. No arranjo eletro-metal-mecânico, a pesquisa de campo mostrou que são significativos e constantes os esforços internos realizados pelas empresas para o desenvolvimento de capacitações para inovar, ainda que este seja pouco estruturado organizacionalmente. Ressalta-se que tal esforço interno para as pequenas e médias não se reduz à atualização de equipamentos e formação da mão-de-obra, mas envolve atividades específicas que objetivam absorver novos produtos e processos. Cabe ainda destacar que tal esforço por parte das empresas não é sustentado por externalidades locais que a estrutura institucional local poderia proporcionar, qual seja, o suporte ao desenvolvimento de capacidade inovativa localizada que permita criação e desenvolvimento de novos produtos e processos. No âmbito do arranjo, a ausência de suporte institucional para atividades de pesquisa e as limitações das ações cooperativas nesta área não são empecilhos para o desenvolvimento das grandes empresas, mas restrigem a capacidade tecnológica que faça avançar o esforço de imitação para a criação inovativa nas micro, pequenas e médias empresas. 3.3.5 Formas de cooperação e governança No arranjo eletro-metal-mecânico, as intensas relações entre as empresas são favorecidas tanto pela proximidade espacial quanto pela existência de valores culturais homogêneos que tendem a facilitar o compartilhamento de experiências produtivas comuns e de informações no local. Neste aglomerado produtivo, apesar da intensa competição entre as empresas no local, basicamente micro e pequenas, constata-se que são também freqüentes as interações dos agentes produzindo bens e/ou serviços similares ou daqueles que atuam em ESTADO DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO 43 Centro Administrativo do Governo do Estado, Rodovia SC 401, Km 5, nº 4.600, Bloco 3 - 2º andar CEP 88032-000 Bairro Saco Grande, Município de Florianópolis/SC - Fone 48 – 3215-1390 Fax 48 – 3215-1331 diferentes estágios da produção. No local, as relações de cooperação vertical são uma prática comum entre as empresas de todos os portes, sendo que os principais parceiros para desenvolver ações cooperativas são os seus fornecedores de insumos e equipamentos e clientes. As ações estão voltadas a um maior aprimoramento das suas capacitações produtivas através da troca de informações e experiências produtivas; melhor utilização de insumos e melhorias nas condições de fornecimento de produtos ou serviços. No que se refere às relações de cooperação horizontal entre as empresas que atuam no mesmo segmento, observase que são extremamente reduzidas. Essa falta de articulação entre elas ocorre porque, em geral, concorrem entre si no mercado local, as ações se limitam a um conjunto de atividades na esfera de produção e comercialização que estão restritas ao cenário de mercado. Estas ações coletivas expressam esforços no âmbito interno das empresas, sem uma articulação com instituições locais. Portanto, verifica-se que, no interior do arranjo, embora predominem formas de coordenação hierárquicas, estas ainda podem ser combinadas com outras formas de governança em função das articulações entre os agentes produtivos. Ou seja, há no arranjo empresas que participam, concomitantemente, de diversas redes de subcontratação. Isto pode ser observado nas relações que ocorrem somente entre pequenas empresas, que participam tanto de redes de natureza vertical quanto horizontal. No local, apesar de serem intensas as relações entre as empresas, em sua maioria, limitam-se à esfera de produção e de comercialização como conseqüência da dinâmica produtiva local. Frente à ausência de formas institucionalizadas de coordenação que pudessem estabelecer estímulos a ação coletiva, prevalece então no arranjo uma governança via mecanismos de mercado. A carência de formas de coordenação extra-mercado revela ainda a fraca atuação das organizações em criar espaços (estruturas) para o desenvolvimento de capacitações inovativas endógenas que poderiam fortalecer as competências locais. 3.3.6 Vantagens competitivas e obstáculos O desenvolvimento de competências produtivas e inovativas no arranjo produtivo local está associado às vantagens que o ambiente no qual os agentes estão inseridos pode proporcionar por meio das relações que se estabelecem entre os agentes nos espaços de produção. As principais externalidades locais que emergem a partir dos intensos ESTADO DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO 44 Centro Administrativo do Governo do Estado, Rodovia SC 401, Km 5, nº 4.600, Bloco 3 - 2º andar CEP 88032-000 Bairro Saco Grande, Município de Florianópolis/SC - Fone 48 – 3215-1390 Fax 48 – 3215-1331 relacionamentos entre os agentes no interior do arranjo são o acúmulo de experiências (know how), ao longo do tempo, e a grande disponibilidade de serviços industriais especializados. O acesso a esse conjunto de habilidades e de recursos de produção requer vínculos de proximidade entre os agentes para facilitar a difusão de conhecimentos prático e técnico. Portanto, a possibilidade de as empresas integrarem redes de relações interativas com a finalidade de cooperação técnico-produtiva que emerge no nível local, a partir das atividades que envolvam relações em redes de subcontratação, confere, desse modo, vantagens competitivas cruciais às empresas, principalmente as micro e pequenas inseridas nessa aglomeração produtiva local. Com base nas entrevistas de campo, percebeu-se a ausência de ações sistemáticas entre as associações e o governo local no que concerne a políticas setoriais voltadas ao desenvolvimento e fortalecimento das potencialidades da eletrometal-mecânica. Cabe ainda relatar que há uma grande dificuldade por parte das associações em se articularem com órgãos oficiais de financiamento para facilitar o acesso dos pequenos produtores ao crédito. Essa carência de instrumentos de financiamento associada às exigências e burocracia dos bancos comerciais, explica por que a maioria das micro e pequenas empresas do arranjo recorrem aos seus recursos próprios para realizarem investimentos na modernização e expansão dos seus negócios. De maneira geral, observa-se a carência de mecanismos e instrumentos de política orientados a estimular e eliminar obstáculos ao crescimento das empresas, sobretudo, micro e pequenas, como, por exemplo, através da provisão de infra-estrutura de serviços financeiros, tecnológicos e educacionais. Mas, o que deve ser salientado é que as ações institucionais não são exclusivamente direcionadas ao setor eletro-metal-mecânico. Considerando que a estrutura industrial local é bastante diversificada, as organizações parecem representar muito mais o interesse dos vários setores industriais da região. Este aspecto influencia de forma significativa a atuação institucional no âmbito do arranjo. Isso pode ser visto pela ausência de programas de ação específicos para o setor eletrometal-mecânico. Cabe ainda mencionar que, apesar das micro e pequenas empresas predominarem na estrutura industrial local, não há uma ação institucional sistemática voltada a estimular uma atuação de forma coletiva que favoreça desempenhos mais significativos. Frente à fraca atuação das associações quanto à representatividade e mobilização das empresas do setor eletro-metal-mecânico, pode-se constatar que são baixos os estímulos às ações coletivas direcionadas, em especial, ao desenvolvimento e melhoria da competitividade ESTADO DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO 45 Centro Administrativo do Governo do Estado, Rodovia SC 401, Km 5, nº 4.600, Bloco 3 - 2º andar CEP 88032-000 Bairro Saco Grande, Município de Florianópolis/SC - Fone 48 – 3215-1390 Fax 48 – 3215-1331 das micro e pequenas empresas do arranjo produtivo local. A ausência de uma coordenação extra-mercado efetiva não favorece a consolidação de um ambiente propício às relações sociais que possam dinamizar as interações interempresariais e potencializar as externalidades decorrentes da elevada concentração industrial no local. 3.3.7 Considerações finais e possibilidades de política industrial As características da divisão do trabalho, o esforço de capacitação tecnológica e organizacional das empresas, as relações em redes que se estabelecem no local, as vantagens decorrentes da proximidade e organização territorial da produção e a estrutura institucional que interage com a estrutura produtiva indicam a formação de um sistema local de produção que sustenta os esforços dos agentes para a imitação de produtos e processos. Portanto, no caso em estudo, as características da estrutura produtiva e institucional e as intensas relações entre os atores sugerem a presença de um sistema produtivo e inovativo, em que estão presentes vínculos mais fortes e consistentes de interação, cooperação e aprendizagem, com potencial de gerar capacidade inovativa endógena local. Neste estudo, a potencialidade foi demonstrada pela grande capacidade endógena de absorção de novas tecnologias e pela presença de um núcleo de empresas inovadoras, mostrando a possibilidade de transitar da capacidade de absorção de novas tecnologias para a de inovação tecnológica. Considerando esta potencialidade, procura-se, a seguir, sugerir três linhas de políticas dirigidas para o conjunto da eletrometal-mecânica e especificamente para o apoio às micro e pequenas empresas. O objetivo central é consolidar e ampliar as vantagens locais que permitam a transição de um sistema local com capacidade de absorção de inovações para um sistema local criador de inovações como base de sua vantagem competitiva. 1ª) Consolidar as vantagens locais e estimular a ação coletiva através da manutenção e ampliação do sistema de formação e treinamento da mão-de-obra no local. Estimular as atividades consorciadas parece ser uma das principais ações voltadas à manutenção das sinergias locais. Programas que estimulem ações coletivas e que não são proporcionadas pelas simples relações de mercado. Especificamente dirigidos para a exportação, para a ESTADO DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO 46 Centro Administrativo do Governo do Estado, Rodovia SC 401, Km 5, nº 4.600, Bloco 3 - 2º andar CEP 88032-000 Bairro Saco Grande, Município de Florianópolis/SC - Fone 48 – 3215-1390 Fax 48 – 3215-1331 comercialização no mercado nacional fora do arranjo, para o financiamento, e para o acesso às tecnologias de informação pelas micro e pequenas. 2ª) Criar competências para a inovação seja talvez a principal lacuna a ser preenchida no conjunto do sistema, principalmente quanto às micro e pequenas empresas. Além da prestação de serviços tecnológicos, a estrutura institucional deve ser orientada para realizar atividades de pesquisa e desenvolvimento. Neste sentido, sugere-se a criação de uma organização específica para esta atividade. Esta organização, nos moldes de uma “instituição ponte”, teria a função de facilitar o acesso das micro e pequenas empresas aos serviços tecnológicos já oferecidos no local e estimular a realização de projetos específicos de desenvolvimento tecnológico de produtos e processos mediante a articulação de redes de micro e pequenas empresas com as universidades situadas ou não no local. 3ª) Articulação institucional para o desenvolvimento do sistema por meio de ações de curto prazo, de mais rápida implementação, cujo efeito demonstração estimulasse a participação coletiva, servindo como embrião de uma entidade coordenadora específica.